29 de março de 2023

A malta é jovem. Não pensa?


 
O feed mostrou-me fotos várias do Pedro e sua tropa: Pimpão cumprimenta bombeiros, Pimpão sorri para o exército, Pimpão faz piadas com a GNR, Pimpão entusiasma-se com os escuteiros, a sua gente, e dá ânimo à Jornada Mundial da Juventude - que também está plantada no Cardal, por estes dias. É a Semana da Juventude e a malta está a divertir-se bué, como documentam as fotos e o vídeo municipais. 

Da escola chega-me uma comunicação a anunciar visitas ao Jardim e parece-me bem: tudo o que mostre a rua às crianças e adolescentes é bom, já se sabe. 

Mas depois uma pessoa fala com os jovens. E pergunta-lhe o que acham deste programa. E percebe que foi "feito por boomer's", que das duas uma: ou não têm filhos ou não falam com eles. 

Vai-se a ver isto está bom para a JS, que em vez de mostrar o outro lado da realidade, se apressa a fazer de ramo de enfeite na propapanda. Em tempos de estio na JSD, é o que sobra. 


*A foto é um apontamento de "reportagem" da Rádio Cardal. 

28 de março de 2023

Câmara, Orçamento Participativo, PARA & C.ª (II)

Para além da irregularidade grave de a câmara, em parceria com o PARA, prestar cuidados de saúde sem estar licenciado para o efeito, a ERS emitiu, a 22 de dezembro de 2022, uma Instrução obrigando o Município de Pombal a:



(i) “Respeitar o direito de pleno acesso dos utentes aos respectivos processos clínicos e informação de saúde, seja por consulta ou reprodução, nos termos previstos legislação em vigor; 

(ii) Assegurar que todos os profissionais ao seu serviço respeitam as regras de acesso dos utentes aos respeitos processos clínicos e informação de saúde; 

 (iii) Proceder à criação de um procedimento interno escrito que regule o acesso dos utentes ao processo clínico e informação de saúde, em conformidade com a legislação em vigor;

(iv) Proceder à revisão, da secção dedicada à área da Psicologia, do “Programa Municipal de Potenciação do Sucesso Escolar – Intervenção da Equipa Multidisciplinar”, de modo a prever que, sempre que o processo do utente termine por algum dos motivos aí elencados, fique assegurado um plano de transição de cuidados de saúde para os utentes; 

(v) Dar cumprimento imediato à presente instrução e deve dar conhecimento à ERS, no prazo máximo de 30 (trinta) dias úteis após a notificação da deliberação final, dos procedimentos adotados para cumprimento da mesma.”

Refere, ainda, que “a Instrução configura como contraordenação punível, in casu com coima de 1000,00 € a 44 891,81 €. 

Nesta santa terrinha, onde é tudo por Deus e pelo Venha-a-Nós, usa-se e abusa-se do dinheiro público para estes arranjinhos irregulares. 

PS: se nesta terra existisse oposição, há muito tinha sido pedida uma inspecção à aplicação dos Orçamentos Participativos, nomeadamente o do PARA.

27 de março de 2023

O Melodrama Socialista

Acto XXV – Sai & Fica

Enquanto o Pedro se diverte feliz no Reino das Maravilhas, qual borboleta saltitante de flor em flor, os (des)Socialistas representam, daqui a pouco, numa adega da terra, o próximo acto do seu melodrama intitulado “Sai & Fica”.



Este requentado melodrama é um folhetim de cenas da vida real que entrelaça intrigas e zangas de comadres num registo angustiante sem fim à vista; que há muito deixou de ser político (não interessava a ninguém a não ser aos próprios intérpretes), mas parece psicótico (com perda de ligação à realidade e alguns delírios). 

Daí se perceba a escolha de uma adega para a representação do próximo acto: é sempre melhor afogar as mágoas com bom vinho que a seco no divã do psiquiatra. Mas para que a coisa saia menos risível recomendo que bebam metade antes da representação e a outra metade depois.  

A Política é alta competição - mesmo a amadora. Não há papel mais tonto que (tentar) jogar um jogo de que se desconhece as regras. Quando criaturas com fome de celebridade se atiram para a arena pública sem saber quando avançar e quando parar, confundindo derrotas com vitórias (morais), ou afrontando regras sem poder para tal, o caminho para o desastre fica traçado. Uns merecem-no; outros nem tanto.

