16 de dezembro de 2022

Histórias de vida, e da terra

Trabalhei vários anos com um Senhor muito especial - austero e acessível, antipático e cordial - com uma solidez de conceitos e princípios e um raciocínio lógico invulgares – um verdadeiro cartesiano (como ainda não conheci...). 

Era um Gestor* que estava sempre focado na eficiência e na modernização da organização, a quem era muito difícil, e ao mesmo tempo estimulante, vender uma ideia ou um projecto novo. Mas era frustrante enfrentá-lo unicamente com uma boa-intenção, sem uma rigorosa quantificação dos custos e do retorno esperado (ao longo de toda a vida do projecto, lembrava ele sistematicamente). 

Quando lhe diziam, “mas isto (projecto) tem muitas vantagens, e vai gerar muito retorno no futuro”, ele adoptava o estilo ainda mais austero, e perguntava: “Você(s) conhece(m) a história do vendedor de pentes da baixa de Lisboa?" - (história dos anos 60-70 do século passado). O campeão do projecto – e os outros - franzia logo a testa, e murmurava por dentro, “Mas o que é que isso tem a ver com o nosso projecto?”; e só depois respondia, “Não, Engenheiro!”

Perante tão estranha afirmação e resposta, ele recostava-se na cadeira, puxava mais um cigarro – fumava 4 maços de tabaco por dia! -, batia com ele meia dúzia de vezes na secretária, acendia-o, dava duas longas “passas”, pousava-o no grande cinzeiro, e começava a contar curta, seca e instrutiva história. E assim terminava, geralmente, a boa-intenção. Só não terminava para aqueles que insistiam, e replicavam “Mas, …”. Nesse momento, o Engenheiro comutava para o modo antipático, e respondia, de forma seca, “Ponha-se na rua” (do seu gabinete, claro).



Quando ouvia as desculpas do Renato, do Antunes e do Pimpão sobre o avultadíssimo prejuízo das Festas do Bodo, na assembleia municipal, lembrei-me da figura do Engenheiro, das suas histórias, e do quanto pagava para ver os Renatos, os Antunes dos Santos e os Pimpões desta vida perante ele, a tentarem explicar a "bela" realização que foi as Festas do Bodo. E podiam levar, também, a Gina - só para assistir.

PS: * A figura contribuiu muito para trazer uma empresa em pré-falência para o top europeu na sua àrea de negócio, com alta rentabilidade).

9 comentários:

  1. Amigo Adelino, há sempre várias opções onde gastar dinheiro e normalmente muitas cabeças a entenderem que noutras rubricas seria muito melhor aplicado. O problema é que quem tem de tocar muito burro tem de decidir, e se sujeitar às críticas, onde o aplicar.
    Provavelmente os próximos bodos e festas natalícias irão ter custos idênticos, mas há que avaliar o retorno desse investimento que, em termos públicos e resultados públicos são muito dificilmente quantificáveis e antes sim apenas incorpóreamente avaliáveis.
    Olhe, eu defendo que para se promover o Castêlo e sua natural atrativide e desfrute turístico há que criar um acesso útil e apelativo, umas escadas rolantes. Pois todos me dizem que é uma ideia peregrina e um investimento não urgente...
    Vai ver que um dia a vão fazer, nunca sendo uma urgência, mas no dia em que existir e verificarem o uso e a procura talvez os descrentes acabem convencidos das razões que andaram até aí a contrariar...
    Podemos ou não indignar-nos com os valores aplicados, mas o que é facto é que quem manda assim decidiu e penso eu continuará a decidir.
    E quem critica continuará a criticar....

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  2. Amigo Serra, essa da escada rolante também é boa! O Narciso queria um teférico. Fale com ele e ponham-se de acordo, que o Pedro vai achar que é uma ideia extraordinária e vai mandar fazer - ele precisa de ideias.

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    1. Oh Malho, não sei se você acha bem ou está ironizar sobre a "irrelevância" da questão.
      Eu aceito todas as opiniões, mas deixe que lhe diga que há mais de 20 anos propus semáforos para garantir mais segurança no cruzamento da Guia, principalmente para os peões pois lá se verificou uma ou duas mortes por atropelamento. E sabe o que me disseram os mandantes da altura?
      Opá isto aqui não é Lisboa...como se eu estivesse a falar numa solução de ficção científica. E veja como hoje está?
      Sabe que em Montemor o velho estão instaladas escadas rolantes exteriores para o Castêlo? Vá lá ver porque eu já vi .
      As escadas rolantes nem são um investimento brutal, não precisam de operador como o teleférico de Leiria e as modernas param automaticamente quando não há utilização. O castelo quase que se podia tornar a primeira atração turística e local efetivo de reunião, desde que o acesso fosse facilitado, sem risco de um ataque cardíaco a meio da escadaria atual...
      E claro, estas valências são sempre dispensáveis e adiáveis, tal como os jardins, os fontenarios, as estátuas e as festas...nada disto é de primeira necessidade, e no entanto acontecem...
      Eu posso nunca ter oportunidade de utilizar esse equipamento, mas ficarei feliz se a minha proposta um dia vier a dar oportunidade a outros de desfrutar facilmente das vantagens do nosso ex -libris...
      O sonho comanda a vida e a determinação concretiza-o...

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    2. Oh amigo Serra, já vi que também lhe fazia bem expô-lo ao Engenheiro.

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    3. Para quê, para ele o convencer a si da genialidade da minha proposta? Olhe que pensando nisso até que, talvez...

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    4. O problema maior nem está na sua ideia – estapafúrdia - da escada rolante para o castelo; está em o meu amigo pensar que pode fazer do castelo uma atraccão turística. Ainda é muito mais disparatada do que a dos meus camaradas do PS sobre a rota das figuras históricas. Livrai-nos, Senhor, dos epilépticos das boas-intenções
      Mas depois de ouvir tanta tontice sobre a importância do turismo para Pombal vou ter que fazer um post sobre a matéria, depois de descarregar a muita matéria em carteira.

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  3. Nem o castelo e área envolvente são inviáveis como áreas turísticas nem a ideia é disparatada. Pode não lhe agradar, pode até ter opinião contrária mas estapafurdia será tanto a minha ideia como a sua ideia oposta. E obrigado pelo diagnóstico que até agora me era desconhecido, afinal sou epilético. Obrigado Doutor Malho.
    Sabe, o Belmiro de Azevedo quando fez o primeiro hiper no Porto teve enrrme dificuldade em que os bancos o financiassem porque aquilo era um flop caro. Conseguiu um financiamento a 5 anos e pagou tudo logo no primeiro.
    Mais um epilético do nosso país cheio de ideias estapafurdias...
    Porém, resultaram...
    Amigo, reveja as suas certezas e principalmente seja mais modesto a classificar os outros! O meu amigo não tem lá por casa um espelho não?

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  4. E já agora, só por curiosidade, por acaso sabe quanto poderia custar esse equipamento e seu funcionamento? Eu não sei, mas julgo que não é coisa proibitiva e julgo que valeria a pena avaliar. Se for um valor muito elevado concordarei que, pelo seu custo, se justifica não o fazer. O que não quererá dizer que não teria utilidade.

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  5. Como, depois, deu a resposta a si mesmo, considero o assunto encerrado.
    PS: acho que epilético das ideias não tem nada de ofensivo, pelo contrário...

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