"E na epiderme de cada facto contemporâneo cravaremos uma farpa: apenas a porção de ferro estritamente indispensável para deixar pendente um sinal."
23 de dezembro de 2016
Boas Festas!
São os votos d'Os da Casa para todos os que nos lêem.
Feliz Natal!
Adelino Malho
Adérito Araújo
Alexandra Azambuja
Paula Sofia Luz
A oeste nada de novo: história de uma (des)união
Quando nos primórdios da sua governação Narciso Mota apelava à união do "Povo de Pombal", sempre me deu tremenda vontade de rir, pois que se referia, não raras vezes, a gente de Almageira e Vermoil, Abiul e Carriço, Guia ou Meirinhas, como se houvesse algum factor de identidade que ligasse as 17 freguesias do concelho de Pombal, que não o administrativo.
Quando assistia, um dia depois, à transmissão da reunião da Assembleia Municipal e à corajosa intervenção de António Fernandes, último presidente da Mata Mourisca, lembrei-me de uma história que ouvi desde criança, sobre aquele dia em que a população da aldeia se armou de enxadas e forquilhas para correr com um padre, ali no final dos anos 70. Há uma expressão popular lá por aquelas bandas que diz muito sobre aquele povo: "é de cruto (cocuruto) como os da Mourisca". Quer dizer que é com grandeza. Atente-se por isso na intervenção do ex-autarca - cuja posição foi sempre clara desde o início, no que respeita à agregação, de tal forma que não integrou a lista do PSD à União de Freguesias do Oeste. É em resposta a uma intervenção de João Coucelo, que por sua vez comentava a estranha moção do deputado do PCP, a propósito do tema. "Está por provar que não funcione [a agregação]. Regra geral, todas as revisões administrativas nunca foram de encontro à dita 'vontade popular'. Foram sempre coisas que vieram de cima para baixo. Se fosse por vontade popular nunca se mudava nada".
Quando assistia, um dia depois, à transmissão da reunião da Assembleia Municipal e à corajosa intervenção de António Fernandes, último presidente da Mata Mourisca, lembrei-me de uma história que ouvi desde criança, sobre aquele dia em que a população da aldeia se armou de enxadas e forquilhas para correr com um padre, ali no final dos anos 70. Há uma expressão popular lá por aquelas bandas que diz muito sobre aquele povo: "é de cruto (cocuruto) como os da Mourisca". Quer dizer que é com grandeza. Atente-se por isso na intervenção do ex-autarca - cuja posição foi sempre clara desde o início, no que respeita à agregação, de tal forma que não integrou a lista do PSD à União de Freguesias do Oeste. É em resposta a uma intervenção de João Coucelo, que por sua vez comentava a estranha moção do deputado do PCP, a propósito do tema. "Está por provar que não funcione [a agregação]. Regra geral, todas as revisões administrativas nunca foram de encontro à dita 'vontade popular'. Foram sempre coisas que vieram de cima para baixo. Se fosse por vontade popular nunca se mudava nada".
E foi aqui que Tó Fernandes lhe respondeu à maneira lá da terra. E lembrou aquilo que, naquele salão nobre, se tentava ignorar: um abaixo-assinado, lido ao início da sessão, mas pelo qual as bancadas passaram como cão por vinha vindimada.
Nessa tarde-noite de (cada vez mais) confrangedora intervenção política, há ainda a reter a comunicação de Manuel Serra, actual presidente da Junta da União de Freguesias. Lúcido, como é - deixou a nota durante a reunião: "tanto se me dá que sejamos agregados como não. Eu não serei um entrave das decisões contrárias às vontades das maiorias, mesmo não sendo essas vontades muitas vezes as mais esclarecidas, mas em democracia é assim mesmo". E foi quando o ouvi enumerar tudo aquilo que tem sido feito no Oeste que percebi melhor por que é que na Guia e na Ilha as pessoas se unem em abaixo-assinado para acabar com a agregação. É que, de União, há ali muito pouco.
22 de dezembro de 2016
Ser generoso com o-pelo-do-cão
A câmara vai oferecer um jantar de Natal aos funcionários da câmara e das empresas municipais, aos prestadores de serviços, etc.; e distribuir prendas por eles. A Junta de Freguesia de Pombal foi, ainda, mais generosa: estendeu a coisa aos familiares – uma coisa em grande, para a Família, com animação e tudo. O facebookiano Pedro Pimpão – um mouro de trabalho para a Família - partilhou connosco o gozo do evento.
Convinha
que o presidente da câmara e da junta tivessem a noção que não são eles que
pagam os jantares e as prendas, são os munícipes.
Por isso, um pouco de moderação e decoro ficava-lhes bem; tal como ao nosso
deputado.
21 de dezembro de 2016
Vai a legalidade, fiquem os votos
Ontem, o presidente da CMP levou à reunião do executivo uma proposta
para atribuição de subsídio de 15.000€, à Associação Cultural Recreativa dos
Poios, para a realização de obras na sede; e outra para a atribuição de um subsídio
de 5.000 €, à Associação Recreativa Cultural Desportiva da Venda da Cruz, para
o mesmo efeito; sabendo que as sedes das associações não estão licenciadas –
estão ilegais. Mais: acrescentou que uma delas - a Associação Recreativa
Cultural Desportiva da Venda da Cruz – “não está licenciada nem o será, nunca”. Pelo meio, Diogo Mateus, lamentou-se por herdar um passado onde
estas coisas eram feitas fora-da-lei.
Entendamo-nos: Diogo Mateus não herdou nenhum passado: é passado, e é presente. Nesta matéria - como estes casos o demonstram - Diogo Mateus tem pior
presente do que passado; porque as coisas de um tempo, não são o mesmo noutro
tempo – são muito mais graves.
Já abriu há muito a caça aos votos. Mas é preciso não ter
topete para, actualmente, com regulamentação muito mais apertada, derramar dinheiro
sobre sedes de associações ilegais onde decorrem eventos públicos com grande
concentração de pessoas.
Ao conceder os subsídios em causa (e outros idênticos),
os membros do executivo poderão estar a violar a Lei 34/87; de 16/07 - Crimes
de responsabilidade dos titulares de cargos políticos - e a sua versão mais
recente - Lei n.º 30/2015, de 22/04. Cabem os actos na previsão do art.º 11.º - “O
titular de cargo político que conscientemente conduzir ou decidir contra
direito um processo em que intervenha no exercício das suas funções, com a
intenção de por essa forma prejudicar ou beneficiar alguém, será punido com
prisão de dois a oito anos”. – e do art.º 18–A - "O titular de cargo
político que informe ou decida favoravelmente processo de licenciamento ou de
autorização ou preste neste informação falsa sobre as leis ou regulamentos
aplicáveis, consciente da desconformidade da sua conduta com as normas
urbanísticas, é punido com pena de prisão até 3 anos ou multa”. 19 de dezembro de 2016
Faz de conta que a pista era de gelo
foto: Município de Pombal
É uma gente que diz mal de tudo, esta.
O Município faz um esforço sobrenatural para agradar ao povo, investe 100 mil euros na programação de Natal (parte será na iluminação de rua?), manda vir artesãos do resto do país para o mercado, anuncia uma pista de gelo e é isto: uma decepção pegada.
A pista que calhou em sorte às crianças de Pombal deve ser do Sporting: nem sequer chegou ao Natal. Senhores da Câmara: até pode parecer que por aqui se come gato por lebre, que a ninguém se importa com a verdade e a mentira, que para quem é bacalhau basta. Mas é feio mentir, ainda mais tratando-de do público infantil, a quem - supostamente - se destinava a pista. Que não era de gelo. Posto isto, há uma em Leiria. Tem espectáculos de patinagem e só encerra a 1 de Janeiro. E consta que não cheira a cavalo.