23 de março de 2023

Câmara, Orçamento Participativo, PARA & C.ª

A 6 de Março de 2019, publicámos um pequeno post que divulgava os titulares dos órgãos sociais da recém-criada associação PARA – Projecto de Apoio e Recursos para o Autismo. A ousadia de expor as figuras, do bem-fazer e do bem-aproveitar, valeu-me um processo judicial – morreu à nascença, com custos para a/o queixosa/o.



A oportunista associação cresceu ligada umbilicalmente à câmara, com os vícios e as fragilidades amplamente reconhecidas pelo ex-executivo. Com o amigo Pedro no poder a esperança, de futuro radioso, renasceu…

Mas bastou uma simples queixa, junto da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), apresentada pela mãe de uma criança a quem foi recusada a entrega do processo clínico do filho, para a subsequente averiguação mostrar um rol de irregularidades e de promiscuidades que merecem averiguações por outro tipo de entidades (IGF, Tribunal de Contas, Ministério Público, ...).

Por agora, ficámos a saber que o “consórcio” Câmara – PARA prestava cuidados de saúde sem estar licenciado para o efeito junto da ERS. E que por esta irregularidade a ERS condenou, a 29 de setembro de obrigou 2022, a Câmara de Pombal na coima de 1.500,00 EUR, e não só - o resto fica para depois.

PS: a coima foi aplicada à câmara, e não ao PARA (!), porque a psicóloga que prestava a terapêutica estava vinculada à câmara e não ao PARA.

22 de março de 2023

A felicidade e o luto

Enquanto a câmara celebra a felicidade, a junta está de luto. São as duas faces da mesma teologia.



Nesta terra, onde o que mais conta é saber fazer figura, passámos num ápice do mais irritante despotismo para o mais estéril desportivismo dos regozijos e comoções públicas. Pelo meio, perdeu-se decência e respeitabilidade: a simples distinção entre o institucional e o pessoal; e a discrição que o verdadeiro exercício do poder exige.

Esta pomposa mediocridade, que confunde agitação com acção, fez da felicidade um propósito e da política um assunto ordinário, uma comédia e uma comedoria, feita para vaidade e contentamento olímpico dos eleitos, que nos vai sair cara. 

Era difícil imaginar uma alegoria mais deplorável, mais banal, mais inepta e insípida do que a que é exibida, todos os dias, nesta santa terrinha. Já nem se pode antecipar o fracasso, que exige arrojo e grandeza de espírito, atributos que manifestamente não existem, mas tão-somente a vacuidade e a banalização da acção política. Mas o pior deste mandato - que só pode ser curto – serão os estragos que perdurarão por muito tempo… 

15 de março de 2023

A Casa que é de todos e não é de ninguém



A nova imagem (gráfica) da Casa Varela foi apresentada no sábado. Era suposto que a revelação da "nova identidade" - como lhe chama a Câmara - fosse acompanhada do anúncio da/das/do/dos responsáveis por este Centro de Experimentação Artística, que tanto tem dado à Cultura da terra, enriquecendo-a cá dentro e projectando-a para fora. Mas a sessão foi aquilo que se viu: um público maioritariamente constituído pelos artistas que frequentam a Casa (em residências artísticas), em que pouco ou nada se disse sobre quem fez a nova imagem e por que a fez. 

Depois da saída de Filipe Eusébio, a Casa tem estado a ser dirigida oficiosamente por Diana Figueiredo, de quem a única coisa que se sabe é que assume a curadoria de algumas exposições. O presidente Pimpão não a nomeou directora, atirando a responsabilidade maior para a Unidade Cultura, dirigida por Sónia Fernandes. E para compor o ramalhete, entregou à vereadora Gina a tarefa de apresentadora da sessão, pois que leu um guião sobre o que aconteceu e o que vai acontecer, à laia de agenda. De permeio, Pimpão focou-se em responder a recados do Facebook. Foi quando disse que a Casa é de todos, e que - pasme-se - não é preciso ser artista para fazer ali alguma coisa. "Apresentem propostas, venham ter connosco com ideias", repetiu até à exaustão, não vá alguma voz dissonante acusar a autarquia de promover ali uma cultura de elite. Lembrei-me então da conversa que tive ali à porta com o Filipe Eusébio, em plena pandemia, e da exigência que queria imprimir. 

