1. Há pessoas que vivem de
esperar, cada semana que vem, vai & não volta, duas coisas:
a) o sorteio do
euromilhões;
b) o que eu tenha a revelar
acerca do Orlando Cardoso.
Insatisfarei essas pessoas por dois motivos:
a) o euromilhões nunca me
saiu;
b) o Orlando Cardoso nunca
me entrou.
No fundo como à flor, nada há a dizer do
Orlando. E isso é o pior que se pode dizer de alguém: que, sendo nada, nada
suscita. Juntemo-nos aqui, vo-lo mais encarecidamente peço, em roda franca:
sinceramente, alguém, assim de repente, se lembra de uma notícia dele? De uma
reportagem memorável feita por ele? De uma crónica bem esgalhada, interactiva,
corajosa dele? De uma opinião que ele tivesse tido, e escrito, sozinho sem ser
lambuzada/lambuzante? Ou dele, pelo menos em sonhos, ser parecido com o George
Clooney?
Não. Ninguém. Não satisfarei, pois, os meus farpistas leitores (nem os meus ínclitos
co-autores desta net-página arunquiana) quanto a este não-assunto – que muito é
já o resistir à tentação de lhe chamar não-pessoa. Ao assunto.
Se, em vez de uma bola de alcatifa vomitada e
envolta em sebo, certas pessoas usassem uma coisa chamada cérebro (que é onde se processa uma coisa chamada juízo), saberiam elas, sem quebra de
luz, que há certas portas a que bem avisado anda quem não bate. Eu, no caso,
faço de porta; o pobre Orlando faz de batente. Azar do mano.
Mas eu, que não gosto de deixar por satisfazer
as pessoas que, por amabilidades umas, por esmola outras e por raivosa
impotências umas quantas mais, não vou desenvolver muito este acertar, aliás
fácil (dada a nulidade do visado), de contas. Seria crucial que o fizesse – mas
prefiro alinhavar aqui um trocadilho de boa cepa. Este aqui: sabeis Vós qual a
diferença entre um espectáculo tauromáquico e a carreira profissional do
Orlando? A diferença está, sumária, naquilo dos touros ser uma corrida, enquanto ele é sempre corrido. Foi o triste caso dele na
empresa Derovo, de onde também o
puseram a andar (com estrepitosa banda sonora de malévolas e vindicativas
gargalhadas da Câmara, aliás) – se calhar (como encalhou), por não ser mentira
que ele escrevesse e publicasse (às horas do expediente pelo qual era
remunerado) um blog anónimo (e o anonimato é o timbre da covardia moral e o da
moralidade covarde). Foi por isso que se viu obrigado a humilhar-se em tribunal
com um mea-culpa que faria chorar as
pedras da calçada, no caso de as pedras da calçada não terem mais que fazer
senão lamentar a via-pouco-sacra desse colega delas.
Por tudo isto, que já longo vai (e eu sabia
desde início que longo seria, não compreis Vós ao desbarato o quanto Vos
afianço), o Orlando Cardoso merece de mim (e, no fundo, de Vós também) a
caridadezita má de ter(mos) só pena dele, sentimento que só me fica bem; a mim,
sim, praticamente sósia que sou do George Clooney.
2. Nas andas & bolandas
das muitas caixas de comentários aqui do Farpas,
um regular utente deste serviço
chamou “tonto” a outro costumeiro opinador. Até aí, nada de estranhar: por
aqui, não raro o leite azeda. Mas, atenção, para tal invectiva recorreu ele à
exortação de dois patetas. Ora, isto de recomendar a palermas que não liguem a
tontos – é como perguntar ao meu Amigo Man’el Rodrigues Marques se Albergaria,
enquanto freguesia, acabou com ele a presidente, ou se foi ele, Rodrigues
Marques, a acabar com a freguesia com sede em Albergaria. Não é despicienda
questão. Será e terá, concedo, o seu quê de capciosa – mas despicienda não é. Explico:
quem é o pai da famigerada RATA
tantas vezes abordada já aqui no Farpas?
