22 de janeiro de 2013

Bravo, sr. presidente!

Eu sabia que alguma vez haveríamos de estar de acordo:
Em comunicado, o presidente da Câmara de Pombal, Narciso Mota, acusa a EDP de não ter feito o que devia, nem ter limpado as zonas de floresta adjacentes às linhas de alta e média tensão, de modo a evitar um apagão de uma dimensão tal que, em tempos recentes não há memória. O autarca refere mesmo que a empresa, agora dominada pela China Three Gorges Corporation deveria repensar o seu papel com o parceiro no desenvolvimento nacional. Narciso Mota afirma ainda ter notado a ausência de uma voz “amiga e solidária” da Administração Central e do Governo.

“Na madrugada do passado sábado, o Concelho de Pombal foi fustigado por uma das maiores intempéries de que há memória. A força da natureza derrubou centenas de árvores, dobrou sinais de trânsito, destruiu telhados, tornou estradas e caminhos intransitáveis, suspendeu comunicações e deixou milhares de pessoas e dezenas de empresas sem água e sem electricidade.

É de lamentar que a EDP tenha manifestado, nestes dias, uma tão profunda impreparação para acudir a situações de emergência nacional. Demonstrou que perdeu a capacidade de resposta às necessidades de abastecimento em tempo de crise, colocando-se hoje a dúvida de como corresponderá para providenciar o abastecimento energético em caso de crise mais grave.
Da mesma forma que terminámos com os nossos guarda-rios e guardas florestais, que providenciavam a manutenção adequada e equilibrada dos nossos rios e florestas, notamos hoje que a EDP delapidou o seu historial de manutenção das redes eléctricas assim como a limpeza adequada dos seus corredores florestais. Notamos ainda o desaparecimento dos seus quadros técnicos mais qualificados afectos aos diversos concelhos, por força de reformas antecipadas que os substituíram por jovens quadros sem capacidade de decisão no terreno, completamente dependentes de administrações centralizadas em Lisboa e Porto, que lhes cortam a capacidade de resolução de problemas locais e imediatos.

A EDP por força de estar mais preocupada com mega investimentos no estrangeiro, deixou de ocupar o seu desígnio nacional de parceiro no desenvolvimento económico do nosso país. Um parceiro de quem os nossos empresários dependem para poder laborar, produzir e criar riqueza, mas um parceiro que, pela ineficiência demonstrada neste fim-de-semana, é um parceiro que terá que repensar o seu papel na estratégia de desenvolvimento nacional.
Não podemos deixar de enaltecer o trabalho de todas as freguesias na sua disponibilidade total junto das populações. É caricato que estas estruturas autárquicas, que garantem a operacionalidade e manutenção do território local, mantendo um serviço de maior proximidade com os cidadãos, são aquelas que a muito curto prazo irão sofrer remodelações que seriam melhor aplicadas noutras estruturas de poder.
A diferença de actuação entre estes dois patamares [poder local vs administração central e EDP] daquilo que deveria ser o verdadeiro serviço público de interesse nacional, deve merecer uma profunda reflexão, questionando- nos se em pleno século XXI as actuais opções estratégicas são aquelas que melhor servem o nosso país.
A nossa primeira preocupação foi a de movimentar os serviços municipais e, com o apoio dos nossos incansáveis 17 Presidentes de Junta de Freguesia, colocar máquinas e equipamentos a trabalhar para acudir as nossas populações, desimpedindo estradas e caminhos, remover árvores caídas sobre edifícios e assegurar que o abastecimento básico de água às populações fosse reposto.
Compreendendo que as nossas obrigações, perante as calamidades imprevistas da natureza, são de atender àqueles que dependem de nós, não podemos deixar de lamentar que a nossa função enquanto autarcas tenha sido limitada, pela falta de preparação nacional para lidar com eventos desta natureza.
Quem, como eu, andou no terreno, motivando, liderando, decidindo e ajudando na resolução das diversas situações de calamidade a que tivemos de atender, notou bem a falta de meios de comunicação fixos e móveis, quer dos operadores privados de telecomunicações e lamentavelmente do próprio SIRESP - Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal.
Notámos também a falta de uma entidade nacional coordenadora na gestão da crise, que liderasse a acção prestimosa dos nossos bombeiros ou das nossas forças de segurança.
Notámos a ausência duma voz amiga e solidária com responsabilidade tutelar, que nos perguntasse se estávamos bem ou se precisávamos de ajuda por parte de quem tem a responsabilidade de governar um território maior que o nosso.

Da nossa parte fizemos o que nos compete fazer. Faltando-nos cumprir o total
reabastecimento de água ao concelho por nos faltar a tão necessária energia eléctrica que nos permita colocar os nossos equipamentos a funcionar.
Da mesma forma se sentem as famílias do nosso concelho, os Lares de Idosos e os Centros de Dia, bem como centenas de empresas que estão privadas de laborar normalmente condicionadas aos serviços prestados por uma empresa abastecedora de energia que, infelizmente, já não é nossa.”

2013-01-22

14 comentários:

  1. Pronto!
    Mais comentários para quê? Está tudo dito! O homem explicou tudo muito bem: a culpa é dos OUTROS!
    Também é de Deus, mas como o homem é crente não o pode dizer. Acrescento-o eu, sff.

