4 de agosto de 2025

A nossa arquitectura urbana – o disfuncional com adornos pindéricos

Como diz o povo, com a sua sabedoria fundada na sua experiência ancestral, o que nasce torto tarde ou nunca se endireita. Quem, neste tempo soalheiro, se sentar numa esplanada do Largo do Cardal confirma-o na plenitude…

Narciso Mota e Diogo Mateus estragaram a sala de visitas da cidade, quando resolveram destruir tudo o que nela era característico e harmonioso, empedrando totalmente a praça, removendo tudo o que era natural: canteiros, plantas, relva e terra (essa desprezível coisa - dizem os arquitectos da moda -, mas na verdade é o ínicio e o fim de tudo); e acrescentando-lhe o que ela não pedia nem precisava: uma tenda e uns canteiros em betão feios como bode. Mais tarde, fruto das críticas, tentaram corrigir a desastrada plástica realizada, plantando umas árvores e colocando uns vasos canteiros ordinários para dar um toque verde à coisa. E Pedro Pimpão, o que fez? Prosseguiu a saga: meteu lá mais carros, a praça de táxis, uns adornos plásticos e umas árvores em enormes vasos de betão, que um funcionário rega carregando baldes de água de manhã e ao fim da tarde! 

Jamais o disfuncional e o belo estiveram tão distantes um do outro. É a smart-city a levantar voo.

30 de julho de 2025

Quem tem medo dos independentes?

Há muitos anos, numa das campanhas autárquicas mais disputadas, um amigo que integrava a lista do PS à Assembleia Municipal costumava ironizar quando via aproximar-se a caravana do PSD: "lá vêm eles com tudo: as bandeiras, a jota, até a Senhora do Cardal!". Nesse tempo (que resultou na primeira eleição de Diogo Mateus para presidente, derrotando nas urnas Adelino Mendes), não podíamos imaginar o estado a que haveríamos de chegar em 2025, tão-pouco que chegaria a hora da Senhora do Cardal entrar mesmo na campanha. Foi João Pimpão quem a trouxe, num post facebokiano ao final do dia de domingo, em que se indignava com o que chamou "uma falta de respeito e uma vergonha pelas pessoas".

O João é um óptimo presidente da Junta da terra onde foi parar, mas é (muitas vezes) politicamente destravado. Mostrou-o ao longo de todo o mandato na AM, espicaçando os adversários para lá do limite. E se a coisa não descambou mais vezes, foi porque o órgão era presidido por um senhor: Paulo Mota Pinto. Adivinha-se por isso o que aí vem, no futuro, com João Coucelo ao leme. A não ser que tenhamos surpresas. 

Ora, a suposta vergonha e falta de respeito teria sido perpetrada pelo Movimento Pombal Independentes, liderado por Luís Couto enquanto candidato à Câmara, e que escolheu o domingo do Bodo para apresentar a sua candidatura, bem como das equipas que o acompanham. O professor António Moderno (candidato a presidente da AM) tomou conta do evento e esperou pelo final da procissão para falar. Excesso de zelo, talvez, já que este é um estado republicano e laico, o evento decorria num espaço privado, como é o Hotel Pombalense. Mas ao João, em particular, e ao PSD em geral, isso não interessa nada. Gosto de os ver desfilar na procissão, concentradíssimos em mostrarem-se nas suas fatiotas domingueiras, a transbordar moral e bons costumes. Quem ia no cortejo, porém, admirou-se com outras vergonhas, como as tascas do Bodo das Freguesias (isso dará outro post) permanecerem abertas, com o movimento próprio de tasca, na praça por onde passa a procissão.

Não é de agora o ódio colectivo dos partidos aos movimentos independentes, assim como não é de agora o ódio a Luís Couto, que neste mandato foi deputado único pelo Movimento Oeste Independentes. Todos sabemos que a maioria dos movimentos é independente, mas pouco. Que na sua maioria são compostos por degenerados dos partidos. A este, em particular, poderíamos apontar muitas características passíveis de crítica, desde logo por se concentrar demasiado numa região, o Oeste, em detrimento do resto. Mas o que acontece, grosso modo, é mais ataque de carácter do que crítica politica. E isso tem outro nome. A não ser que PS e PSD estejam com medo de alguma coisa, para além do Chega.




27 de julho de 2025

Bons pombalenses & pombalenses de bem

 Por estes dias qualquer time line é farta em manifestações de amor a Pombal. Não é só o regresso dos "autóctones" - como lhe chama uma amiga - ou dos emigrantes que voltam às pressas para chegar a tempo do Bodo. É a (legítima) assunção de quem (como eu) gosta da festa, vibra mais com os reencontros em cada esquina do que com os concertos, sabe que pouco importa o cartaz, porque a festa é nossa e faz-se seja lá com quem for. 
Moro aqui há mais anos do que morei na aldeia onde nasci, e tenho a forte convicção de que a nossa terra é aquela onde vivemos. E por isso estas ruas são tão minhas quanto daqueles que acham correr-lhe nas veias sangue azul do Cardal, sinto como meus os versos de Costa Pereira. Podia passar os dias apenas Cardal acima, Cardal abaixo, descer ao Arnado sem me importar com o programa, viver o Bodo, só, com o privilégio de lhe conhecer a história, de ter privado com as histórias de António Serrano, de quando contava (sempre com o mesmo entusiasmo) como ele viu o homem entrar no forno e dar três voltas, saindo ileso. Com a memória de ter visto a festa a ser (re)pensada por vários autarcas; a meia maratona a evoluir para prova do bodo, o bodo dos pequeninos a nascer, as mudanças de palcos, a vida a acontecer. 
Há, no Bodo, várias dimensões. E de cada vez que o presidente da Câmara as confunde ou esbate, uma borboleta da felicidade estatela-se contra o vidro. A dimensão institucional é tão importante (ou mais) do que cada uma das outras. Mas isso é um caso perdido. Passemos à frente.
Ora, no meio desse orgulho pombalense que começa na quinta-feira à noite e só acaba na madrugada de terça para quarta, há a realidade. E essa é como o teste do algodão: não engana. Mostrou-se em todo o seu esplendor logo a abrir, quando, na noite de quinta, vários restaurantes desta cidade fecharam a porta à hora de jantar. Porquê? Porque não queriam servir ciganos, temendo uma invasão com o concerto de Nininho Vaz Maia. Assumiram-no, de viva voz, aos fornecedores. Esta foi a terra que pensou há muitos anos em criar condições dignas de habitação para a maior comunidade cigana do distrito, mas não deixa de ser a terra que coloca o sapo à porta do café. E onde se ergue uma barreira chamada IC2 para os deixar lá, nas margens do Arunca, num bairro sem quaisquer infraestruturas, quase 20 anos depois de criado. Onde se celebram os dias da inclusão (seja lá isso o que for) com espectáculos de ciganos para ciganos. Quase exótico. 
Como as modas demoram mas também chegam aqui, agora há novos ódios de estimação. Foi sem espanto que li comentários  - como os que aqui reproduzo - sobre os desgraçados que instalam tendas na outra margem do Arunca para ganhar a vida, durante uns dias. Podem fazer as sandes de porco no espeto ou os kebab com que te lambuzas de madrugada, podem trabalhar por tuta e meia na fábrica da cerveja que emborcas desde o recinto às imediações, mas isso de venderem coisas nas tendas já é outra história! 
Escrevo no domingo do Bodo, quase à hora em que se celebra a missa e procissão em honra de Nossa Senhora do Cardal, padroeira desta terra. Muitos dos que querem escorraçar daqui os indianos, paquistaneses e demais vendedores hão-de estar lá por baixo, ora a bater com a mão no peito, ora a ajudar as obras sociais. Brinquemos, então, à caridadezinha. 



26 de julho de 2025

Sobre o candidato a candidato

Por norma não ligo a coisas sem importância ou que ainda não o são. Mas há circunstâncias e desejos (não meus) em que a excepção se impõe. 

Hoje, por mero acaso - quando me encontrava na fila do peixeiro - cruzei-me com o candidato a candidato independente à câmara – Luis Couto. Deixámos de falar, ou melhor ele deixou de me falar, quando abandonou repentinamente esta “Casa”, sem dizer sequer um simples adeus, por uma simples divergência de opinião sobre um investimento privado. 



