30 de junho de 2020

A democracia volta dentro de momentos. Será?



A pandemia obrigou a maioria das autarquias locais a reinventarem formas de comunicar com os munícipes, reorganizando reuniões de Câmara e de Assembleia Municipal: reduziram o número de presenças físicas, mudaram-se para espaços maiores (que permitissem o distanciamento físico), permitiram a deputados e presidentes de junta que acompanhassem a partir de casa, sem prejuízo de intervenção. 
Mas aqui resolveu-se a questão em dois tempos, no que à Assembleia Municipal diz respeito: não houve reunião em Abril. Cortado o mal pela raiz, hoje é hora de retomar a actividade da AM, sem direito à presença do público. Estou bastante curiosa em perceber como é que a senhora presidente vai resolver essas questões sanitárias, e o que mudou agora relativamente a Abril. Se eu acreditasse em milagres, já tinha a resposta.

PSD: Pimpão&Pimpão, sociedade unipessoal, Lda

Sábado, o Pedro (Pimpão) sucedeu ao Pedro, que tinha sucedido ao Manel-Pedro, que já tinha sucedido ao Pedro, que por sua vez já tinha sucedido ao Pedro, …Nada que se estranhe, só se entranha.

Há muito que deixou de existir disputa, e eleições, nas concelhias partidárias. Os protagonistas do costume ajustaram o sistema às suas conveniências, e já nem se preocupam em disfarçar a farsa. Agora, basta juntar uma dúzia de figuras, na véspera da data marcada, listá-las num papel, arranjar um slogan (patético, que a imaginação não dá mais), e simular a coisa (uma suposta eleição). Que os partidos da oposição, afastados do poder há décadas, caiam nisto, ainda se compreende. Mas o PSD local ter definhado nisto, diz tudo sobre o sistema e sobre as criaturas que cirandam pela política local, actualmente. 

De cem coelhos, nunca se faz um cavalo. Bem tem feito D. Diogo, ao reduzir o partido à sua insignificância.

Depois: que dizer desta indigência, “O futuro começa agora!” (com o requinte do ponto de exclamação), de quem anda há décadas a prometer “Mais Futuro”, “Melhor Futuro”, e toda a trampa sobre o Futuro?

29 de junho de 2020

Pés-de-micro


Todos sabemos que a imprensa regional é muito vulnerável face ao poder político. O facto das Câmaras Municipais serem os principais anunciantes locais tem favorecido relações de subserviência que em nada prestigiam jornalistas e políticos. No caso de Pombal, esta situação é particularmente grave e o Farpas, em 2012, colocou à discussão o tema “Imprensa de Pombal: morreu ou mataram-na?” num dos seus primeiros debates públicos. 

Não vou repetir o que já dissemos aqui, aqui, aqui, aquiaqui e aqui. É triste constatar que, com o passar dos anos, nada se tenha aprendido. Mas, depois da recente entrevista de Diogo Mateus à Rádio Cardal, não posso deixar de voltar ao tema. Por muito respeito que me mereçam os profissionais da rádio, aquilo a que assistimos não foi a uma peça jornalística; foi um exercício de auto-promoção do presidente da Câmara com a conivência do seu entrevistador. 

Um presidente da Câmara que use a comunicação social a seu bel-prazer,  fazendo uso da sua posição dominante para aniquilar o jornalismo livre, não respeita a democracia. É um déspota. Um jornalista subserviente, que não confronte os seus entrevistados, permitindo sistematicamente que eles digam o que bem lhes apetece, não cumpre o seu papel. É um pé-de-micro. 

