26 de fevereiro de 2010

Cineteatro com programação de qualidade!

Refiro-me, como é evidente, a um bom exemplo que nos vem de fora. De Santa Maria da Feira, neste caso. Decorre no cineteatro António Lamoso, hoje e amanhã, o festival para gente sentada, com uma programação excelente, como podem comprovar. Resultado: bilhetes esgotados há mais de um mês. Uma prova de que a aposta na qualidade compensa, e que não são apenas os fenómenos "popularuchos-pimba" que enchem uma sala de espetáculos.
O festival, o cineteatro e a cidade de Santa Maria da Feira são, por este motivo, elogiados nos jornais e rádios nacionais. A população tem acesso a cultura de grande qualidade. Vem gente de todo o país (de Pombal vão, pelo menos, duas pessoas, que já reservei o meu bilhete em tempo útil). Parece-me bem, não?

3 comentários:

  1. Sim Gabriel, infelizmente, vamo-nos agastando ainda mais com a programação cultural de Pombal, ao reparar nos bons exemplos que por aí pairam. Ao teu, junto outro excelente, a programação do Cine Teatro de Estarreja - www.cineteatroestarreja.com - um concelho mais pequeno e menos populoso do que o de Pombal. E, parece-me, a “olhómetro”, menos industrializado. Ainda! Ao longo dos anos, fez uma trajectória incrível, educativa e de fidelização de público, conseguindo uma programação diversificada, quase sempre com casa cheia, desde o teatro, à música, à dança e ao cinema. Tem, como Pombal, a proximidade da sede de distrito, Aveiro, o que também lhe ajuda a lotar sessões. Tem ainda a proximidade de outras cidades, com boas acessibilidades, como Pombal tem Coimbra e Figueira. E tem, como Pombal não tem, uma estratégia municipal articulada entre cultura e educação, enquadrada numa visão política de que a prosperidade do concelho não se faz com políticas avulsas, mas sim articuladas, colocando em pé de igualdade a promoção do desenvolvimento material e HUMANO! Coisa rara nos dias de hoje, do domínio político dos tecnocratas.
    E isso faz toda a diferença!!!!
    Dina Sebastião

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  2. A Dina, como se tem dito aqui antes, deve ter quase toda a razão. Diz-me a experiência, que grande parte do sucesso das actividades culturais e da qualificação das pessoas para cultura passa pelas escolas e pelos professores. São estes, dos que contactam sistematicamente com as crianças e jovens desde cedo, aqueles que têm - ou deveriam ter - mais competências e conhecimentos na área cultural e da formação para a cultura, no sentido mais universal do termo. Por isso, mais do que ninguém, a instituição Escola e os Professores, deveriam cumprir, também, esses objectivos. As outras instituições, como a família e as empresas, também devem ser mais conscientes e activas nesse seu papel, mas, de forma sistemática e generalizada, só mesmo as escolas, podem cumprir esse papel. Cabe às Câmaras e à Comunidade em geral estabelecer uma estratégia de intervenção a este nível.

    Aqui pelo Sul, hoje de vento e de chuva, numa Câmara Socialista vai agora no 3º mandato, os problemas são idênticos. Não porque não haja uma programação diversificada e regular, mas sim, porque as pessoas não são mobilizadas, nem se mobilizam. Podem, por exemplo, passar peças de teatro marcantes da história e da cultura, nada de vanguarda ou inacessível, e as salas continuam a ficar vazias, mas raramente se vêem professores na plateia e, muito menos, alunos. Não vemos pessoas dos corpos políticos, técnicos e administrativos da Câmara. a participar e a estar presentes. Ora, em cidades pequenas, como Lagos ou Pombal, se estas pessoas que constituem as "elites" locais, e são razoavelmente educadas e informadas, não intervêm nem participam nas actividades culturais, o que é que se pode esperar dos outros, que têm pouca formação, têm trabalhos fabris, nos campos e nas obras, de manhã à noite, e fisicamente esgotantes?

    Se como disse noutro post, julgo que o Ferro, a Banda Filarmónica local organizou um festival de bandas e, na plateia, quase só estavam acompanhantes das bandas visitantes, o que é que havemos de dizer?

    As pessoas de Santa Maria da Feira não são diferentes das de Pombal ou daqui. A diferença estará, quase de certeza, no empenhamento que se faz nessa divulgação e mobilização. O que, a meu ver, passa muito pelo contacto directo e insistente, de uns junto dos outros, procurando restabelecer uma rede social (muito mais interessante que as dos face book, twiter, e até, dos blogues ) e a ideia de que a frequência destes eventos culturais vivos e face a face, são também, momentos especiais de convívio social e familiar. Como dizia Zeca Afonso, a mensagem deve ser: "...traz um amigo também."
    (...)

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  3. Estribo o que digo, em grande parte, na experiência de, desde há mais de quinze anos acompanhar a escola e o percurso escolar nos meus filhos. A esse nível, não vejo as coisas a melhorar. As condições, na minha geração de jovem e de adolescente eram bem mais pobres e difíceis, a todos os níveis, mas os professores valorizavam, e muito, as experiências e conhecimentos fora dos currículos. Era o que sucedia, por exemplo no Colégio da Guia, com os Professores Almeida que nos prendia a atenção quando contava imensas histórias e episódios da cultura e mitologia clássicas, o Professor Moderno que tinha um humor excepcional, e às vezes cáustico, e a cultura geral bastíssima, desde as letras às ciências, com especial vocação para os minerais, que nos despertava a atenção para qualquer calhau ou arenito, para nos falar da sua formação, composição e da sua relação com a formação e funcionamento do mundo. A Margarida Goucha, que nas aulas de inglês nos dava algumas luzes da distante cultura anglo-saxónica. Quase sempre, nos finais de período se promoviam, exposições de trabalhos, festas que, incluindo os bailes de finalistas, tinham uma parte em que se fazia teatro, se cantava e dizia poesia. Estas coisas dependiam de uma dedicação dos professores muito para além dos programas curriculares e dos estritos horários de trabalho. Na E. Secundária de Pombal, havia Professores como o Eusébio, o Jaca, e até a Aurora Falcão, que nas aulas e, pelo exemplo, nos abriam horizontes para além dos manuais e do espaço da escola. Hoje, em grande medida pela competição pelas notas para acesso às Universidades. Os alunos adquirem um excesso de conhecimentos especializados padronizados nos manuais escolares, mas não vão muito para além disso.

    Fala-se muito na relação escola-meio, todavia, perde-se a oportunidade de fazer desse conceito uma mais-valia real para todos nós, especialmente para as nossas crianças e jovens. Também aqui, pelo que vejo, tudo passa por relações de burocracia e de influência de pequenos grupos em circuito fechado focalizados – algumas vezes mal – na segurança e no aproveitamento escolar, onde é apenas visível a acção de algumas comissões de pais, que não vão muito para além das questões de formação e de disciplina que envolvem os seus educandos.

    Os Professores – durmo com uma há mais de vinte anos – estão sujeitos a cargas de trabalho burocrático e de reuniões estéreis, que aquele tempo de qualidade para ensinar a ver e a participar no mundo para além das redes da escola, como o mundo da cultura e da formação dos alunos para a cidadania, continuam a ser uma quimera. Se estes não conseguem, por dificuldades institucionais ou pessoais, se as famílias e as demais “instituições civis” não sabem, não podem ou não querem intervir e responder a estas necessidades, ter actividades culturais regulares e participadas é como encontrar “ O Tosão de Ouro”, sem ajuda de Medeia.

    Abraço,

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