Onde se dá conta do resto das delegações
O
Príncipe ordenou que o Pança reunisse os ministros, novamente. Com todos
presentes foi directo ao assunto; não sem antes pedir ao Pança que apontasse e
passasse, depois, ao escrivão-mor.
Começou
assim o Príncipe: - Na Marquesa Prada delego a tramitação dos transportes
escolares.
-
Não pode, estou ocupadíssima com a animação e os eventos culturais e a animação;
não tenho tempo nenhum para essas burocracias. Dizei-me: não será melhor
concentrar-me na diversão do povo; agora que precisamos tanto dele?
-
Claro. É na diversão do povo que vos deveis focar. Como sabeis: o povo, para
além de ser falho de memória e de entendimento, é carente de atenção e gozo;
mas com duas cocegas e dois enfartamentos deixa-se enganar facilmente. Libertei-vos
de mais atribuições para poderdes centrar-vos no que mais precisamos neste
momento: termos o povo feliz – concluiu o Príncipe.
- Nisso concordo; mas deveis saber que o povo está cada vez mais insuportável. E os
píquenos são do piorío: não gostam de nada. Às vezes enganamos-los: prometemos uma pista de gelo e damos-lhes uma de plástico. E mais: estamos a ser pobretanas nos
gastos com a diversão: a animação é uma caturreira e a decoração é pindérica.
Esta coisa, de ir pelo baratucho e popularucho, pode resultar uma vez, por ser novidade, mas repetido, desilude. Isto aborrece-me – disse Princesa Prada, desgostosa.
-
Depois havemos de falar disso, os dois – rematou o Príncipe, e passou à frente. -
No ministro Jota Guardado não delego mais nada, porque já tem carga suficiente e não
está a dar conta dela. Devereis aproveitar os próximos seis meses para
mostrardes o que valeis – avisou o Príncipe.
O
ministro Jota Guardado engoliu em seco. E o Príncipe deu por finalizada a
reunião com desejos de um Santo Natal.
Nisto
ouviu-se, da ponta da mesa, a Condessa das Cavadas: - e em mim, Alteza; não delegueis nada?
-
Estais já bem ocupada com o chamamento dos funcionários para os nossos
ajuntamentos. Mas podereis ficar também com as faltas e férias dos assistentes
dos jardins-de-infância.
-
Obrigado Alteza – agradeceu a Condessa das Cavadas.
Miguel Saavedra
16 de dezembro de 2016
Tal Presidente Tal Povo
Aqui ao lado, em Ourém, o presidente da câmara municipal está há anos em
insolvência pessoal, com dívidas de mais de 4,6 M€. Em 2014, um empresário
interpôs-lhe um processo de insolvência pessoal por uma dívida de 350 mil
Euros; mas Paulo Fonseca empurrou a inevitável declaração de insolvência,
recurso após recurso, até ao Tribunal Constitucional.
Pelo meio, Paulo Fonseca ganhou as eleições no estado de
insolvência pessoal amplamente conhecido e exerceu o mandato. Entretanto, o
Tribunal Constitucional confirmou a inevitável insolvência pessoal, o que lhe
retira a idoneidade necessária para se manter no cargo e para se candidatar nas
próximas eleições. Mas o malabarista Paulo Fonseca não quer ficar por aqui; prepara-se
para contornar a decisão do Tribunal Constitucional através de um acordo artificial com os credores. Este caso mostra, até à saciedade, o estado de
degradação e de desagregação do regime, e a falta de sentido ético mínimo da
sociedade em geral e dos Oureenses em particular.
Expõe a Justiça, que permite que um tipo, sem pingo de
vergonha e sem qualquer possibilidade de reverter o estado de insolvência pessoal
(com o rendimento que tem e quer manter, nem que dure mil anos honra os
compromissos), goze de idoneidade para exercer cargos públicos; expõe as
debilidades do Sistema Democrático; e expõe o partido – PS - que o candidata e
apoia esta desvergonha. Mas expõe também uma sociedade cívica e politicamente corrompida
até à medula, constituída maioritariamente por pessoas sem vergonha, sem
carácter e que não distinguem já o bem do mal.
Bom arranque
Decorreu ontem a eleição dos representantes dos pais no Concelho Geral do Agrupamento de Escolas de Pombal. A única lista a sufrágio foi a apresentada pela Associação de Pais de Pombal - recentemente criada.
A lista apresentada fez uma renovação total dos representantes dos pais no CG, incluiu pais que não são sócios da associação e é uma lista bastante mais representativa do universo dos pais – não é uma lista de doutores&engenheiros, nem é uma lista de pais da cidade.
Bons sinais; numa terra onde estas coisas seguem o padrão oposto.
15 de dezembro de 2016
Onde se dá conta da continuação da reunião das delegações
Terminada
a rusga da PJ e tomadas as acções de contenção, o Príncipe retomou o plano no
ponto onde o tinha interrompido: delegação de atribuições aos ministros.
Ordenou ao Pança que os reunisse, o que este fez com o desembaraço e o gozo
conhecido. Desta vez nem o ministro Videira se atrasou!
O
Príncipe foi directo ao assunto (os seus múltiplos cuidados obrigam-no a poupar
tempo e a libertar tempo). Ordenou:
-
Pança; apontai e passai, depois, ao escrivão-mor.
-
Às ordens, Alteza – anuiu o Pança, com a solicitude conhecida.
-
No ministro das Obras-Tortas delego a segurança nas obras e a substituição do
Príncipe na sua ausência.
-
Desculpe, Alteza; são empreitadas demais para um ministro enfraquecido. Dispensai-me
da representação de Sua Alteza e demais atribuições. Seria loucura tentar
semelhante desígnio, neste período delicado – rogou o ministro das
Obras-Tortas.
- Faze-te forte – reforçou o Príncipe. A arte da governação
está reservada para os distintos ou para os que querem sê-lo. E para sê-lo, é
preciso passar bons ou maus sucedimentos. Lembrai-vos que nas desgraças sempre
a ventura deixa uma porta aberta para remédio.
-
Agradeço as suas sábias palavras, Alteza – disse de forma sentida o ministro
das Obras-Tortas. Mas concedei-me esta dúvida: que lhe aproveita a Vossa Mercê
conceder-me a sua insigne representação?
-
A mim pouco, ou nada, mas é uma oportunidade para exercitardes a arte de representar
e reinar. Ficareis melhor habilitado para concorrerdes ao governo de Terras
d`Almagra - referiu o Príncipe.
-
Eu estou mais é para abandonar este, do que para ficar ou meter-me noutro –
disse, pesaroso, o ministro das Obras-Tortas. Pesa-me, só, o remorso de que
poderei prejudicar Vossa Excelência. Nisto que nos agora aconteceu — tornou o
ministro — tenho sido muito fustigado; arrependido estou de ter trocado os
artefactos pelo que julgava ser vida-boa; quisera eu ter tido este entendimento
quando Vossa Excelência me convidou e tinha evitado muito desgosto.
- Deveríeis saber que a vida de ministro não é só fama e bom
passadio, está sujeita a mil perigos, afrontas e desventuras, sei bem do que
falo – lembrou o Príncipe.
-
Pouco me importa se são desventuras ou afrontas; o que me importa são as dores
delas, e a forma como ficarão impressas na memória – reforçou o ministro.
-
Não há lembrança que não se gaste com o tempo, nem dor que por morte não
desapareça – lembrou o Príncipe.