24 de junho de 2020

Obrigado, Gentil



O Gentil Guedes partiu ontem, ao cabo de dias de sofrimento. Era um sonhador, o Gentil, e deixou fios vários desse legado a Pombal. Devemos-lhe para sempre a Feira do Livro, a animação inédita que aqui trouxe, a Feira Nacional de Artesanato, sempre envolto em bonomia, galanteio, o gosto pela boa mesa - que nos últimos anos exercitou na Taberna À Cautela. Acho que ali era feliz, ao lado da Sara.
Fui recuperar a última mensagem que trocámos, já lá vai tempo, a propósito de uma novidade que eu sabia que lhe agradaria tanto: o tema "Olha a noiva se vai linda", agora cantado pelos fabulosos Tais Quais, que o ouvi cantar várias vezes, por causa daquela avassaladora paixão pelo Alentejo. 
A Câmara decretou dois dias de luto municipal. Gentil Guedes foi vereador do primeiro mandato de Narciso Mota (1994-1997). Dizia-me hoje o João Alvim que nunca esquecerá "a pedrada no charco" que foi a passagem dele pelo pelouro da Cultura. Afinal, como pode um homem deixar tanta marca apenas num mandato? Basta gostar da terra, vivê-la, querer o melhor para ela, o desejo de trazer aos que nunca daqui saíram as mesmas oportunidades que outros afortunadamente tiveram, fora de portas. 
Há outra marca que fica para sempre, à época contestada, mas que perdura: a toponímia original das ruas, com os nomes dos livros. 
Imagino essas tertúlias aí em cima com o Nelson (Lobo Rocha), Gentil. 

Já não temos O Eco para escrever o obituário que tu merecias, embora tão prematuro. Fica a lembrança da notícia que tu foste: "No dia 5 de Novembro, a D. Palmira Guedes deu à luz uma robusta criança do sexo masculino". Passaram 61 anos. 
Se houver justiça, a terra há-de ensinar/sempre a honrar/o nome teu.


23 de junho de 2020

D. Diogo, o justiceiro, com a bênção de Rui Rio



Diogo Mateus deu hoje umas declarações à rádio Cardal que desmontam qualquer ideia peregrina (que reinava aí nalguns círculos) de que vá embora da Câmara. Está preparadíssimo para o combate autárquico de 2021, e passa por cima de tudo e todos aqui na terra.
Vale a pena ouvir aqueles 20 minutos de prosa em que distribui fruta para todos: reduz à insignificância os partidos da oposição, mas - e principalmente - reduz a pó a estrutura local do PSD, pelo silêncio ensurdecedor de Pedro Pimpão sobre a proposta de revogação de competências assinada por dois vereadores do PSD (Pedro Brilhante e Ana Gonçalves).
Diogo parece estar a viver numa realidade paralela: repete tantas vezes aquela história do artifício que arranjou para se livrar de Ana Gonçalves que parece acreditar mesmo nela. Retive uma frase em que ele fala de "disfarçar adulteração" e na mesma diz que "isso não tem nada a ver com o PSD que eu conheci". Oi?
A cereja do bolo guardou-a para o final. Aliás, foi para isso que quis falar à rádio: dizer que Rui Rio - o líder que não apoiou - já lhe manifestou apoio. Sabe-se que arranjou maneira de falar a José Silvano, para reclamar essa protecção.
De maneira que estamos assim: D. Diogo pode tudo, acima de todos, sobretudo da secção de Pombal do PSD. Vamos ver quanto pode um justiceiro contra a justiça, pelo menos a dos homens, pois que a divina está assegurada.
Pedro Pimpão bem pode ir pondo as barbas de molho, que há um animal feroz à solta no Largo do Cardal.

22 de junho de 2020

Uma enorme aberração urbanística

Nos últimos dias, temos assistido a um corrupio de apresentações de projectos/obras na cidade.
Uma pessoa ainda não se tinha restabelecido do atentado ao Jardim Histórico da Várzea, que o transformava numa praça modernaça, e da mistela, a seguir apresentada, que procurava um compromisso inviável entre o histórico e o vulgar, e levou, logo de seguida, com o projecto da Interface de Transportes e a Ponte sobre a Linha Férrea, que custa a digerir e merece tratamento devido.
Hoje, tivemos direito à apresentação da Rede Pedonal e Ciclável da Cidade. Fui lá com o compromisso comigo próprio de não participar na discussão (para dar uma folga ao poder). Mas perante a nula participação do público presente, que parece ir ali só por curiosidade, decidi tecer uns comentários sobre o conceito – pobrezinho, ultrapassado, inseguro.
Mas o pior estava guardado para o fim: a apresentação do “projecto” de um Parque de Estacionamento num espaço adjacente ao Largo do Carmo, junto à Praça Marques de Pombal (coração do Centro Histórico). Uma coisa inconcebível. Tive que lhes dizer que aquilo não é um projecto, é uma enorme aberração urbanística, porque usa o que há de mais escasso num centro histórico, o espaço livre, para fazer um parque de estacionamento. 
Decididamente, este presidente - e este executivo - não tem noção nenhuma de como usar o raro e nobre espaço público, é um escravo da vontade que só faz asneiras, que se propõe qualificar o espaço público mas descaracteriza-o sistematicamente. Como dizia, há tempos, um influente correligionário: “este presidente deveria ser proibido de mexer no espaço público", nomeadamente nas zonas nobres.

