24 de fevereiro de 2022

Sessão da meia noite com velhos actores


A noite de ontem foi aquela em que o auditório municipal matou saudades do tempo em ali havia sessões de cinema. Só que, surpreendentemente, os actores não estavam na tela. A Assembleia Municipal não é um teatro (nem uma feira de vaidades, mesmo que nem todos o percebam), mas ontem terminou num clima tenso, e escreveu-se uma página vergonhosa  para a história da política local. A reunião durou quase 10 horas. O grupo municipal do PS ameaçou abandonar não apenas a sessão (começa a ser um clássico), mas a própria Assembleia Municipal, como forma de repúdio ao ataque de carácter feito a pelo menos dois membros da bancada, por parte de um velho conhecido: José Gomes Fernandes, o líder da bancada do PSD.

JGF, que tanto gosta de se fazer valer das suas origens humildes, tinha obrigação de saber que "tantas vezes o cântaro vai à fonte que algum dia lá deixa a asa". Anda há 30 anos na Assembleia a fazer ataques a torto e a direito, sem calcular que um algum dia isto havia de acontecer. Sem dar conta de que[o seu] tempo passou; a pele de enfant terrible do PSD já não lhe assenta bem e falta-lhe exército. Ficou claro ontem, se dúvidas houvesse. O desconforto na bancada 

do PSD foi tal, que dali mesmo emergiu a figura improvável desta AM: Ilídio Manuel da Mota, ex-presidente da Junta de Vermoil, um homem discreto, que "obrigou" o actual líder da bancada e ex-presidente do partido, JGF, a pedir desculpa aos membros da bancada do PS, mesmo que a contragosto, sob pena de ele próprio abandonar também a sala...

Quem estivesse a assistir a toda aquela cena burlesca estranharia, por certo, a postura do presidente da Assembleia, que deixou correr a fita até ao fim. A dada altura comparou-se ao árbitro num jogo de futebol. Se houvesse público, ouvir-se-iam apupos naquela hora. Um "fora o árbitro" nunca fez mal a ninguém...

Depois disto, fica claro que o PSD tem (mais) um problema em mãos. Porque um homem rijo quando verga, normalmente parte. 

4 comentários:

  1. Talvez devido ao adiantado da hora e a uma saturação da proficuidade das propostas apresentadas pelo PS as intervenções mútuas tenham entrado um pouco pelas argumentações mais ásperas que a diplomacia não recomenda, mas que o cansaço de todos acaba permitindo.

    Na minha opinião acho que a estratégia do PS de saturar a AM e a Câmara com múltiplos requerimentos e propostas, embora legítimas, acabam por ter o efeito contrário ao esperado.

    A uma estratégia da oposição aparece sempre uma estratégia da situação e, quanto mais agressiva a primeira igualmente a outra recrudesce.

    Há acertos e debates de bastidores que preparam a acordam iniciativas de ambas as partes e que permitem melhores intervenções e soluções no âmbito das competências da AM se as bancadas os souberem utilizar.

    O Pres da AM está nestas funções pela primeira vez, numa realidade social que desconhece, e as naturais hesitações que por vezes ocorrem são sobejamente suplantadas pela serenidade e eficiência com que tem conduzido os trabalhos, e na maior parte das vezes sustido prontamente, um ou outro deputado mais afoito.

    E o PSD não tem um problema em mãos, tem muitos problemas, tanto na Assembleia como na Câmara, mas esses são os quotidianos e normais que os eleitos em Pombal, por maioria, tem obrigação de dar solução como desde outubro está a fazer, todos sem vergar e muito menos partir.

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  2. Aqui é que está a questão. O Presidente da AM não sabe onde se veio meter. Não conhece o concelho e nem está interessado nisso. Foi um frete que assumiu e deverá sair se entretanto for líder da bancada do PSD na AR. O Dr. João Coucelo é o homem ideal para curar as feridas daquela casa.

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  3. Colocas bem a questão, Paula, da AM estar transformada numa feira de vaidades, com maus actores. Até uma figura do extinto CDS, que anda por aí a pregar, onde lhe dão palco, vai para ali comentar a actualidade!

    Mas o problema não está na vaidade ou na representação, está no excesso de uma e de outra, está no querer afirmar sapiências e superioridades morais que ou não existem ou não tem nada de virtuoso. Está nos cristais.

    Por exemplo, todo a embrulhada surge a partir da acusação (pensada, planeada e reafirmada; não um deslize, de um infeliz lapsus linguae, como depois uma e outra parte quiserem fazer passar) de a proposta do PS, de valor e legalidade muito duvidosa, ser motivada por interesses pessoais.

    Ora, defender interesses pessoais ou de grupo é perfeitamente legítimo em democracia, tal como a sua valoração ou crítica. Foi o que vários membros da AM fizeram durante toda a reunião, nomeadamente o autor da acusação.

    O que falta ali é muito pensamento estruturado; e que sobra é muito improviso e chicana política. Quem diria que veríamos o líder da bancada da maioria mandar às urtigas a argumentação que o partido trouxe da sede para rejeitar a proposta da minoria e a ter que se dobrar e retratar perante uma minoria destroçada.

    Há que tirar o chapéu ao venturoso Ilídio da Mota, e ao sempre conciliador Henrique Mota – um ex-PS que adora fazer estes números.

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    1. A proposta do PS era justamente para resguardar os proprietários dos imóveis e a própria Câmara na avaliação de mercado de forma justa, em defesa do direito de propriedade e na transparência administrativa tão carente em Pombal, a evitar o que aconteceu no caso do emblemático Hotel. Mas, a minha maior surpresa foi o uso da banalidade de defesa deontológica, na ânsia de descredibilizar e manchar a reputação de deputados honrados, autoridades, com um projecto de vida e actuação profissionais impecáveis. Entretanto, a ética está em crise em muito locais, como por exemplo: nos valores das penhoras de imóveis, terrenos e automóveis adquiridos na desgraça financeira de inúmeros pequeninos, nos tribunais quando somos testemunhas de actos violadores (imagens) supostamente decididos sem receber sentenças à altura dos crimes cometidos. Quando os advogados em conluio nos bastidores combinam acções, quando no uso de atribuições públicas traficam-se influências e etc. Contudo, também não é ético num espaço democrático querer aniquilar publicamente propostas de partidos que possuem fundamentos sérios foi autoritário, capcioso e grave. Professor Mota Pinto, expectei no mínimo, o uso de autoridade que não teve.

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