- Será verdade, Alteza – anuiu o ministro. Mas que desgraça
pode haver maior — acrescentou - que a que só o tempo cura, e só a morte acaba?
Se este nosso contratempo fosse daqueles que se curam com uma confissão e uma
boa penitência…
- Ajuda; deveis consultar o Cura Vaz – aconselhou o Príncipe.
Mas tereis, também, que fazer das fraquezas forças.
- Elas faltam-me Alteza. E faltam-me apoios – disse o
ministro com ar entristecido.
- Dize-me o que queres que por ti faça? - Perguntou o Príncipe.
-
Nada Alteza. Eu é que preciso de saber o que hei-de fazer de mim – retorquiu o
ministro.
-
Sois uma criatura esforçada, popular e bom cristão; mas talvez isso não chegue
para dar um bom ministro – concluiu o Príncipe.
- Pois aí é que a porca torce o rabo. Cada qual é como Deus
o fez, e talvez não me tenha feito para isto – anuiu, conformado, o ministro das
Obras-Tortas.
- Agora sim — disse o Príncipe — agora é que bateis no ponto
que confirma o meu já resolvido intento. Termina esta empreitada o melhor que
puderdes – rematou o Príncipe.
- Não digo que seja impossível, mas tenho-o por dificultoso.
Nas mãos de Deus me entrego – disse o ministro.
- Que Deus te acompanhe e te dê um bom destino. Pelo muito
que por vós fiz, imploro-vos que me deis o vosso favor e amparo, agora que
tanto deles preciso.
- Eu cá não sou desagradecido; contai com a minha devoção.
- Que o Senhor nos acompanhe – desejou o Príncipe.
Ámen - disseram todos.
Miguel Saavedra
14 de dezembro de 2016
Sai mais um subsídio para a Sicoense
A CMP atribuiu, por unanimidade, um subsídio de 17.500 € à
Associação Cultural e Recreativa Sicoense, de Vila Cã, destinado a
comparticipar as obras de construção da sede. A este subsídio pode-se somar os atribuídos anteriormente e os que serão atribuídos no futuro; se, entretanto, nada se alterar.
O que não falta por Pombal é sedes de associações
abandonadas, que só o foram enquanto tiveram como propósito único, construir a
sede. Até agora, a razão de existência da Associação Sicoense tem sido a
construção da sede.
Em Pombal as associações nascem e morrem como os cogumelos, com a câmara a meter lá dinheiro sem escrutinar se são boas ou más, se têm actividade ou não, se são úteis ou inúteis. Porquê? Porque o que interessa é caçar votos.
13 de dezembro de 2016
Onde se dá conta da reunião de emergência sobre a rusga da PJ
Nos
últimos seis meses, o Príncipe desenvolveu, com a mestria que lhe é
reconhecida, o plano de sedução dos súbditos. Até à semana passada corria tudo como
previsto e melhor do que o esperado.
Nas
conversas de taberna e café, corria há muito a atoarda que do plano do Príncipe
para manter o poder fazia parte a utilização, no momento certo, dos esqueletos
que, supostamente, o inimigo tinha deixado no armário. E toda a gente que segue
estas coisas dava os escândalos como certos; até porque as ameaças já tinham
seguido pelo correio, para, antecipadamente, destabilizar e condicionar o
inimigo. O que o Príncipe não sonhava, era que o feitiço se virasse contra o
feiticeiro - não contava, nem nos seus piores pesadelos, que a PJ lhe entrasse
casa dentro, sem avisar, para vasculhar um caso bicudo do seu curto
reinado.
Perante
a bronca, e os seus efeitos devastadores, o Príncipe protelou a continuação da
reunião de delegação de atribuições aos ministros e reuniu o núcleo cúmplice,
composto pelo fiel escudeiro e a Marquesa Prada. Estavam inquietos, irritados e
no conhecido modo retaliativo; mas não sabiam o que fazer, melhor dizendo, por
onde começar. Apetecia-lhes fazer mal, mas tinham medo do efeito do mal feito; a
cabeça pedia-lhes acção, mas o corpo estava trôpego, próprio de quem tinha
acabado de levar um murro no baixo-ventre. Só estavam de acordo numa coisa, nos
culpados: PJ, denunciantes e o ministro das Obras-Tortas. Mas, para além do ministro,
sentiam-se impotentes para os condicionar ou fazer sofrer.
Pensaram
actuar na PJ, servindo-se dos bons canais, mas desistiram da ideia porque, tendo
eles deixado passar o caso para os jornais, havia pouco a fazer, por agora. O
Pança defendeu que se deveria dar uma lição aos denunciantes, mas o Príncipe
moderou-lhe os ímpetos, advertindo-o que não é altura para isso. A Marquesa
propôs uma limpeza no ministério das Obras, e justificou-a com o veredicto de
serem inúteis. O Príncipe concordou com a ideia (Marquesa e o Príncepe estão sempre em sintonia) e lembrou que já tinha encostado o Celestino e traçado o
destino do ministro das Obras-Tortas.
O
Príncipe informou, também, que era necessário conter o escândalo: que já tinha
mandado calar o ministro das Obras-Tortas para evitar que se espalhasse com os
jornalistas e agravasse a situação; e que só ele falaria publicamente sobre o
caso. O Pança e a Marquesa Prada concordaram, mas evitando dizê-lo pensaram
para dentro: “quem já se espalhou foi o Senhor: negou que o Gaspar dos Frangos
nos tinha financiado a campanha, e ele confirmou-o”.
Apesar
da delicadeza do caso, o Príncipe queria mostrar que controlava a situação. Agarrava-se
a leis e a regulamentos, desfiava justificações, atenuantes e desculpas, mas havia
um por maior que os inquietava muito e que ninguém quis abordar: o parecer
negativo sobre os armazéns do caso, dado pelo permissivo Celestino, no mandato
anterior.
Miguel Saavedra
12 de dezembro de 2016
Milhão e meio
Atingimos hoje a bonita marca de 1.500.000 páginas visualizadas, com o pormenor de, por cada IP, só contar uma (por exemplo: na câmara temos muitos leitores, mas se 300 pessoas visualizarem um post, só conta uma visualização). No página do Facebook temos, em média, o dobro das visualizações do Blog.
Aos que não se cansam de anunciar a nossa morte, eis o desfecho. Continuem com esses prenúncios; dão-nos vida.
Aos que nos seguem regularmente, o reforço do compromisso inicial: “farpearemos os interesses instalados…”. Cada vez melhor: com a mesma firmeza, mas com muito mais colaboração da comunidade, que se revê neste blogue e o identifica como única janela para espreitar, livremente, o que se passa debaixo do tapete.
Obrigado a todos.
9 de dezembro de 2016
Oh, a legalidade...
É bem certo que no melhor pano cai a nódoa. Toda a gente sabe que D. Diogo é um legalista militante, pelo que nesta altura deve estar a penitenciar-se com todas as forças pelas mazelas que os súbditos lhe vão infligindo no currículo autárquico. A notícia em epígrafe é de ontem, e foi publicada no JN. Diz respeito àquele pavilhão na Água Formosa, essa bela localidade, onde a Lusiaves chegou a juntar em tempo de autárquicas os candidatos que apoia (normalmente do PSD), de Leiria e Pombal, num jantar festivo. Ali pelo Largo do Cardal e pelo bairro Agorreta haverá pranto e ranger e de dentes.