Hoje, quando me dirigi à fila do peixeiro no mercado municipal, reparei que o candidato a candidato andava na rotina de pedidos de subscrição da sua candidatura à câmara. Estranhamente, dirigiu-me cumprimento e eu estendi-lhe a mão – não de deixa uma pessoa sem resposta ao cumprimento em público, a não ser que seja uma criatura muito desprezível, o que não é claramente o caso. Depois, a seco, pediu-me que subscrevesse a sua candidatura à câmara. Respondi ‘Não”. Condidero o poder de encaixe à crítica, e consequente capacidade de separação da esfera política da esfera pessoal um atributo essencial de um político ou candidato a político. Por isso, jamais subscreveria uma candidatura que, para além de revelar uma total falta de poder de encaixe à crítica - e temos muitos nesta terra, senão a esmagadora maioria - vai mais longe: não suporta opiniões contrárias, e até sobre assuntos meramente políticos e tão banais como a localização de um investimento privado.

Os que me lêem conhecem bem a minha opinião sobre o presidente e candidato Pedro Pimpão. Mas por uma questão de honestidade intelectual, aproveito este insólito episódio para dizer uma coisa que, neste momento de pré-campanha autárquica, tem que ser dita: em poder de encaixe à crítica, e na consequente separação da esfera política da esfera pessoal, o Pedro dá dez-a-zero à generalidade dos seus adversários políticos, e em baixa rotação.

25 de julho de 2025

Quem quer ser presidente da “Junta”?

Quem quer ser presidente da “Junta”? NINGUÉM!

Nos primórdios do Regime Democrático as eleições autárquicas eram disputadas pelos partidos, pelas figuras da comunidade e pelas pessoas comuns arreigadas a causas, crenças, propósitos ou projectos. Com o tempo tudo se foi esfumando até à descrença geral. Primeiro caiu-se na falta de escolha, com tudo o que isso implica. Depois no inimaginável de ninguém querer ser escolhido. Acreditem que não estou a efabular sobre a temática; é a realidade pura e dura, que é e é e não é sensível a estados de espírito nem a argumentos.

Sobre o doutor Matos e o doutor Mithá não vale a pena discorrer muito. As suas posturas e comportamentos políticos não deixam margem para duplas interpretações, e é até “crime” incomodá-los.

Já o doutor Pimpão é caso ligeiramente diferente: também não quer ser presidente da “Junta” – sabe lá ele o que quer fazer. Mas precisa muito do cargo.

Eis a nossa triste sina. 


NR: Há enigmas por detrás de certas movimentações políticas que só a antropologia, a sociologia e as ciências da mente conseguirão explicar.

22 de julho de 2025

O voo (solitário) do Pimpão




Ia dizer aqui que Pedro Pimpão deu anteontem o pontapé de saída para a campanha eleitoral das autárquicas 2025, mas não é verdade: nem ele deu pontapé nenhum, porque apenas materializou o estado de levitação em que vive (desde sempre), nem a campanha começou agora. 

Nestas eleições, o camião da vitória que o PSD popularizou com Narciso Mota foi destronado pela avioneta. Pimpão levantou voo. Convidou o concelho inteiro para embarcar com ele, mas uns tiveram de abandonar, outros parecem ter uma consulta às 5. Muitos tinham a expectativa de ver apresentada a lista de vereadores que o vai acompanhar, porque adivinha-se uma razia: o único vereador que ele queria manter, o arquitecto Pedro Navega (que salvou a honra do convento tantas vezes, neste mandato) quer outros voos, regressando à vida profissional. 

O Pedro percebeu (!) que com esta equipa não vai a lado nenhum, e quer substituir cada uma das três vereadoras. Ainda não decidiu qual delas vai encaixar na PMU, na dúvida entre Isabel Marto ou Catarina Silva. Sendo assim, estão abertas pelo menos três vagas de emprego para o próximo quadriénio, fora os apêndices, vulgo adjuntos/as ou secretários/as. 

Porém, o que resta do partido não acha muita graça a essa secção de recursos humanos com ligação directa entre a rua Luís Torres e o Largo do Cardal. Um hábito interrompido ao tempo de Diogo Mateus e que o Pedro retomou, a todo o gás. Há desconforto instalado com tamanho à-vontadinha.

Mas voltemos então ao domingo passado, ao jardim das Tílias, à apresentação onde era suposto o povo conhecer a lista à Câmara, e os candidatos às juntas. Da primeira nem sinais, dos segundos…nem todos apareceram. De resto, aconteceu o mesmo com o mandatário, Luís Marques, e com o presidente da Comissão de Honra (que bela maneira de arranjar uma guia de marcha para um presidente da AM incómodo), Paulo Mota Pinto.

Como Pimpão continua a viver nas nuvens, talvez acredite mesmo que os últimos quatro anos foram notáveis e extraordinários. Para quem vive na terra, sabemos que foram quatro anos a fazer de conta que evoluímos e desenvolvemos. 

O Parque Verde? Não temos. Embandeirar em arco por ter "desbloqueado o processo"? Menos, Pedro.

A mobilidade? Era com as bicicletas, que não promoveu, e se tornaram um flop. 

O CIMU Sicó? Há-de tornar-se, um dia, o centro natural das obras que ninguém sabe para que servem mas onde enterramos milhões. 

Mas calma, que vamos ter uma residência para estudantes. Estudantes de quê? E onde? Lá estão vocês com perguntas chatas. “Se faz é porque faz, se não faz é porque não faz”. 

E sim, o Pedro cumpriu o desígnio de sermos uma smart city: já não precisamos de semáforos, o comércio vai encolhendo para a avenida, voltámos a ter os táxis no Cardal…com jeitinho ainda voltamos a ser vila. 

Por agora Pombal voa mais alto. O problema vai ser quando aterrar.


20 de julho de 2025

Mota Pinto “out”

No dia em que Pedro Pimpão apresenta a recandidatura à câmara, fonte bem colocada no partido fez-nos chegar a informação que Mota Pinto está fora.

Há quatro anos, quando o Pedro anunciou a candidatura do Professor à Assembleia Municipal regozijámo-nos com escolha, porque era imperioso elevar o nível. Não nos enganámos: o Professor fez um bom mandato.

Mas a realidade política actual é o que é: a boa moeda acaba sempre “out”.

8 de julho de 2025

São canos, senhores. E cheira a fim de regime

 O que aconteceu hoje na freguesia da Redinha deveria entrar para os anais da história: uma ministra (por sinal uma académica, das poucas que ainda estão no Governo) veio nas suas tamanquinhas inaugurar uma rede de esgotos. Estamos em 2025, e tudo nas imagens que a Câmara (e a querida imprensa local) divulga cheira a mofo, ou a fim de regime. A bandeira que cobre uma pedra, os metros de passadeira que parecem ombrear com os de cano enterrado. Talvez tenha faltado o padre cura para benzer a obra, mas estava D. Diogo (regressado à terra), e com isto fica assegurada a solenidade do acto.

Daqui até às autárquicas, o Pedro vai desunhar-se em inaugurações. Por ora, ainda sem Mithá Ribeiro (e o amanuense Manuel Serra) a morder-lhe as canelas, vai fazendo de conta que está tudo como dantes: o PSD a distribuir jogo, o PS a vê-lo passar, como se nestas eleições não se adivinhasse um pequeno cataclismo. Parece-me bem que continuemos num clima festivo. A cidade a condizer, com arrais e foguetes no ar (veja-se a decoração deste Bodo), as ruas esventradas, o povo indignado nas redes sociais, sem a alegria que costumava ter. Por ironia, José Cid há-de vir à festa cantar esses versos. 

Está tudo bem. Tudo bem. 






2 de julho de 2025

Mais um número do Conselheiro Acácio

Na epopeia do irrisório em que se transformou a política pombalense, despontam frequentemente casos e figuras surpreendentes. Por exemplo, o desconhecido Escapa passou rapidamente de figura de escape para conselheiro-mor da oposição e do regime.

A Ordem de Trabalhos da última Assembleia Municipal continha cerca de três de dezenas de pontos, alguns muito relevantes para o concelho, outros simplesmente para formalizar actos administrativos. 

