27 de março de 2024

O irreal social


 *créditos do fotógrafo Mário Cantarinha

Este ano a excursão à feira de Nanterre voltou a ser uma ocasião de grande convívio, desta vez alargado a meia dúzia de presidentes de junta. Estou em crer que foi a forma que o Pedro arranjou de zelar pela felicidade de seus autarcas, proporcionando-lhes uma visita à cidade-luz. Alguns dos autarcas exibiram, contentes (pois claro) as suas fotos nas ruas de Paris, by night. 

Estranhamente, nas redes sociais do presidente e da Câmara - que são a mesma coisa - nem um sinal da presença na feira/festa da comunidade emigrante. Talvez porque esta visita foi demasiado relâmpago: Pimpão arrancou mesmo antes da sessão de encerramento, deixando o stand entregue a Ana Fernandes, técnica da Adilpom que já está habituada a estas lides.

Diz-se na Câmara que este presidente governa a autarquia a partir do facebook. Aqui no Farpas acreditamos que era perfeitamente dispensável aquele alargado gabinete de comunicação, pois que ele mesmo escreve, fotografa, filma e partilha as coisas mais inusitadas. Se a realidade fosse o Instagram ou o Facebook, estaríamos perante um caso de dedicação e trabalho árduo. O problema é que as obras e os projetos ainda não acontecem a partir do ecrã. Mas não percamos a esperança. A página do Município de Pombal já responde às pessoas, quando sujeita a críticas. É preciso acreditar. De resto, isto é mais ou menos como o refrão que cantavam os Ban, no final dos anos 80 : "Não me dês moral, dá-me um ideal irreal social popular"

26 de março de 2024

Dotora Gina na corda-bamba

Já se sabia que o clima na “junta” andava agitado, entre os vereadores e o dotor Pimpão – problemas de coordenação e de excesso de felicidade. Mas recentemente soubemos - e comenta-se nos “mentideiros” locais – que o dotor Pimpão quis substituir a dotora Gina pelo seu ajudante de campo - Marco Ferreira. Para tal, preparou o terreno e as contrapartidas: tentou convencer a dotora Gina das vantagens mútuas da sua renúncia; e prometeu-lhe colocação numa empresa municipal.  

A dotora Gina, confrontada com a delicada situação e a contrapartida, mostrou abertura e ficou de dar resposta na segunda-feira seguinte. Mas, depois de pensar e se aconselhar, recusou. 

Agora estamos assim: com uma “vereadora” (que nunca o foi) materialmente demitida... Trapalhadas de “junta” - de rapaziada.





PS: Toda a espécie de comunicação social que por aqui ainda existe conhece este relevante facto político, mas não informa porque não quer incomodar o poder.

25 de março de 2024

O 25 de Abril na Ilha

 



O café Lanheiro estava à pinha: novos e velhos reunidos para ouvir "histórias do25 de Abril nas tabernas", naquela que terá sido a mais genuína iniciativa das comemorações dos 50 anos da revolução -  testemunhos de quem a viveu, sob diversas formas. Durante a tarde de domingo, esteve ali tudo:  o povo e a forma como vivia, sem paz, pão, habitação; os privilegiados da Guia (Artur Carreira e Amândio Neves assumiram-no e contaram-no com grande generosidade, desde a campanha de Humberto Delgado às lutas estudantis em Coimbra), os que não conseguiram escapar à guerra e combatiam contra a vontade, os que foram vítimas do processo de descolonização. E os que cresceram a ouvir as histórias dos pais e avós, que já nunca conheceram a ditadura mas têm consciência e valorizam as portas que abril abriu. Ao fundo, uma fotografia antiga dos homens que criaram a primeira Comissão de Melhoramentos da Ilha, essa terra especial onde o tempo fez cinza da brasa. Um mão cheia deles. 

