11 de julho de 2013

Tarantoladas benignas

Cardal etc e tal



1. Ao contrário de proeminentes figuras como as do Zé Man’el Carraca e do Adelino Leitão, eu não faço falta alguma a Pombal. Verdade seja dita. Mas esta também: Pombal faz-me falta a mim. A qualidade da minha vida, da pessoal à artística, da profissional à excursionística, tem caído a pique desde que deixei a formosa terra que o Arunca banha às pinguinhas. Por falar em “pinguinhas”, nenhumas são tão boas como as que Pombal propicia em seus parlamentares balcões taberneiros. Já tenho sido encontrado a chorar pelas ruas de todos os sítios que habitei depois de Pombal (e Louriçal). As pessoas ficam sempre com muita pena de mim, a ponto de me darem às vezes umas coroas para eu ir dessedentar as mágoas a qualquer tasco com ramo de loureiro à porta. Eu vou, mas depois choro ainda mais porque nem o Leitão nem o Carraca estão lá dentro. A minha é deveras uma vida muito triste.

2. Triste deve andar também, e se calhar bem mais do que eu, o nosso Cavácuo local, Aníbal Narciso Silva Mota de seu nome. Obriga a lei a que tombe do poleiro que durante duas longas décadas engalinhou sem descanso. Tenho muita pena dele. Chego a achar que, indo embora o Mota, quem deveria subir a edil máximo era o Zé Mouco, que esse é que sabe tudo de motas. Eu, é mais de lambretas.

3. É público e notório que os animadores de serviço destas Farpas são os notáveis (e notados) Man’el Rodrigues Marques e Zé Gomes Fernandes. Mas atenção: quando lhes chamo “animadores”, faço-o no sentido etimológico. Este aqui: do latim “anima”, que, encurtado em “an’ma”, acabou resultando na portuguesíssima palavra “alma”. É o que eles deveras me parecem: a alma do sítio, se bem que aqui e ali algo desalmada. Outra figura é o Tarantola, que desde sempre me pareceu “Tarântula” mal escrita. Não percebo o porquê do pseudónimo. Pombal tem certa vocação para estes disfarces de tapa-cara – e já desde os tempos do famigerado e infame O Abutre. Lembram-se dele?

4. Apesar de longe, estou a ficar um bocadito menos desinfeliz: já aqui falei de pessoas que me são caras, do Carraca ao Leitão e do Man’el de Albergaria ao Zé Gomes das bicicletas. É gente de que sempre gostei, sobretudo, dentre estes quatro, dos dois que anos a fio levaram a água do Narciso ao moinho do Poder. Do Man’el de Albergaria (Albergaria dos Seis + Seis, não dos Doze, que aquilo sempre foi tipo raia Cima contra Baixo), aprecio particularmente a tonitruância. Pedir-lhe que fale alto é como pedir ao Toninho Varela que toque baixo: é escusado, que a coisa é certa como a chuva chamar caracóis. Do Zé Gomes Fernandes, gosto do perfil mourisco, da tez sarracena, da barba de Mafoma, dos olhos de corsário. Se eu fosse mulher ou, digamos, tipo Baião ou Goucha, ele não me escaparia.

5. O dicionário da nossa Língua emparelha como sinónimos os termos “freguesia” e “clientela”. Mas a política autárquica não deveria fazer o mesmo. O mal é que não tem feito outra coisa. Em Pombal como alhures. Sempre quero ver que nos trará Outubro próximo. Narciso deve aguentar para aí um mesito como presidente da Assembleia Municipal. O Michael, apeado do gabinete, só se o meu amigo Calvete lhe der emprego ou, em alternativa, horas extraordinárias no Manjar do Marquês, sítio onde a única coisa de Graça é o Paulo. O nosso Parreira, não sei não. Aulas outra vez? Mas onde? O Instituto D. João V já só emprega estagiários por seis meses. As escolas de condução não vendem uma carta desde Outubro de 2005. E os centros nóvóportunidades deram o berro que nem ginjas. O cenário é agreste. Resta o Diogo. Figura macha, soube suportar o deserto e o ostracismo. Ei-lo por cima. Como o PS vai acabar por não eleger qualquer vereador, o bravo Mateus vai acabar por empregar o nosso Adelino Mendes na bilheteira do Estádio Municipal, nicho perfeito para ele, Adelino, avaliar ao que se reduziu o PS/Pombal que Deus tem e o Diabo não quer.

6. Prontinho, por hoje já “tarantolei” o meu bocadito. Agora vou-lh’amandar com uma punheta de bacalhau e uns decilitros do maduro, que só de pensar nele me faz agravo das saudades do Leitão e do Carraca. Até para a semana, ó boa gente, ó bons Pombalenses!

