25 de março de 2019

A realidade, os números, a falta de gente: Pombal vai de carrinho


Uma reportagem do Jornal de Leiria desta semana mostra, a nu, como estamos sem gente. Bem podem os analistas municipais tentar justificar os números de utilização dos transportes públicos urbanos (Pombus) da forma que entenderem melhor, a começar pela  preferência na utilização do carro. O que a realidade nos mostra é outra coisa.
Já aqui escrevi várias vezes que considero a criação da rede Pombus o maior legado da era Narciso Mota. Quando chegou ao poder, Diogo Mateus mexeu na rede: criou mais uma linha, mas parece-me que não adequou os meios. Além disso, as alterações de horários não foram benéficas para quem (como eu) se habituara a utilizar o autocarro. Isto de querer aplicar o princípio da manta de retalhos nunca deu bom resultado.
E eis que os números dos transportes urbanos no distrito nos dizem, de facto, o que era já intuição: há uma diminuição acentuada em Pombal, em contraciclo com as restantes cidades: perdemos 11 mil utilizadores do Pombus nos últimos dois anos. Estamos sempre a perder, desde 2008. Fica-nos a dúvida existencial: os pombalenses não utilizam porque a rede não lhes serve? Ou não há utilizadores?
Numa volta pela cidade, desafio cada um de vós a entrar no comércio, em dias úteis ou ao fim de semana, e trocar dois dedos de conversa com quem mantém, teimosamente, lojas abertas. Se não quiserem dar-se a esse trabalho, basta que vagueiem pelo centro da cidade (não é preciso ir às ruas menos visíveis). Ao domingo, por exemplo, que seria - supostamente - o dia em que temos cá gente. 
Bem pode continuar a Câmara a incentivar os velhinhos e as criancinhas a decorarem a cidade com flores de plástico. O que a realidade nos mostra é outra coisa.

9 comentários:

  1. Está tão bem espelhado o Concelho de Charneira nos números. O PSS só se vai preocupar com isso quando Pombal regredir no numero de VEREADORES...Está quase. D Diogo está em fim de ciclo pelo que um novo Executivo terá que recuperar Pombal destes 8 últimos anos de desastre. Obras que nunca mais acabam (Casa Varela, Mamarracho do Sicó); Obras estruturantes ZERO; Captação de novos investimentos ZERO. Muito Show-off, Missas e Procissões. Eu já começo a ouvir militantes destacados do PSD a acenaram lenços brancos a D. Diogo.

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  2. Infelizmente o problema demográfico do concelho acompanha o do restante país e a demografia está relacionada com o nível de vida economico e expectativas da população.
    Em 1920 a população portuguesa era de 6.000.000 e porventura mais distribuida pelo território, o que dava a ideia de que éramos mais.
    Apesar de a política tradicional precisar de se apoiar em argumentos visíveis, nem sempre os mais esclarecidos ou justos, para assacar culpas a Pedro e a Paulo, a verdade é que não é por aí que se resolve o problema se é que ele tem a solução que desejaríamos.
    A evolução humana vai acontecendo com alguma aleatoriedade, sendo que os resultados pontuais que definem os gerais não resultam de um dirigismo prévio. Aliás, sempre que tentado nunca resultou no esperado.
    Talvez tenhamos de nós habituar a viver esta geração e mais outra em depressão numérica esperando que as iniciativas e atividades lançadas agora venham então a dar os seus frutos.
    Se o problema no concelho fosse do desempenho autárquico seria de fácil solução, mas infelizmente é um problema nacional.
    Evidentemente que o que se faz agora a todos os níveis terá impacto no futuro e nessa medida todos podemos dar opinião, valorizando ou desvalorizando o que se faz.
    O único erro que encontro normalmente nestas análises é que defendem alternativas politicas supostamente mágicas que resolveriam toda a questão. E bem sabemos, honestamente, que além de mudarem os atores pouco mais mudaria.

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  3. Amigo Serra,

    Os indicadores demográficos traduzem muito bem as dinâmicas socioeconómicas porque reflectem muito bem as causas estruturais dos fenómenos sociais.

    O desfalecimento do concelho é deveras evidente. Agora ninguém ou poucos o negam, mas no passado (há década e meia) introduzi essa temática no debate político e os protagonistas que ainda andam por cá gozavam com o assunto, com o quadro que traçava.

    A realidade socioeconómica varia, sobe e desce, por causas directas e indirectas, locais e nacionais, etc. No entanto, o desfalecimento de Pombal segue uma tendência continua, independente da região, do país ou da Europa, que se traduz em múltiplos os indicadores, nomeadamente nos que captam a realidade mais profunda, o que mostra que o fenómeno é profundamente estrutural – é o resultado de muitos e grandes erros cometidos ao longo muitos anos. Actualmente, o desfalecimento de Pombal não se pode negar; nega-lo é aprofundá-lo.

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    1. Adelino Malho, infelizmente somos tão pouco neste concelho a ver a realidade da questão. A grande maioria deste laranjal entre o mar e a serra só se preocupam com os show-off e ir alimentando as clientelas com subsídios e mordomias para os portadores de um certo cartão.

