Não me recordo da minha professora primária dos dois primeiros
anos, mas recordo-me muito bem do dia em que embarquei em Almezinha, de
madrugada, na camioneta da Companhia e Viação de Pombal, com o resto da canalha,
para fazer o exame da 4.ª classe, em Pombal.
A noite anterior foi passada em branco. Às seis da manhã,
upa! Vestir o fato domingueiro, engolir qualquer coisa à pressa e corda às
pernas que se faz tarde e não se pode perder a camioneta. Depois, quase de uma
hora para percorrer 15 Km, aos solavancos, primeiro sobre estrada de terra
batida e depois por outra de manchas de asfalto.
Da parte da manhã, provas escritas: Ditado, Aritmética,
História e Geografia. Da parte da tarde, para quem não tinha reprovado, provas orais.
Era, diziam, o melhor aluno da escola, mas isso de pouco me
valeu. A pauta, cheia de reprovações, atribuía-me um “suficiente” que me dava
direito a ir à oral. Na oral, só me lembro de me terem perguntado quais eram os
cereais que se cultivaram na região centro e de eu só ter respondido o milho (eu
que era da aldeia e estava farto de ver o que toda a gente cultivava). Estava, com
certeza, bloqueado e os examinadores perceberem-no, e, por isso, perguntaram-me
o que é que eu tinha comido ao almoço. Isso, eu sabia (tinha sido o melhor
momento do dia) e respondi: frango assado com batatas fritas e arroz (no
Verdegaio). Mesmo assim, com esta ajuda, não consegui responder o que eles
queriam ouvir: arroz. Condescentemente aprovaram-me com um desprezível “suficiente”.
Lembro-me como tivesse acontecido ontem, da expressão
agressiva do professor Diamantino, para mim e para a minha mãe: “de ti, Adelino,
não esperava este resultado, desiludiste-me”.
E a minha mãe, na viagem para casa e ao longo de toda a vida, sempre me atirou à cara que eu tinha feito um mau exame e tinha desiludido
o professor Diamantino. Aquele dia foi um dos mais terríveis da minha infância
(e a minha infância não foi nada fácil), imaginem o que foi para a maioria dos
meus colegas que tiveram que suportar a vergonha do "chumbo", para alguns deles,
repetida. Sim, alguns passavam por aquele calvário duas, três, quatro vezes, até
poderem abandonar a escola aos catorze anos, sem a 4.ª classe (um alívio para
eles e para a família).
Hoje, o meu garoto disse-me que não tinha aulas porque os
putos da primária iam fazer as provas da 4.ª classe à escola dele. Estamos a regressar
ao passado, à vida a preto e branco, à inventariação simplita de bons e maus.
Como bem dizia o Professor Rui A. Santiago, os "Exames
da 4ª classe só podem ser bons para os psiquiatras”. Eu salvei-me: do “chumbo”
e do psiquiatra.
Não havia necessidade, mas a cegueira ideologia obriga!
Adelino Malho, ainda tens duvidas que voltamos ao Estado novo? Até o PPC esta a ficar com as feições de salazar. O 25 de abril acabou, não sei porque ainda teimam em manter o feriado...
ResponderEliminarFoi nisso mesmo que pensei esta manhã, Malho. Escrevi isto, com as preocupações noutro domínio (que também é teu).
ResponderEliminarhttp://luzdepombal.wordpress.com/2013/05/07/o-exame-da-quarta/
Nem vale a pena falar na treta ou retrocesso do exame e de toda a carga anti-social que essa determinação transporta. Por certo mais de 50 por cento deste bom povo meu irmão sabe o significado.E quem faz anos a 2 de Outubro? e os alunos que chumbarem no exame são despedidos da escola?Já sei: o filho do médico vai para medicina, o filho do general não vai para sargento, o filho do operário emigra. estava mesmo com vontade de desabafar.
ResponderEliminarOlhando para o resultado do "suficiente" no nefasto dia em desiludiu o prof. Diamantino - recorde-se que só faziam exame aqueles que os profs. consideravam estar aptos para o fazerem -,convenhamos que o Engº Malho está a filosofar. Quantos engºs escrevem tão bem como o senhor? Quantos não necessitam de cunhas para puderem continuar a trabalhar sem dependência de favores? Sejamos intelectualmente honestos. O regabofe que levou a que muitos da "geração dos cravos" tivessem feitos licenciaturas de 5 anos com a maioria das cadeiras aprovadas por "passagem administrativa" - ui há tantos que eu conheço em Pombal - até aos cursos com cadeiras feitas por fax ao domingo ou por equivalência duvidosa - foi, espero eu e muitos como eu que se esfalfaram a estudar ou a trabalhar e estudar para o conseguir o canudo - um INTERREGNO DE TREVAS no nosso ensino!
ResponderEliminarCaro José Guardado,
ResponderEliminarTalvez não tenhamos conceções muito diferentes sobre o sistema de ensino, até porque fiquei sem saber se concorda ou não com os exames na 4.ª classe.
No resto, obrigado pelos (exagerados) elogios.
Boas,
AM
Amigo e companheiro Adelino Malho, boa noite.
ResponderEliminarTal como tu, também eu fui fazer o exame da Quarta Classe a Pombal.
Já não me lembro se o meu saudoso Professor Jacinto Simões nos acompanhou, mas não fui de carreira, fui com o meu saudoso pai no seu carro, carregado de putos, em 1959.
Estou perfeitamente de acordo em se fazer esse exame.
O meu deu-me endurance ao ser submetido a uma medição, na fase de transição para a “Escola Cor de Rosa”, onde estive dois anos, rumando, de seguida, para Leiria.
Os do Sul e do Norte de Pombal éramos uns privilegiados.
Íamos e vínhamos de comboio, tipo Faroeste, puxado por uma máquina a vapor.
No comboio encontrávamos os que tinham embarcado em Seiça-Ourém e em Caxarias, arrisco mesmo a dizer que, alguns, embarcavam em Chão de Maçãs e Fungalvaz.
Apanhávamos os que embarcavam no Apeadeiro do Litém e em Vermoil.
Na Estação da CP de Pombal encontrávamos os que tinham embarcado em Vila Nova de Anços, Soure, Simões e Pelariga.
Era uma Festa!
Agora, parece, que é uma tristeza.
Abraço saudoso pelos bons velhos tempos e sem querer ser o Velho do Restelo.
Boa noite
ResponderEliminarEu também fui um dos que fiz exame, sendo um dos examinadores o Sr. Dr. Reinaldo,só me lembro deste!
Sou a favor dos exames e ser a favor dos exames não significa ser a favor dos atropelos psicológicos que eram cometidos para com a nossa geração.
Já é tempo do nosso Estado começar a formar homens e mulheres a sério, com competências nas diversas áreas e acabar com Relvas, Sócrates e tantos outros oportunistas que nos têm governado e, estes sim, que são um mau exemplo para qualquer geração
+
Oh DBOSS,
ResponderEliminarO que é que lhe valeu fazer o exame da 4.ª classe, e todos os outros que supostamente fez, se não consegue distinguir o mérito académico de Sócrates do de Relvas?
Valha-lhe Santo Ambrósio...
Bom dia
EliminarCaro Adelino Malho, eu não estive presente, rezam os jornais que o Sr. Sócrates teve equivalência nalgumas cadeiras por ter frequentado o Bairro Alto ou então temos vários dias primeiro de Abril no ano para brincar, por outro lado,não é a mim que compete distinguir o mérito académico de quem quer que seja.