Contudo, o nosso Conselheiro Acácio transformou um assunto puramente formal - Apreciação de Impugnação do Empréstimo Bancário, pelo concorrente do banco selecionado, votada por unanimidade pelo executivo municipal - num número mirabolante que sobressaiu de todo o debate. Fê-lo a partir de uma farfalhice administrativa, inventando desmembramentos, aditando hipóteses, acrescentando a sua antítese, e rebuscando tudo com os seus trocadilhos baralhou o distinto Professor de Direito, ao ponto de quase o enrolar. Estamos claramente perante uma criatura dotada de fino tacto político, capaz de ver uma agulha (política) num palheiro; e, mais, de fazer dela uma jóia; a que acrescenta uma retórica capaz de fazer chorar as pedras da calçada, cheia de locuções repolhudas, refinados trocadilhos e rapapés que baralham e torcem qualquer criatura formatada no raciocínio lógico. 

À valente! Ora vejam… 


1 de julho de 2025

Desenlaces de ajustes de contas da política pombalense…

Quando se zangam as “comadres” sabem-se as verdades - assim reza o povo o povo, e com razão.

O mal estar entre Diogo Mateus e Pedro Brilhante era coisa antiga e profunda, mas tomou novas proporções quando Diogo Mateus retirou os pelouros ao vereador em outubro de 2019. A partir daí assistiu-se a uma refrega empolgante em todas os campos (político, midiático, pessoal e até judicial), amplamente difundida por aqui.


Na esfera judicial, Pedro Brilhante avançou com queixa(s) contra o presidente e o seu chefe de gabinete – João Pimpão - por ele usar a viatura, que lhe estava atribuída para uso oficial, em deslocações particulares, e por descontar as despesas da viatura no fundo de maneio da presidência, à responsabilidade de João Pimpão. Diogo Mateus respondeu da mesma forma: apresentou queixa contra Pedro Brilhante por este ter usado uma viatura da câmara para fins particulares (por exemplo, deslocação a um encontro da JSD em Pedrogão Grande, no dia 7-12-2018,…) – facto(s) que Pedro Brilhante sempre negou.

O processo em que são visados Diogo Mateus e João Pimpão conhecerá a sentença amanhã... Já o que visou Pedro Brilhante terminou - viemos agora a sabê-lo depois de João Pimpão ter recordado o caso na última AM e requerido cópias da decisão - com o MP a propor, depois de apurar os factos, “a aplicação da suspensão provisória do processo ao arguido Pedro Brilhante, por um prazo não inferior a 3 meses, mediante o pagamento à CMP de quantia não inferior a 300 euros”, que o arguido aceitou, e a câmara anuiu.

A leviandade é muito má conselheira.

29 de junho de 2025

“Enforcado” ou “enforcou-se”?

A política sem alinhamento, consistência e consonância na acção é uma brincadeira, que corre sempre mal – mesmo para os engraçados sempre sedentos de um brilharete. A dita “oposição” não percebe isto e nunca vai percebê-lo.

Quem quiser ajuizar o desempenho da dita “oposição” no presente mandato na Assembleia Municipal (no executivo não foi muito diferente) basta ver a última reunião. Ou nem tanto: basta ouvir a despropositada intervenção do dotor Anibal - mas houve mais e do mesmo género.  

Naquele seu estilo professoral, mas sempre inconsequente (politicamente), o dotor Anibal voltou a discorrer longamente sobre coisa de nenhum interesse ou valor - o irrelevante Plano Estratégico do dotor Pimpão, ignorado rapidamente por toda a gente. Mesmo alertado pelo presidente da assembleia, para o uso excessivo do tempo atribuído à sua bandada, insistiu até à náusea na desastrada e desastrosa divagação. 

Na resposta, o dotor Pimpão elogiou-o e colocou-lhe suavemente o laço - não (só) a ele, mas ao partido que supostamente representa. 



26 de junho de 2025

O caso da farmácia de Albergaria e os outros que se seguirão


A última reunião da Assembleia Municipal de Pombal contou com três valiosas intervenções do público, todas com um denominador comum: o rei vai nú e passeia-se pelos corredores do município. Não é que isso nos surpreenda, até pelo tanto que até temos exposto nos últimos anos. Mas é sempre perturbador perceber que os cidadãos se vêem obrigados a recorrer ao espaço da AM como tábua de salvação, qual grito de alerta, depois de goradas as outras tentativas. 

Merece especial atenção o caso levado ao púlpito pelo farmacêutico João Rocha Quaresma. Porque ali foi abanar a consciência (dos que a tiverem) das várias bancadas, chamando à atenção para o que está a acontecer na comunidade: a deslocalização consentida de farmácias, que um dia destes podem deixar a descoberto algumas populações das 17 freguesias. E isso, como bem notou o presidente da Junta de Freguesia de Meirinhas, João Pimpão, é o princípio do fim. 

João Quaresma foi cauteloso nas palavras, sabendo - como admitiu - que a intervenção poderia ser arrolada a um conflito de interesses. Mas, invocando o passado, e o tempo em que o pai (o também farmacêutico António Rocha Quaresma, ex-presidente daquele órgão autárquico) pugnou para que todas as freguesias tivessem a sua farmácia, arriscou exercer o que parece esquecido, tantas vezes: o exercício de cidadania.

Vamos então a factos: O que está a acontecer em Albergaria dos Doze já aconteceu em Almagreira - que depois da deslocalização da farmácia para o Louriçal, ficou apenas com um posto. Quem autoriza? A Câmara, cujo parecer é vinculativo. Só em função disso o Infarmed se pronuncia. Há vários anos que os proprietários (da Farmácia Torres & Correia, em Pombal, também donos da farmácia da Pelariga) tentam esta manobra. Começou no tempo de Diogo Mateus, que o rejeitou, prosseguiu no mandato de Pedro Pimpão, que numa primeira tentativa ainda se agarrou à nega do antecessor, mas que agora se prepara para aprovar a deslocalização da Farmácia de Santa Maria para Pombal. Pimpão vai escudar-se no parecer da Junta de Freguesia (favorável, pois), que por sua vez se muniu de um parecer dos proprietários (o nosso conhecido Rodrigues Marques e família) da outra farmácia local, a Albergariense, garantindo assegurar tudo - a distribuição de medicamentos a todos e até os trabalhadores...

Até agora os eleitos locais poderiam alegar desconhecimento. A partir desta AM, já não podem. A Saúde, que tem servido para alimentar tanto discurso político, passa também por aqui. Aguardemos então as cenas dos próximos capítulos desta caixa de Pandora acabada de abrir. 

25 de junho de 2025

Ana Gonçalves deixa a PMU


Ana Gonçalves, a ex-vereadora da Câmara de Pombal e actual administradora-executiva da empresa municipal PMU, deixou o cargo estes dias. É agora chefe de gabinete de Rui Rocha, ex-presidente da Câmara de Ansião e actual Secretário de Estado da Protecção Civil.  

A saída de Ana Gonçalves abre uma vaga de emprego nas fileiras do PSD. Talvez venha a calhar a Pedro Pimpão, numa altura em que precisa de refazer a lista à Câmara, sem deixar "na mão" uma das suas vereadoras.

A nós, cidadãos, dá-nos mais uma vez a certeza de que, na política, uma mão lava a outra e as duas lavam a cara. 

23 de junho de 2025

A oeste, algo de novo: os cavaleiros do apocalipse



As próximas eleições autárquicas vão mostrar, de forma inequívoca, as mudanças estruturais da sociedade portuguesa. Não são apenas as freguesias (de novo muitas, mas agora sem serviços, pois desengane-se quem julga que volta a ter o Centro de Saúde à porta, os correios e a farmácia) em grande número onde haverá apenas um candidato. Não é só por aí que a Democracia vai sofrer um duro golpe de desaparecimento. É também pela qualidade dos candidatos, numa derrocada que começa a notar-se há vários anos.  Agora que o processo está em marcha, que a maioria dos partidos (até o PSD, imagine-se) está em sérias dificuldades para encontrar cidadãos dispostos a dar cara por eles, e pelas terras, começa a levantar-se o drama maior: quem nos vai representar?

 No espaço de poucas horas, durante o dia de ontem, atravessaram-se no meu caminho vários exemplos que explicam a transferência de voto do PS para o Chega, nas últimas eleições legislativas. É sabido que, por aqui, onde o PSD tudo domina, o voto de protesto está há 30 anos associado às listas socialistas. Ou estava. Quando à nossa volta se acumulam antigos candidatos do PS que agora se arvoram defensores do Chega, custa perceber, mas aceitamos. O que já custa a aceitar é que o partido de Mário Soares dê guarida aos que, em funções autárquicas, eleitos com a bandeira do PS, enchem a boca com o respeitinho, difundem as mensagens que os vários grupos de extrema-direita vão multiplicando pelas redes, e até exibem, na pele, tatuada a esfera armilar. Ninguém me contou. Eu vi, no meio de um recinto de festa.