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    2. Caro Malho

      Muito bem, mas questiono eu, esses erros estruturais que fala são da responsabilidade autárquica, ou principalmente autárquica?
      E quais são eles? Porque só identificando os mesmos poderemos propor alternativas. Eu, sinceramente julgo que a autarquia, com mais ou menos show off fizeram o melhor que puderam e souberam.
      Aqui o Roque faz-me lembrar aqueles espectadores do futebol que vêem de forma cristalina a estratégia vitoriosa, mas não joga, e quem joga não vê a estratégia.
      Colocando de forma mais séria: Em tempos assisti a um encontro no casino da Fig. da Foz com o Dr. Medina Carreira, já falecido, que informava que o problema de Portugal se resolvia de forma fácil, e elencava os passos necessários para o conseguir; De seguida o moderador questionou-o: Sr. Dr. e se o Sr. sabe porque não ajuda a implementar? e ele respondeu: Bem eu sei como se faz agora fazer que façam os empresários e governantes deste país.
      Sinceramente penso que se fosse fácil e só dependente dos poderes públicos já há muito vivíamos todos na alegria e na bonança, até porque qual o político que não gostaria de envergar tal glória?
      O problema é que garantir o sucesso das ideias é muito mais fácil quando não se tem a responsabilidade de as pôr em prática!
      Pombal desfalece mais porque está entalado entre dois "buracos negros económicos" que captam todo o principal investimento para lá: Leiria e Coimbra...Essa é que é a desventura de Pombal. E Pombal só poderá ser grande quando Leiria e Coimbra forem colossais...
      Entretanto o melhor que podemos fazer é ir contribuindo com opiniões esclarecidas que nos ajudem a concentrar no nosso espaço o investimento e atividade que mesmo assim, escapa aos nossos vizinhos gigantes.

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  4. Caro Serra,
    O problema – desfalecimento do concelho – é estrutural (actualmente até os apoiantes do poder – dirigentes do PSD – o reconhecem). Considero que este problema estrutural tem causas estruturais (verdade de La Palisse) mais ou menos evidentes. Nessas causas estruturais incluem-se os erros de gestão política/autárquica.
    Identifico cinco causas/erros:
    1 - Estrutura socioeconómica frágil;
    2 – Negação do fenómeno/crise;
    3 - Inação do poder político;
    4 – Estilo de poder político (centralizado);
    5 – Fraca valorização do crescimento económico.
    Tenho reflectido sobre o fenómeno; logo, penso que tenho uma explicação para a coisa (para além dos tópicos), mas não afirmo que tenho uma solução para o problema. A teoria económica explica bem os fenómenos/crises económicos mas não tem solução imediata para eles. As crises podem, até, manifestar-se de mesma forma, mas, normalmente, resolvem-se com novas soluções/medidas.

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  5. Caro Malho, obrigado pela sua contribuição concreta que enumera algumas das causas estruturais.
    Agradeço ainda a humildade de reconhecer que não tem nem há uma solução para o problema e aí estamos solidários.
    Não seria este um bom tema de discussão numa sessão talvez no teatro cine, onde todos poderiam dar as suas opiniões e contributos para um rumo em que conseguisse um consenso talvez até de largo espectro político?

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  6. Caro Serra,
    Já pensei (pensámos) fazer um debate sobre esta problemática. Provavelmente, far-se-á.
    Mas deixe-me dizer-lhe que discordo totalmente quando afirma que “Pombal desfalece mais porque está entalado entre dois "buracos negros económicos" que captam todo o principal investimento para lá: Leiria e Coimbra...Essa é que é a desventura de Pombal. E Pombal só poderá ser grande quando Leiria e Coimbra forem colossais...”
    Direi mais: o que mais surpreende é o crescimento de Leiria, nomeadamente industrial (o mais importante), estando esta encostada a Pombal (quase ligada) e Pombal não beneficiar nada com isso.
    Se Leiria capta investimento, nomeadamente industrial, é porque: (i) há investimento industrial a realizar-se nas nossas barbas; (ii) Leiria capta-o (e muito) e Pombal está a fora…

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  7. Caro Malho, como última enéplica sobre este tema, por agora, talvez a imagem do buraco negro tenha sido um momento mais literariamente arrebatado, mas, descendo à terra, o que eu quis dizer era que a atratividade e grandeza dos concelhos limitrofes tornam-nos naturalmente mais apetecíveis para os investidores. A Pombal falta população, universidades, hospitais de primeira grandeza, industrias de grande dimensão.
    Ora comparemos a atratividade de um grande centro comercial ( Leiria) versus comércio local ( Pombal); Acha que o comerciante tradicional pode aspirar a ter a mesma freguesia que o CC?
    O desenvolvimento à nossa volta pode ser um estímulo mas não deixa de ser um concorrente de peso, e nós temos dois, um de cada lado. E é por esse efeito de arrastamento que eu digo que só poderemos ser grandes quando eles forem colossais.
    Obvio que concordo consigo quando diz que podemos e devemos por-nos a jeito de apanhar mais essa corrente desse rio que nos corre ao lado.
    No fim, por palavras e imagens distintas julgo que buscamos e acreditamos no mesmo desiderato.

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