A nova imagem é contemporânea, funcional, e tem tudo para ser eficaz em matéria de comunicação visual. Um bom telhado, portanto, por onde se começou. Falta a outra, que é tão importante. E que poderia evitar 'pregos' tão ao lado como denominar uma "sala Sr. Varela". Qual deles?


7 de março de 2023

Sobre a noite das facas longas no PS

 

O resultado foi aquele que se esperava: Na reunião [extraordinária] a concelhia do PS local retirou a confiança política ao líder do grupo municipal, João Coelho. O motivo é aquele que já aqui avancei na semana passada, por mais improvável que possa parecer ao cidadão comum - o voto de censura às declarações do presidente da junta de Meirinhas, João Pimpão. 

E foi o que se esperava porque já era previsível que um dia a corda partisse, na relação tóxica  do PS1 com o PS2, o mesmo é dizer entre o grupo de doutora Odete (é disso que se trata) - aqui personalizado por Joelito, esse ponta de lança do partido, e apoiado pelo grupo da JS, liderado pela sua edição de bolso - e o grupo de João Coelho.  

O que daí se retira é uma frase batida: vai-se a ver e nada. Ou melhor, o PS consegue com isto enfraquecer-se, afastar mais gente, aumentar o sentimento de descrença no partido que deveria ser a alternativa cá na terra. 

Sobre as verdadeiras razões que levaram a esta inusitada tomada de posição por parte de um bocado do partido, elas poderão ser mais profundas. E ter por base qualquer coisa que os dirigentes do PS normalmente desconhecem: a solidariedade. Atentemos, pois, na coincidência dos slogans usados nas últimas eleições, como as fotos documentam. Mesmo que nem todos contem  no PS, Joelito contou com João Pimpão durante a campanha: foi o então chefe de gabinete de Diogo Mateus que aconselhou o jovem Joel a usar luvas de pelica com o Farpas, oferecendo uma caneta por si raspada, ao autor do post que contava a saga de "Joelito, el raspador". 

E em política, tudo se paga. 




6 de março de 2023

PS local - zanga de rúfias e comadres desavindas

Daqui a pouco, o PS local cumpre mais um auto de fé, onde procurará expiar os pecados e afastar os infiéis. Não conseguirá nem uma coisa nem outra. 



O problema do PS local não é de fé nem de confiança. É mais profundo: é de vazio identitário e programático. O partido padece de suas fraquezas terríveis: infertilidade programática e histerismo dissociativo. Esta nova crise, que logo à noite terá o seu clímax com a discussão e votação da retirada da confiança política a João Coelho (líder da bancada na AM), nada resolve… É mais um episódio da luta de rúfias e da abespinhada zanga de comadres desavindas, há muito instalada. O que há de novo, agora, é o amadorismo, a imaturidade e a histeria reinante na concelhia e, pasme-se, na federação... 

Se ali houvesse ainda alguma lucidez perceberiam que vale mais morrer de vez do que se estiolar aos poucos persistindo em intermináveis e inúteis rixas. Mas de um partido sem memória e de dirigentes e protagonistas toldadas por estados de espírito iriçados não se pode esperar nada de bom.  

3 de março de 2023

PMUGest respondeu ao Farpas

Depois do árduo e nada consensual “trabalhinho” do despedimento do engenheiro Carreira, a doutora Gonçalves partiu de férias para a neve – precisava, com certeza, de arrefecer os calores. Mas alguém a deve ter alertado, lá nos picos nevados, que o escândalo tinha sido colocado na praça pública, e gerado estupefação. Porventura, sentindo que o terreno lhe estava a fugir debaixo dos pés, agiu mas escondeu-se: mandou uma carta para a AM, assinada pelo presidente não-executivo, a justificar a trapalhada. A ladainha, para além de não esclarecer nada, reforça as dúvidas e expõe as sucessivas trapalhadas e as contínuas irregularidades.



Alega, na carta, que “o engenheiro Carreira foi contratado para Director Executivo da PMU (chamava-se assim na altura) em 2001, sendo que à data os acionistas decidiram não nomear um Administrador Executivo remunerado; e, mais tarde, em 2004, Manuel Carreira foi nomeado Administrador Executivo”. Depreende-se, destes dizeres, que o engenheiro Carreira foi contratado para Director Executivo e de imediato promovido a Administrador Executivo não remunerado, auferindo a remuneração do contrato como Director Executivo. Tudo coisas à moda da terra. E informa, também, que "em 2004, passa a ser remunerado como Administrador Executivo até Janeiro de 2022” – até à entrada da doutora Gonçalves para a sua função.

