18 de julho de 2008

E chamam-lhe serviço público

Abençoada que fui com o nascimento da minha filha neste verão quente, dei comigo à sombra de casa, a assistir ao programa da RTP em directo da Praça Marquês de Pombal, que poderia ter sido uma excelente oportunidade de promover a terra e as gentes de cá, a partir daqui para o mundo inteiro. A verdade que as longas horas de emissão - que havemos de pagar, nós todos - revelaram-se aquilo de que já suspeitava: uma montra da feira de vaidades em que está transformado o Bodo deste ano, aqui e ali ofuscada pela triste imagem da populaça que vibra com os gritinhos saltitantes de João Baião e os olhares pseudo-matadores de Sónia Araújo. É o serviço público, dizem eles. E o público aplaude, sem saber muito bem o quê.
Salva-se no meio deste quadro a vida que volta à praça, tão injustamente despovoada de tudo e de todos. Nem que seja por umas horas, há vida na praça outra vez e isso é bom.
Sabendo o quão rica é a história de Pombal e das festas do Bodo, era de esperar que ali se desse a vez e a voz às tantas figuras - felizmente ainda vivas - que sabem contá-la. É claro que continuaria a haver espaço para o nosso João Faria e seus sete ofícios. Para sabermos o que manda a Pombal Viva e seu administrador, em tempo de vacas magras que Pombal ilude com este cartaz de luxo- que havemos de pagar, nós todos. E até, vá lá, para ouvirmos falar dos 9 km de costa que nunca podem faltar em discurso autárquico. Mas tinhamos a obrigação de mostrar ao país e ao mundo que há mais vida para além do Bodo, e que, mesmo esse, existiu antes de 2008 e desta organização à la rock in rio arunca. A obrigação, o dever e o direito - digo eu, já que não há programas de borla. Não sei quem fez a "selecção de pessoal" para as entrevistas promocionais. Mas sei que isto não é serviço público. É antes colocar os meios que nós pagamos ao serviço de um determinado público.
Não percebi por que razão deslocaram Nelson Pedrosa (um exemplo de interesse e dedicação à investigação histórica e cultural) para a praça de toiros de Abiul, ao invés de o vermos e ouvirmos na praça. Lembrei-me de um programa da TSF, vai para uns 8 anos talvez, cujo conteúdo faria corar de vergonha este programa de entretenimento brejeiro. Sobraram pernas e bailarinas num espaço tão nobre. A tela gigante, que tapava as misérias dos prédios devolutos, como quem varre o lixo e o esconde debaixo do tapete, era também ela o cartaz do Bodo. Algumas caras de lá vieram a terreiro promover os cafés Mambo, a Câmara e o João Vila Verde na mesma frase. Rita Guerra fê-lo muito bem. Ana Malhoa idem, ao ponto de se "sentir em casa", como disse. Às vezes nós é que não nos sentimos, tal a usurpação que nos fazem dos valores, em troca de outros que mais alto se levantam.
O resto foi música.

2 comentários:

  1. É verdade amiga. Também fico triste quando a RTP baixa o nível para acompanhar a concorrência na luta das audiências. Preferia ver essa guerra nivelada por cima...

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  2. Não vi, mas ouvi falar! E como disse uma mente ilustre, o que se revelou ali na TV foi um "Pimbal."
    O problema é que isto é um ciclo: A máquina mediática dá-nos conteúdos pré-fabricados, que infelizmente são o principal meio de informação e influência da opinião pública portuguesa. E depois vemos a reprodução da TV na vida real e aqui tão perto.

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