É a Democracia a funcionar.


A frase “é a democracia a funcionar” passou a ser comum ouvi-la sempre que o poder instalado queria justificar o chumbo ou a rejeição de qualquer proposta vinda da oposição. Habituei-me a ouvi-la, várias vezes, durante os mandatos de Narciso Mota e posteriormente, nos de Diogo Mateus.
Pombal vive tempos nunca antes vividos. Nem vale a pena enumerar os episódios desta trágico-comédia, porque todos a têm mais ou menos acompanhado.
Quem me conhece sabe que não sou muito “adepta” de maiorias absolutas, nem de eternizações de poder. Acho mesmo que o sistema democrático perde (e muito) quando uma pessoa, ou partido, permanece largos anos no poder. E um dos riscos é precisamente acharmos que governamos a coisa publica como se estivéssemos a gerir/governar a nossa casa e fazemo-lo a nosso belo prazer sem acharmos necessário prestar contas. Contudo, não deixa de ser interessante olhar para os vereadores sem pelouro, mas que já foram poder. É interessante ouvir as suas queixas, as suas reclamações, quando verificam que há informações que não são enviadas (ou não chegam dentro do prazo), quando as suas propostas não são consideradas (ou então são ridicularizadas). E mais interessante se torna, quando evocam que tal comportamento do poder põe em causa o regime democrático! Acho curioso e dá-me vontade rir.
Depois há aqueles que vêm para as redes sociais vitimizarem-se, pintando a oposição como responsável pela (suposta) ingovernabilidade da Câmara! Volto a rir á gargalhada … porque estes “iluminados” ainda pensam que somos todos estúpidos!

É somente a democracia a funcionar.

21 de junho de 2020

A Oeste, algo de novo

A Assembleia da União de Freguesias do Oeste (Mata Mourisca, Guia e Ilha), reunida na última sexta-feira, aprovou três moções, apresentadas pelo PSD local, com os votos do PSD, PS e CDS.
A primeira, pela “não ampliação da Zona Industrial da Guia (ZIG) a Nascente da Linha Férrea do Oeste”. Dado que “essa intenção da Câmara Municipal de Pombal entra em conflito com a natural expansão urbana da Vila da Guia”.

A segunda, intitulada "Lusiaves, sim ao investimento mas na localização certa", manifesta interesse no “investimento da Lusiaves, SA, na Zona Industrial da Guia (ZIG), mas opõe-se à localização escolhida, apresentando alternativas para a sua implantação”.

A terceira, intitulada "Zonamento de estacionamento pago na Av. Nossa Senhora da Guia", manifesta interesse na “defesa do comércio local e do mais facilitado acesso ao mesmo”, propôs a “adopção de regras que impeçam a utilização abusiva do estacionamento disponível”.

As duas primeiras moções serão remetidas à assembleia municipal, que, no final do mês, supostamente, votará a anexação de quatro hectares à ZIG, recentemente adquiridos pela câmara, para permitir a instalação do investimento da Lusiaves, alargando a ZIG para nascente, para junto à zona urbana.

Eis a cidadania a sobrepor-se à política, ao centralismo, e ao autoritarismo.
Sopram bons ventos do Oeste.

“Eu dou uma caminhada todos os dias de manhã...”


Ha uns anos um gestor de uma empresa foi questionado sobre a estratégia. E lá respondeu ele: “Eu dou uma caminhada todos os dias de manhã...”

Defendia de peito cheio que essa sua estratégia lhe permitia pensar melhor e que a sua empresa ia sempre ser um sucesso... e todos os seus amigos o admiravam e achavam que aquela declaração era cheia de sapiência... até ao dia que faliu...

