Já tinha chegado ao conhecimento do Farpas que Diogo Mateus tinha
decidido dispensar o director da ETAP e administrador da PMUGEST. No meio de
muito material informativo existente, e das poucas mãos para o tratar, desvalorizámos
a informação… Mas quando Diogo Mateus exprime, na AM, “preocupação,
aborrecimento e incompreensão” pelo incumprimento dos investimentos previstos
para a PMUGEST, fica claro que o doutor Jorge Silva tem os dias contados.
"E na epiderme de cada facto contemporâneo cravaremos uma farpa: apenas a porção de ferro estritamente indispensável para deixar pendente um sinal."
28 de fevereiro de 2019
O regresso do 'enfant terrible' do PSD
José Gomes Fernandes já foi líder da bancada do PSD, no tempo em que a Assembleia Municipal era um órgão que exalava nobreza e dignidade. Também já foi presidente do partido, num tempo em que isso contava para alguma coisa. Não deixa de ser estranho vê-lo sentado ao fundo da sala, na cauda da bancada, conferindo ao cenário uma espécie de 'mundo ao contrário'.
Mas a prova de que não é o hábito que faz o monge é ele: do fundo da sala, fez aquilo que dantes se chamava 'um ponto de ordem à mesa', no tempo em que o regimento era cumprido. Não admira que uma certa franja do PSD o preferisse para presidente da mesa da AM: sabe de leis, tem experiência naquele órgão, e não fora os maus-fígados que lhe soltam a língua teria condições para um bom desempenho.
Porém, JGF é muito mais do combate que do consenso. E é nesse papel que se sente como peixe na água, envergonhando qualquer um dos jotas - que preferem alinhar na lambebotice, talhados para puxar o lustro ao presidente da Câmara: João Antunes dos Santos, João Matias, Nicole Lourenço...a sério que isso não dá para mais?
Foi ele quem expôs ao ridículo o lado gabarolas reinante, ao chamar para a conversa a humildade. Excedeu-se na linguagem, é certo (para quem acusava outros, noutro tempo, de usar linguagem de tasca num blogue...fez grande caminho). E como a presidente tão-pouco o advertiu...continuamos para bingo.
26 de fevereiro de 2019
De “deixa” em “deixa” até ao deixado completo
Salvo raras excepções, as intervenções da oposição, na AM, seguem o registo dos jotas da maioria: são “deixas” oferecidas ao presidente da câmara, que ele aproveita para brilhar.
O registo não honra os jotas da maioria, mas honra muito menos aqueles que precisam de se credibilizar para conquistar votos. Que os jotas cumpram aquele papel, como preço a pagar para poder chegar a um lado qualquer, percebe-se; o que não se percebe é que a oposição faça a mesma figurinha.
Reparem bem neste exemplo - que é a regra - e tirem as vossas conclusões.
PS: Desta vez, D. Diogo não foi ingrato; limitou-se a aproveitar, sem glosar a coisa.
Ouvi-o, senhores
O nosso presidente discursou perante algumas crianças, durante a inauguração do bioparque - parque urbano da Charneca, ontem à tarde.
Levar um púlpito para o meio do parque é coisa de génio. Não admira o entusiasmo gritante dos catraios, enquanto os vereadores Pedro Murtinho e Narciso Mota, de braços cruzados, revelavam algum enfado. Não há maneira da plebe perceber o lugar que lhe está destinado, e enfim, saber estar.
Como as maravilhas do programa EPIS já se fazem sentir na criançada, é vê-los no papel que lhes está aportado, na inauguração do bioparque, que há-de ter melhor destino que o Jardim do vale, com as suas plantas e árvores autóctones que Deus tem.
Falemos de Política, ou de falta dela
Com a economia a funcionar bem, o PPD/PSD do economista Rui
Rio percebeu que não era a falar de economia que subiria nas sondagens. Vai
daí, centrou a sua acção política nas áreas sociais mais relevantes: Educação e Saúde – mais nesta, porque dói mais.
A acção política do PPD/PSD na oposição segue sempre o mesmo
esquema, testado com sucesso no verão quente de 74. O estratagema começa sempre
pela fase de guerrilha, normalmente aos sistemas públicos, de forma a
comprometer a sua operacionalidade e imagem; depois faz descer a guerrilha às
bases, usando a sua forte rede autárquica (cada vez menos forte); estimula o
descontentamento nas pessoas pelo mau serviço ou pela percepção de maus
serviços públicos; vira as pessoas contra o poder instalado; e, se resultar, uma
vez no poder, aproveita o descontentamento contra os serviços públicos para
desmontar e repartir o “bolo” pela clientela.