14 comentários:

  1. Ora porra... Eu que me achava um bom animador, aqui me vejo suplantado por este aranhiço... Mundo cruel! :)
    Estás tramado, Daniel, que te "amando" com 10 bem-aventuranças nao tarda nada. Estão quase prontas! ;)

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    1. A propósito de uma das tuas premissas da semana passada:
      1) Bem-aventurado o que nao joaquimbranquiza os seus textos: conhecerá todas as palavras que escreve.
      2) Bem-aventurado o que nao bajula para lá dos limites do risível, pois nao será alvo de chacota.
      3) Bem-aventurado o que se veste de cowboy apenas no carnaval, pois nunca será confundido.
      4) Bem-aventurado o que pensa por si próprio, pois será mais capaz de defender os seus disparates.
      5) Bem-aventurado o que interpreta a liberdade para lá dos muros ideológicos, porque fruirá melhor a liberdade que tem.

      Mais 5 bem-aventuranças num próximo capitulo.

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  2. Bom dia!
    Caro amigo Daniel ( espero que a tua mulher não lei-a) Tarantola e não Tarântula porque a dita é um bicho calma e nocivo para o homem. Quando vim para aqui não pretendia ser nociva, mas sim, debicar um pouco com veneno e não era justo atribuir tanto veneno a um bicho tão calmo.

    Pseudónimo porque necessito de me proteger, não estou livre o suficiente para assumir em público aquilo que escrevo, não escrevo nada de mal, apenas verdades que por vezes doem

    Quanto à falta que fazes em Pombal, já pareces aquele velho mimado que, sabendo que é amado, está sempre a exigir carinho, já estás Taran Tolado.

    Não te mando um beijinho porque parece mal, a tua mulher vai ler

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    1. Ainda bem que existiu este post e esta explicação. Eu andava enganado, confesso que sempre li o nome como "taran-tôla" (o circunflexo indevido ajuda a perceber a entoação).

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    2. Aliás, com esta entoação, até estranhei o título do Daniel nao ser "tarantolices benignas"!

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    3. Boa tarde!
      Gabriel você está corroído de ciúmes por não ter sido considerado no grupo " alma do farpas", para isso não pode treinar estenografia no Farpas. têm de escrever o que sabe!

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  3. Considero muito injusta a crítica que fizeste à D. Lurdes, mãe do Paulo, que é uma senhora muito querida e os seus cozinhados são uma graça divina.

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    1. João André, crítica nenhuma à doce D. Lurdes. Tenho a maior consideração pela família Graça. Não duvides. Lê outra vez e verás que sim.

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    2. As pessoas tendem a ler o que lá não está a pretexto de terem ponta por onde pegar. Ora, neste caso, não há mesmo ponta por onde se lhe pegue. Mas também não vou explicar mais: as pessoas são livres de interpretar como querem. Ou podem.

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    3. Não quero pegar em nada, só não percebi. Exerci o meu direito à ignorância, vem com o da tentativa de interpretação, afastado do da interpretação enviesada. Obrigado pela explicação do omisso.

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  4. Amigo e companheiro Daniel Abrunheiro, boa tarde.
    No passado dia 4, escrevi:
    “No calendário Gregoriano é Quinta-feira, dia da Graça, 4 de Julho de 2013.
    Estava escrito nas estrelas que aparecias hoje.
    Mas o do cesto da gávia não te avista.
    Por onde andas, amigo e companheiro?
    Tal como D. Sebastião, espero-te pela manhã, bem cedo, em dia de nevoeiro, com muito escárnio, mal dizer e maledicência.
    Até sempre…. Camarada!”
    E apareceste, logo pela manhã, não com nevoeiro, mas com uma canícula que não te digo nada.
    Agora, por razões que não vêm ao caso, só hoje, Dia do Senhor, é que tive oportunidade de espreitar o Farpas.
    E como não sou mal agradecido, nem mal criado, tenho um metro e setenta e tal de altura, quero-te dizer que a missão a que me dediquei é semelhante à que o Beato Nuno Álvares Pereira tomou em suas mãos contra as hostes castelhanas.
    Para Beato tenho tudo, não há outro na Paróquia com melhor perfil. Só falta a canonização.
    Para guerreiro ainda tenho engenho e arte para fazer frente aos ditos castelhanos, agora em nova versão, mais soft.
    Mas, se necessário for, amigo e companheiro, podes contar comigo nem que, de novo, se tenha que aplicar a táctica do quadrado.
    Abraço grande.

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