Mas como é que seria possível ter falido se a estratégia era boa? E ai de quem o questionasse!

Afinal aquilo não era estratégia nenhuma. Contribuía sem duvida para a sua boa saúde, mas de estratégia não tinha nada...

A 13 de Abril deste ano foi criado o Gabinete Económico e Social da Região de Leiria (GES). “ A motivação de base para a criação do Gabinete reside na consciência de que, ao nível regional, existe uma necessidade urgente de coordenar e partilhar ações, de modo a antecipar decisões que possam manter a atividade empresarial, manter o emprego e a coesão social da região” no contexto da pandemia.

Juntou cerca de 100 pessoas em grupos de trabalho por temas e definiu 37 medidas decurto prazo num plano de acção. É um exemplo, entre tantos outros do que bom se faz pela região e bem aqui ao lado, reunindo um grupo de grande conhecimento e competência.

De Pombal tivemos uma única participação em 100. Interessamos muito pouco na região…

Salvam-nos duas presenças de peso que estiveram no nosso debate sobre Desenvolvimento Regional do Farpas: Ana Sargento (Politécnico de Leiria) e Vitor Ferreira (StartUpLeiria, Politécnico de Leiria) e uma menção discreta sobre este extraordinário trabalho no Pombal Jornal.

O município esteve presente apenas quase dois meses depois sobre um dos temas em Alvaiázere… Vamos continuar a caminhar todos os dias de manhã.


D. Diogo 2 – Tropa Fandanga 0


A “oposição” - tropa fandanga - na CM Pombal, agora em maioria, conseguiu, finalmente, articular-se na escolha, no compromisso e no desenlace sobre os assuntos/terrenos de combate. Escolheram – bem: (i) revogação das competências delegadas no presidente; (ii) responsabilização do presidente da câmara pelas custas de parte nos processos em que o município seja condenado por não prestação de informação.

No primeiro (revogação das competências delegadas no presidente), cometeram o erro básico de atribuir ao doutor coiso a autoria (ou a revisão) da proposta. Resultado: o doutor coiso cometeu um erro básico, não detectacto por nenhum dos outros: propor a revogação de um acto já anteriormente revogado. D. Diogo não deixou - nem podia deixar - passar tamanho erro, que fere de nulidade a decisão tomada. Depois, a tropa fandanga deixou-se enredar numa discussão estéril e inconsequente, se o erro é formal ou material, reparável ou não no decurso da reunião. No final, desceram ao nível do presidente, com o truque baixo, e declarado, de aprovar a proposta, ferida de nulidade, sugerindo ao presidente que contestasse a decisão em tribunal. A tropa fandanga perdeu política e eticamente. Estão bem uns para os outros. 

No segundo assunto (responsabilização do presidente da câmara pelas custas de parte nos processos em que o município seja condenado por não prestação de informação), D. Diogo conseguiu provar que a decisão tem pouco ou nenhum respaldo legal. O que deixou a “oposição” muito mal no retrato, nomeadamente os diplomados em Direito. 

Resultado: D. Diogo, em minoria (e sozinho), destroçou a tropa fandanga. Tropa fandanga é tropa fandanga, mesmo articulada e disfarçada de tropa regular.