Por cá, o estratega delineou o estratagema para cumprir não um, mas dois propósitos: por um lado, desenvolver o plano nacional; por outro, fazer fogo de barragem ao escândalo local.
Por cá, o estratega delineou o estratagema para cumprir não um, mas dois propósitos: por um lado, desenvolver o plano nacional; por outro, fazer fogo de barragem ao escândalo local.
Que o PPD/PSD actue desta forma compreende-se: está no seu ADN e faz o seu papel. O que não se compreende – irrita até o mais paciente - é que os dirigentes
e representantes do PS nos órgãos autárquicos embarquem no estratagema; e se juntem
ao PPD/PSD, contra o património político mais relevante do partido que
representam, com um discurso anti-ideológico - patético, ingénuo e imprudente - numa das matérias mais ideológicas.
Deus lhes perdoe…
25 de fevereiro de 2019
A bajulação como modus operandi
Gonçalo Ramos, presidente da União de Freguesias do Oeste, deixou escorrer meio pote de graxa na intervenção inicial que fez na Assembleia Municipal, desfazendo-se em parabenizações ao presidente da Câmara.
A verdade é que, com esta aproximação ao poder, está dado um nó nos laços do PSD para as bandas do oeste: como é que Manuel António (ex-presidente da junta e actual presidente da comissão política concelhia. Ainda é, não é?) e Manuel Serra, por exemplo, vão digerir esta aproximação latente a Diogo Mateus. Astuto, Diogo está a fazer render o peixe, não lhe permitindo que passe toda a graxa, só aceitando a escova. Atente-se na displicência com que lhe respondeu, passando-lhe roda de ignorância, a propósito da ADSE.
O registo bajulador foi adoptado pela generalidade dos presidentes de Junta. Uns queixam-se das dores alheias (como o do Louriçal), outros entram naquela cantilena anti-geringonça. Até Paulo Duarte (Redinha), que mal foi eleito cortou com o PS, estava a gostar de se ouvir a fazer coro. Ressalva feita para quando colocou o dedo na ferida; não há pessoas. Estamos sem gente. E por isso não há milagres.
Uma nota também para Sandra Barros, que leu muito bem aquele texto escrito.
Vão longe os tempos em que os presidentes de junta aproveitavam o palco da AM para apontarem o que lhes faltava, a eles e aos que os elegeram, sem caírem na tentação de fazer política partidária. Na sua maioria casam bem com esta política do enfeite levada a cabo pela Câmara. E demonstraram cumprir razoavelmente o papel do bom aluno: na semana anterior, Diogo Mateus reuniu com todos, a propósito da Saúde. Quando chegaram à AM iam em ponto de rebuçado, devidamente instruídos para abrirem fogo logo no PAOD (Período de Antes da Ordem do Dia), carregando as espingardas a abrir e a fechar, no ponto colocado extra-agenda, para discutir a questão da Saúde.
É bonito verificar que a maioria destes autarcas está já noutro patamar, além do buraco da estrada. Mas não era pior se começassem por aí, antes de se armarem em politiqueiros num local onde estão por inerência.
Nesta marcha, só há um desalinhado. É Humberto Lopes (Almagreira), com o discurso mais sério entre todos os pares, a provar que é possível separar as águas e ser presidente de todos, honrando verdadeiramente o lugar sem cair na bajulação.
Lamentações que enternecem
Coube à doutora Elisabete (PS) o encargo introduzir na AM o
grande caso político dos últimos tempos: acusação do ex-executivo da junta de Abiúl
da prática de 39 crimes de peculato. A doutora Elisabete (PS) abordou o
caso com muita doutrina e pranto, num registo tão didáctico que até enterneceu
o nosso presidente.
A actual presidente da junta de Abiúl ouviu e respondeu. Ora
vejam.
24 de fevereiro de 2019
Um louvor que não louva nada
Uma pombalense tornou-se a primeira submarinista. Como a
futilidade dos nossos dias aprecia estas singularidades, foi logo notícia. Até
aqui tudo normal - dentro da normalidade reinante.