É o PSD. E o Rodrigues Marques é de que partido? É do PSD. Se o Rodrigues
Marques é do PSD, o Rodrigues Marques votou em quem? No PSD. E o Relvas é de
quem? É do PSD. O Rodrigues Marques, portanto, é do Relvas. O Relvas deu ou não
deu cabo de inumeráveis Albergarias por este triste País? Deu. Então, o
Rodrigues Marques compactuou com o Relvas, mas só para descobrir que, na
despromoção de “alitém”, ali não tem
mais nada. Parabéns, ó Manel! (Se bem me entendes, eu não acho nada que tenhas
sido mau presidente. Mas, no vertente caso, foste um bom “tonto”. Agora, queixa-te aos palermas de fralda, anda.)
3. As eleições autárquicas
são daqui a um mês (29/9). Não tenho em relação a elas nem grandes expectativas
nem ilusões de mor monta. Espero, tão-só, que em certos (muito específicos)
casos o eleitorado se redima da já muita e muito democrática estupidez com que
ao cabo de mais de três décadas se tem dado tiros na pata. Para já, uma coisa
boa é, ou pelo menos parece, que certa horda de malacuecos clementinas, constituinte de uma espécie de Rua Sésamo sem leituras, não embandeire
já tanto em arco por esses arraiais de outras populares devoções. Bom sinal.
Sinal de que a Charneca é uma lição. E de que o Farpas Pombalinas é outra. À falta de melhor & atempado chá em
casa, que aqui isto lhes sirva de alguma coisa.
E sinal de que a minha, até hoje, mais secreta
esperança, de cada vez que freguesias e câmaras vão à liça de votos, se cumpra:
que o destino funcional da Ana Pedro se torne, no feminino, sósia do destino
socioprofissional do Orlando Cardoso, como ele, fisicamente, me parece ser
sósia dela. Ou do destino de Albergaria enquanto freguesia.
4. Como perdigotos em
fagulha de cuspo, os clementinas
praticam livremente o aborto que é verem-se ao espelho. Ou escreverem-se. Porque o problema (para eles) é o Farpas ser por escrito. Chatice, isto de
pensar por escrito, para uma tribo de cabeleirinhas-cocós e sapatinhos-de-vela.
Num mundo ideal, a interrupção voluntária da gravidez consistiria em matar os
bacorinhos à chapada – de onde, menos JSD e mais fiambre. Ideal mundo, sim.
Confessionalmente falando, tenho-me divertido
com os clementinas como um mulato de
olhos verdes entre nórdicas: eu gosto de clementinas
– porque as coisas como eles e elas assim pequeninas, assim inócuas,
assim-por-assim-dizer púbicas me encaracolam sempre uma ternura predatória à
Carlos Cruz em Casa Pia. No outro dia, surgiu-me até uma espécie de epifania
retórica que sobremaneira me adoçou as partes. Foi esta: imaginai Vós que ali
ao Cardal vai passando uma rapariga bonita, branquinha, mui
delicado-laçarotamente ataviada de fresco. Na companhia dela, vão estes: o
Pedro “Pensão” Brilhante, o Nuno “Doutor-Nunca” Carrasqueiro, o Tó-“das Gasosas
para esta mesa”-Zé e mais quatro clementinas
deles clonados a mando dos Manos Pimpão. Qual será o nome da rapariga? Branca
de Neve.
(Pronto. Já está. Quase nem lhes doeu nada.)
5. Propostas concretas para
soluções concretas de problemas concretos. Alguns têm, outros não têm, não
querem ter e até têm raiva a quem as tem.
Pombal é tão mais simples do que nos mentem há
tantos anos!
Aquele capacete de ferro no Castelo mais
respectiva grua – será assim tão difícil de obliterar?
As pedreiras da Sicó: ver a Lua descida à terra
do alto da ladeira das Leais é uma tenebrosa poluição ecológico-visual. Mas –
pergunto eu porque quero saber o que aliás já sei – é ou não de lei que as
exploradoras de pedra re-aterrem as cavidades já inactivas? É. E?
Um pólo de ensino tecnológico-superior no
Concelho ligado às vocações económico-agro-industriais da região: mas algum
deputado pombalense à Assembleia da República alguma vez mexeu uma unha
(envernizada ou não, Ofélia, clementina ou não, Pedro) que fosse nesse sentido?