19 de junho de 2020

O general no seu labirinto



Diogo Mateus ficou hoje sem as competências delegadas pelo executivo no início do mandato, o quer quer dizer - na prática - que a partir de agora só faz aquilo que a oposição quiser. Porque a prepotência e arrogância com que vem exercendo o cargo, nos últimos tempos, deixou-o neste estado: em minoria. Logo ele, que foi treinado desde miúdo para ser presidente da Câmara. Que foi o quadro político melhor preparado para ocupar o cargo - pois que durante mais de 20 anos não fez outra coisa que adquirir experiência pública, conhecimento técnico no domínio autárquico, e que teve o partido a seus pés. 
O que hoje aconteceu na reunião de Câmara (o vídeo está disponível aqui) é o perfeito exemplo de como um homem de cabeça perdida pode dar cabo de uma carreira. Neste caso é política, mas também quer dizer profissional, porque esta é a profissão de Diogo. 
Já aqui escrevi mais do que uma vez o meu estado de espírito quanto à liderança dele, em Pombal: é esperar 20 anos que o vento mude, e quando ele finalmente muda...levar com ele na cara, e perceber que era tudo um engano. Que não havia nenhuma página para virar (muito menos o livro, como ele me disse na ocasião), o que foi visível desde cedo: primeiro nas equipas, depois nos quadros que escolheu, nos projectos que não fez, na estratégia que, afinal, não tinha para Pombal. Nos últimos tempos, foi pior. Porque as obras em catadupa no espaço público dão a ideia de que não quer deixar aqui pedra sobre pedra, como se estivesse obcecado por deixar a sua marca urbanística em cada jardim, em cada praça, sem se importar se é isso que as pessoas querem. Como se as eleições que lhe deram maioria legitimassem tudo, como se valesse tudo. Como fiz questão de lhe dizer na apresentação do projecto da Várzea, esta semana, não me interessa se pensa ir-se embora daqui amanhã ou depois. Mas interessa-se, isso sim, que a terra que escolhi para viver e onde os meus filhos cresceram (sem um metro do tal parque verde, que nunca chegou) seja mais do um amontoado de praças empedradas com aversão à terra, às árvores, ao verde.
De maneira que, numa primeira fase, uma pessoa até se divertia com esta implosão interna a acontecer no PSD, aquele partido todo-poderoso que sempre gostou de ridicularizar os outros nas reuniões de Câmara, da Assembleia Municipal, nas Assembleias de Freguesia. Mas agora que nos caiu a ficha, não deixa de ser degradante e decadente o que nos está a acontecer, no espectro público.
Diogo Mateus tinha obrigação de ter acautelado este estado de sítio, antes de retirar pelouros a Pedro Brilhante a Ana Gonçalves. Como já aqui disse o Adelino Malho em post anterior, ele tem qualidades. Já quanto aos princípios e valores, tenho dúvidas. Quando misturamos assuntos pessoais com a actividade profissional, raramente corre bem. Ou como diz o povo: onde se ganha o pão não se come a carne. Muito menos se o cenário for o domínio público. 

PS: Desde que o requerimento (assinado por Michael António, Narciso Mota, Odete Alves, Ana Gonçalves e Pedro Brilhante) deu entrada nos serviços que Diogo Mateus agilizou pressões: primeiro junto do partido, exigindo solidariedade política e retirada de confiança aos vereadores a quem avocou pelouros (ameaçando avançar ele próprio para a concelhia); depois pediu a um peão do partido que tentasse convencer Ana Gonçalves a voltar atrás. Gorada a tentativa, avançou para um almoço com Narciso Mota. Como se viu, não resultou. Ficamos expectantes com as cenas dos próximos capítulos.

O dia em a Política pombalense fez um novo fundo


Hoje, a política pombalense fez um novo fundo. Foi o último? Provavelmente não.
Aristóteles afirmou que o objecto principal da Política é criar a amizade entre membros da cidade. Aqui é o oposto: cria inimizade….
O que hoje se passou não deve sequer ser aqui mostrado (fica só para os mais curiosos). Mas deve ser analisado. 
(Quase) Todos sabemos que a política não é uma escola de virtudes. Pior: é uma actividade que deforma, que traz ao de cima o que há de pior na natureza humana – a falsidade, a maldade, a ira, o ódio. Sei do que falo. A curta e espaçada passagem por ela mostrou-mo. Compreendi que aquilo me tornava pior, que não queria aquilo.
Os membros daquele executivo são más pessoas? Talvez não. Mas o homem é ele e as suas circunstâncias. O caminho que alguns deles estão a percorrer é, simplesmente, degradante. Assiste-se, ali, a uma guerra muito perigosa. Que não mata logo, vai matando. E o ir matando é pior, é muito pior.
G. Sand afirmou que a opinião política – e comportamento político - de um homem/mulher é o próprio homem/mulher. Diogo Mateus é, claramente, o principal responsável pelo estado a que as coisas chegaram. Deve arrepiar caminho, rapidamente - para seu bem. Diogo Mateus tem qualidades, e tem bons princípios e bons valores. O seu problema é a prática. Depois; comete sistematicamente um duplo erro: semeia espinhos e caminha descalço.