 Aos partidos sempre foi parar tudo, e a sede de fechar listas foi muitas vezes permissiva em relação aos que nem sequer partilhavam valores de liberdade, tolerância e fraternidade. Mas os mínimos de higiene e salubridade da vida pública obrigavam a usar os mecanismos ao dispor, nomeadamente retirando a confiança política a quem não a merece.

 Aqui chegados, resta-nos perceber como vai o eleitorado do PSD comportar-se, face a esta nova realidade que vai semear pelas várias freguesias candidatos inusitados. Um dirigente com responsabilidades locais gabava-se há dias de ter "tudo controlado". Será? O exemplo de Manuel Serra, até há dois meses dirigente social-democrata, antigo presidente da Junta do Oeste (derrotado em 2017 pelo independente Gonçalo Ramos) deixa antever que o paraíso laranja pode ter os dias contados. Renunciou ao mandato na AM, e agora será número dois da lista à Câmara, secundando Gabriel Mithá Ribeiro, o cabeça de lista do CH.

No futuro, das duas uma: ou o PSD ainda vai ter muitas saudades do PS, ou vamos todos nós, aqui no burgo, chegar à conclusão de que são troncos da mesma raiz -  como Ventura, como Passos, como tantos. 

20 de junho de 2025

O socialismo de polichinelo

 A “Junta” reuniu, ontem. Ontem já era tarde para acabar com aquilo, mesmo sabendo que nesta terra não há nada tão mau que não possa ficar pior.



O dotor Pimpão levou à reunião, de final de mandato, a criação de um Conselho Estratégico Municipal, que englobará as ditas forças vivas do concelho (onde é que elas estão?), e reunirá uma vez por ano, para se conhecerem, almoçar ou jantar, e posar para as fotografias, acrescento eu com grande segurança. Está em campanha - o único modo que conhece.

A dita oposição apresentou-se em modo balanço. Não do desempenho da câmara, como deveria ser, mas das suas próprias sandices. De mangas arregaçadas, e a arregaçá-las frequentemente, o franco-atirador de cartuxos sem carga - dotor Simões - atirou-se, como gato a bofes, à temática da Saúde, mais concretamente a falta de médicos de família no concelho, naquele seu estado de irritação forçada em que é preciso falar, falar e falar, só para provar a si mesmo que está com a razão. Nada é mais terrível e perturbador do que ver a ignorância em acção. Pegou no exemplo de Ourém, no seu regulamento de concessão de avultados benefícios aos médicos (suplemento remuneratório, subsídio de habitação e outras benesses) e acusou a câmara, que não tem qualquer responsabilidade nesta matéria, de não fazer o mesmo, de não aliciar/roubar médicos aos outros municípios, como fez Ourém. São estes ditos socialistas que não percebem nem fazem mínimo esforço para perceberem a natureza dos problemas, mas julgam que eles se resolvem atirando dinheiro para cima deles, que andam todos os dias com a defesa do SNS na língua, mas sempre dispostos a darem-lhe facadas com o dinheiro dos contribuintes. Isto para não falar do egoísmo subjacente ao salve-se quem puder. 

Burrice não é fazer más avaliações e avançar com más propostas, burrice é insistir nelas. Bastou ao dotor Pimpão deixar o dotor Simões (e à dotora Odete, que subscreveu a sandice) repetir até à náusea a retórica oca, leviana e aparentemente ingénua para sair dali, por contraste com aquelas fracas figuras, como um executivo lúcido.

15 de junho de 2025

Cheira “bem”, cheira a Pombal

A felicidade só é possível no Céu. Mas o crente e bom-cristão dotor Pimpão prometeu-a aos pombalenses, na Terra! Cumpriu. 

12 de junho de 2025

Em Outubro, Pombal desce mais um degrau

Quando julgávamos que já tínhamos batido no fundo, eis que a realidade nos prega mais uma partida, nos impõe mais um fundo - do poder inepto para o vazio de poder.



O que mais aflige o observador interessado pelas coisas da vida colectiva, onde a política deveria assumir o lugar superior, é o fraco pensar e a falta de noção mínima da realidade municipal que as pulverulentas e desengonçadas criaturas, que se vão apresentando a sufrágio e as que as escolhem, patenteiam. Tal como no passado recente, estamos claramente, salvo raríssimas excepções, perante criaturas que não nos representam, nos não conhecem (os eleitores) e receiam que os conheçamos (a eles/elas). Criaturas que nem mesmo chegam a saber para que serve a política, o órgão câmara ou o órgão freguesia, que vivem demasiado à parte para ter razões pró ou contra o que quer que seja, que acham uma vergonha manifestar publicamente uma ideia própria sobre qualquer coisa, quanto mais ter a ousadia própria da consciência para afirmar ideias e criar rupturas – para serem alternativas.

A política pombalense há muito deixou de ser aquilo que já foi e deveria continuar a ser: um jogo de xadrez, onde todas as figuras da comunidade, das mais proeminentes às mais comuns, participavam directa ou indirectamente no jogo, cumprindo o seu papel num plano e numa estratégia estabelecida e interpretada pelos melhores preparados. Agora é uma representação falsa, porque viciada, da vitalidade da comunidade: um jogo matematicamente claro, definido à-cabeça, como é todo o jogo de damas que se joga com uma pedra a menos.

Mas o que há a esperar de uma oposição que só sabe jogar jogos, como o de damas, cujo único movimento é empurrar peças para a frente, sem plano, preparação ou estratégia? Esta tropa da oposição comporta-se como o animal ferido que pressente sua perdição e não sabe o que fazer. Resultado: pisoteia o pasto que poderia salvá-lo de morrer de fome.

27 de maio de 2025

O estranho afastamento do comandante Paulo Albano

Ensina-se no jornalismo que importante é o que acontece, mas muito mais importante é o que vai acontecer. E por isso estranhámos a notícia (incompleta) da última edição do Pombal Jornal, sobre o facto consumado do comandante dos Bombeiros cessar funções. Mais estranhámos ainda todo o laudatório no domingo passado, durante o 113º aniversário dos BVP, sem uma única palavra sobre o sucessor. Percebe-se, afinal, porquê: Paulo Albano não sai do comando de livre e espontânea vontade. É claramente empurrado pela direcção, que já lhe escolheu há tempos um sucessor - Hugo Gonçalves, o coordenador municipal da Protecção Civil. 

Há anos que o poder político instrumentaliza as associações, e no caso a Associação Humanitária dos BVP. Já tivemos de tudo, nas últimas décadas, mas o caso desta antecipada saída do comandante parece um dejá vu daquele momento em que Narciso Mota decidiu colocar nos bombeiros um seu homem de mão, Armando Ferreira, primeiro coordenador da Protecção Civil. Só que passaram 20 anos e era suposto que as organizações aprendessem com os erros.

O que é que nos surpreende aqui? O acto não é nada consentâneo com o desempenho público de Ana Cabral, a ex-vereadora que agora preside à direcção dos bombeiros. E além de tudo: Paulo Albano não merecia isto, ao cabo de uma vida dedicada aos BVP. Os bombeiros deste concelho mereciam outro tratamento, com actos,  em vez de palavras vãs em dias de festa. E o futuro comandante (ainda em formação), também merecia melhor cenário do que este que vai encontrar: uma casa a arder. 



26 de maio de 2025

Quem tramou Zé Paulo?

 Nos corredores da Câmara pairam partículas que tendem a formar-se um novelo. Não é nada que nos surpreenda - de tal forma aqui o temos exposto - mas um e outro acontecimento vão fazendo levedar este bolo, até que um dia destes azede. Um dia, só não sabemos quando.

O mais recente episódio foi o concurso para um novo cargo de direcção - o de Chefe de Unidade de Desporto e Juventude - lugar que, em teoria, acaba de ser criado. Mas na prática era há muito ocupado por uma rapaz da terra que toda a gente conhece: o José Paulo Oliveira, o Zé Paulo Bimba, nome que lhe advém do pai, mestre Bimba, já desaparecido. Faço esta referência porque estamos na terra onde o presidente da Câmara puxa por esses galões "da comunidade", a toda a hora, como se fossemos a vila dos anos 80, em que todos se conheciam e partilhavam os mesmos gostos e lugares. Dirá o leitor que este já não é o tempo "das cunhas", em que ser da Jota significava uma garantia de emprego na Câmara, de que foi expoente máximo o reinado de Narciso Mota. 

