2 de fevereiro de 2021

O estado a que chegámos: da incúria à xico-espertice


A SIC abriu o noticiário desta noite com laivos de proximidade a Pombal: o marido da responsável distrital da Saúde Pública, Odete Mendes (natural de Vermoil), foi vacinado contra a covid-19, sem fazer parte de nenhum dos grupos indicados como prioritário. Estava "ali à mão", que é como quem diz dentro do carro, como explicou aos jornalistas em tom exasperado outra médica de Saúde Pública, Ana Silva. 
As notícias dos últimos dias sobre a vacinação mostram bem o oportunismo e a xico-espertice que reina nas instituições de solidariedade social deste pobre país - que de resto explica bem o número de casos elevados que proliferam lá dentro. Mas não é só. Este encobrimento tácito nas estruturas da Saúde públicas chega a dar náuseas. Ao mesmo tempo que Armínio Azevedo negava, ao telefone, ter sido vacinado, a mulher, Odete Mendes, confirmava-o de viva voz e consciência tranquila. 
E o que tem isto a ver com o facto de Pombal continuar sem delegado de Saúde? - perguntará o leitor, perante a incapacidade do vereador Pedro Murtinho em explicar, na reunião de câmara, o que é que o poder político tem feito por isso. Ora acontece que Odete Mendes foi a mesma que passou por cima de uma ordem de José Ruivo, em novembro, dando parecer positivo a um torneio de xadrez onde o marido iria participar, quando as indicações do então delegado de saúde iam no sentido contrário. É a mesma com quem D. Diogo reúne. Só não sabemos se também já falaram desse gesto demagógico do nosso presidente da Câmara, que mandou emitir um comunicado a anunciar que prescindia da vacina, sob o argumento de que "o Estado deve ser criterioso e que o Plano Nacional
de Vacinação seja executado a um ritmo muito elevado”, privilegiando  "os cidadãos com mais de 80 anos". Diz o autarca-modelo que isso de considerar prioritários os responsáveis  locais pela Proteção Civil (como é o caso dele) “resulta de um processo lamentável de atropelo e respeito pelas pessoas mais prioritárias e mais confrontadas com o risco". Em certa medida, lá tem a sua razão. Só corre risco aquilo que existe. E em Pombal, não sabemos nada da Proteção Civil nesta pandemia. 
Ora, perante este lodaçal em que andamos a escorregar todos os dias, espero que D. Diogo guarde uma réstia do seu moralismo para as conversas com a coordenadora da USP Pinhal Litoral. E já agora, que Pombal não apareça nas notícias um dia destes. Certamente não aparecerá, porque quando a excepção se torna regra, entramos no registo do cão que mordeu o homem. E como se sabe, só o contrário é notícia.

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