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  2. Mais uma nota:

    Gostei muito, mas mesmo muito, foi o homem ter recordado/desenterrado a figura pitoresca do "guarda-rio". Lindo!
    O guarda-rio (e o guarda florestal, porque não dizê-lo) teria evitado grande parte destes problemas.
    Eu sou do tempo em que havia o guarda-rio. Figura querida!!!

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  3. eu li bem????????????????????????????????????????????????????????????????????????
    o siresp não funciona ou não funcionou????????????????????????????????????????????

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  4. E já agora porque carga de água não há uma referência à REN? Porque o temporal (e contra a natureza nada se pode fazer) deu cabo dos postes e isso é responsabilidade deles e não ouvi nenhuma palavra contra eles?

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  5. Enquanto as redes de Agua e Luz não estiverem devidamente protegidas e os PDMs a funcionarem e não se deixar construir em qualquer lado, com os Centros das Cidades e das Aldeias "ás moscas" isto vai continuar a acontecer. É uma autentico atentado, quando ainda insistem em fazer "Maisons" em zonas Agrícolas e de Floresta,e os centros da Vilas e Cidades com casas vazias e a cair. Temos de pensar em habitar os centros e reconstruir. Isto em Portugal nos últimos 30 anos andou tudo ao contrario e ai os grandes responsáveis foram os decisores Politicos

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  6. Se inteligência existisse realmente no animal humano... Já há muito se teriam soterrado as linhas de Alta e Média tensão... E como somos verdadeiramente inteligentes até o podíamos fazer por forma a escaparem a terramotos de fraca/média intensidade, dado o nosso território não ser alvo de grandes eventos deste géneros...

    Como somos meros animais humanos... Continuamos a esticar fios pendurados em torres de aço (e às vezes troncos de árvores!) junto a matas, bosques, florestas, betão etc...

    Esperar que algo de diferente aconteça em casos em que as forças do sistema climático ultrapassam o "normalmente expectável" é sinal de?

    Deixem lá os chineses sossegados... Nós é que permitimos, e continuamos a permitir, que "Portugal" seja vendido às peças... Em troca de umas quantas folhas de papel impresso a cores e de tamanho normalizado!

    Abraço
    voz a 0 db

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  7. Meus caros,
    Confesso que ainda nao percebi qual a responsabilidade dos chineses, ou qual a responsabilidade desta Câmara Municipal. Nem vejo que casas e àrvores estejam condenadas a viver tão separadas... de resto, confesso não conhecer casos como os descritos. Os que conheço (que vi) são obras humanas que cairam (placards, telhados, etc...), e àrvores que cairam, EM ZONAS ARBORIZADAS... claro que acredito que existam muitos outros casos. Mas como disse... eu tenho uma casa, e quero algumas àrvores em seu redor. E até já plantei algumas. E um dia destes, elas podem cair! Desculpem lá a minha imprevidência...

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  8. As "àrvores" sairam sempre mal acentuadas, como é visivel. Uma mania do meu computador, que ainda não consegui resolver... :)

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  9. Não percebo onde está a dúvida. Subscreveria inteiramente. Não tendo a vivência do dia a dia de Pombal, não há como menorizar o Presidente. Terá os seus defeitos e incapacidades,mas mostra a razão porque a população em geral confia nele e o aprecia. Pelo comunicado e outras intervenções, pôs o dedo na ferida, do serviço público por privados, como é o caso da REN,da EDP e,brevemente, dos CTT. Acabam-se as estruturas intermédias e locais, acabam-se os piquetes e serviços de emergência e quem os coordene, fazendo subcontratações a pequenas empresas externas, caso a caso e sem rotinas para actuação em situações imprevistas e de calamidade. A invocada figura do Guarda Rios só aparentemente é deslocado, porque desempenhava uma função modesta mas conhecia o território onde tinha intervenção e informações importantes a seu respeito, com sucedia com as estruturas locais da EDP, CTT,CP e outras. Quem passa nas nossas zonas florestais sabe que os corredores de transporte de energia não estão convenientemente limpos, o que potencia os efeitos da catástrofe.

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    1. Não há dúvida que ultimamente se nota o abandono da manutenção e benefiação das estruturas intermédis e locais destas empresas as quais vão sendo privatizadas e cujos serviços são adjudicados a empresas privadas. Os piquetes de apoio locais foram eextintos ou abandonados, esperando as empresas privadas que caia mais uma árvore para serem chamados a reparar uma evidência que há muito estava prevista.

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    2. Estamos em fins de Abril e muitas estruturas da EDP (Postes e cabos estendidos pelo chão) continuam por colocar no devido lugar. No entanto o vendaval foi em 19/01/13.

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  10. Escapou-se-vos qualquer coisa para além da nobre intenção do documento. Uma análise da semântica,da sintaxe, da riqueza vocabular, etc. do texto prova que não foi o sr. engenheiro que redigiu. O que eu questiono é a importância sentimental ou o ascendente psicológico que o autor deve ter sobre o Presidente da Câmara, para ter evitado que Narciso Mota, na sua omnisciência alterasse o texto para a sua tão característica forma de escrever, e tornasse o texto quase ininteligível, como eu tive oportunidade de reparar em seus próprios originais ou nas citações textuais, que a imprensa regional ou local fazia dos discursos deste persistente autarca. Agora até quer concorrer por Leiria! Realmente o Poder é mesmo uma febre.

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  11. Alguém consegue confirmar essa história do SIRESP?

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  12. Foi confirmada e noticiada na televisão, em peça jornalística dedicada às falhas e custos do SIRESP (500 milhões de euros, em ppp)

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