Mas o tempo afigura-se manifestamente pior. 

O que aconteceu no final do mês passado com o concurso para chefe da Unidade de Desporto é revelador de quem manda agora na Câmara (o director municipal, recordemo-nos), que neste caso foi o presidente do júri do concurso. Pimpão lava daí as mãos, como Pilatos. 

Ora atente-se na acta final (pública) do concurso para perceber como se faz: o segredo está em desenhar bem o guião da entrevista pública de selecção, sobretudo quando na prova escrita os resultados eram outros.  E então basta um ponto percentual para fazer a diferença entre dois candidatos que revelam exactamente o mesmo perfil para o cargo.

Ora, falta aqui dizer que, em resultado deste concurso - que colocava em pé de igualdade um superior hierárquico e um subordinado - o júri pendeu, à luz da subjectividade que implica a entrevista, para o subordinado. É a vida - dirão. 

O novo chefe é agora Paulo Fernandes, que até agora dividia o tempo entre as funções de assalariado do Município e treinador de natação do Núcleo de Desporto Amador de Pombal, uma prática comum nos espaços desportivos municipais, a que José Paulo nunca aderiu, mas foi permitindo de forma conivente, nomeadamente nas piscinas.

Como bem dizia um dirigente do PSD, "quem tem unhas é que toca viola". 



22 de maio de 2025

Terra de cegos e de gente feliz

Como executivo o dotor Pimpão é o que é e não vale a pena bater mais no ceguinho, mas como politico não é o inepto que muitos julgam - revela até manhas que lhe desconhecíamos.

A forma como abafou a dita “oposição”, nomeadamente no executivo, com o sermão da positividade e de todos por Pombal (por ele), demonstra-o bem. É verdade que com aquelas alminhas não era coisa difícil, mas era preciso fazê-lo; e poucos, por esse país fora, o conseguem fazer.

Por outro lado, na política do facto consumado – verdadeiramente antidemocrática – o dotor Pimpão revela também alguma astúcia: passo-a-passo lá vai levando a água ao seu moinho e impondo-nos mais uns elefantes-brancos, para seu gáudio e fama. O último chama-se Pólo de Inovação e Conhecimento, já aqui dado à estampa. Para o ficcional empreendimento contratou recentemente, em regime de avença, por 19.900 euros (mais parece preço de supermercado) um rapaz muito empreendedor e sabedor, o doutor Dino Freitas, bem nosso conhecido, e com belas provas dadas, para elaborar uma proposta para a coisa. 

Mas revela igualmente outra faceta até agora desconhecida: já se preocupa com aquilo que ouve dizer que é importante: criação de sinergias. Vai daí, como gastou dinheiro num espaço, dito de Cowork, que está sempre às moscas, com um tiro matou - ou deu vida - a dois coelhos: ao Cowork  e  ao Dino - o avençado ocupou o espaço.

É o Pombal feliz. 


19 de maio de 2025

Chega? Ainda não.




Quem se senta numa qualquer esplanada de Pombal e ouve as conversas, quem anda na rua, quem entra no comércio, quem aqui vive, não acordou hoje surpreendido com estes resultados. Estamos (finalmente) em linha com a média nacional no que toca aos votantes no Chega, embora aqui tenhamos começado com avanço. Estão em todo o lado, em todas as comunidades, em todas as famílias. Juntos, formam um bolo que cresce à custa de vários ingredientes: há os saudosistas do fascismo e das colónias, admiradores de Salazar, mas há também muitos que não sabem sequer o que é a ideologia. São apenas revoltados com a vida que lhes calhou em sorte, gente que noutro tempo encontrava em partidos de esquerda uma âncora, que votava neles em protesto contra aquilo que - achávamos nós - era a Direita. Juntemos ainda os desiludidos com outras ideologias. É desses todos que o astuto Ventura se alimenta e cresce, falando-lhes ao jeito, dando corpo àquilo que o escritor Vicente Valentim chamou em livro "O Fim da Vergonha". Porque até há pouco tempo, tinham vergonha de dizer que pensavam assim. Mas isso acabou. Da próxima vez, não haverá pudor em dizer às empresas de sondagens o verdadeiro sentido de voto. E nessa altura o partido terá de arranjar novo bode expiatório. Por agora, descansem: o Chega diz que não vai atrás de ninguém. Isso será depois. 

A ironia desse voto de protesto num partido de extrema direita que, afinal, normalizámos, é que está assente naquilo que condena: o 25 de Abril, a Constituição, a liberdade. Ao mesmo tempo, vão desaparecendo do mundo dos vivos os que sofreram às mãos da ditadura. A escola falhou em toda a linha quando não explicou o que era e como aqui chegámos, e escusam de pensar nas famílias porque essas estavam muito ocupadas a ganhar dinheiro, umas para enriquecer, outras, muitas mais, para pagar a casa, o carro, as contas do supermercado. Não sobrou espaço para nada, tão pouco para o envolvimento cívico, muitas vezes sequer para votar. A maioria nunca foi a uma assembleia de freguesia, ou mesmo a uma assembleia geral da associação da terra. Alguns nunca tinham votado. Chegados a 2019, eis que um homem se anuncia como o Messias para salvar Portugal. Nessa noite eleitoral em que foi eleito pela primeira vez, André Ventura profetizou que em oito anos seria Primeiro-Ministro. E esse é o próximo passo. Talvez não seja má ideia que isso aconteça rapidamente. Às vezes o povo precisa de terapias de choque. As primeiras vão surgir já nas eleições autárquicas.

Mas voltemos a Pombal. Sem surpresa, o PSD (ok, chamam-lhe AD) ganha, com ligeiro aumento de percentagem e número de votos. Mas está longe da supremacia de outros tempos na maior parte das freguesias, com o Chega a morder-lhe não só os calcanhares como a disputar eleitorado. Há pouco mais de uma década o PSD ganhava em diversas freguesias entre os 70 e os 80% dos votos. Agora, restam-lhe as freguesias de Abiul (54%), Carnide (56%) e Meirinhas (50%) para brilharete. O Chega atinge ou supera os 25% de votação em várias (Meirinhas, Vila Cã, Carriço) e no resto anda entre os 20 e os 25%, números que, aqui, o PS deixou de alcançar há muito. O PS: já nas eleições de 2024 ficara atrás do Chega, mas desta vez ficou reduzido a menos de 15% dos votantes. Pouco mais de 4.200 votos. O mal menor acontece na malha urbana (freguesia de Pombal), onde a AD tem a sua vitória mais magra. 

Uma nota final para a realidade paralela em que parecem viver os nossos actores políticos: Pedro Pimpão veio às redes dizer ao povo que faça "a sua análise", "as suas reflexões" e que tire "as respectivas conclusões". Partimos do princípio que também vai fazer as suas. 

Porque o Chega não é o companheiro fofinho que o PS foi para o poder nos últimos anos. 

16 de maio de 2025

Concessão da cafetaria do CIMU - Sicó – o primeiro choque com a realidade

A “Junta” lançou recentemente – à socapa e irregularmente – o concurso público para a concessão da cafetaria e camaratas de alojamento do CIMU-Sicó. Parece que ainda acreditam que aquilo pode ter alguma viabilidade económica – no que é que aquelas alminhas não acreditam?!


Os que acompanham estas matérias recordam-se do enorme fiasco que foi e continua a ser a Quinta Sant`Ana, adquirida e apresentada, já no século passado, como grande pólo de atracção turística, e deixada ao abandono (ou quase) por décadas. Mas todos poderão igualmente observar - porque estão pela cidade à vista de qualquer um - os espaços comerciais onde a câmara derreteu dinheiro, falhou na sua exploração, concessionou a particulares e, pelo caminho que as coisas levam, retornarão novamente para a câmara, para serem definitivamente abandonados. Alguém acredita que no CIMU-Sicó vai ser diferente? Não acredito. Não acredito porque nesta terra, onde estranhamente o poder nem de maduro cai, tudo se resume ao propósito simples de obter um fogacho propagandístico próximo e imediato; ao qual se segue, infalivelmente, um dano mais ou menos prolongado. É esta a principal causa do nosso atraso, de que não nos veremos livres por muito tempo.

