26 de março de 2014

Municipalização da Educação

A crescente descentralização da administração do sistema educativo tem acentuado a Municipalização da Educação. Mas, sem as vantagens da primeira forma e com todos os vícios da segunda.
A descentralização da administração do sistema educativo apresenta como principal vantagem a melhor adequação da oferta educativa, já que, supostamente, os decisores locais conhecem a realidade socioeconómica e as necessidades da comunidade. A principal desvantagem da centralização do sistema educativo é a tendência para uma oferta padronizada.
Como alertaram vários especialistas, a municipalização do sistema educativo (ainda no início) mostra já, para quem não anda muito distraído, que jamais proporcionará as vantagens da descentralização mas trará consigo todas as desvantagens da municipalização. Não traz as vantagens da descentralização por uma razão óbvia: os municípios não têm dimensão que justifique projectos educativos diferenciadores. Uma coisa é descentralizar para um território com milhões de cidadãos; outra, bem diferente, é descentralizar para territórios com umas dezenas de milhares de cidadãos. A municipalização da Educação traz consigo todos os vícios do caciquismo local: o compadrio, o trafico de influências e, the last but not the least, a politização da educação.
Por cá, o malfadado processo de eleição e instalação do Conselho Geral Transitório do Agrupamento de Escolas de Pombal comprova que a fraca delegação de competências já é suficiente para os sedentos de poder transformarem a educação em arena política. E por agora a refrega trava-se entre um grupo ligado ao “velho poder” e outro ao “novo poder”. Imaginem quando as oposições se meterem nisto.

PS: a forma como o presidente do Conselho Geral do Agrupamento de Escolas de Pombal – Manuel António – foi atacado e enxovalhado na reunião de ontem, talvez porque foi o único que foi sensato e isento e no processo eleitoral, não augura nada de bom para a educação e para o concelho.

10 comentários:

  1. Fico feliz e admirada que ainda existem pessoas que têm a coragem de agir com bom senso, isenção, valores e princípios, sem necessidade de se confessar a seguir com o carro mal estacionado à saída da missa. Estou envolvido neste triste processo por primeiro ter tido a vontade de participar activamente na vida escolar local e segundo, por ter assinado um documento legal de um processo eleitoral ao qual participei como 2ª secretária de mesa eleitoral. Inesperadamente, perante as pessoas que foram votar e o número incontestável de encarregados de educação que vieram votar à minha mesa, é me contestado o dever e a obrigação de relatar factos que aconteceram. Contra factos não há argumentos. A escola precisa de todos não só de alguns que acham que sabem mais que os outros mas que se esqueceram de ser bem educados. A dignidade e o respeito ficam bem a todos, independentemente da cor política, da religião ou do meio social. A educação nacional é uma questão séria, obviamente perigosa por criar juventude que será capaz de pensar sozinha, com tolerância e justiça. Não sou daqui, mas com todo o gosto contribuo para o bem da comunidade. Posso entender os traumas e restos da ditadura. Ainda é fresca. Nem tem meio século. Tenho pena do povo. Mas a mim ensinaram três lemas imprescindíveis à democracia sem demagogia de gozo de pedir para ler a lei:
    LIBERTÉ. ÉGALITÉ. FRATERNITÉ.

    Karina Guergous.

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    1. Karina, tocaste na ferida..."juventude que será capaz de pensar sózinha...", aí está o busílis da questão. A melhor forma de controlar formas de pensamento nos dias de hoje (sem que se lhes possa chamar de ditadura), é desta forma: controlando instituições, lugares, e até pessoas. Só que enquanto nos tipos idos da ditadura, esse controle era asumido claramente pelo poder, e todos sabiam as regras do jogo. Hoje, as formas "ditaduriais", revestem-se muitas vezes com as capas da democracia ( o que não deixa de ser irónico e , para mim, assustador, porque é encapotado).

      Estamos prestes a comemorar o 40º aniversário do 25 de abril. Supostamente comemoramos o fim da ditadura. Comemoramos a Liberdade.
      Mais do que festas e cerimónias, gostaria muito que esta data fosse de um amplo debate, não das conquistas, mas á luz dos tempos de hoje, e do retrocesso civilizacional, social que vamos assistindo, e de como tão cómodamente muitos de nós, aceitamos tudo, sem questionar, em nome de não sei de quê.

      Por ultimo, Karina, continuo a acreditar nos ideais da Liberdade, Igualdade e fraternidade, e nós portugueses, com a revoluções liberais em 1820, e a 1º constituição portuguesa foram feitas com base nestes ideais. O que me preocupa verdadeiramente, é verificar que os nossos antepassados eram muito mais progressistas, que as gerações de agora...
      Mas eu continuo a acreditar, e mais, mesmo que não queiram que eu me envolve na vida escolar dos meus filhos, azar, é um direito que me assiste e que eu, de forma alguma abdico dele.

