As próximas eleições autárquicas vão mostrar, de forma inequívoca, as mudanças estruturais da sociedade portuguesa. Não são apenas as freguesias (de novo muitas, mas agora sem serviços, pois desengane-se quem julga que volta a ter o Centro de Saúde à porta, os correios e a farmácia) em grande número onde haverá apenas um candidato. Não é só por aí que a Democracia vai sofrer um duro golpe de desaparecimento. É também pela qualidade dos candidatos, numa derrocada que começa a notar-se há vários anos. Agora que o processo está em marcha, que a maioria dos partidos (até o PSD, imagine-se) está em sérias dificuldades para encontrar cidadãos dispostos a dar cara por eles, e pelas terras, começa a levantar-se o drama maior: quem nos vai representar?
No espaço de poucas horas, durante o dia de ontem, atravessaram-se no meu caminho vários exemplos que explicam a transferência de voto do PS para o Chega, nas últimas eleições legislativas. É sabido que, por aqui, onde o PSD tudo domina, o voto de protesto está há 30 anos associado às listas socialistas. Ou estava. Quando à nossa volta se acumulam antigos candidatos do PS que agora se arvoram defensores do Chega, custa perceber, mas aceitamos. O que já custa a aceitar é que o partido de Mário Soares dê guarida aos que, em funções autárquicas, eleitos com a bandeira do PS, enchem a boca com o respeitinho, difundem as mensagens que os vários grupos de extrema-direita vão multiplicando pelas redes, e até exibem, na pele, tatuada a esfera armilar. Ninguém me contou. Eu vi, no meio de um recinto de festa.
Aos partidos sempre foi parar tudo, e a sede de fechar listas foi muitas vezes permissiva em relação aos que nem sequer partilhavam valores de liberdade, tolerância e fraternidade. Mas os mínimos de higiene e salubridade da vida pública obrigavam a usar os mecanismos ao dispor, nomeadamente retirando a confiança política a quem não a merece.
Aqui chegados, resta-nos perceber como vai o eleitorado do PSD comportar-se, face a esta nova realidade que vai semear pelas várias freguesias candidatos inusitados. Um dirigente com responsabilidades locais gabava-se há dias de ter "tudo controlado". Será? O exemplo de Manuel Serra, até há dois meses dirigente social-democrata, antigo presidente da Junta do Oeste (derrotado em 2017 pelo independente Gonçalo Ramos) deixa antever que o paraíso laranja pode ter os dias contados. Renunciou ao mandato na AM, e agora será número dois da lista à Câmara, secundando Gabriel Mithá Ribeiro, o cabeça de lista do CH.
No futuro, das duas uma: ou o PSD ainda vai ter muitas saudades do PS, ou vamos todos nós, aqui no burgo, chegar à conclusão de que são troncos da mesma raiz - como Ventura, como Passos, como tantos.
O armário laranja no concelho de Pombal está infestado de gente com perfil de extrema-direita. Alguns têm a coragem de sair, os outros continuam escondidos a ver quando podem sair. No após 25 de abril a maioria dos "fascistas", como o Cavaco e tantos outros, encontraram no PSD o seu refugio.
ResponderEliminar