Mas que um partido político apresente na AM um voto de
louvor por uma mulher se ter tornado marinheiro (equivalente a soldado) e
primeira submarinista, e este tenha sido aprovado por unanimidade, roça o
ridículo. Ridículo explicado pela ligeireza e simplismo do partido (CDS-PPP) e
da mulher (Liliana Silva) que apresentaram a proposta, para quem, pelos vistos
e ditos, uma pessoa com uma farda é uma pessoa distinta; pela ligeireza e
simplismo da presidente da mesa, que desconhece o regimento e rege-se quase exclusivamente
pelas suas preferências; ligeireza e simplismo dos membros da assembleia que,
com comportamentos destes, não dignificam o órgão e não engrandeceram - antes
pelo contrário – as personalidades que louvam - neste caso a jovem em causa e
as mulheres no geral.
Louva-se o mérito,
não a aleatoriedade.
20 de fevereiro de 2019
Escândalo em Abiúl
Os membros do executivo da junta de freguesia de Abiúl, que
exercerem funções entre 1994 e 2013, António Carrasqueira, presidente, Joaquim
Agostinho, secretário, e Amândio dos Santos, tesoureiro, eleitos pelo PSD, foram
constituídos arguidos pelo ministério público e acusados de 39 crimes de
peculato*, no valor de 87.340,46 €, por terem utilizado em proveito próprio o dinheiro
da junta à sua guarda, para o pagamento de almoços, nos restaurantes “Amigos da
Velha Caroca” e “O Tirol”, entre 2008 – 2013.
Os elementos de prova dos crimes – cheques, facturas, actas…
- foram recolhidos durante uma busca realizada nas instalações da junta pela
Polícia Judiciária. A actual presidente, Sandra Barros, eleita pelo
PSD, acompanhou as buscas e foi constituída testemunha.
Só entre Janeiro e Setembro de 2010 os arguidos gastaram
6.570,90 € no restaurante “O Tirol”; entre Junho e Dezembro de 2010 gastaram
7.478,09 € no restaurante “O Tirol”; em Agosto de 2010 gastaram mais 3.314,55 €
no restaurante “O Tirol”; etc; etc; etc.
Os agora acusados vão responder perante a justiça. A actual
presidente, Sandra Barros, deve explicações aos abiulenses, e aos pombalenses, pela ocultação deste escândalo.
* Código Penal - Peculato: O
funcionário que ilegitimamente se apropriar, em proveito próprio ou de
outra pessoa, de dinheiro ou qualquer coisa móvel, pública ou particular,
que lhe tenha sido entregue, esteja na sua posse ou lhe seja acessível em
razão das suas funções, é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos, se pena
mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal.
19 de fevereiro de 2019
Pombal, boa ou má governação?
Na ausência de melhor, a central de propaganda e os
acérrimos defensores do executivo municipal socorreram-se dos indicadores do
Anuário Financeiro dos Municípios, editado pela Ordem dos Contabilistas
Certificados, para propagandear a suposta boa governação local. Foi mais uma
operação de fogo-fátuo: parte dos foguetes eram de pólvora seca; os que não
eram deveriam ter-lhes rebentar nas mãos - se houvesse oposição com alguma capacidade
de análise e de contraditório.
Os indicadores financeiros são pouco efectivos para avaliar
a qualidade da governação (como a última crise financeira demonstrou); contudo,
quando aplicados para monitorizar a estratégia de organizações que operam em
mercados concorrenciais, são úteis. Ora nenhuma destas duas condições se aplica
aos municípios, nomeadamente a Pombal.
Na generalidade, os indicadores financeiros são ambivalentes;
a sua leitura depende do contexto e da orientação estratégica (que em Pombal e
na esmagadora maioria dos municípios não existe). Por exemplo, o executivo
gaba-se de aparecer em 3.º lugar no indicador Equilíbrio Financeiro, Leiria
aparece em 4.º e Alvaiázere em 6.º. Boas ou más companhias? O mesmo se poderia
dizer do Resultado Económico, ou do Volume de Investimentos, …
No que concerne à qualidade/retorno dos investimentos, Pombal
será mesmo um “case study” nacional: elevados níveis de investimento público
concelhio e fraco retorno económico. Porquê? Porque grande parte do
investimento público camarário, realizado nas últimas décadas, teve pouco ou
nenhum retorno. O concelho está cheio de monos: Quinta Sant`Ana, CIMU-SICÓ,
Casa da Guarda-Norte, Celeiro do Marquês, Parque da Praça Marquês de Pombal,
Centro Negócios, Casa Varela, Casa Mota Pinto, etc. etc. etc. A isto, deve-se somar
as dezenas de sedes de associações, equipamentos desportivos, parques de
merendas e benfeitorias diversas que estão ao abandono ou sem uso condizente.