Onde se dá conta da reunião do Príncipe com os seus ministros
O
Príncipe sabe que para conquistar os súbditos tem que se aproximar deles; e
para isso, tem que sair do convento de Santo António, tem que procurar o povo e
misturar-se com ele – cousas onde não é muito versado. Mas, para o poder fazer,
sabe (agora) que tem que se libertar dos seus muitos afazeres, das minudências em que se deixou enrolar e entreter; distanciando-se, ainda mais,
de súbditos e, até, dos ministros; não se dando sequer conta do que não fazem, do que fazem mal, e - pior - do que andam a fazer. Chamou o Pança e ordenou-lhe que convocasse os
ministros para uma reunião. O Pança perguntou: - Todos ou só os nossos, Alteza?
O Príncipe corrigiu logo a pergunta: - Fazes bem perguntar, Pança; mas fazes
mal a pergunta! Sabes bem que são todos nossos; mas para este fim, só quero os
que têm pasta atribuída.
-
Percebido Alteza, - rematou o Pança.
No
dia seguinte, à hora marcada, o Príncipe perguntou ao Pança se já tinham
chegado todos, ao que este respondeu favoravelmente. Mal tinha o Príncipe acabado
de se sentar, apareceu à porta, atrasado, o ministro Videira. Pediu desculpa
pelo atraso - tinha-se descuidado no envio de uma encomenda.
O
Príncipe, depois de fazer uma alocução alargada sobre o momento político e da necessidade
que tinha de se libertar dos seus muitos afazeres para poder procurar a sua
fortuna, e a deles (ou pelo menos de alguns deles); advertiu os ministros que
esperava deles mais empenhamento, e que lhes iria delegar mais competências.
A
cara dos ministros era de espanto e por todos perpassava uma interrogação: se quis
concentrar tudo; porque delega, agora?
O
Príncipe mandou o Pança apontar as atribuições a distribuir por cada ministro. E
começou por dizer:
-
Começo pelo ministro Videira, por ser o mais folgado. Delego-lhe a competência
para emprestar os campos da bola.
-
Não posso assumir mais atribuições, Alteza – reagiu incomodado o ministro
Videira. Preciso é que Sua Alteza me liberte totalmente das que tenho.
-
Libertado tendes estado, estes anos todos - retorquiu o Príncipe. Não acheis
que seria melhor, que neste final de mandato, fizésseis alguma coisa, para
justificardes o cargo?
-
Agora já não vale a pena, Alteza – contrapôs o ministro Videira. Falta-me tempo
e querer; tais são as empresas em que estou metido.
-
Empresas? Que empresas? – Interrogou o Príncipe.
-
Várias, Alteza. Com a família e o negócio dos pines a crescer; e querendo tornar-me
governador da junta, não tenho tempo para mais atribuições. E que lhe aproveita
Vossa Mercê dar-me mais atribuições se não as exercitarei?
-
Muito me surpreendeis: nunca governardes nada, como quereis ser governador?
Quem te havia de dar uma junta para governardes? E logo a maior? Não vedes que
há homens mais hábeis e esforçados do que tu para governador?
-
Governo o meu negócio. - Refutou o ministro Videira.
-
Tenho que mandar avaliar as incompatibilidades desse negócio.
-
Não tem nenhuma incompatibilidade, Alteza. Não falto ao trabalho; faço-o aqui dentro, para outro público! - contrapôs o ministro Videira.
A
estupefação incomodou todos. Percebendo-o; adiantou-se o Pança para conter o
imbróglio: - depois esclarecemos esses negócios…?
E
o Príncipe interrompeu a reunião para almoço. Segue dentro de momentos.
5 de dezembro de 2016
O ex-futuro presidente
Tem sido um deleite para quem acompanha a acção política, o desenrolar dos últimos tempos em Pombal. Sempre achei que, à falta de oposição, o PSD haveria de consumir-se internamente, com os diversos actores a degladiarem-se, entre si. É o que está a acontecer, desde que Narciso Mota saltou para o terreno, abrindo aquilo a que a JSD já chamou "uma guerra fratricida". Mas a quantidade de tiros - nos pés e ao lado - que o ex-presidente da Câmara tem dado, faz-nos adivinhar um tempo ainda mais animado nas próximas eleições autárquicas. Hoje mesmo fez sair um comunicado em que diz que afinal não-votou-o que foi votado-pois que-não tinha que votar- mas que ainda é candidato- pois que não concorda com outro - e que será candidato com ou sem o PSD. A vantagem do engenheiro continua a ser a mesma de sempre: o seu fiel eleitorado não lê comunicados, pouco liga a jornais, e continua a sentir-se órfão do poder político, como se tivesse perdido o interlocutor de eleição. Mas há um limite para asneirar, e isso o ex-futuro-presidente-da-Câmara parece que ainda não percebeu, desde 2013. Foi a candidatura que acabou por não ser apresentada, foi a votação em que afinal não participou, é a falsa esperança que alimenta de ver o PSD a apoiá-lo, quando toda a gente já vislumbrou que isso não vai acontecer.
Quando esprememos esta paródia, há no entanto figuras tristes que nunca pensámos ver outros fazer, nomeadamente aqueles que foram humilhados por D. Diogo - e que agora vão em coro, quais cavaleiros do apocalipse, bater à porta de Narciso e implorar-lhe para que não se candidate. A troco de quê?
3 de dezembro de 2016
oh, a segurança...
Foi um pai atento quem se deu ao trabalho de passar pela obra do
futuro Centro Escolar de Pombal - coisa que deve estar pronto a inaugurar antes
das próximas autárquicas - e observar o que por ali se passa, no decorrer das
obras. Fotografou e fez chegar ao Farpas as dúvidas legítimas sobre a segurança
do edifício e a forma como está a ser construído. Como aqui não somos
engenheiros de obras nem temos pretensões para tal, fomos ouvir um técnico
especializado. Diz que os pilares se apresentam "de faces irregulares
e com um ligeiro desaprumo; isto deve-se a uma hipotética falta de cuidado na
execução da cofragem (molde de betão), que revela utilizações excessivas".
Verifica-se também "uma falta de cuidado no uso do recobrimento das
armaduras, ou seja, a total envolvência de armaduras (ferro) em betão que evita
o contacto destas com o ambiente exterior.
Ora, este desaprumo "supõe que a estrutura em questão –
pilar – não cumpra plenamente com as funções para as quais foi preconizado, que
são o suporte do edifício. Aquando da sua solicitação de esforços, que pode ser
a médio ou longo prazo, facilita o surgimento de fissuras no
edifício".Sobram ainda armaduras “à mostra”: "o ferro dentro dos
elementos entra em contacto directo com o ar, com água e outros elementos externos,
podendo daí advir a carbonatação das armaduras, ou seja o enferrujar, que se dá
por reacções químicas com o oxigénio e promove o dilatar da armadura e a sua
destruição". Por fim, parece que - no acto da betonagem -
"não houve vibração no enchimento, ou foi insuficiente. Desta forma
os inertes (areias, britas) não são distribuídos de forma homogénea,
aglomerando-se e formando chochos.
Este chocho torna-se uma zona débil do betão que
pode originar também a rotura".
E pronto. Escusamos de ficar descansados.
2 de dezembro de 2016
E a Segurança, Pedro
“Este executivo não sabe fazer obras” - Narciso Mota farta-se
de o afirmar, e pelos vistos, com razão. A construção da rotunda no Alto do
Cabaço no IC2 é o exemplo maior. Nasceu mal, progride mal e sem fim à vista. O
executivo nunca deveria assumir a responsabilidade pela obra – afirmei-o aqui
-; mas, já que se meteu a fazer o que não lhe era devido, que o fizesse bem.