"Estes homens sofreram muito. Ninguém imagina. O povo vivia mal". As palavras da Ti Preciosa, viúva de um desses homens, avó da Patrícia, que agora gere o Lanheiro (antiga taberna) vão ecoar-me por muito tempo. O medo. O medo de falar, de agir, de ser "chamado a Pombal", à Câmara, ou ao capitão Gonzaga. Os pides infiltrados entre a populaça, controlados pelos homens poderosos da terra. As diferenças tão vincadas entre uma aldeia como a Ilha (que podia ser a minha Moita do Boi) e a Guia, "que ao pé de nós era uma cidade". As diferenças tão vincadas na sociedade. E a declaração emocionada de António Moderno, professor jubilado: "Ninguém imagina a alegria que eu sinto em olhar à minha volta e ver que o neto do sapateiro é engenheiro, que toda a gente tem instrução, quando naquela altura havia três ou quatro licenciados. O 25 de Abril foi o dia mais feliz da minha vida".

A ilha é uma terra especial. Dali sempre brotou intervenção pública, sobretudo cultural. E ontem, ao ver aquele encontro de gerações e de interesses (que terminou com a brilhante atuação dos músicos André Ramalhais e Evandro Capitão, a acompanhar a declamação da poesia de Ary dos Santos pela Lina Oliveira), tive a certeza de que ali se cumpriu Abril. 

Só nos faltava agora que este Abril não se cumprisse.

22 de março de 2024

A paródia pousou arraiais nas Meirinhas

Nos últimos dias, o dotor Pimpão prosseguiu e reforçou a sua desenfreada empreitada de festas, eventos e conferências. E não se prevê abrandamento. 



Anteontem esteve nas Meirinhas (e em mais uma enfiada de eventos), com a rapaziada, a dar posse a outro presidente da junta! Se fosse para substituir o que lá meteram, e que há muito perdeu todas as condições para se manter no cargo, vá-que-não-vá; mas não, foi só para se entreter, e entreter a rapaziada.

Gabo-lhe a fértil imaginação e a frivolidade festiva que consegue colocar nesta contínua paródia. Vai conseguir terminar o mandato sem queimar um único neurónio. É obra. 

No início do mandato, a dita oposição exigiu-lhe participação oficial em todos os eventos organizados pela câmara. A sua ambição sempre foi ser ramo de enfeite do poder; da qual, a evidente concertação política com o Pimpão é a mais escabrosa amostra. Mas como até neste frágil ponto falharam, mereciam um valente castigo: ser obrigados a acompanhar o dotor Pimpão na sua desmesurada empreitada de festas, eventos e conferências. Talvez assim nos víssemos livres dos pimpões e das oposições.

19 de março de 2024

Sobre a reunião da “junta”

A “junta” reuniu outra vez, quinta-feira. A reunião foi rápida e simples; serviu unicamente para cumprir as formalidades e as obsequiosidades habituais. O presidente - um esforçadíssimo relações-públicas que se consome numa infinita e sobre-humana enfiada de eventos e conferências - gastou rapidamente a pouca voz que lhe restava nos obrigatórios obséquios. Depois, coitado, ficou sem goela para responder às frágeis observações…



A dita oposição cumpriu a sua condição: reiterou os obséquios e recolheu a senhazinha.

Siga a festa.

18 de março de 2024

Feliz é quem diz: quando há dinheiro há palhaços

 



Estava a malta descansada a comemorar Abril como deve ser, este ano, e eis que abre o alçapão para ressuscitar a ditadura da felicidade. Podemos não dar uma para a caixa no que respeita à juventude, à confrangedora feira que se finou no domingo, mas é de pequenino que se ensina aos catraios que o que importa é a felicidade. O resto logo se vê. Atentem, pois, no programa preparado pelo pelouro da dita, para esta tarde de quarta-feira - dando (mais) uso à tenda no Cardal. 

Como as estrelas maiores ficam sempre para o fim, lá se arranjou maneira de tornar orador mais um apóstolo da Felicidade, que atualmente desempenha as funções de chefe de Divisão de Desenvolvimento Social e de Saúde na Câmara de Pombal. Para os que se intrigavam com o papel de 'vereador oficioso' que desempenha em atos oficiais, ao lado do executivo, eis a resposta. 

A 'jornada' termina com o Tochas, longe dos tempos em que usava o seu humor para denunciar como é que o rei ia nu em Pombal. Mudam-se os tempos, os autarcas, as vontades, continua a haver dinheiro e por isso há palhaços.

