10 de dezembro de 2021

O Filho da Alice no Reino das Maravilhas

Aventuras no Bosque Encantado e o Engenhoso Resgate

Quando o rato Camundongo saiu da sua toca, para caçar mais queijo no Bosque Encantado, já o seu amigo Pedro choramingava no maldito buraco. Chegado ao Bosque, estranhou o chilrear da passarada, àquela hora. Percebeu, depois, que galhofava com o sucedido.  Deu uma volta, e outra, pelo Bosque Encantado; mexericou por um lado e por outro, até lhe chegar aos ouvidos coisa estranha – gemidos humanos. Arrebitou as orelhas, resguardou-se, pôs-se à escuta, até perceber de onde vinham; e, passo-ante-passo, aproximou-se do local de onde vinham. Desceu ao buraco para ouvir melhor, e depois perguntou:


- Quem está aí?

- Sou eu, o Pedro, o Filho da Alice, acudam-me, tirem-me daqui...

- Eu sou o rato Camundongo, também conhecido pelo rato Verde, caro amigo; colocas-me um grande desafio: como poderei resgatar-te sem dar azo à chacota?

- Tira-me daqui grande amigo. Eu só quero sair daqui… - suplicava o Pedro.

- Vou ver o que se pode fazer… - prometeu o rato Camundongo.

O rato quis descer até junto do amigo, mas logo concluiu que de lá não poderia fazer nada por ele. Pensou melhor …, “se juntar as cordas que usei nos enfeites do Bosque…”

Enquanto o rato se atarefava na atadura das cortas ouviu passos. Era o Anão de Jardim que regressava da sua rotina das Boas Noites ao Marquês. Chamou-o e contou-lhe o sucedido. E ele quis logo assumir o comando das operações e activar o socorro. Mas o rato Camundongo, mais manhoso, desaconselhou-o.

Nisto, viram passar ao lado, vagarosamente, olhando para o chão como se tivesse perdido algo, o Coelho-Branco-de-Olhos-Rosa, com braçado de papéis, que o Anão de Jardim adivinhou ser outra catrefa de requerimentos para os chatear. O rato Camundongo ainda sugeriu pedirem-lhe ajuda, mas o Anão de Jardim recusou. 

De seguida, passou por lá o Cura Vaz, pregador e cantador, que resolveu passar pelo Bosque depois das rotinas de sacristia. Informado do sucedido, benzeu e rogou por milagre ao Santíssimo e dirigiu-se para o Altar onde suplicou ao Santo Padre Amaro que intercedesse junto da Nossa Senhora do Cardal pelo Filho da Alice. 

Paralelamente, o rato atou a corda à tília mais próxima do buraco e fê-la descer gritando “já chegou?”; “já chegou?”…; respondido, do fundo, com “ainda não”; “ainda não”… 

Quando chegou a informação “já chegou, amigo”, “obrigado, amigo”; o rato Camundongo ordenou: “sobe amigo”.  

O Pedro agarrou a corda e subiu alguns metros a muito custo, mas desfalecido tombou novamente no amontoado de gravetos e folhas secas. 

Ouviu-se, cá em cima, o estrondo e o grito da queda. E logo de seguida  o Anão de Jardim resmungou: 

- Eu bem te avisei que isso não resultava; em bem te avisei; eu bem….

- Hum-hum! — pigarreou o Camundongo com ar zangado.

Ainda mal refeitos da desilusão, ouviram um sapateado suave. Era a Lebre-de-perna-curta na sua corrida, agora fora de horas, que logo os reconheceu.

- Pôxa, amigos, por aqui?! Estão tristes no Bosque Encantado! Porquê? 

- Aconteceu uma desgraça: o Pedro caiu num buraco fundo. Lançámos-lhe uma corda, mas não consegue subir porque está muito enfraquecido – respondeu o Anão de Jardim.

- Tenho a solução, amigos! – afirmou, efusiva, a Lebre-da-perna-curta. E dirigiu-se ao Pedro: - Toma a minha poção mágica, amigo. Bebe-a, que logo ficarás forte.

Quando o Pedro agarrou na garrafa viu no rótulo “Sumo de laranja, proteína power e vitamina da felicidade”. Bebeu sôfrego. Passados alguns segundos exclamou: 

- Já me sinto forte e confiante, amigos. E acrescentou: - Vou subir, amigos! Dentro de minutos estarei aí convosco para retomarmos a Nova Ambição.

Eis como o Filho da Alice regressou,  de uma forma simples e engenhosa, ao Reino das Maravilhas.

                                                                                               Lili Carrol

1 comentário:

  1. Há limites que deviam ser respeitados.
    Este texto é só mais um exemplo que não há limites.

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