1 de agosto de 2021

Censos – apontam para copo meio cheio ou copo meio vazio?

Os dados preliminares dos Censos de 2021 monopolizaram a discussão durante o PAOD na última reunião do executivo da CMP. O tema é relevante, por revelar muito do estado do concelho. Mas a discussão foi de uma pobreza e de uma desonestidade intelectual chocante.

O assunto foi introduzido pelo doutor coiso com conjunto de dados onde misturava alhos com bugalhos, regados com a habitual retórica opinativa oca e enganadora, que entrelaça tudo e não acrescenta nada que não seja autoelogio; pelo meio teve o topete de se apresentar como um paladino da meritocracia e da lisura e muito crítico dos tachos por via do cartão partidário (com exemplos que mostram desconhecimento e falta de seriedade gritante).

A doutora Odete mostrou - mais uma vez - que sobre esta e outras matérias relevantes não tem nada para dizer para além de meia dúzia de vulgaridades e uma ou outra intenção desajustada ou sem valor (veja-se a proposta de aposta forte no turismo como solução para a obtenção de rendimentos elevados).

O Pedro Brilhante responsabilizou unicamente o actual presidente da câmara pela calamidade (desfalecimento do concelho) com muita agressividade e pouca consistência (taxa de desemprego, o desemprego sistémico, eleitores / população activa…).

O presidente da câmara tentou tapar o sol (a intempérie) com a peneira, num esforço retórico inglório. Contudo, tem razão em dois pontos: o problema desfalecimento do concelho é estrutural e é preciso saber ler os dados.

Actualmente, não é preciso ser muito sério e esclarecido para reconhecer que Pombal nunca foi o concelho charneira, pujante, de que o poder instalado tanto se foi vangloriando ao longo de duas décadas. No mandato 2006-2009, a bancada do PS na AM foi alertando repetidamente o executivo e a maioria que o suportava para o desfalecimento do concelho e para necessidade de inflectir o rumo - a deriva. Sem sucesso. Nem sequer ouviam; preferiam gozar com a mensagem e com o mensageiro (não é um tique recente deste poder) - eis uma das razões de criação do Farpas.

Quem olha com olhos de ver para a realidade local percebe que o concelho nunca teve tecido económico robusto e com capacidade para gerar valor e rendimentos elevados. O tecido económico foi disfarçando as fraquezas, e a comunidade vivendo de forma desenrascada, muito à custa do sector da construção civil. Mas a crise económica de 2003, a que se seguiu a de 2008, expôs as fragilidades.

Pombal desfaleceu porque os executivos municipais nunca procuraram atenuar as fraquezas evidentes: uma agricultura de subsistência rudimentar incapaz de gerar rendimentos; um comércio obsoleto de cariz familiar; uma indústria difusa, sem cadeia de valor e sem um cluster que funcionasse como âncora de competências centrais. Houve dois momentos/períodos em que poder político poderia ter invertido a situação, se tivesse feito um esforço para apanhar os dois últimos comboios da industrialização, o que passou no início da década de oitenta (primeiro PEDIP) e o do final da década de noventa, do século passado, períodos de forte expensão industrial, nomeadamente na região onde o concelho está inserido, mas nem sequer tentou. Nessa altura teria sido possível recuperar boa parte do atraso económico, como o fizeram Leira e Marinha Grande. Mas o poder político tinha outra prioridade: a obsessão pela manutenção e aprofundamento do poder. E nessa empreitada desperdiçou recursos e energias que bem usadas teriam invertido a situação. Um povo, uma comunidade, um poder que não se foca no essencial está condenado à estagnação e ao retrocesso.

A queda da população residente não é um fenómeno recente, como alguns dizem; começou por volta de 2001-2003, e não se tornou logo visível porque foi camuflada pelo forte aumento do número de eleitores entre 2009-2011, por via administrativa (recenseamento automático com a renovação do Cartão do Cidadão).