O executivo foi alertado na AM, pelo seu chefe de bancada,
para os incómodos e os problemas de segurança que a obra causaria; e o
presidente da câmara comprometeu-se a tudo fazer para minimizar os transtornos
e a fazer a obra no mais curto prazo possível. Não cumpriu: não fez nada para
minimizar os transtornos, nem se preocupou em fazer a obra num prazo curto –
300 dias é uma exorbitância e não vai ser cumprido. Uma amiga, que viaja muito,
dizia-me que “no Dubai já tinham feito cinco arranha-céus”; e “em países que
classificamos de atrasados fazem-se obras como esta, mais depressa e com mais
segurança”.
As condições de segurança na obra são muito deficientes, e
só por mera sorte ainda não houve acidentes graves. A situação é especialmente
gravosa porque, com o encurtar dos dias, as obras decorrem, em parte, de noite,
sem qualquer adequação das condições de trabalho e da circulação rodoviária. O
Plano de Segurança e Saúde (PSS) da Obra não está a ser correctamente implementado
e não foi, com certeza, adaptado do período de Verão para o período de Inverno
- falha grave.
A CMP, como Dono da Obra, tem responsabilidades acrescidas
na segurança em obra; não pode permitir que as circunstâncias da execução se
sobreponham à segurança na obra, mas é isso que parece estar a acontecer. Na
câmara, são conhecidas as divergências entre o Coordenador de Segurança e o
vereador, porque a premência na execução das obras está a comprometer a
segurança das mesmas. Espera-se que a pressa em ter as obras prontas, para a
data das eleições, não acarrete nenhum acidente grave. Mas
era bom que o vereador e o responsável pela segurança tivessem consciência de que,
em caso de acidente grave, por não implementação e adequação do PSS, serão
responsabilizados criminalmente.
30 de novembro de 2016
Onde se dá conta do encontro do Príncipe com o Cura e Trovador Vaz
Ultrapassada a pendência decisiva, no n.º 2 da Rua Luís Torres, com
uma vitória limpa, por unanimidade e em toda a linha (?);
sem dar um único tiro, deixando as despesas da refrega para os licenciados em
leis e os novos fidalgos, e limitando-se a registar alinhamentos e
desalinhamentos; o Príncipe sentia-se, novamente, dominador da situação, pronto
a ditar as regras e os papéis, quando recebeu o Cura e Trovador Vaz.
O Pança recebeu o convidado com a cortesia com que costuma
tratar os superiores, e encaminhou-o ao trono. O Príncipe levantou-se e recebeu
o representante do Senhor na terra com um cumprimento discreto. Sentaram-se.
Principiou assim o Príncipe: - Digníssimo Cura Vaz;
reconhecerá, com certeza, que tenho sido generoso com a Igreja que dirige,
brindando-a com avultados recursos materiais para que possais cumprir a vossa missão
nesta terra: manter o rebanho junto e manso.
- Concordo Majestade; – anuiu o Cura – mas não imaginai Sua
Majestade o esforço que tenho feito para manter a harmonia nesta difícil paróquia
e ser fiel à secular aliança entre Estado e Igreja.
- Aí, discordamos – contrapôs o Príncipe, no seu registo
altivo. E foi por isso mesmo que o mandei chamar; para lhe dar nota das falhas
e do que espero de Vossa Mercê neste período crítico.
- A Igreja está sempre aberta a assumir as suas falhas;
somos servos do Senhor e, também, de Sua Majestade.
- Então dizei-me, Cura Vaz: acha que eu, que herdei um
principado pacificado e obediente, posso estar satisfeito com tanta ovelha
tresmalhada (algumas já regressaram), tanta intriga, tanta divisão e com
rebeliões, até? - questionou o Príncipe meio exaltado.
- Compreendo a vossa revolta, – anuiu o Cura – mas compreendais,
com certeza, que um pastor, por mais atencioso e apaziguador que seja,
dificilmente consegue manter o rebanho junto e em harmonia, quando no
principado reina uma luta fratricida.
- Mas é nestes momentos que os representantes do Senhor na
terra são necessários – exclamou o Príncipe. Para os momentos de normalidade
não precisamos de dotes divinos, precisamos deles é para superar as
anormalidades.
- O que sei dizer é que, tal como Sua Majestade não consegue
sanar as rebeliões; também a Igreja tem as suas fraquezas; e até o
Nosso-Senhor-Todo-Poderoso é, às vezes, impotente perante as forças do Demónio.
- Dizeis-me, então, que não posso contar com Vossa Mercê
para a minha arriscada empreitada? Perguntou o Príncipe.
- Claro que podeis, Majestade – acudiu logo o Cura e
Trovador Vaz. Se as vossas aflições, angustiado Príncipe, podem esperar algum
remédio das preces de um Cura, aqui estou eu, que todo me empregarei no vosso
serviço. Mas conto, também, com a recompensa de Sua Majestade, para despachar
as minhas trovas.
- Isso não é problema, se Vossa Mercê fizer bem a sua parte
– atirou logo o Príncipe.
- Com todo o grado o faço, Majestade – anuiu o Cura. Desde
que Vossa Excelência façais também a vossa outra parte. Lembrai-vos: se souberdes
ter manha, podeis com as riquezas da terra granjear as do céu. Mas primeiramente
há que temer a Deus, porque no temor de Deus está a chave do céu. Aconselho Vossa
Excelência a passardes pela confissão, que, seguida de uma contrição sentida e
de uma boa penitência, limpareis a alma e entrareis na graça de Deus – condição
necessária para obterdes a confiança dos vassalos e o respeito dos súbditos.
- O meu estatuto não permite que seja confessado por um
simples Cura; mas tenho recorrido ao nosso Reverendíssimo Bispo.
- Estais em boas mãos, - anuiu o Cura e Trovador Vaz. Mas
talvez o nosso Reverendíssimo Bispo não conheça suficientemente Vossa Alteza. Por
isso, convinha, também, que olhásseis quem sois, para vos conhecerdes bem, e descartásseis
algumas baixezas que tendes à mistura com as vossas grandiosidades. Teríeis
melhor vindouro se fordes um virtuoso humilde e não um fidalgo vicioso em que Vossa
Excelência se tornou.
- E Vossa Mercê deveria rejeitar certas mundanices que tem a
mistura com as suas muitas virtudes – atirou o Príncipe. Ou acha Vossa Mercê que
a minha dinastia permite que me misture com a Trampa que abunda neste reino?
- Vossa Senhoria está de uma maneira que nem Satanás o
atura! Ámen.
Miguel Saavedra
29 de novembro de 2016
A excursão a Lisboa
Foi a Câmara, foram as juntas, foram presidentes e secretários, vogais e tesoureiros, e outros apêndices. A convite do deputado Pedro Pimpão, os representantes do poder local foram todos - ou quase... - passear até Lisboa. Aguardamos o post que Pimpão fará no facebook, ao seu estilo, elogiando os autarcas "maravilhosos" que acederam ao seu convite, incluindo a independente Ana Tenente, de Vila Cã, e Sandra Barros, eleita pelo CDS em Abiul. Ora, como todos sabemos, não há almoços grátis. Muito menos neste tempo.
Os media locais fizeram o seu papel tradicional de acompanhar estes números, e de manter o povo informado, como se pode ver aqui. Estamos em crer que se trata da primeira iniciativa sufragada no plenário do partido, sexta-feira passada. Dizem as notícias que "A Comissão Politica Concelhia de Pombal do PSD vai iniciar o processo de escolha dos seus candidatos à Câmara Municipal, à Assembleia Municipal e às Juntas de Freguesia para as eleições autárquicas do próximo ano".
Depois do repasto e do convívio, fica-nos só uma dúvida: quem é que paga isto, hã?
