A jornada por terras
de Abiúl deixou o Príncipe ainda mais desacorçoado e irritado com a direcção da
campanha, agora entregue ao Pança e à empresa que trabalha para
uns e ouros. Tinha acabado de externar a cólera sobre o Pança, antes de entrar
em casa.
- Que vos aconteceu;
Alteza? – perguntou a Princesa.
- Nem me fale. E desculpai-me
o mau humor, Vos peço. Sinto as costas carregadas de escorpiões e o espírito
povoado de traições – desabafou o Príncipe.
- Sois um mártir da ingratidão.
Que se passou agora; contai-me? – Perguntou a Princesa.
- O maior dos
desaforos... Para a jornada de Abiúl atroparam unicamente dois ou três jotas e
o Juba. Outras vezes junta-se o Zappa, o Manelito e um ou outro descamisado – afirmou
o Príncipe.
- Credo! Que
é feito do Pança? E os mandatários; não o acompanharam? – Perguntou a Princesa.
- O Pança já anda a
trabalhar mais para o irmão…, e os mandatários há muito que saltaram fora, se alguma
vez estiveram dentro – lembrou o Príncipe.
- Oh, três traidores. Você tem que ser duro com os traidores, a
negligência favorece a conspiração – sentenciou a Princesa.
- Se ganhar, todos me
pagarão caro – sentenciou o Príncipe. E acrescentou: - não me fale mais ninguém
em paz e conforto.
- Depois, será
tarde…Lembrai-vos dos ensinamentos do grande César: é preciso ser cruel para
ser bom.
- Agora não é tempo
para sangrias…- recordou o Príncipe.
- Continuais a perder
apoios e a consentir traições. Vossa Graça tem dado vantagens para o mais fraco.
Ele tem um enorme exército de barbas-brancas e cabeças calvas; e Vossa
Majestade um pelotão de meninos de vozinha efeminada que repartirdes, ficando a
perder, com o Pimposo.
- As coisas estão
complicadas, e complicaram-se mais com o afundanço do Sombrio. Se o homem
assegurasse a sua fatia no escrutínio…- afirmou o Príncipe.
- Não vale a pena
esperar nada do cara-de-enforcado…- afiançou a Princesa.
- Tendes razão –
anuiu o Príncipe. Persisti no enforcamento dele, mas a corda do seu destino não
é o nosso cabo.
- As cosias
escureceram muito para nós…- afirmou a Princesa.
- Não me anunciais senão
tristezas, nada mais. Dize, pois: perdi a coroa? - Perguntou o Príncipe.
- Ainda não. Mas só
nos resta usar o medo religioso e o santo poder da salvação.
Vamos rezar! Vamos
rezar!
Miguel Saavedra