Os indicadores demográficos são essenciais para avaliar a realidade socioeconómica por que são relativamente fiáveis e bons predictores, mas têm o inconveniente do retardo no tempo - medem o que já aconteceu há algum tempo. Por isso, quando se discute estas questões publicamente, nomeadamente no exercício de funções públicas, convém saber do que se fala e com base no que se fala; ou seja, não abusar da desonestidade intelectual.

 PS: A perda de população não é – em si – um problema, até porque temos população a mais. Geralmente, o problema (essencial) é o que gera a perda. 

4 comentários:

  1. Amigo e companheiro Adelino Malho, fico perplexo com aquela dos copos que até parece que estás com os copos.
    Mas adiante.
    Fico contente com a análise que fazes (não SWOT) pela tua clarividência da matéria em causa.
    Mas fico triste por que nunca te vi a meter as mãos na massa, quiçá, até, mesmo, na massa do nosso amigo e companheiro da Comporta. Mas isso pouco importa.
    O que importa é perceber as causas (para as corrigir) e tu estiveste lá perto.
    Todavia, faltou-te engenho e arte, mas isso é mais do mesmo, quando focas a via administrativa para justificar a causa.
    E se a causa está no turismo esquece, por que o turismo não é sustentável, outrossim o caminho é acrescentar valor às matérias-primas endógenas e maximizar o saber fazer acumulado, por que do saber saber, só agora vamos saber, finalmente, se conseguimos saber alguma coisa do saber saber, com o fito de criar riqueza!
    Saúde e Fraternidade

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  2. Em nenhum momento afirmei que o Turismo é causa ou solução para o nosso problema, antes pelo contrário; isso (o turismo) - e o empreendedorismo e outros que tais - é ladainha de quem não sabe nada da matéria em causa.

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  3. ... E mesmo essa coisa das matérias-primas endógenas tem muito que se lhe diga; se for a aposta na pedra da Sicó, ou coisa semelhante, então nunca lá chegaremos (nas nossas vidas - na vida dos que já cá estão).

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  4. Valha-me Deus, Adelino, acordas-te agora?
    Não é nada disso. O nosso foco não é a pedra da Sicó.
    Ainda se fosse a pedra de Ançã ainda podíamos construir outro Mosteiro da Batalha, aqui em Pombal.
    A riqueza do Concelho de Pombal e a sua mais-valia, é a resina do pinheiro bravo e a sua madeira, são os eucaliptos (up’s), são os medronhos, são as túberas, são os cogumelos, tudo da floresta.
    E mais a água de profundidade, da Mata do Urso, que abastece os aglomerados populacionais dos 620 km2 do concelho de Pombal e de mais alguns confinantes.
    São as minas, a céu aberto, do caulino, do barro e dos burros de Albergaria e de São Simão de Litém, como são as minas de exploração de pirite, no Outeiro dos Netos, na Canavieira, isto quando as máquinas a vapor, CP incluída, tinham como combustível a pirite, a lenhite, ou a hulha e, mais tarde, o carvão de pedra vindo, esse sim, das minas inglesas de profundidade.
    Como são, também, os inertes britados que são uma mais-valia para as pessoas e uma menos valia para as oficinas de automóveis, dado que a sua recolha deixou de danificar as suspensões dos carros, dos jipes e das Pick-Up 4x4 da GNR.
    Também à superfície temos o milho, painço incluído, o girassol, as leguminosas, os mimos e toda uma panóplia de coisas boas e que enriquecem qualquer um.
    Aqui no Sul do Concelho, numa espécie de terra de ninguém e a breve trecho, vamos ter mais uma fábrica de criação de riqueza, com um valor acrescentado ao vento, paredes meias com o Distrito de Santarém, junto à Estrada do Vertente, composta por uma bateria de eólicas a produzir energia eléctrica para meio Portugal, como a Serra de Sicó já produz para o outro meio, Lisboa incluída, coitadinha que só tem Velhos do Restelo.
    E a Procissão ainda não saiu do Adro por que quando sair da Terra, rumo ao Espaço Sideral, é que vais ver com quantos paus se faz uma canoa.
    Saúde e Fraternidade

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