Na generalidade dos casos, as comunidades, tal como os povos, não progridem devido à falta de recursos. Depois há os casos anómalos: os que, apesar de os ter (os recursos), marcam sistematicamente passo. Regra geral, tal deve-se à má aplicação dos recursos, no que o Município de Pombal é useiro e vezeiro. Não por terem faltado recursos financeiros à câmara, que se gaba regularmente de realizar avultados investimentos, milhões para aqui, milhões para ali, milhões para acolá. Contudo, o problema de Pombal não é – nunca foi – a falta de investimento público, foi a realização de maus investimentos. Porquê? Porque nada é pensado, integrado e avaliado em função de propósitos claros e consistentes. Tudo é impulso, tudo é benfeitoria, tudo é despesa, e muita é simples desperdício. O CIMÚ-Sicó é o exemplo extremo. E agora, depois de duas décadas a enterrar lá dinheiro, quando a obra está pronta e é preciso pô-la a funcionar, chegará a fase mais dolorosa - mais penalizadora do erário público. Mas dará sempre para o dotor Pimpão fazer uns eventos e muita propaganda.

30 de abril de 2025

O inenarrável livro sobre o Externato da Guia - que todos pagámos


 

Tive a sorte de nascer na fase final da ditadura, e por isso de crescer em liberdade. Isso quer dizer que, ao contrário do que o destino traçava, antes do 25 de Abril de 1974, não fora a madrugada do dia inicial, inteiro e limpo, a minha caminhada na escola terminaria, muito provavelmente, na escola primária da Moita do Boi. A minha e a da esmagadora maioria dos que nasceram como eu: numa aldeia, no seio de uma família sem posses, onde a porta de saída era a emigração clandestina. Entre os 10 filhos da avó Leontina e do avô Zé Maria, nos Antões, nenhum foi além da quarta classe. Entre os 13 da avó Maria da Luz e do avô António, alguns não foram sequer à escola, outros mal aprenderam a ler e escrever. A minha prima Rita foi a primeira a licenciar-se. Tem agora 60 anos. Lá na minha aldeia os dedos de uma mão chegam para contar os que frequentaram a universidade, ao tempo dos meus pais. Eram todos da mesma casa.

Foi nesse oeste de pobreza, no início da década de 1960, que nasceu o Externato da Guia. Olho para a listagem dos 13 alunos que abriram o primeiro ano lectivo, todos da idade da minha mãe (agora com 75 anos) e imagino que também ela ali poderia estar. Tinha 10 anos. Nessa altura já cuidava de um rancho de irmãos, ela e as outras lá da terra, e deste país. A educação, os estudos, eram privilégio de muito poucos.

Mas as fábricas de serração de madeiras e resina conferiam àquela região algum poder económico, pela mão de meia dúzia de proprietários. Depois havia a localização, excelente, com a qual o professor Armindo Moreira (que há décadas emigrou para o Brasil) convenceu o seu colega António Ramos de Almeida (o Dr Almeida, de que gerações inteiras e seguintes ouviram falar) a investir ali, num colégio privado, em vez de Montemor-o-Velho. O trio de fundadores ficaria completo com um dos poucos conhecidos resistentes anti-fascistas deste concelho, o farmacêutico Amilcar Pinho. 

Uma das portas que Abril abriu foi o acesso à Escola Pública. Quando no ano lectivo de 1983-84 ingressei no então 1º ano do ciclo, o Estado já adquirira o Externato da Guia. A minha documentação era da nova C+S, apesar dos resquícios de colégio particular. Ali fiquei até à abertura do Instituto D. João V, no Louriçal. À medida que me fui cruzando com personalidades e histórias, ao longo da minha vida profissional, fui sabendo alguma coisa sobre a fundação "do Colégio", embora sem um fio condutor que me parecesse seguro. Havia (e há) muitas pontas soltas. E foi por isso que pedi a mão amiga um exemplar do livro que acaba de ser publicado, e lançado, com a chancela da Câmara Municipal de Pombal. 

São mais de 240 páginas impressas em papel couché semi-mate, escritas pela pena do fundador António Ramos de Almeida, agora com 94 anos. São vários capítulos da sua versão dos factos: o registo é muitas vezes agoniante, numa espécie de vendetta contra várias coisas e pessoas, num saudosismo reaccionário. 

O Dr. Almeida tem todo o direito de escrever as suas memórias e lavar a sua alma. No tempo que vivemos, pode até achar-se no direito de vilipendiar o quanto custou a Liberdade, pois que "a anarquia e a instabilidade governativa vieram colocar um ponto de interrogação na continuidade do Ensino Particular", levando-o a vender o colégio ao Estado. E sem o Colégio, muitos dos que lá ingressaram "não teriam passado de simples labregos ou marchantes", sic.

Mas quando isso é pago com o dinheiro dos nossos impostos, o caso muda de figura. Este agrado que Pedro Pimpão fez à família Almeida (e seus interlocutores) custou-nos a módica quantia de 5.299 euros mais IVA, perfazendo um total  € 5.616,94 (cinco mil, seiscentos e dezasseis euros e noventa e quatro cêntimos). Isto para 300 exemplares. Que no dia do lançamento - por piada de mau gosto integrado nas comemorações do 25 de Abril - estavam a ser comercializados pelo doutor Né, ao serviço da Câmara, a 20 euros cada exemplar. Foi um ajuste directo, este agrado. Uma bela cama que Pimpão anda a fazer.

Não em meu nome. 

29 de abril de 2025

Quando o Conselheiro Acácio “emerdou” o Professor

Na última AM, assistimos, desconsoladamente e da forma mais insólita, à queda de um anjo, aos pés do Conselheiro Acácio. Quem diria?!

Saudámos a entrada do Professor na política pombalense, que bem necessitada estava de redenção depois dos múltiplos atropelos cometidos pela “doutora” Guardado. Fomos por aqui dando nota da dignidade e da exemplar forma como o Professor dirigia a magna assembleia. Mas eis que, insolitamente ou talvez não, o Professor soçobra e desilude numa questão simples para um Professor de Direito: aplicação da lei e do regimento. 

O Regime Democrático assenta em dois pilares que convém nunca esquecer nem deslaçar: a vontade da maioria e o primado da lei. O Professor deu “carta-branca” à imposição da “Vontade da Maioria”, fintando a lei com justificações esfarrapadas, sabendo que estava a ferir de nulidade o acto praticado -aprovação de Concurso Público sem entrega da documentação no prazo.

No trapezismo feito para justificar o injustificável, o doutor Fernandes foi parcial e enviesado na argumentação, porque não resistiu ao instinto de “derrotar”, mais uma vez, a oposição; mas, apesar de tudo, manteve uns laivos de consciência e de rectidão ao reconhecer que, nesta matéria, o regimento viola a lei; e lembrou, até, que nas assembleias das sociedades comerciais esta prática não é permitida - sendo-o, fere de nulidade o acto.

O trapezismodo Professor foi manifestamente inaceitável, porque lhe compete assegurar a conformidade do desenrolar da assembleia e das respectivas decisões, respeitando a lei e agindo com imparcialidade. Começou bem: suspendeu os trabalhos e reuniu a mesa para analisar a questão. Mas quando se esperava a decisão correcta, alicerçada na lei e nos Elementares Princípios do Estado de Direito Democrático, o Professor informou que a mesa decidira colocar o requerimento do PS à votação da assembleia, e que a decisão da assembleia seria por maioria e não por unanimidade (como o PS defendia). O doutor Coucelo anuiu prontamente com o habitual movimento vertical da cabeça, e a "doutora" Adelaide repetiu o gesto - “o companheirismo e o respeitinho são muito bonitos”. O Professor justificou a decisão com dois argumentos risíveis: (i) falha pontual do executivo na entrega atempada da documentação; (ii) e excepcionalidade da sua decisão. Bem sabemos - não é preciso ser Professor de Direito - que não há bons argumentos para decisões erradas. Mas alicerçar a decisão da mesa no carácter pontual do caso, que ainda por cima não é verdadeiro*, e na excepcionalidade da decisão da mesa, não lembra ao Diabo - a conformidade dos actos administrativos não tolera excepcionalidades ad-hoc à lei. 

A realidade diz-nos que nunca devemos esquecer que o homem de partido é sempre um homem partido, salvo raríssimas excepções. Tínhamos o Professor dentro dessas as excepções, erradamente. 