PS: a vereadora Odete Alves e o vereador Pedro Brilhante abandonaram a reunião. A vereadora Ana Gonçalves abandonou e regressou.  Na minha opinião, sem nenhuma razão que justifique decisão tão drástica.

Da Várzea para os transportes, vai uma assinatura de distância


A semana termina como começou: o poder a fazer de conta que se importa com o que o povo pensa. A próxima paragem é o projecto de requalificação da "zona de interface de transportes de Pombal", não ao ar livre - como na Várzea - nem no local (já se sabe que o ambiente à volta não é muito agradável, como a Câmara está fartinha de saber - mas nos Claustros, esse local de maravilhosa acústica e condizente energia. Uma coisa com pompa e circunstância, como foi do Jardim do Cardal. 
Há só uma pequena diferença no convite aos munícipes: desta vez Pedro Pimpão demarcou-se (ganhaste uma pontinha de respeito meu, Pedro), avisando que não queria a sua assinatura nesta encenação. É que fontes conhecedoras do processo revelam que a Câmara decidiu usá-la no convite da Várzea sem sequer lhe pedir autorização.

Pedro versus Pedro


Pedro Brilhante afirmou ontem, numa entrevista dada à Rádio Cardal (basta ouvir a partir do minuto 2:50; o Pedro deve melhorar a oratória para não ser tão chato), que a situação política que estamos a viver em Pombal, "aos olhos de pessoas que são sérias, honestas e que andam na vida de forma recta e de cabeça erguida" só pode ter como consequência a retirada da confiança política no Presidente de Câmara em exercício. Depois de, há cerca de um mês, Pedro Pimpão (que não quer manchar a sua imagem de bom samaritano na "nossa comunidade") ter reafirmado a confiança política em Diogo Mateus, o destinatário das palavras de Pedro Brilhante não poderia ser mais óbvio.

18 de junho de 2020

Onde se dá conta das angústias do Pança com o eminente enjaulamento do Amo

Hum! Hum! – pigarreou o Pança, quando recebeu o estranho decreto assinado p`los opositores.  “Co`os diabos!” Soltou ele, para os seus entretidos tarefeiros, como se se sentisse culpado diante de citação de tão ruim presságio. Depois, exclamou para quem o quis ouvir, como se o seu Amo ali estivesse: “Real senhor, Deus o proteja destes fariseus”.
Com o semblante acabrunhado, dirigiu-se à doutora de leis, a nova cúmplice do Príncipe, para perceber o alcance da investida. Os corvos, já pousados no telhado do convento, ao sentiram os seus passos pesados, começaram a crocitar anunciando desgraça. Entrou apreensivo no poiso da doutora de leis, mas saiu de lá com os miolos ainda mais enturvados. Não queria acreditar no que tinha ouvido, mas percebia que abalo era forte. 
Hesitou interromper o repouso do Amo. Mas soube fazê-lo com o dramatismo que o momento merecia:

- Desculpai-me o incómodo, Alteza; mas tenho má novidade a dar-vos...
- Dize-me, dize-me, Pança; que agora só me fazeis maus anúncios…
- A armadilha está armada, e bem armada. Entrou decreto, assinado p`los falsos conselheiros, que ata Vossa Mercê de pés e mãos.
- Safados…
- Que será de nós, Senhor Meu Amo, rodeados de cobras venenosas por todos os lados, com Vossa Mercê enjaulado, e a Justiça à perna?
- Não necessito de lágrimas, Pança, mas de sangue… - lembrou o Príncipe. E acrescentou: - Reuni as tropas, e colocai-as em prontidão de combate.
- Às suas ordens, Alteza – retorquiu o Pança, sem o ânimo que sempre evidenciara quando era preciso sujar as mãos.

