27 de julho de 2018

Em que se narra a desgraça do ministro das obras-tortas

No regresso das amarguradas férias, o ministro das obras-tortas tinha à sua espera uma dura acareação com o Príncipe e o seu fiel escudeiro. O escarcéu dos Malhos tinha deixado feridas profundas que tinham que ser limpas e tratadas. Quando o ministro das obras-tortas se apresentou no trono, já Pança e o Príncipe o esperavam. Apresentou-se mortinho e com cara de enforcado. Retraído como é, pediu licença para entrar, mas não chegou a ouvir a resposta; logo o Pança se adiantou: - Senta-te. Tens muitas explicações para dar, e lições para apreender.
Começou o Príncipe: - Explicai-nos, ministro das obras, duas coisas só: primeiro, que andais a fazer para deixardes ficar a estrada para os Motes naquele estado; segundo, como foi possível gerardes sozinho tamanho escarcéu mediático?
- Desculpai-me o sucedido, Alteza; que tamanha vergonha nunca eu passei, nem espero jamais passar…
Ao que logo interpôs o Pança: - se não ganhardes mais esperteza vais passá-las. Ai vais, vais!
- Posso continuar…- perguntou o ministro das obras-tortas? 
Ao que o Príncipe respondeu: - Deixai-o explicar-se, Pança.
- Então, continuando: a estrada ficou sem reparação porque acertámos em deixar atrasar aquilo para podermos receber algum dinheiro dos fundos…
- Aquilo não é uma estrada – rematou o Príncipe irritado.
- Pois não, Alteza – anuiu a contragosto o ministro das obras-tortas. E acrescentou: - as coisas vão-se degradando e os serviços nem sempre conseguem tocar tanto burro como temos para tocar.
- Aqui só houve um burro – afirmou o Príncipe.
O ministro das obras-tortas ignorou o comentário do Príncipe e prosseguiu nas desculpas: - sobre o escarcéu mediático, nem me fale, Alteza. Nunca imaginei que a queixa caísse nas mãos dos maldizentes – afirmou o ministro das obras-tortas. E acrescentou: - mas queixas às autoridades é coisa que se faz amiúde…
- Fazem-se mas é preciso saber fazê-las – replicou logo o Pança. E acrescentou: - e essa pasta é minha…
- Mas eu sou vice-governador, com a atribuição da ligação com as autoridades oficiais – lembrou o ministro.
- Para que vos meteis nestas coisas? - perguntou o Príncipe. E acrescentou: - Tendes tanto que fazer nas obras, que bem atrasadas estão; evitai pendências para as quais não tendes destreza.
- Desculpai-me, Alteza; em pena de ter infringido as leis da estadística e ter causado este grande desaforo; que Deus vos conceda dar-me merecido castigo (uns açoites).
Ao que o Pança contrapôs logo: - Os açoites não reparam os descómodos que estamos a sofrer, e ódios destes não se anulam com açoites no malfeitor.
- Nisto que nos agora aconteceu — tornou ministro — quisera eu ter tido o entendimento e a sabedoria que Vossa Mercê sempre tem nestas delicadas alturas; mas eu lhe juro, à fé de pobre homem, e do fraco entendimento que possuo nas manhas da política, que não repetirei tamanho dislate; e que se não fosse por saber, que todos estes descómodos andam muito anexos ao exercício da política, aqui me deixaria morrer de pura vergonha – afirmou o ministro.
- A tua desventura – que também é nossa - é daquelas que nem consolação admite. O pior nem é o muito mal que nos fizeste, é o muito que engrandeceste os maldizentes – devem estar bem inchados com tanta as visualização – retorquiu o Pança.
- Eu sei, eu sei, eu sei…- anuiu o ministro das obras-tortas.
- Mas bater com a mão três vezes no peito não chega – afirmou o Pança. Tencionava ajudar-te a chorar as mágoas, e suavizá-las o melhor que soubesse; porque sei, por experiência própria, que sempre é alívio nas desgraças termos quem se nos doa delas, mas … Se Deus com sua infinita misericórdia nos não socorre… - acrescentou o Pança.
Ao que o Príncipe aditou - Despertais-nos piedade, muito embora conceder-vos perdão seja impossível – neste caso, só Deus o pode fazer. Por isso, recomendo-vos uma confissão - preferencialmente pelo nosso Bispo -, uma penitência rigorosa, uns tempos de clausura com jejuns e outras inclemências que possam ajudar à remissão, senão do político, pelo menos da alma.
E o Pança acrescentou: - Mas tem cuidado; porque bem diz o povo que um mal nunca vem só, e que o fim de uma desgraça é princípio de outra maior.
Antes de sair, o ministro das obras-tortas, suplicou: - Senhor meu, tende sempre mão em mim... E saiu, mais falto de conforto humano e com a alma mais enegrecida do que quando entrou.                                                                                                                                                                                                                                         Miguel Saavedra

1 comentário:

  1. Na Corte de D. Diogo existem dois Ministros cuja função parece que é retirar credibilidade ao regime. Este Executivo está definitivamente em baixo de forma. É a equipe menos coesa que o Reino Laranja teve. Caso a a oposição apresente uma alternativa credível pode acontecer ao Reino o que aconteceu anteriormente em Leiria e posteriormente em Ansião, em que Concelhos maioritariamente com tendência PSD a virar de rumo. O PS precisa de encontrar já um líder forte para começar a preparar o ataque ao castelo, pois se insistir na apresentação de um líder a menos de um ano do sufrágio nova derrota é certa. Na minha opinião de REFORMADO da POLITICA o PS Pombal tem agora a grande oportunidade...senão ganhar nas próximas autárquicas ficará mais uma década na aposição.

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