Perante todas estas trapalhadas e irregularidades, pergunto:

1 – O engenheiro Carreira alguma vez exerceu a função para que foi contratado? 

2 – Quando o engenheiro Carreira assumiu o cargo de Administrador Executivo não remunerado manteve o contrato de Director Executivo? E acumulava as duas funções?

3 – Quando o engenheiro Carreira passou a Administrador Executivo remunerado manteve as condições do contrato inicial ou foi-lhe fixada nova remuneração?

4 – Entre Janeiro de 2022, altura de cessação de funções como Administrador Executivo remunerado, e a presente data, por que condições contratuais o engenheiro Carreira foi remunerado, como Administrador Executivo ou como Director Executivo?

5 – O organograma do PMUGest contempla o cargo de Director Operacional. Quem exerce este cargo actualmente? Não foi este o único cargo que o engenheiro Carreira efectivamente exerceu?

Lendo a lei e conhecendo minimamente a realidade da PMUGest e o trabalho exercido pelo engenheiro Carreira no dia-a-dia percebe-se que, tendo ele mantido o Contrato de Trabalho como Director Executivo, este despedimento, por extinção do posto de trabalho, não tem condições para vingar em tribunal. Por conseguinte, pergunto:

1 – O presidente da câmara foi informado e deu aval a esta malvadez que só desprestigia as instituições públicas e onera o erário público?

2 – Se o processo terminar com acordo, como se prevê e o presidente da câmara já deu a entender, quem é que vai fazer o trabalho que o engenheiro Carreira efectivamete fazia? É a doutora Gonçalves, que o “substtituiu”? Ou vão contratar mais um quadro dirigente?  

Chega de trapalhadas, irregularidades e canalhices. A doutora Gonçalves está mais irregular e acrescenta menos à empresa que o engenheiro Carreira. 

2 de março de 2023

A diversão segue na BTL

Enquanto no PS se afiam as facas, para a noite das facas-longas, o Pedro diverte-se na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL). A vida é ingrata: enquanto uns vivem os azedumes da desgraça colectiva; outros usufruem dos prazeres da boa-vai-ela. 



Como o divertimento é a felicidade do Pedro & C.ª, a roda tem que rolar e nós temos que a pagar. No ano passado, criticámos o Pedro por ele ter levado à BTL um autocarro cheio de gente, em passeio. Incomodado com a crítica, este ano carregou o burro (o orçamento): mandou fazer um stand, com a imagem do castelo, pagou terrado, contratou figurantes, à civil e disfarçados de marqueses e condessas, mandou servir petiscos e bebidas, para consolo dos convidados do costume e dos veraniantes, e assim, entre brindes e futilidades, fez a festa. 

Há gente que aprova este folclore; e outra, até mais fútil e instruída, que julga que isto traz algum retorno para o concelho. Este ano, muitos já recusaram o convite, já houve dificuldade em encher o autocarro, sinal que a mensagem vai passando… Mas há uma dúvida que me intriga: será que o Pedro acredita que está a fazer alguma coisa de útil para o concelho, ou isto é tudo aldrabice para enganar papalvo? Custa-me a acreditar que executivos municipais, sobrecarregados com atribuições e problemas, a que não conseguem dar resposta, desbaratem tempo e dinheiro julgando que se pode retirar algum retorno deste tipo de eventos. Mas quando oiço o Pedro defender que o turismo é vector estratégico para o desenvolvimento do concelho, e que o turismo associado às ditas figuras históricas - Marquês e afins – tem grande potencial, fico perplexo.

Quem age desta forma, continuará a apregoar a falácia da aposta no potencial turístico do concelho e a desbaratar rios de dinheiro público, necessário para ajudar a solucionar carências graves do concelho, em coisas tão desastrosas como CIMU-SICÓ, Quinta de Sant` Ana, Casa da Guarda Norte, etc.

Siga a festa.

O canto do cisne no PS

 


Os membros da comissão política concelhia do PS receberam ontem à tarde uma convocatória do indigitado presidente, Joel Gomes, para uma reunião extraordinária com um ponto único: retirar a confiança política ao líder da bancada do partido na Assembleia Municipal, João Coelho. Ao mesmo tempo, o jovem-promessa do aparelho socialista desfez-se em contactos com as bases, com o topo e com o que resta da estrutura, numa tentativa de justificar a insane intenção: em causa está a iniciativa de João Coelho (e sua bancada) levar à AM o voto de censura às declarações de João Pimpão, presidente da Junta de Meirinhas, a propósito da violenta agressão ocorrida recentemente dentro do Colégio João de Barros, atirando um aluno de 12 anos para o hospital. 