28 de novembro de 2016
“Nós somos, todos, muita Trampa”
Foi assim que Diogo Mateus classificou o seu executivo;
quando discutiam, na última reunião, o regulamento de transportes para os
utentes da USF do Oeste. A discussão atingiu os níveis degradantes que atingem
todas as discussões políticas em Pombal quando há divergência significativa,
independentemente dos protagonistas.
Mas, afinal, na distribuição de subsídios, estão uns para os
outros, e ambos contra nós; senão vejamos:
(i) A presidente da Associação Doentes de Alzheimer
foi à câmara pedir (sondar) um subsídio para a compra de um veículo, em segunda
mão, para o serviço de apoio ao domicílio;
(ii) O presidente da câmara prometeu à presidente da
Associação Doentes de Alzheimer um subsídio de 8.000 €; que - no seu dizer - ela
achou generoso;
(iii) A oposição, pela voz do seu líder e, agora,
putativo candidato à câmara, achou pouco e propôs a atribuição de mais 2.000 €,
sem sequer (se ter preocupado) saber se eram necessários;
(iv) A maioria aceitou a proposta da oposição; com o desconforto
evidente de ter sido ultrapassada pela direita, na bondade das benesses.
Acham que esta gente gere o seu dinheiro como gere o nosso?
Então, porque lhe confia o seu/nosso? 25 de novembro de 2016
Em 1961 nascia-se assim…
No meu país, quando eu nasci, a mortalidade infantil era 88,9, a taxa de analfabetismo era 33%, o rendimento per capita a preços constantes era 3463 €, e a maioria das estradas,
fora das grandes cidades, eram de terra-batida e a maioria das habitações não
tinham casa de banho.
No lugar onde nasci, a taxa de mortalidade infantil e de
analfabetismo era mais do dobro da média nacional, as estradas serviam
unicamente para a circulação de carros-de-bois e de local para moer o mato mais
rijo, que era depois recolhido no final da primavera para amanhar as terras.
No lugar onde nasci, ninguém tinha casa de banho e
pouquíssimas famílias tinham automóvel, não havia luz eléctrica (só lá chegou
em 1980!), nem água canalizada (só lá chegou na década de 90!), nem telefone,
nem, nem, nem...
No final do dia 25 de Novembro de 1961 chovia a cântaros no
lugar onde nasci, e quando a noite já tinha pousado, uma mulher de 28 anos,
grávida de nove meses, recém-casada, vivia sozinha porque o marido tinha emigrado
a salto, sentiu o rebentar das águas, fez-se ao carreiro que ligava a sua casa
à da mãe, para a alertar. Como não existia, por ali, nenhuma parteira afamada, a
mulher tinha que ser transportada para o hospital. O pai vestiu o capote, pegou
no guarda-chuva e calcorreou 2 Km, à chuva, para pedir à pessoa mais próxima
com automóvel – o professor primário da terra – que lhe socorresse a filha.
O “carocha” conseguiu chegar a casa da mulher parturiente;
carregou-a (e a criança que já espreitava o mundo a negro) e arrancou; mas
parou após andar 500 metros, atolado na alta camada de mato moído, encharcado por
forte bátega de água, e não se movia. Enquanto a mulher sofria dentro do “carocha”,
o pai congeminava forma de mover o “carocha”. Voltou a casa, tirou as vacas do
curral, emparelhou-as, trouxe-as para junto do carocha, coloco-as à frente dele,
atou-as a ele; picou as vacas e rebocou o “carocha até à estrada de
terra-batida que liga o lugar à sede do concelho e a concelhos limítrofes.
O resto da história tem pouco mais que contar: o carro
chegou a Pombal e daí a maternidade, em Coimbra; a mulher sobreviveu e a
criança também. A mulher já cá não está; mas está cá a tal criança, para recordar
a história, e o motorista para a testemunhar.
Por que somos de onde nascemos.
Cada cavadela...
Agora, alegadamente como soi dizer-se, será Fernando Costa ex- Presidente das Caldas da Rainha por 7 - sete - mandatos consecutivos, a recuperar Leiria para o mapa laranja da região.
Valha-nos a arqueologia jornalística para recuperar pérolas como esta:
"No discurso ainda houve tempo para mais uma gargalhada do congresso quando Fernando Costa, após ter dito que "foi o Rui Machete que o ensinou a falar assim", rematou dizendo que "se não fosse mentiroso, também não era presidente da câmara"."
Oh, o 25 de novembro...
Ontem à noite a minha filha fez-me umas perguntas sobre a guerra do ultramar e outros quejandos, pois que hoje não-sei-quê de uma actividade qualquer em que a escola iria participar. Soube agora, pelas fotos partilhadas pelos município e seus trabalhadores, que se tratava de comemorar isto, afinal.
É assim desde 2013, desde que D. Diogo subiu ao poder na Câmara Municipal. Os saudosistas do 25 de novembro de 1975 juntam-se neste cenário, ancorados nos ex-comandos - esse exemplo maior para o nosso país.
Percebem agora porque é que os pais têm de se inteirar bem do que se passa na escola? Uma pessoa distrai-se e quando dá por ela as crianças são usadas para isto.
Onde se dá conta das preocupações do Príncipe e dos afazeres do mundanal Vaz
O Príncipe sabe que o xadrez político está revoltoso e que a
roda-viva em que tem andado nas últimas semanas não chega para inverter o
sentido da peleja; que é necessário recorrer às peças da retaguarda. A precipitada
ofensiva do inimigo foi bem repelida com o avanço do Lorde-mor; mas logo surgiu
a surpreendente cisão no reduto eclesiástico a oeste; o que demandou o avanço
do “bispo”, nesta época natalícia. Chamou o Pança e ordenou-lhe que marcasse um
encontro com o Cura Vaz.
O Pança desceu as escadarias do convento e dirigiu-se à
sacristia, onde encontrou o Cura e Trovador Vaz a preparar os despachos das
suas novas cantorias para os fiéis. Mal o viu entre-portas, o Cura e Trovador Vaz,
puxou-o:
O Pança benzeu-se novamente, depressa, e disse: - muito
obrigado, reverendo Vaz. Venho a mando do nosso Príncipe.
- E que incumbência trazeis – Interpelou, curioso, o Cura?
- Venho incumbido de o convidar Vossa Excelência para um
encontro com nosso Príncipe, amanhã, depois da missa da manhã, se Vossa Mercê
tiverdes vagatura.
O Cura Vaz consultou o calepino e disse: - Poderá ser; não
tenho nenhum sacramento marcado e, mesmo que tivesse, arranjar-se-ia, com
certeza, vagatura para os encontros, sempre proveitosos, com Sua Alteza.
Cumprida a incumbência, reparou o Cura e Trovador Vaz que o
Pança se preparava para sair. Por isso, interpelou-o: - Irmão, há muito tempo
que não passas pelo confessionário.
- Tem razão – anuiu o Pança – mas, como sabe, agora, a minha
atarefada empreitada deixam-me pouco tempo para cumprir os deveres religiosos.
- Não pode ser, meu bom-cristão. A salvação da alma nunca pode
ficar para trás. E deveis saber que a vossa empreitada é muito propícia ao
pecado; e que Deus suporta os maus, mas não para sempre.
- Mas eu não sou dos maus – acudiu Pança.
- Não digo que o sejais; mas olha que os amanuenses e o povo
andam muito queixosos. Tenho-os afagado na confissão, mas...
- Já percebi que é melhor passar pela confissão e comunhão.
Reconheço que tenho andado afastado da Igreja, da Sr.ª do Cardal (minha querida
Senhora) e, até, da graça de Deus.
- Muito bem – anuiu o Cura e Trovador Vaz, e perguntou logo
de seguida: - Mas dize cá, meu bom-cristão: já encomendastes as minhas novas
cantorias?
