28 de julho de 2021

Nós, os desfalcados

Uma notícia da agência Lusa nesta quarta-feira, 28 de julho, coloca a nu aquilo que os censos de 2021 revelaram, aquilo de que há muito suspeitávamos e temos vindo a dizer, aqui no Farpas: estamos sem gente, estamos a perder população a todo o vapor. De tal ordem que somos o único concelho do distrito de Leiria que perde mandatos. "Abusaram tanto deles, que perdemos dois", disse-me esta manhã um camarada, quando comentávamos esta triste realidade. 

Partimos para as eleições autárquicas assim. Desfalcados. Por isso é um tanto risível ouvir os chavões que o putativo próximo presidente utiliza, no modo campanha, prometendo mundos e fundos do digital, da sustentabilidade, como se só agora tivesse descoberto o buraco em que estamos. Nós, que temos aqui tudo à porta, que enchemos a boca com a centralidade, com as vias de comunicação, como aludia um secretário de Estado que aqui veio há poucos dias apresentar a candidata do PS. 

Começa a ser ofensivo, para quem cá ficou, ouvir esse chorrilho de palavras ocas. Quando falo do caso da terra aos camaradas da imprensa regional que resistem, no país, enquadro o nosso empobrecimento: os jornais fecharam porque o tecido empresarial definhou, porque o poder não gosta de verdades incómodas. Ouçam-se as rádios e atente-se no que é a publicidade: a oficina, a tasca, a mercearia. Ou nem precisamos de tanto: uma volta pelo coração da cidade, por estes dias (em que até temos mais gente, graças aos que vêm à terra visitar a família, depois de terem partido à procura do que aqui não tinham) ilustra bem o estado a que chegámos, com as lojas vazias. Pombal é nada menos que uma cidade em agonia, graças a essa insuficiência cardíaca. Foi bom para o Pimpão [Pedro], que assim conseguiu um espaço catita para sede de candidatura. Ate setembro, é menos uma loja fechada.

Todo esse estado comatoso com que partimos para as eleições autárquicas é uma espécie de pescadinha de rabo na boca - Sem gente não há movimento, sem dinâmica não há crescimento; assim se explica tão facilmente a descredibilização da política e a dificuldade que os partidos tiveram em fechar listas. Deixou de ser atractivo integrar um órgão autárquico. Aqui chegados, talvez não fosse pior que as candidaturas repensassem o que dizem nos programas - se os houvesse. Que experimentassem uma espécie de back to basics - para sermos modernos. Deixem-se lá da conversa de atrair mundos e fundos, e preocupem-se em segurar os que ainda cá estão. Em dar alguma qualidade de vida aos mais velhos (foi a parte que fixei do discurso de Odete Alves), que são a esmagadora maioria. O tempo já não é o dos Lares, Centros de Dia e Apoio Domiciliário. É outro. 

E nós que passámos a vida a apresentarmo-nos como um concelho do litoral, estamos desgraçadamente no plano do Interior, só que sem oferta turística, sequer. Somos então 48.966 eleitores, menos 3.216 do que há quatro anos. 



2 comentários:

  1. Paula Sofia, sempre tão assertiva, mas a culpa disto é do povo que há 30 anos que vota no ORANGE POWER. Os outros... falo em setembro. Deveres de militante de base do PS... Triste quando um partido nem os militantes mobiliza.

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  2. A culpa não é de quem vota no "Orange Power", mas de todos. Dos que passaram dos que lá estão e dos que virão. No País estamos a ser governados por "rosas" e na generalidade não estamos melhores, muito pelo contrario

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