A idealidade territorial de Pombal (mercê da
quase perfeita centralidade rodoviária do País) não atrairia sem grandes
dificuldades mais interesse empresário-empreendedor ao Concelho, dada a
proximidade do Mar, do Norte, do Sul, de Espanha e das Meirinhas? Atrairia. Com
outra gente ao volante.
A articulação estratégica com os Bombeiros: e
se, em vez de eles servirem para a promoção pata-choca dos patos-bravos locais,
servissem para segurar o ouro-verde da
mancha florestal íncola, ambientalismo racional metido ao barulho, renda
celulósico-financeira-empregadora metida ao barulho?
Os três milhões de “aéreos” espatifados no Cardal: para quê, por alma de quem? Eu sei
o “para”, como sei o “por”: para e por patafusca
auto-homenagem de um edil que demonstrou, à saciedade até da CronoFísica, que o
futuro se pode medir em 20 anos de marcha-atrás.
Desconheço, como todos desconhecem, o que seria
Pombal ao cabo de duas décadas e meia de Guilherme Santos. A morte faz
tábua-rasa de práticas como o faz de desejos. Descontada a mal gerida (em
imagem, comunicação, proximidade, identidade & identificação) e célere
passagem do meu Amigo Armindo Carolino pelos Paços cardalenses, o que veio
depois – foi só isto. E dizer “isto” – não é cuspir no prato: é
lavá-lo.
A questão dos subsídios às “entidades”
vilã-aldeãs? Quanto de reles compra-votos-toma-lá-meu-santinho não é e/ou há no
foguetório-sardinh’assada das pobres almas que, sem um clarão de livros, sem
um, sequer mínimo, olha-te-ao-espelho-e-não-vomites, sem um resplendor de lixo,
sem um televisor perpetuamente votivo à TVI e ao qu’-ela-TVI significa de
açucarado santacombadãosismo?
Vale-me pensar, com razoável dose de pessimismo,
que é desta que o Diogo vai lá. Não o Adelino Mendes. O Diogo. Vale-me pensar,
com irrazoável dose de optimismo, que o Diogo, se eleito (mas eleito), queira
ser, ao menos, como aquela malta de Ansião com saneamento básico a cem por
cento há mais de uma década. Gramatinha, enfim, não é Meirinhas. Deve ser por
isso que a minha mulher, de cada vez que me diz para ir ao contentor vazar os
resíduos lixados, me pede
por-amor-de-deus-usa-o-contentor-da-esquina-não-vás-a-pé-às-Meirinhas.
6. O Zé Gomes Fernandes tem
andado muito calado. Isso é mau. Eu não gosto que o Zé Gomes Fernandes ande
muito calado. Também não gosto que ele se enfarpele de calções à Joaquim
Agostinho e vá andar quilómetros e mais quilómetros (até a Ourém já foram) com
um gajo, aliás casado, chamado Adelino Malho. Eu não gosto que o Zé Gomes
Fernandes seja tão saudável. Põe-me doente, a saúde dele. Um dos objectivos da
minha vida, aliás, é pontuar por cima na tabela das vinganças existenciais. E o
Zé Gomes Fernandes lá tem a sua alínea. Ah pois tem! Pois quantas não foram as
vezes em que quase me desavim de bofes & fressuras subindo as escadas da
sede local dos “laranjas” para o
ouvir e ver, a ele presidente da Comissão Política ou em afim função,
impingir-nos a mesma-coisice do mesmo-coiso candidato à Câmara, aquela inefável
figura com nome genérico de velocípede e particular de mitológico egocentrismo
que se vê ao espelho da água em pública e transida auto-adoração?
Talvez estes parágrafos, afinal brincalhões, me
sirvam de “vingança”. Ou talvez, fora
de politiqueirices, eu o tenha acompanhado, a ele Zé Gomes Fernandes, no
funeral do Tó Silva (músico). Olhámos então um para o outro – e foi sem esforço
nem desforço que ambos compreendemos quanto a vida é um fósforo que nos lixa,
mas também que só ela nos alumia noite & dia, à maneira do saudoso Tó
Silva.