28 de março de 2022

Fazer umas coisas...



O mundo do trabalho (mas também o do associativismo) tem mudado de forma radical nos últimos tempos. Essa mudança encontra-se alavancada numa nova forma de planear a ação das organizações (qualquer que seja a sua tipologia) assente no desenho e implementação de projetos, sobretudo pela forma como tal possibilita o acesso a fundos da União Europeia.
Quando um avaliador de candidaturas recebe uma dessas propostas, começará por se focar na análise de necessidades efetuada localmente, na definição de objetivos que dela decorre e no alinhamento destes com as atividades propostas. Posteriormente, atentará no potencial de impacto nas pessoas e nas organizações e as formas de avaliar e de monitorizar os resultados.
Neste processo, cabe ao avaliador distinguir um verdadeiro projeto, com significado para o seu público-alvo, de um conjunto de atividades soltas a que poderíamos chamar "fazer umas coisas..." O primeiro decorre de uma verdadeira planificação e de uma visão clara do que se entende vital e verdadeirame te transformador. O segundo costuma ser falta de preparação misturada, por vezes, com arrogância e incapacidade de escutar sugestões que sigam em sentido contrário.
A Resolução 66/281 adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a 28 de junho de 2012 sugere aos Estados-Membro a comemoração do Dia Internacional da Felicidade a 20 de março, através de atividades de educação e de conscientização públicas. Essas atividades, deveriam contribuir para a inclusão, a equidade, a sustentabilidade, a erradicação da pobreza, de modo a promover a Felicidade e o Bem-Estar de todas as Pessoas.
O que aconteceu em Pombal recentemente foi mais uma prova de que estamos no ponto de "fazer umas coisas" para colocar nas redes sociais, de modo a garantir que tudo fica na mesma, que quem está bem continua bem e quem está mal fica cada vez pior. As necessidades locais estão bem identificadas. O problema é que não existe vontade, nem capacidade, para se definirem objetivos claros, concretos e mensuráveis (SMART), para se desenharem atividades alinhadas com esses objetivos nem com as necessidades do público-alvo. Não se envolvem parceiros que sejam mais-valias (onde ficou a Educação? No pedido de vídeos de legalidade duvidosa aos professores das A.E.C.?), nem se faz uma avaliação estruturada. Em resumo, este tipo de ação não apresenta qualquer potencial de impacto, pelo que se resume unicamente a um desperdício de verbas, sem qualquer retorno para as cidadãs e para os cidadãos.
A um avaliador de projetos caberia a tarefa de reprovar uma candidatura assim desenhada(?). Às e aos munícipes de Pombal pede-se que tomem nota desta e de outras ações semelhantes e que se questionem se foi este o sentido que quiseram ao seu voto.

Luís Gonçalves
(professor)

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