Ora, à hora em que decorria a AM, já Joelito (que, recorde-se, tem como única soft skill conhecida a arte de raspar canetas) anuía às ordens da mini-Odete que é a presidente da JS, e tentava acalmar os ânimos dos vereadores, apanhados de surpresa pelo voto de censura.

Não contente com  a inépcia perante este e outros casos da vida da terra, Joel faz aqui bem o papel de pau-mandado. Intriga-nos, porém, esta súbita manifestação de coragem, pois que o PS arrasta há anos um caso que há muito merecia - esse sim - a retirada da confiança política: Paulo Duarte, da Redinha,  único presidente da Junta eleito pelo PS, que sistematicamente vota contra o partido na AM, ignorando-o em toda a linha, à excepção de quando voltou a precisar dele, nas últimas eleições.

Não deixa de ser irónico o destino do PS, e este canto do cisne da concelhia do partido, pois que essa jogada da bancada foi, de longe, a melhor e com mais resultados políticos dos últimos tempos. Ninguém quer saber das propostazinhas da JS, das achegazinhas dos vereadores, fatias esboroadas desse bolo que é a "oposição colaborante", que não se opõe a nada e vive para ser ramo de enfeite. 

Se ainda houver uma réstia de respeito pelos eleitores que votaram em João Coelho e a sua equipa (recordo que foram mais do que aqueles que votaram na candidata à Câmara), e sobretudo se ainda houver socialistas dentro do PS, este terá sido um tiro nos pés de vários aspirantes a protagonistas. Mas a ver vamos o que nos revela a noite das facas longas na próxima segunda-feira. 

1 de março de 2023

A autodestruição do PS local em directo

A câmara decidiu entregar o Café-Concerto a privados.

O PS1 (do executivo municipal) enalteceu a medida, prestou ajuda na redacção do contrato e fez reparos à renda exigida – logo corrigida pelo poder. 

O PS2 (da Assembleia Municipal) rejeitou a concessão do espaço à exploração privada, com uma ladainha primária que só visava demarcação do PS1. 

O PS0 (da concelhia) calou-se - não se fez ouvir. Não existe nem pode existir neste contexto de guerrilha interna. 

Estas criaturas perderam, há muito, o respeito pelo partido. Agora, desceram mais um degrau: perderam o respeito por elas próprias.



                                                                ------- xxxxx -------

A autodestruição do PS local é um processo que vem de longe, mas acentua-se a cada passo e com cada novo protagonista. É uma espécie de doença degenerativa irreversível. 

É verdade que ainda ali há meia dúzia de criaturas sensatas e com alguma capacidade política. E outra meia dúzia com vontade de fazer alguma coisa pelo partido. Mas naquele ambiente doentio, de intriga e divisionismo constante, tudo putrifica e nada frutifica. Um partido não é, nem deve ser, um grupo de meninos e meninas de coro; mas não pode viver num clima de guerrilha constante. Há momentos para fazer a guerra e momentos para usufruir da paz. A pior guerra é a que não se faz abertamente – nunca gera paz.

O partido entrou na mais deliberada paródia do ridículo e da autoflagelação; precisa de quebrar a cadeia de autodestruição, de fechar para balanço, e de se sentar no divã para umas sessões de psicoterapia.

Obrigada, Maria Luís Brites

                                                                        Foto de Rui Miguel Pedrosa, para o Diário de Notícias




A escritora Maria Luís Brites partiu ontem. Contava 88 anos de uma vida demasiado intensa para se retratar em linhas de obituário. Em Pombal, foi - sem dúvida - a mulher que mais admirei. Pela riqueza intelectual, pela coragem. 

Respigo um texto de junho de 2013, escrito num tempo em que tivemos as mais demoradas conversas, e originalmente publicado num blogue pessoal (https://luzdepombal.wordpress.com/2013/06/).  E deixo o link de uma entrevista que insisti fazer-lhe, em 2018, depois de ter vencido um cancro da mama. "Antes aos 84 que aos 48", dizia ela. 

Ao tempo d'O Eco, viveu comigo uma das fases mais duras dos anos difíceis da década de 2000, quando o poder tentava silenciar tudo o que era crítica. 