Sorriam! estão a ser captados :))))))

15 de março de 2024

Pombal - Exposições e Feiras para encher agenda (II)

O cenário em redor da tenda que acolhe a “Feira de Formação e Orientação Vocacional” (belo nome para coisa nenhuma), integrada na Semana da Juventude, mais parece uma exposição das forças de segurança e bombeiros que coisa ligada à juventude. E do recheio (da tenda) pode dizer-se com segurança que é coerente com o embrulho (com a face). É coisa para espantar juventude – autêntico espantalho.

Reconheço que tenho uma certa aversão às polícias (às forças de segurança em geral), que atribuo às memórias de infância - ao medo que os meus avós e vizinhos me transmitiram quando ordenaram reclusão imediata e trancas na porta quando o boca-a-boca anunciava a entrada da GNR a cavalo na aldeia - e ao comportamento autoritário das polícias, mesmo em Democracia. Porventura por estas experiências, mas também pelo sentir de alguns jovens, não vejo sentido e préstimo na presença das Polícias neste tipo de evento,  nenhuma afinidade na associação das polícias à juventude num evento cujo propósito, dizem, é a formação e orientação vocacional dos jovens. Mas o equívoco maior nem será a monopolização do evento pelas forças de segurança e afins, é todo o cenário e enredo do evento: uma mimetização pobre (de mau-gosto) e infrutífera dos eventos organizados pela União Nacional e pela Mocidade Portuguesa, mas sem o rigor, o foco e qualidade cénica que o antigo regime colocava na coisa.  



Lá dentro, encontrei meia dúzia de “gatos-pingados” e “barracas” abandonadas; e uma tentativa, meio-falhada, de interagir com os jovens, em que, a muito pedido, participei por misericórdia. No final, tive uma curta conversa com o jota assalariado na câmara que supervisiona a coisa, onde apontei a obsolescência do modelo, o peso dado às polícias e afins, e a descabida presença da JSD. Ao que ele me respondeu, com uma sinceridade cativante, que os jovens têm mostrado algum interesse e até já tinham várias adesões. 

Não há nada mais enternecedor que a confissão de um bom-cristão tenrinho. Perdoai-lhes Senhor…

14 de março de 2024

Pombal - Exposições e Feiras para encher agenda (I)

Por norma não participo nas iniciativas da câmara. Considero-as desinteressantes – destinadas simplesmente a preencher agenda – e, vezes demais, de grande mau-gosto. Evito, assim, o desprazer pessoal e mais reacções críticas.   



Ontem, alertado por amigos/as e desafiado pelo presidente da “junta”, fui ver a exposição “50 anos, 50+5 rostos – as marcas do tempo”, integrada nas comemorações dos 50 anos do 25 Abril 74, patente nos Claustros dos Paços do Concelho. E, aproveitando a passada, visitei a “Feira de Formação e Orientação Vocacional” (belo nome para coisa nenhuma), integrada na Semana da Juventude, a decorrer no Jardim do Cardal. Com esta dose dupla fiquei imunizado por um longo período. Contava ir a uma palestra que me pareceu interessante e se realiza hoje, integrada nas Comemorações do 25 Abril de 74, mas perdi o interesse - não posso arriscar uma terceira dose seguida.

A exposição “50 anos, 50+5 rostos – as marcas do tempo”, é coisa sem critério e sem trambelhos, sem propósito e sem lógica que se perceba, mais digna do 24 Abril que do 25 Abril, com rostos do passado (alguns já desaparecidos) e sem passado ligado ao 25 Abril – salvo raríssimas excepções.

O curador – desconhecido! - diz-nos que a amostra “é um exercício que nos mostra o passado, o presente e o futuro através do olhar dos pombalenses e pela objectiva de Victor Freitas”. Do passado vá-que-não-vá, mas do presente e do futuro cruzes canhoto e Deus nos livre destes apóstolos e destas apologias.

Custa a aceitar que o comissário das comemorações, Luís Marques (pessoa culta e com forte vivência do período), tenha dado aval a isto! Agora, já só se pede que não levem pela frente a ideia peregrina de distribuir o vídeo realizado pelas escolas, para ser utilizado como instrumento formativo sobre tão importante período da nossa História recente.