5 de agosto de 2020

O Bodo na imprensa local: quem o viu e quem o vê!

A propósito de um texto que escrevi, a pedido do Jornal de Leiria, sobre o Bodo, dei por mim a consultar os jornais locais no Arquivo Municipal de Pombal. Estava à procura de notícias do início do século XX, para saber se a gripe Espanhola tinha conseguido impedir a realização das Festas. Pelos visto, tal não aconteceu.

Dessas leituras respigo algumas pérolas que evidenciam claramente o seguinte: em Pombal, o jornalismo do início do século XX dá 10 a 0 ao do início do século XXI. A coragem que havia na imprensa local, contrasta com o tom frouxo e servil dos jornalistas que agora (não) temos. Este facto também me leva a concluir que os pombalenses de então eram bem mais exigentes do que a maioria de nós face ao poder instituído. 



Festa do Bodo
Contra o que parecia depreender-se da leitura do edital mandado afixar pela Exma Câmara Municipal para a arrematação das festas do Bodo, foram apresentadas diferentes propostas para cada um dos diversos serviços a executar. Fez-se o que sempre nos pareceu razoável. O que não é razoável, é que indicando o edital que as propostas deveriam entrar na Secretaria da Câmara até ao dia 10, se recebessem propostas ainda no dia 11. O que também nos não parece razoável é que essas propostas, que até à sua abertura em sessão deviam constituir segredo, fossem contra todas as praxes estabelecidas abertas antes de apreciadas e talvez discutidas e até antecipadamente patrocinadas! (...)

Pondo de parte a proposta de Júlio Severino, temos de reconhecer que das restantes propostas a mais vantajosa era a do Sr. Baptista, porque além de ter mais lumes fazia uma diferença de 10$000 réis. Pois contra toda a expectativa, a proposta do Sr Baptista foi rejeitada, entregando-se a ornamentação e iluminação ao Sr Martins!! Porquê? O que levaria os ilustres edis a inclinar-se para esta proposta, quando é certo que o Sr. Baptista se comprometia a fazer precisamente a mesma coisa ou ainda mais por menos 10$000 réis do que a proposta do Sr. Martins? 

Francamente não compreendemos! Mas também não merece a pena estar a matutar nestas manigâncias. Pois se já o tal má língua nos dizia outro dia: - mais vale cair em graça do que ser engraçado!



As Festas do Bodo
Nos próximos dias 29, 30 e 31, devem realizar-se nesta vila as costumadas e tradicionais festas em honra da Senhora do Cardal. O programa é o mesmo dos anos anteriores. Em Pombal, triste é dizê-lo, não há inovações. A festa é este anos a expensas do nosso estimado amigo e assinante Joaquim António dos Santos Júnior. 



O Marquês e as festas do Bodo
Pasmai ó gentes! Recortamos do programa das festas que aí vão realizar-se este bocadinho precioso: "Durante os dias da festa estará exposto ao público na sala das sessões da Câmara Municipal o caixão onde estiveram os restos mortais do Marquês de Pombal" Isto é supinamente ridículo! Mais do que isso - totalmente estúpido e degradante! O caixão do grande Marquês de Pombal em exposição numas festas puramente reacionárias? 

Digno de ver-se
Continua exalando um fétido repugnantíssimo, oferendo a quem por ali passa um triste e nauseante espectáculo e a quem por ali vive um verdadeiro perigo para a saúde, o Ribeiro da Ponte Pedrinha. Se há por aí alguma alma que sinta amor pela terra e que não queira mostrar a nossa pouca dedicação pela limpeza aos forasteiros, trate-se daquilo quanto antes, para que em ar de troça, aqueles que nos visitem não nos venham perguntar se o ribeiro assim também faz parte das nossas belezas naturais e artificiais, como o castelo, o forno, o caixão do Marquês, o parque, etc, etc.



O Bodo de Pombal
Lá se passaram aqueles tradicionais dias de festa, que este ano foram dias de festa... pobre, tendo custado dinheiro de festa rica. Missas e sermões; sermões e procissões; novenas e foguetões; fracas iluminações e que nos conste com fartura nada mais nestes dias de tantas expansões.  

O Bodo de Pombal! Quem o viu e quem o vê! Quem o viu nos tempos em que havia gosto e se primava por em tudo o demonstrar. Quem o viu nos tempos em que havia amos à terra, superior ao mercantilismo, e o vê agora! Que diferença! (....) 

Cremos que é esta a opinião geral e registamo-la fazendo eco com o nosso protesto dos protestos dos outros. Pombal exige que melhor o honrem e que tanto não o aviltrem.

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