Perdemos essa guerra, Maria Luís, mesmo tendo ganho aquela batalha. Obrigada por tudo, minha querida Maria Luís. Que Pombal a lembre sempre de for no cabelo e batom vermelho, como numa tarde de junho, o mês em que nasceu, como este sol de fevereiro, que a levou num raio. 


Retrato de uma Senhora

Subia as escadas daquele primeiro andar da Heróis do Ultramar com passo firme e sapatos altos. Vestia um saia-casaco azul petróleo e uma blusa de seda bege, com lenços a condizer. O sotaque, nortenho, fazia-se ouvir à entrada do jornal. Naquele tempo a cidade tinha por onde escolher e por isso, uma vez zangada com o director de um quinzenário, encontrou naquele semanário o sítio certo para escrever “apontamentos do nosso quotidiano”. Nós éramos muito novos e ficávamos divididos entre a admiração por tamanha mulher e os risos incontidos, quando às vezes nos parecia quase louca.

Tinha voltado para ficar. Ponto final num casamento de 36 anos, duas filhas na vida delas, muita prosa para escrever. Publicou um livro. Nesse dia o salão nobre da Câmara encheu-se para ouvir falar de uma história de amor e famílias portuguesas contada naquele romance apoiado pela Civilização. “Um triângulo no Litoral”. A mesma editora que lhe encomendara obras didáticas – “até um dicionário!” – porque a licenciatura em Germânicas lhe permitiu ensinar tudo o que aprendeu. E aprendeu muito, desde muito cedo.

A Lili nasceu afinal em berço de ouro: filha única de uma doméstica e de um advogado, comunista ainda por cima. Era 1934 e havia guerra pelo mundo. Os pais não quiseram arriscar e ficaram-se por ela. Depois veio a juventude e cresceu a vontade de engolir o mundo, de o perceber, de o contrariar.

– Vou estudar para Coimbra,

disse à mãe, apoiada pelo pai. Foi quando a senhora se tornou de repente religiosa. Tão religiosa que se pôs a oferecer promessas à Srª de Fátima para que a filha reprovasse no exame de acesso. Mas a razão levou a melhor e formou a rapariga, em Coimbra. Depois, o casamento. Uma fotografia desse dia publicada muitos anos depois num jornal local mostra-a em todo o seu esplendor, linda como não havia outra na vila de então. Vira as costas à terra e só cá há-de voltar 36 anos depois, para ficar. Aos poucos despe o saia-casaco azul, arruma os saltos e liberta-se, outra vez. Escreve muito, fala na igual medida, casa-se com um pintor alemão. Faz programas de rádio pelo concelho fora, ouve e conta como vive o poder local. É um tempo participado, esse. Um dia, por brincadeira, aproveitamos o 1º de Abril no Jornal e fazemos a manchete que nos dá gozo: “Candidata-se à Câmara pela CDU”. Nesse ano é mentira, noutro será verdade. E noutros que se vão seguir nas próximas duas décadas há-se ser candidata na sede do concelho e na sede do distrito, sempre à esquerda. Tão às avessas que faz campanhas eleitorais sozinha, pinta paredes e muros à moda antiga. Os anos passam, esbate-se a cor, mas ainda lá mora o símbolo do BE. Nas entrelinhas desse tempo escreve poesia, também, que lhe traz arrelias (a ela e ao jornal que a publica). São os versos de Joe of Arunca, sarna para o presidente. E depois um discurso em Abril em que dobra o papel, se volta para trás e lhe diz, de voz trémula e peito feito:

– a imprensa é para respeitar. É o símbolo da liberdade!

E era.

Ontem voltei lá a casa. Entre o sabor do açafrão na paella e meio copo de vinho falámos de nós, dos nossos, do tempo perigoso que atravessamos. A Maria Luís vai fazer 80 anos daqui a meses. A vida não é nada do que julgamos. Não é nossa, para sempre, quando a idealizamos na melhor das fases, ou quando a projectamos por imitação deste ou daquele. Na volta, a vida é uma enguia. Que se nos escapa entre os dedos e deixa apenas o rabo preso, para mostrar que ainda existe. E que vale a pena, por nos dar o privilégio de a viver, de conhecer gente tão inteira.

Continua linda, ela.

https://www.dn.pt/pais/maria-luis-brites-a-viragem-ao-populismo-e-muito-preocupante-10354198.html