Pombal (tal como a generalidade dos municípios) investe/gasta
muito porque tem receitas asseguradas; se estivesse dependente do retorno dos
investimentos há muito teria deixado de investir.
Resumindo: primeiro, investir (muito) não é necessariamente
bom; segundo, uma empresa com o nível de investimentos falhados da CMP já teria
fechado portas há muito tempo; ou a administração já tinha sido corrida pelos
accionistas.
18 de fevereiro de 2019
O que vai acontecer ao Centro de Saúde de Vermoil?
O povo, sempre sábio, fareja que qualquer coisa está para acontecer aos serviços de saúde, mesmo que aparentemente aquela sessão de sexta-feira passada tenha sido apenas uma "sessão informativa sobre o funcionamento e organização dos serviços locais de saúde/unidades de saúde familiares".
Só assim se percebe que numa terra desertificada e pouco dada a ajuntamentos o salão da Junta tenha sido insuficiente para receber tanto freguês, obrigando a transferir o encontro para o salão da Igreja.
"Diz que querem fechar o centro de saúde e construir um grande que sirva Vermoil, Carnide e Meirinhas...nas Meirinhas". Será? Será que o povo vê fumo e lhe cheira a fogo? Ou estamos a fazer a cama à descentralização de competências sem nos apercebermos? E porque é que não se aproveitou a ocasião para perguntar, preto no branco?
As explicações de Rui Pedro Valente foram claras, mas não para uma população idosa, que maioritariamente não utiliza a internet e passa ao lado de "plataformas online" e toda a linguagem inerente.
Este é um assunto para acompanharmos, nos próximos tempos.
15 de fevereiro de 2019
Monarca é monarca
O quezilento vereador Michael importunou boa parte da
reunião do executivo com questões indiscretas sobre a forma como D. Diogo ocupa
o seu tempo. É verdade que se escudou nas suas credenciais de assiduidade e pontualidade e no facto de ter feito meia dúzia de masters e pós-graduações sem faltar ao serviço - diz ele -, enquanto vereador a tempo-inteiro, mas não se faz! Monarca é monarca e ministro é ministro. Monarca tem direito a
dispor de todo o tempo a seu belo prazer. Monarca não dá satisfações a
ministros ou povo.
No final do período de antes-da-ordem-do-dia já estava tudo incomodado,
ao ponto de Narciso Mota ter tido necessidade de repreender o seu delfim.
14 de fevereiro de 2019
Política para a bandeira
O PSD administra a Câmara Municipal de Pombal (CMP) há sete
mandatos consecutivos (quase três décadas). Sete mandatos é muito tempo e muito
dinheiro. O PSD tem obra feita: muita infraestrutura, muito equipamento, muita
benfeitoria, muito subsídio, muito emprego, muito prémio, muita bandeira, etc.
Que fez muito não há dúvida; falta saber se fez bem – há primeira vista sim,
porque nem a oposição se manifesta. Mas importa olhar para além das aparências.
Fazer muito não é difícil - basta ter recursos, e eles abundaram
por via do Orçamento de Estado, Fundos Comunitários e Receitas Próprias.
Difícil é fazer bem, fazer melhor - fazer melhor é aquilo que é mais difícil de
fazer. O PSD, tanto com Narciso Mota como com Diogo Mateus, limitou-se a fazer
o mais fácil – infraestruturas, equipamentos e benfeitorias – e a comprar
consciências – subsídios, empregos, prémios, bandeiras. Em política mais é
menos, o mais fácil é o pior, o mais imediato é o mais efémero. Resultado: o
concelho, em vez de crescer, definhou; em vez enriquecer, empobreceu; em vez de
florescer, envelheceu. Mas está bem colocado nos rankings da “feira de
vaidades” - ganhou prémios, conquistou bandeiras.
