26 de abril de 2022

Liberdade, Igualdade, Fraternidade

No dia em que escrevo há um sol que brilha mesmo que ameaçado por algumas nuvens. O que vislumbro do lado de lá da minha janela poderia ser a  da noite eleitoral de ontem em França: a Democracia vence, mas muitas nuvens permanecem na mente de todos nós.

O lema da Revolução Francesa permanece no nosso imaginário e costuma ser evocado também nas comemorações do 25 de abril em Portugal. Todavia, como em muitos outros aspetos, muito do que se gritava em 1789 está ainda por cumprir.

No nosso concelho do interior, à beira-mar plantado, poderia parecer que a fraternidade se estaria a cumprir. As páginas publicitárias do Município (no FB aparece como comércio local, pelo que se compreende que estejam a tentar vender uma imagem) apresentam com alguma frequência a partilha de algumas migalhas com quem sofre às mãos de um invasor. Nos discursos oficiais, parecem existir campeões em todo o lado em linha com as orientações dos gurus holísticos de autoajuda. Todavia, os nossos idosos continuam ao abandono, as minorias estão esquecidas e guetizadas, as/os trabalhadoras/es continuam exploradas/os e a ter de trabalhar 12, 14 ou mais horas por dia para, no final, ainda escutarem as lengalengas da meritocracia. Que Fraternidade é esta?

Hoje, celebramos a Liberdade. Em Pombal, apesar dos percalços do mau-tempo(!), também a celebramos. Todavia, deveríamos questionar a qualidade da Liberdade quando escutamos tantas pessoas a dizerem que não se manifestam contra as opções do poder vigente com medo de represálias. Que Liberdade é esta?

Mas, acima de tudo, jamais existirá Liberdade, enquanto não existir Igualdade. A primeira nunca se conseguirá cumprir totalmente, enquanto a segunda não estiver garantida. O Município apresentou um Plano Municipal para a Igualdade. Mas este é, claramente, um plano para ficar na gaveta. Acima de tudo porque, em determinado ponto, se faz depender esse plano da existência de verbas externas para o poder executar. Basta esta alínea para perceber que o documento é uma mão cheia de quimeras, pois os planos municipais para a Igualdade são opções estratégias políticas para o território, sem alocação de verbas governamentais. A sua base (o diagnóstico de género em Pombal) tem lacunas metodológicas que apenas se compreendem pelo pouco investimento de quem ordenou a sua execução. Deixo alguns exemplos:

a) questionário de diagnóstico aplicado aos serviços: o município tinha 17 quadros dirigentes, foram aplicados 16 questionários, obtiveram apenas 9 respostas. Que validade tem este diagnóstico?

b) entidades externas: enviados 59 questionários, foram respondidos apenas 25. Não se explicita a qualidade das entidades externas (conselhos de administração? Técnicos especializados?) o que condiciona a leitura da realidade das respostas. Qual a razão de não ter existido uma deslocação às sedes?

c) Quantas ruas com nomes femininos tem a Cidade de Pombal? E o Concelho? Nos últimos 10 anos, que preocupações existiram em termos de toponímia? Que planos para a "década" e este propósito?

d) Quantos livros escritos por mulheres foram financiados pelo município nos últimos 10 anos? Que planos para a "década" e este propósito?

e) qual o espaço que as mulheres tiveram para expor as suas obras nos últimos 10 anos? (Sim, eu sei que a Casa Varela tem uma exposição de Lídia Carrola a decorrer.)

f) qual o espaço musical dado às mulheres, comparando com os homens, nos últimos 10 anos?

g) os estudos internacionais apontam a iluminação das cidades como um fator de desigualdade com prejuízo para as mulheres. Que diagnóstico foi feito a este propósito?

Não é necessário ser-se um perito em Igualdade para perceber muito do que falta cumprir. Basta estar atento e basta querer, efetivamente, mudar. Ao discurso oficial é necessário aliar as ações e essas tardam em aparecer.

Viva o 25 de abril! Viva a Liberdade, Viva a Igualdade, Vida a Fraternidade.


Luís Gonçalves

1 comentário:

  1. Sobre isto de Liberdade, igualdade e fraternidade, aconselho a verem com atenção a partir das 7h:32 m a ultima AM de Pombal. O povo atribuiu uma maioria ao PSD para se comportarem como ditadores https://www.youtube.com/watch?v=at1JJNwONms&t=27217s

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