- Ainda não – confirmou o Pança. Mas fá-lo-ei, entretanto. Fique Vossa Mercê descansado que será a minha prenda natalícia aos amigos e
família.
- Não esperava outra coisa de um bom-cristão como o meu amigo,
com provas dadas – atestou o Cura e Trovador - mas, já que estais aqui,
dize-me: a câmara vai encomendar as minhas novas cantorias?
- O que sei dizer a Vossa Mercê — respondeu o Pança – é que os
serviços estão a tratar disso. Mas será conveniente abordar esse ajuste no
encontro de amanhã. Como Vossa Mercê sabe, D. Diogo é muito formal; exigirá, com certeza,
o necessário protocolo; mas conte com uma boa ajuda à Santa Igreja e ao seu digníssimo
representante nesta santa terra.
- Vai com Deus, Pança amigo.
- Até amanhã, digníssimo.Miguel Saavedra
21 de novembro de 2016
A qualidade compensa
A curta-metragem “Os Cães da Barragem”, realizada por Paulo Vinhas Moreira e coordenado pelo encenador Rui M. Silva, foi distinguida, em Outubro último, como o melhor filme no “48H Film Project - Castelo Branco”, e irá representar a cidade de Castelo Branco no festival Filmapalooza, em Seattle, nos Estados Unidos da América, em Março de 2017. Para esse feito, muito contribuíram os três actores do Teatro Amador de Pombal que fazem parte do elenco: Gabriel Bonifácio, Humberto Pinto e Joana Eduarda.
Este feito evidencia as potencialidades da cooperação que tem sido levada a cabo entre a companhia de teatro pombalense e a albicastrense Ajidanha. A aposta que ambas têm feito na qualidade dos seus projectos merece o maior destaque. Estão no bom caminho!
17 de novembro de 2016
São as eleições...
Chegados à véspera das eleições autárquicas, chegam-nos promessas de mais dinheiro para as autarquias. No passado, quando havia muita obra para fazer, eram os autarcas que reclamavam mais verbas ao governo. Agora, são os partidos do bloco central (PS e PSD) que oferecerem mais dinheiro às autarquias. Há umas semanas atrás, Eduardo Cabrita afirmou que “o governo fez um orçamento amigo das autarquia”; ontem, Passos Coelho reclamou “mais dinheiro para as autarquias”.
As autarquias recebem dinheiro demais.
Há, no entanto, autarquias com falta de dinheiro, por que criaram uma estrutura que as consome, e por que gastaram e endividaram-se demais - fizeram despesa sem retorno que originou demasiados encargos e consequente falta de dinheiro. Não necessitam de mais dinheiro; necessitam é de saber aplicá-lo. Mas há, também, autarquias (ex.: Pombal) que têm dinheiro a mais, e deixam-no a repousar nos bancos por que não sabem onde aplica-lo.
Já era tempo de os líderes políticos perceberem que as eleições se ganham com ideias e com candidatos credíveis, e não com mais dinheiro. Até por que o povinho já percebeu que o dinheiro do Estado sai-lhe do bolso.
13 de novembro de 2016
Cerimónia das comendas
A cerimónia das comendas foi muito bonita: cheia de pompa e
circunstância, e com felicidade a transbordar por todos os lados – foi lindo de
se ver. Os agraciados estavam felizes, mas os agraciadores não o estavam menos
– alguns evidenciavam até alguma euforia. Não notámos que o Cura Vaz tenha estado por lá - um pormenor muito bem pensado e do nosso agrado.
D. Diogo esteve discreto e com o donaire que a circunstância
e o seu estatuto recomenda. E a sua Marquesa semelhou-o. Mas a cerimónia teve,
também, a vertente popular que o dia impunha.
Os agraciados estiveram igualmente bem: uns mais discretos, outros
mais vistosos - cada um ao seu estilo, mas todos bem. Um ou outro parecia estar
a viver o dia-da-sua-vida; só lhes faltou levarem o Boby e o Dolly - o que
daria um toque chique à coisa.
O Farpas contava estar lá, também. Confessa, por ser
verdade, e por ser pecado, que ficou com uma pontinha de inveja de não estar em
tão digna cerimónia. Não atingimos, com certeza, os deméritos exigidos pelo
comité agraciador, mas o facto de termos entrado na lista dos potencias
agraciados – diz-se - deixou-nos com o orgulhosinho revigorado e, talvez,
também, por isso, gostamos muito da cerimónia. Sabemos que para o ano há mais; prometemos
trabalhar com mais afinco pela comenda. Queremos muito estar lá.
Este ano o comité viu grandes feitos nos bem-feitores das mobílias
e das enfermidades. La terá as suas razões, e critérios de tão insignes
criaturas não se controvertem. Mas custa ver o Mário, o mais antigo empresário
do ramo, com negócio no centro da cidade, não ser mobilado. Bem te avisamos
Mário: dar gás às farpas, mesmo encoberto, não traz graça. Devias saber isso. E
que eles vasculham tudo, e não esquecem nada.
12 de novembro de 2016
O dia de São Martinho, sem adega nem vinho
Passa o Dia do Município e a minha time line do facebook enche-se de selfies, fotos dos homenageados, palavras de emoção dos que lá estiveram. Sim, eu tenho entre os meus amigos muitos desses: autarcas, homenageados, familares deles, amigos de uns e de outros, apaniguados, enfim. E para começo de conversa, devo dizer que acho de elementar justiça a condecoração de quem faz mais do que a sua obrigação pela terra e pelos outros.
Ontem, uma comoção generalizada abateu-se sobre aquela franja de pombalenses que vai à sessão solene, e que acredita - se calhar profundamente - que a realidade é aquilo: umas dezenas de convidados a cortar fitas e bolos, ao longo do dia, em traje domingueiro.
Na viagem entre Pombal e outro concelho do distrito de Leiria, fui ouvindo na Rádio Clube a transmissão da sessão solene. Foi assim que ouvi um (bom) discurso de Diogo Mateus, bem escrito e bem lido, mesmo que as palavras as leve o vento. E assim percebi que foi ontem o arranque da campanha eleitoral, de tal modo D. Diogo voltou a usar o slogan que lhe serviu de muleta para a eleição: Mais Pombal. "Temos uma visão para Pombal, queremos mais para Pombal". Continuamos, afinal, a ter um ponto em comum. Mas podíamos começar por descer um pouco à terra, e levar as comemorações ao povo. Fazer mais por Pombal era envolver as colectividades, grupos e movimentos que despontam pelo concelho, abrindo o programa à festa popular, como tão bem fazem outros concelhos do distrito e do país. Como fazem os bombeiros, à sua maneira. Como hoje estavam a fazer os moradores do bairro Agorreta.
Enquanto o modelo for este - da sessão solene, do fato-gravata, da medalhita e do discurso - tanto faz que lhe chamemos Dia do Município como Dia da Câmara. Não passamos disto.
ps: gostei de ver o presidente a dar um toque cool e irreverente no discurso, ao citar Jorge Palma (que horas antes ali deu um belíssimo concerto, a que poucos puderam assistir)
imperdoável é o que não vivi
imperdoável é o que esqueci
imperdoável é não perdoar
Afinal, São Martinho ainda faz milagres.
10 de novembro de 2016
Polo Escolar de Vila Cã ficou na gaveta
Por esta altura, Vila Cã deveria estar a inaugurar o seu
Polo Escolar. Foi (quase) tudo programado: a câmara assegurou o financiamento e
o projecto, e a junta o terreno onde erguer o edifício.
Só que, a junta adquiriu (parte de) um terreno que estava
(está) em regime de co-propriedade; e ninguém se entende sobre a parte que foi comprada.