No reinado de Narciso Mota, Diogo Mateus ganhou o rótulo do
rigor – sobressaiu facilmente no meio do improviso -; no seu é a imagem da
política da aparência e da propaganda - para o prémio, para bandeira, para a
imagem.
A obsessão pelos prémios é tanta, e é tão fácil obtê-los,
que a CMP obtém posições de destaque – e ganha prémios e bandeiras – onde tem mau
desempenho. O lugar de destaque na Eficiência e Sustentabilidade Financeira no
Anuário Financeira dos Municípios exemplifica bem o quadro. Questão que, pelo
que revela e pela sua relevância, merece post próprio.
12 de fevereiro de 2019
Descentralização, uma não-reforma
A descentralização em curso foi desenhada para ser ao gosto
de cada um, como convém a quem gosta de mexer nas coisas para que tudo fique na
mesma. É uma “não-reforma”: não acrescenta nada de relevante, entretém; não é a
reestruturação de que o país necessita; nem agradará à maioria das autarquias –
para umas é uma mão cheia de nada, para outras é uma mão de problemas. No final,
a esmagadora maioria acabará por aceitá-la, com mais ou menos dificuldade, porque
acrescentará mais uns euros aos orçamentos municipais e adocicará a partidarite
com mais uns tachos para distribuir. Pelo meio, anuncia-se a próxima reforma: regionalização.
Coitado do doente.
O processo de descentralização do Estado para as autarquias
não tem obedecido a uma estratégia, a um plano, ou uma lógica sequer, que permita dotar o
país de um modelo administrativo coerente, consistente e adequado à sua realidade
socioeconómica. Cada governo faz as suas experiências, ao sabor de impulsos supostamente
reformadores que têm resultado em mais entidades, mais assimetrias, mais
entropia.
Portugal consolidou o seu território no final da reconquista
e, logo de seguida, D. Dinis desenvolveu um modelo de administração assente no
municipalismo, que se manteve até aos nossos dias. O municipalismo faz parte do
código genético do país; logo, deve ser aprofundado e adaptado à realidade socioeconómica.
Não faz sentido existirem freguesias com mais de 25.000 habitantes e concelhos
com menos de 2.500. Logo, indispensável é a reformulação do mapa de concelhos
de forma a dar massa crítica ao municipalismo dotando-os de capacidade para
proporcionar condições de vida idênticas, nomeadamente ao nível dos serviços do
Estado, mas nisto ninguém quer mexer; mexe-se no resto e estraga-se o que está
enraizado e funciona.
O país não tem nenhuma tradição ou cultura regionalista -
nem os distritos vingaram - e as nossas regiões sempre foram unicamente similaridades
geográficas, nunca tiveram identidade ou autonomia política.
A estrutura administrativa do país não pode estar sempre em
reformas e nunca reformada. Por isso comungo de Pessoa quando diz: “Se alguma
coisa odeio, é um reformador. Um reformador é um homem que vê os males
superficiais do mundo e se propõe curá-los agravando os fundamentais”. É o que
se tem passado com as reformas da estrutura administrativa do país desde a
Revolução Liberal – pelo menos!
6 de fevereiro de 2019
Que trata da desventura do Pança com os mandos do Príncipe
Os últimos dias têm custado a passar ao socarrão Pança, tem andado mui atormentado, ao ponto da sua maria já ter notado a mudança de
espírito e lhe ter recomendado “tomai cuidado com o aziado! Quem assim procede
acaba sempre mal”. Mas o desconsolo do Pança, com os últimos mandos do
Príncipe, parece ser daqueles que nem consolação admite; anda roído por dentro
e alterado por fora, de noite não prega olho, de dia não tem maneiras - se
alguma vez as teve –, anda de maus-feles, dá ordens e reprimendas a todos e
sobre tudo; não lhe sai da cabeça a injusta entrega da mui cobiçada chefatura
do apoio aos idosos à filha do mais miserável traidor, inimigo ruim demais para
viver, aqui ou alhures, quanto mais para receber prebendas; não entende, diz
ele, a razão da sem-razão de tal escolha, que contrabalanço Sua Alteza procura,
por que desbarata tão valiosa mortalha com tão ruim defunto, que nada tem para
dar e tudo pode deitar a perder; não saberá, Sua Alteza, que há muita prosélita
à espera duma graça ou de alguma migalha do poder, e vai dar valiosa prebenda ao
inimigo, catano; as prebendas têm que ser bem dadas, primeiro os nossos, depois
os de ninguém, e depois de depois acabou-se; neste negócio da política quem cai
cai e acabou-se.
