São muitos anos, muitas noites eleitorais a adormecer e acordar com os gritos de vitória que a ruidosa Jota tem na ponta da língua e solta aos megafones, abafando tudo à sua volta. E são muitos anos em que a estratégia resulta, veja-se como o poder se alimenta dela, e ela do poder, de Diogo Mateus a Pedro Pimpão. Nestas eleições legislativas, pressenti que alguma coisa estava fora do lugar. Isolada - como um milhão e 200 mil portugueses - acompanhei como espectadora atenta o final da campanha. Aqui no burgo, estranhava o silêncio e a falta de empenho na campanha, embora justificada à partida pela aversão a Rui Rio - que o eterno jovem João Antunes dos Santos lá disfarçou, em voltinhas várias (fora daqui), "o candidato da JSD".
Quando as sondagens - ah, as sondagens...esse elixir de bonomia para um líder que ontem à noite deixou cair a máscara - mostraram que o país podia virar à direita, que o PSD poderia regressar ao poder, então foi tempo de alguns se mostrarem, ainda que timidamente. Foi quando Pedro Pimpão se anunciou mandatário concelhio de Rio, revelando integrar a comissão de honra da lista de candidatos do PSD por Leiria, encabeçada por Paulo Mota Pinto, nosso ilustre presidente da Assembleia Municipal (agora eleito deputado por Leiria). Aconteceu a 26 de janeiro. Quatro dias antes das eleições.
No PS, estas eleições abriram mais uma fractura. Alguns membros da concelhia prometeram (e cumpriram) nem sequer fazer campanha, incomodados com a atribuição do lugar de "suplente" nas listas dado a Pombal. Uma nota para o deputado Joelito, que defendeu o seu posto de trabalho até ao fim, e por isso se apresentou todos os dias para fazer campanha, ao lado da candidata Carla Mariza Pereira, que não encontrou apoio na estrutura local.
Feito o enquadramento, o que nos dizem os números? Há três notas relevantes que vale a pena destacar:
1. O PS foi o partido mais votado nas freguesias de Pombal e na Redinha. Quando os dados foram revelados na Escola Secundária de Pombal (onde a Junta de Freguesia revolucionou a organização das mesas de voto, parabéns à presidente Carla Longo e à sua equipa), percebeu-se que seria uma tendência. Aliás, o PS cresce em todas as freguesias, correspondendo ao fenómeno nacional: perante a hipótese de ver a direita chegar ao poder, o eleitorado mobilizou-se para votar em António Costa e no PS, sacrificando o BE e a CDU. No Louriçal, onde o PS tem um dos seus melhores resultados (ficou a 50 votos do PSD), o Bloco ainda consegue ir ao 4º lugar. E ali, o Chega ainda pia fino - tem a mais baixa percentagem de todo o concelho, enquanto a CDU (PCP/PEV) tem a melhor percentagem, mesmo que isso signifique apenas 2.23% dos votos.
2. Carnide, Abiul e Meirinhas são os últimos bastiões do PSD - acima dos 50%, mas longe dos 80 que escrevi em muitas noites eleitorais. Porquê? Porque é aqui também que o Chega consegue as suas melhores votações, logo seguido da Iniciativa Liberal. E depois sobra ainda qualquer coisa residual para o CDS-que-Deus-tem. Vale a pena lembrar que, em Pombal, o partido ainda alcançou mais de 500 votos. Curiosamente, em Vila Cã, terra natal da presidente, Liliana Silva, quedou-se por expressivas 22 cruzes.
3. O distrito de Leiria pintou-se de rosa pela primeira vez. Era um bastião laranja. Pessoalmente, não acredito que a escolha dos cabeças de lista influencie grande coisa o resultado das eleições legislativas. Defendo antes que os eleitores escolhem nesta contenda o partido que melhor os representa, e mais, quem querem ver como Primeiro-Ministro. Desta vez, foi gritante. Ainda assim, António Sales foi uma boa aposta.
Lamento que Leiria tenha perdido um deputado como Ricardo Vicente, empenhado até à medula em diversas causas, em detrimento de um negacionista do colonialismo, e outros demónios. Felizmente, o Governo não precisará dele(s) para nada.
E agora? Será que o PS/Pombal já percebeu que o eleitorado sabe votar? Ou continuará a atirar-lhe culpas em cada derrota?