Resultado: o Polo Escolar ficou na gaveta. Incompetência ou negociata?
Resultado: o Polo Escolar ficou na gaveta. Incompetência ou negociata?
8 de novembro de 2016
Floreado caro
A Câmara Municipal de Leiria (CML) decidiu adquirir, por uns
imódicos 4,15 milhões de Euros, o edifício do antigo Paço Episcopal, com intuito de lá instalar uma Loja do
Cidadão. No edifício funcionou, até há pouco tempo, uma Loja da Zara; mas um dos maiores empresários do mundo, com um dos negócios mais
rentáveis, não o quis, abandonou-o.
A Loja do Cidadão de Leiria esteve prevista para o topo norte
do Estádio Municipal (área sem utilização), mas o actual executivo recusou essa
localização e optou, agora, pelo Edifício do Paço Episcopal, com o argumento da
necessidade de atrair pessoas para o centro da cidade.
Desde o investimento ruinoso na construção do novo estádio
municipal que a CML vive uma situação financeira delicada, com dificuldade de
honrar atempadamente os seus compromissos e sem grande capacidade de
investimento. Surpreende, portanto, que decida aplicar 4,15 milhões de Euros
num edifício para lá instalar um serviço – Loja do Cidadão - que não faz parte
das suas atribuições. A câmara de Pombal também tem embarcado nestes floreados
– adquirir/construir edifícios e fazer obras que competem ao Estado -; mas com
uma pequena/grande diferença: tem muito dinheiro disponível (e não sabe onde o
gastar).
Para além do questionável racional económico-financeiro do
negócio, vale a pena analisar o propósito subjacente: forçar os utentes a
deslocarem-se ao centro da cidade, quando lhes deveria facilitar a vida (acesso
e estacionamento). Estamos perante a mesma artimanha que um
candidato à câmara de Pombal defendeu para dinamizar o turismo local: construir um circuito para
os peregrinos de forma a fazê-los passar pelos locais mais actractivos.
Por outro lado, é questionável o interesse (o efeito
dinamizador) de uma Loja do Cidadão. O modelo surgiu no primeiro governo de J.
Sócrates como uma resposta circunstancial à necessidade de agilizar a criação
de empresas (o pior item de Portugal nos Rankings de competitividade), mas não
se desenvolveu, acrescentaram-lhe somente alguns serviços complementares. As
Lojas do Cidadão tenderão a esvaziar-se, fruto da inevitável reorganização do
Estado e do desenvolvimento da e-governance; o que já se verifica com vários
organismos públicos.
Logo, não se percebe esta bebedeira com a
Loja do Cidadão, nomeadamente no edifício do Paço Episcopal. Um vício caro.
7 de novembro de 2016
Desta água não beberei
O aviso é tímido, e por isso não é de estranhar que a maioria dos mortais continue a abastecer garrafões a rodos. Tem data de 23 de setembro, o que deve significar que Junta de Freguesia, Câmara Municipal e demais entidades competentes estão sabedoras das análises que ditam algumas propriedades da água da Charneca como "não conforme".
Aqui no Farpas não somos de intrigas e por isso não vamos relacionar o facto com a proximidade do malfadado cemitério. Para mais, se a malta anda a beber água há dois meses e ainda cá estão todos, rijos como um pêro, é como dizia aquele antigo vereador do ambiente: "prefiro beber água de uma fonte, por mais poluída que ela esteja...". É claro que se finou, politicamente, mas isso agora já não interessa nada.
3 de novembro de 2016
Quão difícil está a distribuição das prebendas ao Zé e à Maria
Depois de atafulhar os regentes locais com dinheiro e
feitorias, as comissões fabriqueiras e as associações com
subsídios; o príncipe sabe que não chega, que precisa de engodar o Zé e a
Maria, mas não sabe como fazê-lo. Não tendo muito por onde demandar ajuda, chamou
o seu fiel escudeiro para esboçar a arriscada empreitada.
O Pança apresentou-se no trono: - às suas ordens, Alteza.
- Senta-te, Pança. Temos muito que falar…
- Sou todo ouvidos…
- Como sabes, Pança; tenho feito um esforço enorme para
inverter a desgraça que me assolou. Abri os cordões à bolsa — tenho distribuído
prebendas por tudo o que é entidade — e aproximei-me do povo. Mas não chega, o
povo não se aproxima de mim. Tens que me ajudar a aliciá-lo.
- Eu não sei o que mais fazer; até já sigo o seu exemplo:
mostrar ser o que não sou. Porque não pede, Vossa Mercê, ajuda aos seus
ministros, ou ao seu futuro número dois?
- Não desconverses, Pança. Sabes bem que isto é para quem
pode, não para quem quer…
- Se Vossa Mercê se enfada — respondeu Pança — eu calo-me e
deixo de dizer aquilo a que sou obrigado como leal escudeiro.
- Fala Pança, mas não acrescentes aflições ao aflito.
- E que tipo de ajuda quer Vossa Mercê?
- Preciso de arranjar formas de seduzir inimigos e
descontentes. Nos próximos meses, teremos o Dia do Principado e as Festas de
Natal - oportunidades últimas para distribuir prebendas e conquistar apoios.
Não podemos falhar nas escolhas. E lembra-te, Pança: enquanto no pombal houver
milho – e tenho muito - pombas não faltarão. O segredo está a saber dá-lo…
- Vamos ver se percebi, Alteza. Que inimigos e descontentes
quer conquistar?
- Os inimigos que mais estragos nos fazem e os descontentes
mais fáceis de seduzir.
- Comecemos, então, pelo Dia do Principado e pelas medalhas
a distribuir… O que vou dizer parecer-lhe-á um disparate, mas talvez não o
seja.
- Dize, dize, Pança; que do disparate alguma coisa se deve
aproveitar…
- Fala-me Vossa Mercê de conquistar inimigos, certo? O seu
maior inimigo — o nosso que aqueles cabrões também não me dão descanso — é o
Farpas. Se os conquistarmos, eliminamos o poder de fogo inimigo.
- Estás mais esperto do que te julgava, Pança. E como o
fazemos?
- Atribui-lhe, Vossa Mercê, uma comenda dourada, no Dia do
Principado. Ninguém fica indiferente a tal distinção. Eles gostam de farpear;
podem, sempre, continuar a fazê-lo; só lhes pedimos que apontem o cano para o
nosso inimigo, e não para nós. E com este tiro matamos dois coelhos, não lhe
parece, Alteza?
- E não te parece um exagero, Pança; condecorar essas
criaturas?
- É, mas não maior do que algumas que Vossa Mercê já
concedeu.
- Sonda-os, Pança. Mas antes, manda subir o cura Vaz. Temos
que o informar, e pedir-lhe anuência e confissão para tamanho sacrilégio. Sei
que lhe vai custar a roer, mas a Igreja tem a obrigação divina de apoiar os
príncipes em momentos adversos.
Acredita, Pança, se a coisa se fizer, até a ti, darei uma comenda…
Mas temos, também, que aliciar os descontentes, os Zés e as Marias deste reino.
Já prometi uma comenda ao Teixeira dos pensos, à Fernanda das esmolas, ao
Michel dos frangos, ao Arlindo das massagens; e a outros de que agora não me lembro. Mas precisamos de muitos
mais, de muitos mais.
- Acredite em mim — acudiu Pança — que tudo se há-de resolver. Quem dá o mal, dá o
remédio; ninguém sabe o que está para vir, mas com a ajuda de Deus e da Sr.ª do
Cardal - minha querida Senhora - tudo se fará.
Subscrever:
Mensagens (Atom)