      Marlene Matias

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    2. Bom dia!
      Gostei dos comentários de ambas.
      Urge-me uma questão levantada pela Marlene: porque razão as gerações de agora já não são progressistas? Acrescento: deixaram de lutar pelos interesses de todos, porquê? Actualmente, quem assim acha, ou quem assim se posiciona, é logo conotado como «comunista revolucionário» !!
      Mais uma: em nome de quê, deixamos todas as decisões comunitárias nas mãos de pessoas, que hipoteticamente salvaguardariam os direitos assumidos e constitucionados? Isso não será uma posição que nos deixa à mercê de interesses de alguns, em detrimento de muitos? (esta tese está mais do que provada!)

      As gerações futuras terão uma vida muito mais difícil, a nível político e social. Porque as gerações de agora, viraram-lhes as costas. Em nome não-sei-do-quê (tal como escreve a Marlene). Ou será que saberemos?...

      Uma frase: "Aqueles que esquecem o passado, estarão condenados a repeti-lo" - é a minha frase para o 40º aniversário do 25 de Abril. É uma frase que não é só política, encerra muito mais que isso.

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    3. Eduardo: "Aqueles que esquecem o passado, estarão condenados a repeti-lo", falei mais ao menos nisto hoje á hora de almoço!

      Como mãe, tenho assumido um papel de "ajuda", no que diz respeito ao estudo e ás formas de estudar por altura dos testes, com o meu filho mais velho. Sempre gostei da disciplina de História. Também acho que os ciclos tendem a repetir-se, o que me preocupa. Dado que se formos ver a nossa História, e de como a ditadura se instalou em Portugal, começo a recear pelo futuro. Embora possamos já assistir, bem pertinho de nós, subtilmente, formas claras de controle de instituições que ao serem "ameaçadas" (a manutenção do poder) reagem desta forma.

      Paralelamente, assistimos a uma sociedade civil alheada, ou então, impedida de participar civicamente em matérias tão simples como esta: na escola dos seus filhos!

      Mesmo eu estando a exercer um cargo politico, não posso deixar de reconhecer, que está tudo muito politizado, não só no concelho como no país. Se eu faço parte de um organização qualquer (seja ela assoc. de pais; assoc. recreativa etc...) a questão de que partido eu sou, estupidamente pesa (negativamente ou positivamente consoante os casos) em detrimento de quem eu sou, das capacidades que possuo!!! Isto só mostra que além de sermos um país pobre, somos igualmente pobres de espírito!

      abraço,
      Marlene Matias


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    4. Obrigado pelo cumprimento, retribuo.
      Tal como dizes: está tudo muito politizado, em todo o lado. Falta perguntar-nos: porquê? Há mesmo necessidade de tal? E com que interesses se politizam as coisas, sem que as pessoas contem?
      Pobre sistema, talvez mais do que pobres de espírito. Porque o sistema permite que o "pobre de espírito" evolua para "chico-esperto-que-se-safa-na-safra".

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  2. 40 anos depois está tudo, como no dia 24-04-1974: O povo já nada ordena ; O poder financeiro esta nas mãos das famílias do antigo regime ( Espirito Santo, Melo, Champalimaud...); O poder politico está subjugado ao poder dos grandes grupos financeiros e económicos.A maçonaria e a opus Dei, controlam os centros de decisão.

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    1. Todos temos Amália na voz, mas muitos abdicaram de cantar poemas e cançonetas de Abril. Porquê?
      Na minha opinião, desistir de lutar é mau. Mas pior ainda é abdicar do pensamento! Abdicar das maiores das liberdades: o pensamento livre, onde agora deixamos de ser autónomos, para virarmos autómatos!
      Infelizmente, a minha filha crescerá neste último mundo: o da automatização. Também caberão aos nossos filhos combater o facilitismo a que nos sujeitaram, em nome de uma democracia do "não te chateis". Maquiavélica. Obscurantista.

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  3. Constata-se de que o nível por aqui vai alto, ainda bem. Já o motivo, esse aparenta ser muito baixo.

    Mas como daqui sou, pois foi mesmo aqui onde eu nasci, em alta voz sempre o direi, e seja por onde andar, que aqui serão sempre bem vindos os que vêm por bem. E que também se sintam como sendo de cá os que de cá gostam de estar.

    Já nesta terra de passagem, que o é, não só para estas nossas vidas, como também para estas terras que sempre o foram, entre o mar e o interior, entre o sul e o norte, resta dizer aos do mal que vão à sua viagem em busca do azimute do bem.

    Já agora, e porque gosto muito do mês que nasci, que foi o ABRIL, a quais valores apreciei apreender e sempre respeitei e valorizei, na mesma lógica e sem receios, aos que estiveram presentes em tal aqui dita reunião, façam o "favor" aos de Abril e dêem os “NOMES AOS BOIS”.

    Quem é que “atacou” e que “enxovalhou” em tal reunião? Como e porquê? Quem eram os outros presentes?

    “Isto aqui, isto aqui…” está quase a parecer, que estão para aqui a falar numa forma “codificada”, e quase idêntica aos tempos prévios ao do 25 de Abril de 1974.

    VIVA ABRIL! ABRIL PARA SEMPRE!

    Bem haja.

    HSN

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  4. Figurativamente falando, uma possibilidade para nome é Hugo. Para boi, é pensar.

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