Foto: Diário de Leiria
No resto do concelho a linha é ténue, na cidade está vincada. A não ser os pais da escola do Seixo, na Guia - que acabaram por ganhar a batalha de manter aberta a escola da aldeia, em detrimento da mudança dos meninos para encher o centro escolar da Mata Mourisca - ninguém parece importar-se com os edifícios sobredimensionados para a capacidade, nem questionar os milhões gastos, fora da sede do concelho, onde faltam alunos e sobra espaço.
Vivemos uma espécie de mundo ao contrário, em que, na cidade, as crianças se acotovelam para almoçar, por turnos, na escola Conde Castelo Melhor, e por outro lado podem brincar às escondidas nas salas vazias dos centros novos, por essas aldeias fora. Há dias, quando veio cá o ministro em tempo de campanha, o Jornal de Leiria noticiava que
faltam 700 para preencher a capacidade dos centros escolares de Pombal. Nesse desenho da carta educativa do concelho, faltava há muito à cidade - onde se concentra o maior número de alunos - aquilo que sobra nas freguesias à volta: um centro escolar. E então
a Câmara anunciou-o, apresentou-o publicamente. Decorridos vários meses, não há notícia de abertura de concurso para a sua construção. Entretanto, Câmara, Junta de Freguesia e Agrupamento de Escolas de Pombal, num momento raro de entendimento conjunto, trataram de antecipar a mudança, esvaziando a velhinha EB1 de Pombal e o Jardim de Infância. Os alunos do 1º e 2º anos foram transferidos para a Escola Conde Castelo Melhor (CCM), um edifício desadequado, que um agente educativo comparava há dias a "
um reformatório do século XIX", e que
a Câmara acaba de adquirir, por mais de 700 mil euros. Dinheiro é coisa que não falta ao município. Os meninos do pré-escolar foram instalados na sede da Filarmónica Artística Pombalense, e os alunos do 4º ano foram transferidos para a Escola Marquês de Pombal. Ao contrário do que era suposto, ali as coisas até correram bem. O mesmo não se pode dizer da CCM. É verdade que a autarquia fez tudo para lavar a cara ao edifício, mas os milagres só acontecem em Fátima e não é por sermos muito devotos que os problemas terrenos desaparecem. "
A escola está perfeita, toda pintada de novo, com as paredes muito bonitas, mas faltam meios humanos cá dentro", disse uma mãe de duas crianças, na semana passada, quando tratava de as transferir para a única alternativa privada, ao nível do ensino básico. Por mim, continuo a preferir a escola pública. Mas se a defendemos a qualquer preço, também lhe devemos exigir aquilo a que os nossos filhos têm direito.
Ora acontece que o espaço é pouco para tanta criança. Estão lotadas todas as salas, para lá das de aula, são utilizados todos os cantos para albergar ali perto de 200 crianças. Um mês depois do início das aulas, já se percebeu a dimensão do problema, por mais provisório que nos seja vendido: pouco espaço, muitos alunos, falta de vigilância, que resulta num aumento de tensões no recreio, de violência entre as crianças, sobretudo à hora de almoço. Quando esta semana se sentaram, à mesma mesa, pais, professores, auxiliares, junta de freguesia e direcção do agrupamento (provisória, há três anos), faltava lá o Município. A Junta garante que vai contratar mais uma auxiliar (são cinco, actualmente, para dar conta de todo este recado) e que já oficiou à Câmara para alargar o telheiro, que as deveria albergar em dias de chuva. Cá ficamos à espera.
A propósito desta mudança, a única (e sensata) intervenção pública a que assisti foi a de Ana Cabral, educadora de formação - e vocação - na última reunião da assembleia de freguesia de Pombal, quando saiu da mesa (a que estava a presidir, em substituição de Pedro Pimpão) para questionar isto tudo.
A moral da história fica ao critério de cada um. Afinal, o dinheiro não é tudo. Muito menos na escola da cidade, em que os números falam: 23% dos alunos vêm da comunidade cigana (que também deveria estar representada à mesa da discussão). No conjunto dos 250 alunos da EB1 (entre CCM e MP), há 147 que almoçam todos os dias na escola. Desses, 74 tem escalão A, 40 tem escalão B, e apenas 33 pagam o almoço por inteiro. Está traçado o nosso retrato sócio-demográfico.
Em suma, terá razão o funcionário municipal que há dias concluía, com propriedade: "se a mudança do Centro de Saúde foi feita poucos dias antes das obras começarem, porque é que não fizeram o mesmo na EB1?". É uma boa pergunta, que merece uma rápida resposta. Enquanto mãe, o que sei é que lá, na escola velha, os meninos eram mais felizes. Mas isso agora não interessa nada.