8 de dezembro de 2025

Sobre a propaganda e a infeliz realidade

Todos (os que nos lêem) ainda devem estar recordados do arrojado projecto de requalificação e restruturação da Central de Camionagem, orçado em mais de 4 milhões de euros, que colocaria Pombal nos píncaros do futurismo e da mobilidade suave e inclusiva, e proporcionaria conforto, ócio e bem estar a quem viaja ou simplesmente se distrai. 




O projecto incluía uma Gare Intermodal de Transportes que uniria tudo e todos, as duas margens, com uma passagem subterrânea e outra aérea através de um pórtico monumental de entrada na cidade, que seria o orgulho dos pombalenses (mas logo contestada); uma plataforma que ligaria os diferentes meios de transporte, públicos e privados, com novas bolsas de espera; um segundo piso na Gare subdividido em espaços hoteleiros e restaurantes e/ou bares; e novas zonas verdes (sempre a promessa verde), com espaços de estar, lazer e parque infantil. Eis aqui, levemente resumido, o leque do que nos foi prometido. 

E, agora, o que temos? O que nos ofereceram e oferecem? Temos uma Central de Camionagem retocada, meio abandonada e encerrada ao fim de semana, sem um simples barraco, no local ou próximo, para os passageiros de fim-de-semana esperarem os autocarros minimamente abrigados da chuva e do vento frio ou do sol escaldante. E uma mini-praça, rodeada de lixo, que usaram para meter uma estatueta de mau-gosto de uma criatura viva que não diz nada à terra.

Mas palavras, para quê?! É Pombal no seu melhor...


3 de dezembro de 2025

Retrato de família abrigado da chuva




Na semana passada a Câmara promoveu um daqueles momentos em que as fotos falam. Foi a assinatura dos "contratos-programa de desenvolvimento desportivo" que "representam um esforço municipal de 𝗺𝗮𝗶𝘀 𝗱𝗲 𝟰𝟲𝟬 𝗺𝗶𝗹 𝗲𝘂𝗿𝗼𝘀, que serão canalizados para o apoio da atividade e 𝗽𝗿𝗮́𝘁𝗶𝗰𝗮 𝗱𝗲𝘀𝗽𝗼𝗿𝘁𝗶𝘃𝗮 𝗱𝗲 𝟯𝟰𝟬𝟴 𝗮𝘁𝗹𝗲𝘁𝗮𝘀 𝗱𝗲 𝟭𝟴 𝗺𝗼𝗱𝗮𝗹𝗶𝗱𝗮𝗱𝗲𝘀, 𝗱𝗼𝘀 𝗾𝘂𝗮𝗶𝘀 𝟮𝟳𝟬𝟮 𝘀𝗮̃𝗼 𝗮𝘁𝗹𝗲𝘁𝗮𝘀 𝗲𝗺 𝗳𝗼𝗿𝗺𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼", segundo a autarquia.
Poucos momentos explicam tão bem o tipo de associativismo que temos nesta terra, liderado por quem, para fazer o quê, e como o poder autárquico se alimenta de tudo isto. Está ali plasmado neste "retrato de família", tirado ao mesmo tempo em que, para tapar a cabeça, a manta de retalhos que cobre as infraestruturas desportivas de Pombal deixa os pés à mostra. À mesma hora, a tão saudada vinda da selecção feminina alemã de sub-23 era o espelho disso mesmo: as raparigas não puderam equipar-se no Estádio Municipal onde treinavam porque os balneários não reúnem o mínimo de condições. Fizeram-no no pavilhão Eduardo Gomes, o único que temos na cidade, também ele apenas adaptado a dias sem chuva, tal como acontece de resto nos pavilhões da Redinha e Louriçal. Está tudo bem. Para voarmos mais alto não podemos ligar a estas minudências. Ou então cortamos logo o mal pela raíz: há poucos dias, um camarada radialista queixou-se aos representantes do poder de que na cabine de imprensa do pavilhão chovia como na rua. Um nem sequer sabia que "aquilo era um espaço para a imprensa", outro atravessou-se logo a resolver com prontidão, avisando que, se era assim, proibia o relato e pronto. 
Esta é a cidade que escancara as portas a tudo o que é associação do sector, depois do poder ter acabado com a imprensa livre. Desafio os leitores a pesquisarem no site da Associação Nacional de Imprensa Regional o que disseram aqui os oradores - não há-de ser muito diferente do que aqui vão dizer os que vierem, a 18 de Dezembro, comemorar o Dia Nacional da Imprensa. Por isso a piada faz-se sozinha.
O retrato é que não.