Estava desolado; tinha percebido, finalmente, que a ameaça era forte, e as desgraças corriam tanto e tão depressa, que se enleivavam no encalço umas das outras. Intrigava-o que a tropa fandanga se tivesse conseguido juntar, e reunido tino para tirar tal coelho da cartola. 
Perguntava-se, e voltava a perguntar, mas não sabia responder: “como é que o feitiço se tinha virado contra o feiticeiro?”; “como é que o seu Amo, Príncipe mui douto e temido, se tinha deixado cair nas suas armadilhas? O que seria dele, agora, com o seu Amo enjaulado e sem os reforços para o fundo de maneio?"

Mas, no fundo, reconhecia que não era preciso buscar a explicação num oráculo para tamanho e tão eminente malogro. A prática já lhe tinha mostrado que o mal reforça a acção mal começada, que o odioso gera odioso, e que os conselhos sempre chegam retardados se se acham desacordes à nossa vontade.

Pensava para si e consigo, “Ai, meu Amo, meu Amo, acabou-se o fadário! Ah! Fostes tão poderoso, e tão temido; mas, se Deus Nosso Senhor vos não valer, ides acabar tão promissor reinado manietado, sem poder. E que será de mim, da minha sorte e do meu destino, nas mãos destes traidores? Só poderei contar com o cura Vaz, para me limpar os pecados da alma, e com a protecção da N.ª Senhora do Cardal, minha devota Santa. Amém.”

                                                                                              Miguel Saavedra

17 de junho de 2020

Sorria, está a ser gravado



A Câmara Municipal não avisou ninguém (porque isto da ética é coisa que a ela não lhe assiste) mas gravou as duas horas de apresentação do 'novo' projecto do Jardim da Várzea. Quer dizer que a minha e as vossas intervenções vão servir agora para serem utilizadas pelos senhores autarcas para os fins que entenderem por convenientes. Por isso da próxima vez aprumem-se, amigos: coloquem bem a voz e cuidem do discurso. Até o mais humilde amanuense a quem for entregue a missão de vos ouvir merece o melhor de nós. 
Até amanhã. 

16 de junho de 2020

O dia em que o povo defendeu a Várzea



Não vivi nunca, em Pombal, um momento como o de ontem. Ao longo da minha vida assisti a dezenas (talvez centenas) de apresentações, a maioria delas por força da profissão. Mas ontem, como cidadã, entrei e saí do Jardim da Várzea de alma cheia, um orgulho imenso de ver este povo lutar para defender um património que nos querem destruir. Foi importante o que aconteceu ontem, acreditem, para memória futura. Mais de uma centena de pessoas juntou-se, deu a cara para lá do computador, e foi dizer ao poder que não quer uma praça no lugar do jardim. Que a cidade é nossa e não deles - que andam há uma eternidade a desgovernar o espaço público. A erradicar o verde e cobrir o chão de pedra. Que este caminho que o Farpas vem trilhando há uma dúzia de anos começa finalmente a dar frutos. Já o sentíamos, por aqui, mas há sempre quem prefira negar a realidade, escudar-se naquele chavão de que "não vale a pena", porque "votam sempre nos mesmos" e "eles fazem o que querem", como se esta fosse uma história acabada. Não é. Momentos como o de ontem mostram-no bem. Isto da cidadania, além da coragem, requer treino. Por isso a partir de agora só precisamos de praticar.

1. O projecto. Foi importante perceber que, depois de exposta publicamente, face à tradicional tendência de não promover discussão nem consulta pública, a Câmara foi obrigada a recuar no projecto, reformulando-o totalmente. Da vossa parte (dos que lá estiveram) não sei, mas a mim continuam a sobrar-me muitas dúvidas, mesmo com as alterações que essa sumidade local da arquitectura urbanística apresentou. O essencial ficou claro: considera que a maioria das árvores estão doentes, portanto corta-se o mal pela raiz. Das mais de 20 que "sobrarão" - quer ele dizer, que plantarão - podem talvez os nossos bisnetos usufruir, um dia. 