*NR: O executivo,  por desconhecimento das regras ou por manha, reúne regularmente nas vésperas das assembleias, contra aquilo que é regra e era boa-prática anterior.

27 de abril de 2025

Quem se mete com o Pimpão, leva


Ficou claro na última reunião da Assembleia Municipal que Pedro Pimpão já escolheu o seu adversário para as próximas eleições autárquicas. Pelo tom crispado com que respondeu a Luís Couto, candidato à Câmara pelo movimento Pombal Independentes, percebeu-se também – de novo – que o sentido democrático deste presidente vai buscar o seu quê de inspirador a Narciso Mota: também ele acenava com “os prints” das publicações que lhe desagradavam. Também ele considerava que as notícias “negativas” prejudicavam a boa imagem da Câmara. Em rigor, toda a resposta de Pimpão a Couto (vale a pena recorrer ao vídeo da AM para esse deleite) denota um registo da criatura à imagem do criador – que de resto recuperou para a sua permanente campanha.

Mas centremo-nos na questão que mais importa: a tão almejada (por ele) vinda do IPL para Pombal, sobre a qual parece que “quase ninguém” é contra, segundo Pimpão. E se for, está a contas.

Ora há aqui vários equívocos nesta forma atabalhoada como o Pedro vê o desempenho do cargo institucional que ocupa. Mas o crucial é este de considerar que não vai explicar os benefícios do ensino superior em Pombal a quem não acredita, porque seria “como falar de Deus a um não crente”.

Errado, Pedro. O presidente da Câmara não tem só obrigação de responder, em sede da AM ou noutra, sobre os custos hipotéticos ou reais -  que serão avultados, ninguém tenha ilusões. Tem obrigação de os justificar.

 

Depois há o lado incongruente destes números, bem diferentes dos que Pimpão gosta de passar nas redes sociais, ora na rua, ora na festa, ora na missa, ora à mesa do café, mas sempre com a aura de bom cristão – que acumulou minutos de silêncio por estes dias, em memória do Papa, para compensar este ruído, talvez.

Um presidente para todos, todos, todos, menos os que o contrariam.

24 de abril de 2025

Política pombalense – uma decadência extraordinária

A Assembleia Municipal (AM), definitivamente abocalhada pelos presidentes de junta, que ali debitam lamúrias ou lisonjas conforme os seus humores, reuniu ontem. Na véspera, a “Junta” reunira para cumprir a formalidade, sem ligar às formalidades mais elementares; gerando, desta forma, entropia e irregularidades que o presidente da AM resolveu mal – assunto que trataremos noutro post.



Assiste-se a uma degradação da acção política e a um estupor apático, tanto ao nível do poder como da oposição, que é preocupante, nomeadamente num tempo que deveria ser de efervescência e confronto político. A forma como decorreu última reunião da AM é paradigmática da triste realidade.

As reuniões da AM - tal como as da Assembleia da República - não são igualmente relevantes. A reunião de Abril, onde se discute o Relatório de Gestão do exercício anterior, foi sempre a mais relevante (politicamente), porque era ali que se fazia o balanço do desempenho do executivo; e, por isso, era nesta reunião que a oposição tinha obrigatoriamente que fazer prova de vida - mostrar a sua capacidade para ser alternativa. Agora, tudo é diferente, penoso, chocho e insípido. A bancada do poder, historicamente aguerrida e até trauliteira, vai agora para ali como quem vai para um velório, com as principais figuras a remeterem-se praticamente ao silêncio, suportando estoicamente o enfado. A dita oposição, de onde desertaram os figurões, e agora resumida ao Conselheiro Acácio e às 2 – Marias, arrasta-se penosamente no seu labirinto, sem ânimo e sem âncoras, sem as corriqueiras recomendações. O tempo do PAOD (Período Antes da Ordem do Dia) fica pelo meio, e o Relatório de Gestão não chega sequer a ser discutido – despacha-se com uma cábula trazida no bolso.

Como é que se sai disto? - perguntarão alguns leitores. Não sai; só se desce. E perguntarão outros: … mas não há esperança? Há, mas não é nas nossas vidas.

21 de abril de 2025

FAZ&DESFAZ, NO CARDAL

O doutor Pimpão resolveu esburacar novamente o Cardal, para ali “criar uma praça central de táxis”, que, diz ele, “permitirá dotar a zona de todos os elementos necessários para o efeito…” – seja lá o que isso for. E garante – o que este profeta não garante! - que as obras avançaram “após um processo muito maturado e discutido, nomeadamente relativamente à localização da praça central de táxis, após um trabalho profundado em articulação com os taxistas na busca de uma solução definitiva e consensual”.



O Cardal foi durante décadas o poiso da Central de Camionagem local. Daí que a Central de Táxis também ali estivesse. Mas os tempos são outros, exigem outro pensar e outra forma de pensar a cidade. Com este disparate (Praça Central de Táxis no Cardal) a cidade regride duas décadas, fica mais disfuncional e desfigurada. Mas para embelezar a tontice, diz(em) que vão lá plantar umas árvores, que farão sombra aos taxistas. Nesta terra, assim se governa e desgoverna, se faz&desfaz obra, se cumprem promessas, e se continua a confundir carros com mobilidade, e árvores com paisagem.

O doutor Pimpão é um rapaz sem ideias ou com ideias velhas queimadas pelo tempo. Seria um excelente presidente de junta se não tivesse dinheiro para gastar e se limitasse a sua acção à diversão e à propaganda vazia e barata nas redes sociais, suas especialidades e passatempos preferidos. 

16 de abril de 2025

Autárquicas'25: sobrou pr'a nós o bagaço da laranja


As eleições legislativas que atravessamos vieram refrear qualquer ânimo autárquico, por estas bandas. Vivemos uma espécie de quarta-feira de cinzas prolongada, num jejum de acção política e abstinência participativa. Sem critério nem noção, os partidos mais expressivos vão pingando nomes para as Juntas de Freguesia, ora antes ora depois dos candidatos à Câmara.
Vão longe os tempos em que o trabalho político era levado tão a sério como merece. O que sucede em Pombal é um prolongamento do recreio que este último mandato imprimiu no espaço público, anunciado desde logo naquela tomada de posse de Pedro Pimpão, que de solene teve apenas a toalha de mesa. 
Em Janeiro passado, o PSD resolveu anunciar um candidato à Junta (na Redinha) mesmo antes do (re)candidato à Câmara. Depois seguiram-se outros, que avançam para segundas ou terceiras núpcias. Até agora não sabemos nada do candidato à Assembleia Municipal, se é que Paulo Mota Pinto ainda tem paciência para isto. Por outro lado, sabemos que há no PS um candidato ao cargo um pouco baralhado com as funções, a avaliar pelo caderno de encargos que apresentou na página do partido. Já do candidato à Câmara, não sabemos nada. Depois do estrondo do anúncio, quando era esperado que um estreante na vida pública -  como é o caso do médico Fernando Matos - se fizesse notar, por palavras e actos, do candidato do PS assistimos ao silêncio ensurdecedor. Uma espécie de cabeça de lista fantasma, que paira sobre eventos e reuniões, sem dizer ao que vem. Pensando bem, é um bom contraste com o profeta Pedro, que há-de achar "muito interessante esta partilha e estas dinâmicas".
O tempo está para profetas. Veja-se o caso do anunciado candidato à Junta do Carriço, equivocado no partido que lhe vai dar guarida. Está escrito na sua carta de apresentação que nasceu "numa família humilde, honrada e católica", foi acólito e catequista. O sonho de candidato para o CDS de 1976, se ainda existisse por cá. 
Nesta amálgama que povoa a lista dos candidatos já conhecidos com o símbolo do PS, há ainda o caso do candidato de Vermoil, que garante ter "suspendido" a militância...da Iniciativa Liberal. 
A política sempre se fez disto, da mudança de camisolas. Só que no tempo em que havia algum decoro - e alguma higiene nestas coisas - era fácil encontrar a excepção, porque havia regra. Agora é difícil perceber qual é a regra. 
Para cereja do bolo temos já marcada uma apresentação de candidatura: a de Carla Longo, à Junta de Freguesia de Pombal, em plena campanha para as legislativas. Não deixa de ser irónico que o PSD local, feito de profissionais da política (como é o caso desta recandidata) ainda recorra a almoços e jantares destes, como se tivesse novidades para mostrar. 

Sobra-nos, por estes andar, o bagaço da laranja. 

