19 de dezembro de 2022

Numa casa pobrezinha, mas toda cheia de luz


Na última reunião da Assembleia Municipal, o eterno jovem social democrata João Antunes dos Santos decidiu perorar sobre Cultura. No meio do laudatório ao desempenho do companheiro Pimpão & seus amigos, em matéria de festas e eventos diversos, levantou-se o rapaz, cheio de pose, para arrasar a intervenção da bancada da oposição - que questionava o prejuízo com as festas do Bodo -  e queria saber onde e, já agora,  em que é que vão ser gastos os 250 mil euros nas festividades de Natal.

Como João Antunes dos Santos confunde cultura com recreio, baralhou-se todo. Naquele dia fez ali falta Manuel Barros - o último a pô-lo no devido lugar. De certeza que lhe explicaria, com prosódia, a diferença entre o que é uma autarquia com política cultural e com agenda de eventos.

Mas ao cabo de tanto saltitar pelo país à boleia da JSD e do partido, JAS tinha obrigação de saber que ver não é só olhar. Concordamos que

“a cultura não é aquilo que muitas vezes cada um de nós acha que é. A cultura é muito mais do que isso”, sim. É mais do que as comédias que enfiamos nos salões das associações, é mais do enfiar um barrete de pai natal e encetar um passeio dos tristes pelas ruas de comércio fechado e lojas abandonadas, é mais do que o baile de verão em noite de inverno.

A pérola que foi a intervenção de JAS na AM sobre a Cultura diz muito da sua cultura, mas diz sobretudo da forma como olha para a Cultura. E não, não é preciso invocar os livros que lemos, os concertos onde vamos ou as viagens que fazemos. Basta não confundir a beira da estrada com a estrada da beira.

Diz ele que trabalha no centro da cidade e tem visto a dinâmica que as iniciativas de natal [lhe] têm trazido. Que bom para ele, que se satisfaz com o movimento de “autocarros e carrinhas” de transporte escolar nos dias de semana, e pelos vistos mora noutra cidade que não a minha, ou então fala com comerciantes tão selecionados, que devem ser considerados no próximo estudo da Câmara. Muito estranho que os comerciantes com quem fala não lhe tenham apontado a desilusão pelo facto de terem passado os dois feriados de Dezembro sem a programação de natal em funcionamento, quando nas cidades à volta já bombava. Ou que lhe apontem o lamento de verem a cidade encolher cada vez mais para a avenida, transformando em ruas-fantasma as do centro histórico. Ah, quis ele fazer comparações! E logo com a capital de distrito, onde as instituições disputam os dias para participar na Aldeia de Natal, porque sabem que dali advirá uma receita importante. Mais ou menos como o que se passa no Cardal, com aquelas barraquinhas, não é JAS? É só passar por lá. A decoração, o espírito, a iniciativa (estou a lembrar-me do Centro Social e Paroquial dos Pousos, que há anos vende vinho quente, o que tem sido um sucesso...fica a ideia para Vila Cã, ou para os Bombeiros. De nada).

“Quantas cidades aqui à volta é que têm a dinâmica cultural que ao dia de hoje o concelho de Pombal tem?”, atirou, por fim, o nosso jovem conservador de direita. Estranhamente, ninguém se atirou para o chão a rir.

Na verdade, Pombal deixou há muito de ombrear com as cidades com que se comparava noutros tempos, como Marinha Grande, Alcobaça ou Caldas da Rainha. Se nos quisermos comparar com o interior - o que faz todo o sentido, em função dos indicadores de perda de população, por exemplo, e por isso talvez se perceba por que razão já nem sequer precisamos de semáforos, estamos outra vez em 1990 - estamos um degrau acima, sim. Devemo-lo às associações (como o TAP, que já conseguiu criar público no teatro), mas falta-nos política cultural. Que os espaços não sejam meras barrigas de aluguer. É comparações que queremos? Mesmo com os mais pequenos? Vamos ali a Ourém? Pois, tem um programador cultural.

