8 de março de 2013

E é outra vez Dia Internacional da Mulher


Não sei bem qual delas admiro mais: se a minha avó Maria, que pariu 13 filhos sozinha e ainda ajudou a nascer meia Moita do Boi; se a minha avó Leontina, que pariu apenas 10, oito dos quais ao lado da minha mãe, numa esteira, no chão. Que percorria os 20 km que separam Antões de Pombal com um cesto de laranjas à cabeça, para vender nos tempos de fome; se a avó do meu homem (que também foi muito minha, nos anos em que convivemos), que ficou viúva aos 32 anos, com cinco filhos e sem qualquer ajuda; ou a minha mãe, uma muralha à prova de tudo.
Na minha família as mulheres têm tão mau feitio que nunca nenhum homem ousou desafiar-lhes limites, nem pisar o risco. Se o fizesse, tenho a certeza de que acabava partido aos bocados. Sempre ganharam o seu próprio dinheiro, sempre trabalharam muito, em casa e no campo, nas casas dos outros, nas fábricas, nos escritórios, nas escolas, onde houver trabalho e onde for preciso. Nunca os homens ousaram mandá-las calar, porque qualquer um que se aproximou delas percebeu ao que ia.
A minha mãe sabe que eu não concordo nada com a forma como a maioria decidiu assinalar o Dia Internacional da Mulher* e não se rala nada com isso. Logo à noite lá vai ela para um desses jantares, que  dinamizam a economia neste concelho a cada 8 de Março. 
Depois há muitas que eu admiro, à minha volta, e que nunca são evocadas nos poemas nem nas músicas. Luísas de muitas calçadas que nunca desistem. Seria nessas que pensava madre Teresa de Calcutá quando escreveu estas linhas:
Tenhas sempre presente que a pele se enruga, o cabelo branqueia, os dias convertem-se em anos …
Mas o que é importante não muda; a tua força e convicção não têm idade.
O teu espírito é como qualquer teia de aranha. Atrás de cada linha de chegada, há uma de partida.
Atrás de cada conquista, vem um novo desafio.
Enquanto estiveres viva, sente-te viva.
Se sente saudades do que fazias, volta a fazê-lo.
Não vivas de fotografias amarelecidas…
Continua, quando todos esperam que desistas.
Não deixes que enferruje o ferro que existe em ti.
Faz com que em vez de pena, te tenham respeito.
Quando não consigas correr através dos anos, trota.
Quando não consigas trotar, caminha.
Quando não consigas caminhar, usa uma bengala.
Mas nunca te detenhas!
 *em quase cinco anos de Farpas, julgo que é a primeira vez  que me refiro ao Dia. Sei que muitas mulheres aqui vêm, embora muito poucas se mostrem.  Entrem, sem medo. Esta casa também é vossa.

2 comentários:

  1. Paula, boa noite.
    Permite-me escrever, de cabeça, o Toucado de Nicolau Tolentino de Almeida, em homenagem às mulheres vaidosas.
    “Chaves na mão,
    Melena desgrenhada
    Batendo o pé na casa
    A mãe ordena
    Que o furtado colchão, fofo e de pena,
    A filha o ponha ali, ou a criada.
    A filha, moça esbelta e aperaltada lhe diz com a doce voz que o ar serena:
    Sumiu-se-lhe um colchão?
    É forte pena.
    Olhe, não fique a casa arruinada!
    Tu zombas disto? Tu cuidas que por ter pai embarcado já a mãe não tem mãos?
    E dizendo isto, arremete-se à cara e ao penteado.
    Eis, senão quando, caso nunca visto, lhe sai o colchão de dentro do toucado.”
    Beijo.

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  2. Boa tarde
    Caríssima Paula:
    Que interessa a liberdade da mulher por um dia se ELA é mal tratada o resto ano? O dia da mulher, nos moldes actuais, traduz-se nuns copos e mais alguns excessos, seria bom de ver outro tipo de iniciativas que fossem além dos tais excessos!

    O texto de Madre Teresa é bonito e aplica-se a toda a sociedade, podendo também traduzir-se numa frase mais curta: "Uma porta se fecha, não desista, outra se abre"

    Na actual conjuntura económica desta sociedade de consumo também consomem, destroem, os laços familiares, quantas mulheres e homens há neste País que apenas vêm a família reunida nas férias ou apenas no Natal? tudo porque temos uma sociedade que elegeu o capital como que a salvação esquecendo a afectividade, afinal o mais importante, para o desenvolvimento de uma sociedade menos agressiva e equilibrada
    A igreja que devia promover o bem, exigindo o enceramento das zonas comerciais ao Domingo, lava as mãos como Pilatos,
    A meu ver a mulher é o grande suporte da família, quer das mono parentais quer das estruturadas, é no seu ninho que o marido, os filhos ou genros vertem as suas lágrimas nos momentos difíceis. e, em face disto, seria bom que a mulher promovesse uma luta a nível nacional para encerrar todos as zonas comerciais ao domingo e exigissem o Domingo para o Dia da família., isto sim seria a melhor iniciativa para comemorar o DIA DA MULHER.

    Porque não fazer greve as compras aos domingos?


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