Todos sabemos que a imprensa regional é muito vulnerável face ao poder político. O facto das Câmaras Municipais serem os principais anunciantes locais tem favorecido relações de subserviência que em nada prestigiam jornalistas e políticos. No caso de Pombal, esta situação é particularmente grave e o Farpas, em 2012, colocou à discussão o tema “Imprensa de Pombal: morreu ou mataram-na?” num dos seus primeiros debates públicos.
Não vou repetir o que já dissemos aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. É triste constatar que, com o passar dos anos, nada se tenha aprendido. Mas, depois da recente entrevista de Diogo Mateus à Rádio Cardal, não posso deixar de voltar ao tema. Por muito respeito que me mereçam os profissionais da rádio, aquilo a que assistimos não foi a uma peça jornalística; foi um exercício de auto-promoção do presidente da Câmara com a conivência do seu entrevistador.
Um presidente da Câmara que use a comunicação social a seu bel-prazer, fazendo uso da sua posição dominante para aniquilar o jornalismo livre, não respeita a democracia. É um déspota. Um jornalista subserviente, que não confronte os seus entrevistados, permitindo sistematicamente que eles digam o que bem lhes apetece, não cumpre o seu papel. É um pé-de-micro.
Adérito, o que aconteceu nos media em Pombal mais não foi que um acompanhamento do declínio social e político do resto. Aqui estamos quase como um Estado próprio, com as suas próprias regras - ou sem elas, em que importa sobretudo a mão no ombro, como modo de sobrevivência. É uma escolha. O resto (acesso à profissão, formação profissional, legalidade do exercício, preocupações que são obrigação das empresas e dos seus trabalhadores) não interessa nada. Porque é que haveriam de interessar o cumprimento do Estatuto do Jornalista e do Código Deontológico? A própria Constituição? A Lei? É disso que o poder se alimenta, por cá. Um dirigente regional do PSD perguntava-me (incrédulo, ele próprio) como é que, com uma crise política, o jornal local não falava uma linha sobre o assunto. É saber viver. Só que uns sabem vender-se por dinheiro, outros só por prazer. É a velha história da pirâmide de Maslow, sempre actual.
ResponderEliminarAdérito, com a Rádio Cardal estas a ser um bocado injusto. Tens de ouvir o programa do Jaime...Ai meu Pombal, em que dá voz a todas as forças politicas...desde o BE ao CDS-PP.
ResponderEliminarCaro Roque,
EliminarObrigado pelo teu comentário. Admito que possa ter sido injusto e aceito todas as críticas (das mais simpáticas às mais violentas).
Mas deixa-me, já agora, esclarecer algumas questões:
1. Eu já ouvi o programa Ai Meu Pombal e considero que o Jaime Pessoa está muito bem. Tanto a Rádio Cardal, como o moderador e os intervenientes estão de parabéns. Aliás, foi por ter gostado do trabalho do Jaime nesse programa que me custou mais ouvir a entrevista.
2. Considero meritório o papel da nossa comunicação social e reconheço dedicação a muitos dos seus protagonistas (o Nuno Oliveira, o Gonçalo Santos, o Jaime Pessoa entre outros). Admito que o tom do post possa conduzir a interpretações pessoais (mea culpa...) mas não é essa a questão. O que considero motivo de crítica é a falta de vontade das nossas rádios e jornais em assumir o seu papel de quarto poder. Numa altura em que a vida política em Pombal está ao rubro, não vemos nenhum jornalista a confrontar o poder com as questões que têm estado na boca de todos os pombaleneses.
3. A expressão "pé-de-microfone" faz parte da gíria jornalística e deve ser interpretada nesse contexto. Ela refere-se aos jornalistas insistam num registo passivo, demitindo-se de fazer as perguntas óbvias.
Caro Roque, respeito muito todos os profissionais dos nossos meios de comunicação social. Também respeito muito os nossos políticos. Aliás, é precisamente em nome desse respeito que as críticas devem ser feitas com toda a frontalidade.
Abraço,
Adérito