Não precisamos todos de ser “arautos de alguma intelectualidade”, não.  Basta não nivelarmos tão por baixo. 

2 comentários:

  1. Paula Sofia, só venho aqui dizer que, como sempre és tão assertiva na analise desta PIMBA Cidade. Da Floribela e dos Camiões SIC. Com esta gente não vamos lá. Mas o grande problema é que no PS tarda a aparecer alguém com capacidade para mudar isto. Ou muito me engano ou o próximo Candidato do PS á CMP vai ser escolhido no final de 2024 para ir a votos em 2025. O PS anda desde 1993 a cometer os mesmos erros, mas não aprende.

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  2. Cara Paula, a minha amiga está a ficar mais prolixa que o Conde do Oeste. Será que esta maleita se pega?
    Sobre a sua opinião aqui do meu amigo JAS em primeiro lugar, e companheiro em segundo, não estranho que seja tão crítica pois de uma farpista cheia de predicados nem outra coisas se esperaria.
    Não querendo entrar nem na apreciação do estilo, nem na estrutura pessoal dos conceitos, tanto dele como dos seus, apenas refiro que falar de improviso como o JAS fala e apesar de nem todos os argumentos terem igual importância, o que é facto é que ele articula com mestria e qualidade as intervenções que se esperam de um verdadeiro tribuno.
    É óbvio que na peleja política se utilizam só argumentos ideológicos e nesse particular o JAS está entre os melhores. E para que não fiquem dúvidas sobre o meu tendenciosismo, também o João Coelho é dono de equivalente verve que, na minha opinião se perde um pouco por ter mais empenho em criticar tudo com alguma pose de superioridade , o que não lhe grangeia nem simpatia nem compreensão.
    Mas não são eles os únicos que aproveitam aquele fórum para dar largas às suas convicções e alguma vaidade interventiva. Porém, estamos no principal fórum político do concelho ou seja, o local próprio para essas atuações.
    Sobre o conceito do JAS sobre cultura versus o seu conceito apenas direi que perante conceitos tão vagos e abrangentes cabe lá quase tudo e o seu contrário.
    Lamento porém que, algo que não fui tirar a limpo, diga que nos outros concelhos e locais tudo funcione melhor e mais bem montado e imaginado e que só no nosso concelho tudo funciona mal e que os nosso representantes são uma espécie de néscios que nenhum valor têm e tudo o que fazem ou é péssimo ou se não é, é caro e de perdulários.
    Por outro lado acho tão típico do português deliciarmo-nos a apoucar tudo o que se passa na nossa terra e elogiar o que se passa na terra dos outros, como se o nosso território e opções fossem de um mundo condenado mas mesmo ao lado de oásis abençoados onde acontece tudo aquilo que na nossa terra não!
    Os valores gastos nas festas, na minha opinião, e por dia de realização, considerada a inflação geral e restantes consequências, antes talvez se tenha optado por divisão de centros de custo e agora se tenha optado pela sua centralização.
    De todo o modo, na aleatoriedade das opiniões publicas que sempre se pasmam com os valores absolutos gastos, sem comparações justas com o histórico, podemos sempre fazer um brilharete numa intervenção demagógica onde o gáudio condenatório do povo conforta as suas emoções e angústias. Eu prefiro assumir os custos reais de algo que nos orgulha e ombreia com os concelhos vizinhos e irmos palmilhando o caminho difícil de fazer tudo cada vez melhor, com ou sem programador cultural. Mas repare, se arranjarmos também um programador cultural idêntico, logo virá a crítica que além de não prestar é ainda por cima uma prova da incapacidade de quem tinha obrigação de fazer (o executivo) e não faz ou não sabe.
    O PSD de Pombal só quer o melhor para todos e há muito que tudo tem feito nesse sentido.
    Paula, um FELIZ NATAL e aproveite o que a nossa terra nos consegue dar, com a garantia de que as críticas construtivas serão sempre um enorme incentivo, quiçá até seguidas, no sentido de melhores eventos.
    🌹

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