10 de abril de 2025

As Meirinhas não saem disto

Se há nesta malfadada terra uma malha urbana incaracterística e repulsivamente feia ela encontra-se, sem dúvida, nas Meirinhas. É difícil, senão impossível, encontrar por ali alguma coisa bela ou, pelo menos, harmoniosa à vista, tal é a amálgama disforme e disfuncional de aberrações e maus-tratos urbanísticos, irresponsavelmente praticados com premeditada ignorância e intenção ao longo de décadas.

Na segunda metade do século passado quase tudo era permitido, porque não existiam instrumentos de planeamento, regras urbanísticas claras e abrangentes e bons exemplos. Mas actualmente não se pode aceitar que se continuem a cometer os mesmos atentados urbanísticos, só porque é “tradição”.



Bem isto a propósito de umas edificações que têm surgido na dita terra, nomeadamente na Rua do Comércio, e que muito têm apoquentado os meirinhenses que se preocupam com a qualidade do espaço público, ao ponto de o presidente da junta ter participado a revoltante situação à câmara e exigido a obrigatória fiscalização.

Mas parece que tudo vai acontecer como previsto. Terra onde não há rei nem roque, prevalece o desenrascanço e o oportunismo.

2 de abril de 2025

Pólo do Conhecimento – mais uma tontice pombalina

Num dos pasquins que alimenta, o dotor Pimpão fez passar a informação que o projecto do Pólo do Conhecimento, a erigir no Casarelo, está quase pronto. Os despesistas são assim: dinheiro em caixa (proveniente do empréstimo recentemente contratado) dinheiro torrado... Compreende-se. Os pacóvios admiram o que não têm, mas nada fazem para o terem. Na verdade, não há absolutamente actos “desinteressados”, e nada é mais terrível (para as comunidades) que ver a ignorância em acção. Mas do IPL esperava-se um bocadinho de juízo (prudente) e de racionalidade. 



É inegável que o município precisa de conhecimento (aplicado) em diversas áreas críticas, nomeadamente em matérias da boa-governação. Mas não precisa de mais “elefantes-brancos”, abandonados ou subutilizados, tais como o CIMU-SICÓ, a Casa da Guarda Norte, a Casa Mota Pinto, a Casa Varela, o Centro de Negócios, o Celeiro do Marquês, a Quinta de Sant`Ana,etc., e as dezenas de edifícios ilegais (sedes de associações e outros) e de equipamentos desportivos e de lazer abandonados (ringues, parques de merendas e outros). 

Desde os primórdios da economia se sabe que o uso de um objecto determina seu valor. O Município de Pombal comprova-o na plenitude - tem sido uma máquina trituradora de valor. Nas ditas ciências-sociais não há nada tão profunda e objectivamente estudado e teorizado como as matérias de Análise e Decisão de Investimentos; mas por cá continua a confundir-se investimento com despesa, valor com desperdício, análise com opinião, decisão com palpite. Por conseguinte, apesar da doentia naturalidade das coisas que nos vão sucedendo, é absolutamente inacreditável que durante quatro décadas, três presidentes e vários executivos, não se tenha conseguido dar vida/utilidade - valor para a comunidade - a nenhum dos avultados “investimentos” realizados, salvo a honrosa excepção da Biblioteca Municipal. 


1 de abril de 2025

A lenta agonia do centro histórico - e desta cidade

 



Entre 1999 e 2008 vivi mais tempo no centro histórico de Pombal do que na minha rua. Já então se anunciava um certo declínio daquelas artérias, mas ainda abriam alguns negócios, dando continuidade a uma época em que o comércio  - e serviços - passavam por ali. 

Quando Narciso Mota apostou tudo no parque subterrâneo e empedrou por completo a Praça Marquês de Pombal, despindo-a de árvores, só se aproveitou a retirada dos carros. Na altura, que havia jornais e crítica, que ainda não estávamos tomados por esta unanimidade bacoca, por esta letargia (sim, nós tivemos uma Associação de Defesa do Património Cultural, por exemplo) muito se desancou naquelas obras. Viriam outras piores, quando se substituiu a calçada das ruas por estas lajes, por exemplo.

Cometeram-se muitos erros no centro histórico, nos últimos 30 anos - que afastaram dali as pessoas, os habitantes e o comércio. Não mais me esquecerei do dia em que, tão contentes por estarmos a ocupar um espaço numa zona nobre e promissora (as zonas históricas despontavam para a animação, por todo o país) instalando ali a redacção do d’O Eco, entretanto renascido, vim à rua perceber que placa era aquela que uns trabalhadores da Câmara estavam a colocar na Igreja do Carmo. 

Era a nova casa mortuária. 

Poucos anos antes, o então vereador da Cultura, Gentil Guedes, redescobrira a praça. Foi ali que os Silence4 deram um memorável concerto. Era ali que ele sonhava esplanadas e bares.

Ainda hoje, nos espectáculos do festival Sete Sois Sete Luas, não há quem não se impressione com a acústica daquela praça. 

Nesse tempo já tinham fechado bares como o Missa das 9 ou o Palumbar, ou a hamburgueria no primeiro andar da rua Miguel Bombarda, de cujo nome não me lembro. Mas aquela viragem de década trazia um novo alento: o jornal, no Largo do Carmo, o Projecto Jazz (antigo bar do Cais), na Rua do Cais, a cafetaria da K de Livro, a livraria que ficou na memória colectiva, junto àPraça. Permanecia o sapateiro, a mercearia da Natália, e as históricas lojas como a sapataria Mónaco ou a Pereira, a da Singer, a do Cacho, a Ourivesaria e Óptica Ramos, entre outras. A porta sempre aberta do senhor João das Farturas, o senhor António Serrano à varanda (que dor aquilo que os novos donos fizeram à casa, transformando-a em apartamentos), a D. Natália a puxar pelo carrinho de compras com todos os ingredientes para os rissóis, o cheiro aos ‘russos’ da D. Clotilde. E ainda os serviços do IEFP, a Junta de Freguesia, mas também o primeiro franchising de roupa de criança, onde mais tarde se instalou o único negócio que resta do programa Porta Aberta: a Mercearia da Praça. O Celeiro do Marquês (então chamado Centro Cultural, onde até funcionou uma delegação do Instituto Português de Arqueologia), a cadeia a virar museu, nesse patológico fascínio pelo Marquês. Menos mal, ainda assim.

Não foi por falta de dinheiro que o Centro Histórico definhou. A Câmara comprou edifícios, fez obras, gastou, como é hábito, mundos e fundos. Foi mesmo por falta de estratégia, de uma ideia, de um pensamento para aquela zona - e para a terra. Depois de Narciso veio Diogo, e depois dele veio Pimpão. Ninguém foi capaz de virar o jogo. 

A presidente da Junta de Freguesia, Carla Longo, sabe disso. Vai-se esforçando para fazer ali alguma coisa, mas tem consciência de que os eventos esporádicos (como a comemoração do Dia Nacional dos Centros Históricos, no fim de semana passado) mais não são do que um penso rápido para tapar uma doença crónica. Na tertúlia que organizou, ao final do dia de quinta-feira, para debater o assunto,  ficou bem patente uma parte do problema: a crónica falta de interesse e participação do público, que explica a inexistência de uma sociedade civil em Pombal, e o desfasamento da realidade por parte dos dirigentes associativos. Quando o presidente da Associação de Comerciantes ainda acha, em 2025, que a falta de pessoas se resolvia com uma loja da Zara ou um MC Donald...estamos conversados. 

Mas o que é verdadeiramente triste é a falta de horizonte. A poucos meses das eleições autárquicas, o debate não suscitou interesse nem para a classe política que quer ocupar cargos públicos. Assim como não põem os pés em qualquer iniciativa que ali aconteça, a não ser os do poder, que são “obrigados”, para discursar ou entregar lembranças. 

Enquanto acharmos que está tudo bem, que somos os maiores (e os melhores!), com medo de encarar a realidade de frente, não passaremos do concelho que consegue ombrear com os do interior profundo na perda de população. As lojas continuarão a deixar as ruas da zona histórica, afunilando a cidade até ao Cardal, fugindo para a avenida, correndo atrás de quem ainda passa. De porta fechada ao sábado e domingo, mesmo que seja um fim de semana de eventos, como era o último.

E sem pessoas, nem massa crítica, seremos cada vez mais a terra de passagem.