15 de setembro de 2021

Juntas, um mundo obscuro

Anteontem, depois de ouvir e postar sobre o debate entre os cabeças de lista à Junta de Almagreira, prometi aos leitores do Farpas um estudo comparativo sobre o desempenho das diferentes juntas do concelho de Pombal, se obtivesse os dados indispensáveis a uma boa análise. Apesar de crítico do poder local, ainda acreditava – agora menos – na rectidão dos políticos locais, mas a realidade continua a surpreender-me(nos) pela negativa.

Decerto que muitos cidadãos continuam a achar que as juntas são os parentes pobres da administração local, que não têm recursos nem obrigações a cumprir para além de passar uns atestados, de limpar uma valetas e de cuidar do cemitério lá da terra; mas realidade actual é muito diferente da imagem difundida ao longo de várias décadas. As juntas têm hoje atribuições e responsabilidades mais relevantes e orçamentos de muitas centenas de milhares de euros, que usam vezes demais sem critério nem controlo ou de forma irregular ou ilegítima, como temos tido conhecimento. Porquê? Porque não são sujeitas a qualquer fiscalização, nem da oposição, que não a sabe fazer ou debanda após a derrota, nem do quarto poder. Por isso, a esmagadora maioria não presta contas a ninguém.

Em Pombal, neste mandato, só a Junta das Meirinhas divulgou sistematicamente as contas aos seus fregueses (e à comunidade); as juntas de Carnide, Carriço, Louriçal, Pombal, Redinha e UFIGMM divulgaram em parte; as juntas de Abiul, Almagreira, Pelariga, Vermoil, Vila Cã não divulgaram nada (nenhum Relatório de Gestão); e as Juntas de Vila Cã e UFSSSLAD mostram, nos seus sites, que nunca pensaram sequer nisso – o que dá corpo aos rumores que correm na comunidade sobre o tipo de gestão que praticam. 


Esta matéria – Prestação de Contas e o que lhe está subjacente – tem estado totalmente ausente do debate autárquico. O que diz muito, ou tudo, sobre a (im)preparação dos políticos locais que por aqui gravitam. O país pode ter melhorado muito os níveis de instrução da população, a percentagem de doutores, e a percentagem de doutores que exercem cargos autárquicos ou que se candidatam a eles, mas a nossa cultura gestionária, a capacidade de distinguir o essencial do acessório e a capacidade de utilizar bem os recursos no essencial, melhorou muito pouco; continuamos muito atrasados, e, com este quadro, uma coisa é certa: nunca sairemos da cepa-torta. 

Prestar contas aos fregueses é uma obrigação legal e um dever ético do administrador de recursos públicos. Quem não percebe isto não percebe nada do que é o exercício de um cargo público. Quem não cumpre este dever legal e ético deveria ser demitido, e, no caso de incumpridor recorrente, impedido de se candidatar a cargos públicos – devia ser considerado pessoa não-idónea.  

PS: parabéns ao presidente da Junta das Meirinhas (Manuel Virgílio Lopes – PSD), que não conheço. Chegámos a um ponto que até o básico merece ser enaltecido.  

Adenda: pelas informações divulgadas após a publicação do post, sinto-me obrigado a retirar o elogio ao presidente da Junta das Meirinhas. A realidade está sempre a surpreender-nos, pela negativa!     

2 comentários:

  1. Amigo Malho, boa tarde.

    Desculpe mas por vezes o meu amigo engana-se ou não acede à informação e depois lança classificações erradas sobre quem não merece, porque pelo menos no caso da UFGIMM está enganado sobra a conclusão da apresentação de contas de 2020.

    A UFGIMM desde 2013 que contratou Contabilistas Certificados em contabilidade publica e desde então sempre apresentou contas e as aprovou nas Assembleias de Freguesia respetivas.

    Dada a pandemia em 2021 e as perturbações das AF, fez com que a AF tradicional de Abril não se realizasse, pelo que os assuntos que aí teriam lugar passaram para a AF de Junho que se realizou a 25, no Helenos, ILHA; onde as contas de 2020 foram apresentadas e aprovadas por maioria, com a abstenção da bancada do PSD.

    Aliás, nesta UFGIMM as contas sempre foram regularmente apresentadas à AF, e desde as contas de 2019 que a bancada do PSD sempre se absteve na sua aprovação por não virem acompanhadas da AUDITORIA por ROC equivalente com que este executivo resolveu submeter as do executivo anterior de 2013-2017, sem quaisquer consequências nas suspeições persecutórias que foram lançadas na opinião publica.

    Se desejar poderei enviar-lhe as contas de 2020 que foram apresentadas e aprovadas na AF de 25-06-2021 realizada nos Helenos em ILHA.

    Agradeço então que coloque o V verde na UFGIMM no quadro em 2020 em vez do errado X vermelho.

    Sempre ao dispor.

    Um abraço.

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  2. Amigo Serra,
    A Terra deve estar a rodar ao contrário para o meu amigo aqui vir defender o seu arqui-rival, e ainda por cima sem razão nenhuma.
    Se a razão para esta sua estranha posição não está ligada à alteração do sentido de rotação da Terra, então só pode estar ligado a algum trauma com as contas da junta.
    Abraço,
    AM

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