O Pança sabe que precisa de se conter para não desagradar ao
Amo, que incenso e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, mas tem necessidade
de um pouco de ruibarbo para purgar a sua demasiada cólera; vai daí, sendo muito
devoto da N.ª Sr.ª do Cardal e do Santo P.e Amaro, buscou protecção na
providência divina, já se fez confessar pelo padre Vaz, que lhe prenunciou
penitência ajustada, jejuar uma semana somente a pão-e-água, ao que ele pensou
contrapor que preferia rezar um mês com sopa da pedra e carne barrosã, mas, pelo
sim pelo não, anuiu, e lá foi cumprindo, com um ou outro deslize menor, que o
corpo é fraco e Deus é amigo, e o festival do glorioso, na casa do rival, não
poderia ficar sem festejos a preceito.
A danação interior do Pança, reprimida mas mal contida, não
passou despercebida ao Príncipe, que deixou a coisa moer até ao ponto certo. No
final do dia de despacho, perguntou-lhe:
- Por que andais tão aziado, Pança?
- Desculpai-me a franqueza e fraqueza, Alteza, mas tenho
andado com o miolo em ânsias desde que o Senhor brindou o nosso maior traidor e
inimigo com valiosa prebenda – replicou o Pança.
- Sois mesmo de entendimento boto, Pança; e ainda não aprendestes
nada da arte de mandar e ser obedecido – retrocou o Príncipe.
- Desculpai-me o
reparo, Alteza; posso ser de entendimento fraco, mas tanta bondade condiz mais
com frade – retorquiu o Pança.
- A bondade das coisas, Pança, depende do momento e do
intento. O teu reparo é tão sem sentido que me parece será tempo perdido o que
se gastar para te convencer da minha subtileza e da tua simpleza – Rematou o
Príncipe.
Oh alma despiedosa! Quem vos devesse fugir mais do que
ajudar - pensou o Pança, mas não o verberou.
Miguel Saavedra
5 de fevereiro de 2019
O presente envenenado
O impoluto Diogo Mateus escolheu para coordenadora do programa CLDS-4G a psicóloga Rita Mota, filha de Narciso Mota.
Como? - perguntará o leitor atento, sabendo da chacina política que o presidente tem feito ao seu antecessor; da humilhação constante nas reuniões públicas e gravadas, do processo que corre em tribunal movido pela nora do mesmo Narciso, contra a Câmara Municipal, onde também trabalha.
Como? - terá perguntado a vereadora do PS, Odete Alves, na última reunião de câmara, convencida de que esta nomeação cheira a "uma forma de silenciar ou controlar" o agora vereador da oposição.
Como? tem razões para se interrogar Teresa Silva, presidente da direcção da APEPI - a entidade gestora do dito programa CLDS-4G, ligação que vinha do tempo em que a sua IPSS e a Câmara tinham uma relação umbilical, em que também ela era uma mulher social-democrata, ao ponto de dar o nome da deputada (e ex-secretária de Estado) do PSD, Teresa Morais, à Casa Abrigo. No meio social toda a gente sabe que a filha de Narciso Mota não era a escolha da APEPI para coordenadora técnica deste projecto - que dura há anos e ninguém sabe muito bem o que é, para que serve, que resultados se apuram do meio milhão de euros investido, de cada vez que cai "no terreno". E toda a gente sabe que Diogo não perdoa nem esquece. E que, na verdade, esta nomeação - para um cargo pago a peso de ouro, com dinheiros públicos - é uma espécie de presente envenenado, qual pescadinha de rabo na boca: a filha daquele que foi seu adversário, que lhe lhe chama vingativo todos os dias, que levou com ele muitos do PSD, como Teresa Silva.
O futuro há-de mostrar como este caso é um isco e quem o vai morder.
4 de fevereiro de 2019
Prognósticos eleitorais antecipados
Ainda mal passou o primeiro ano de mandato autárquico, e já os sinais, de má governação e de promiscuidade entre governação e partido, são de tal forma expressivos, que já é possível prognosticar que determinadas câmaras do distrito mudarão de mãos.
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