2. O espaço público. Talvez o projecto da Várzea sirva para explicar o que tem acontecido em Pombal, nos últimos 25 anos: o poder vigente abomina verde e árvores. O parque verde nunca avançou (apesar da sucessiva propaganda em tempo de eleições), e os jardins foram sendo eliminados, o verde das árvores substituído por pedra, no chão. Foi assim na Praça Marquês de Pombal (com a promessa da mobilidade, de chamar mais gente, mais comércio, como de resto é esse o argumento aqui usado, também), mas na verdade foi o que se viu. Depois o Largo do Cardal. Agora temo pelo dia em que vão retirar a vedação da obra do Jardim do Cardal...e é por isso que se tornou tão urgente proteger a Várzea. A dupla Diogo & Vinhas mostra-se muito incomodada com o facto de haver pouca gente a frequentar o Jardim. Desde quando é que um jardim é mais ou menos importante pela quantidade de pessoas que ali se sentam? Queremos milagres? Acaso já pararam para olhar para os números dos últimos anos, que nas próximas eleições nos farão descer, de novo, aos 7 vereadores?

3. O sucessor. Foi por demais evidente que a máquina laranja emperrou. A crise política fez-se notar também ontem, ao ar livre: não apareceu o coro do costume, e o poder viu-se, pela primeira vez, em minoria num acto público, sem acólitos. E Pedro Pimpão, que acumula a liderança do partido com a presidência da junta e ainda a ambição de saltar dali para a Câmara, perdeu uma excelente oportunidade de se mostrar diferente. Talvez porque não é. Para quem tanto diz amar Pombal e ter regressado à terra para fazer dela alguma coisa de jeito, é poucochinho quedar-se pela copa das árvores e centímetros de relva. Diz ele que a junta já tinha tornado a sua posição pública nos jornais (?) e transmitido à Assembleia de Freguesia(?). Ficámos a saber que, afinal, o que diz nas costas de Diogo é incapaz de dizer na frente. Melhor fora que usasse o canal do youtube para divulgar o que pensa daquilo tudo, ao invés das entrevistas patéticas que os súbditos andam a fazer, no desconfinamento. Cuidado Pedro. Há jogos que podem correr mal. 

15 de junho de 2020

Jardim da Várzea - coisas que os pombalenses ainda não sabem

A Requalificação Urbana da Várzea tem gerado enorme revolta e indignação na comunidade, nomeadamente o projecto de remodelação/eliminação do Jardim da Várzea. 
Mas há coisas que a comunidade ainda desconhece; nomeadamente que: 

1 - Concorreram ao concurso para elaboração do projecto dois gabinetes de arquitectura: Atelier Carlos Vinhas, Lda e a SPI – Sociedade Portuguesa de Inovação, SA;

2- Ganhou o concurso o Atelier Carlos Vinhas, Lda com uma proposta no valor de 65.000 €;

3 - A proposta do atelier SPI, de montante significativamente mais baixo, foi excluída do concurso (não foi possível confirmar o montante da proposta da SPI porque a câmara ainda não emitiu as actas do 4.º trimestre de 2018, altura em que foi decidido o concurso, mas já emitiu as actas do primeiro semestre de 2019);

4 - A SPI foi excluída por:
 4.1 - Divergência sobre a responsabilidade pela execução do levantamento das redes de infraestruturas (a câmara comprometia-se, no caderno de Encargos, a “fornecer a informação necessária para o desenvolvimento deste projecto, com especial para as redes cadastrais de infraestruturas”; e exigia que “o projecto será desenvolvido tendo por base o levantamento topográfico existente” - a fornecer pela câmara);
4.2 - Divergência sobre a responsabilidade por “instruir e solicitar pareceres às entidades várias entidades competentes”, que a SPI alega não ser, nem dever ser, da sua competência como simples executante do projecto;

5. A SPI reclamou da exclusão ao concurso (o que também confirma que a sua proposta era de valor inferior) mas não lhe foi dado provimento;

6 - O projecto do Jardim do Cardal (o principal e maior jardim da cidade) custou à câmara 15.500 €;

7 - O projecto de Requalificação Urbana da Várzea custou à câmara 65.000€. Admitindo que metade do custo do projecto é referente ao Largo da Estação e a outra metade ao Jardim da Várzea, então o projecto do Jardim da Várzea custou mais do dobro do projecto do Jardim do Cardal.

A adjudicação do projecto é, no mínimo, pouco congruente, nomeadamente pelo processo e tipo de Atelier escolhido. Mas pior, muito pior, é o projecto apresentado e aprovado. Um projecto, e uma obra, que a comunidade tem que parar.