22 de março de 2021

Um registo verde a cair de maduro

 Tive que olhar duas vezes para ter a certeza de que não estava ver fotos da década de 90, quando o Dia da Árvore era tudo o que tínhamos em Pombal (e em Portugal, no resto do país não era muito diferente) para pensar no Ambiente e em como seria importante melhorar o planeta para cá continuarmos. 

Tive que olhar duas vezes para as fotografias porque não me parecia possível que em pleno 2021 uma Câmara - que se acha a última coca-cola do deserto em matéria de chavões eco-sustentáveis  mas depois acaba com jardins e privilegia praças - mandasse fazer uns bonés de propósito para a fotografia. O retrato era, afinal, muito mais rebuscado: o Município envolveu naquele excerto de política do enfeite os seus "colaboradores" - como foi amplamente replicado pelos media locais, que há muito desistiram do jornalismo - enfiou-lhes um boné e toca de os pôr a plantar árvores, que bonito. A ideia de plantar estas 140 árvores (que nos fazem falta, estas e muitas mais) foi "repor a pegada carbónica provocada pela quantidade de papel consumido, durante o ano de 2020, nos diversos serviços municipais", diz a autarquia. Todo o mise en scène foi devidamente fotografado e filmado e difundido por colaboradores - esses sim - já que se há feito a registar nas contas de merceeiro do Largo do Cardal é que o Município não criou um único posto de trabalho na área da comunicação. Primeiro valeu-se de um falso recibo verde, agora de avenças e acrescentos enxertados de outros departamentos. E como os delegados sindicais também devem ter desistido de Pombal,  não vimos ninguém importar-se com isso de chamar colaboradores aos trabalhadores, pois que moderno. 

Moral da história: há quem goste de enfiar a carapuça e bater a pala, porque ainda por cima aparece no jornal e nas redes sociais, disfarçado de "colaborador" de multinacional em registo de responsabilidade social. E pensam vocês: isto não é nada face ao que aí virá, em matéria de coaching motivacional.

Há gostos para tudo. 


*fotos de André Malheiro, publicados no jornal O Pinheirinho

1 comentário:

  1. Isto faz-me lembrar a minha escola primária, em que íamos todos contentes plantar um árvore... no dia seguinte, tudo igual, quem desse erros no ditado ou não soubesse a tabuada...régua na mão e cana da Índia orelhas abaixo. Nunca consegui perceber porque os novos Pombus não são eléctricos ou a gaz... sabendo que o diesel é o combustível mais poluente.

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