Surpreendentemente, os funcionários
da CMP foram presenteados com um cabaz de prebendas, pagas pelos munícipes.
O príncipe antigo foi exímio
a manejar os instrumentos tradicionais de comando: a cenoura e o chicote. O
novo Príncipe herdou-lhe os instrumentos, mas revela alguma inabilidade a manejá-los.
O erro maior está na forma inversa como os utiliza, com os dissabores
conhecidos. Consumiu-se na extinção da linhagem do Príncipe antigo querendo
ele, rapidamente, ser o único reconhecido como chefe e, não tendo subalternos capazes
de impor a nova ordem, teve que arcar com o odioso da sua excessiva autoridade.
Alertado para o uso desmesurado do chicote deve ter achado que era conveniente temperar
o trato com a cenoura. Irá a tempo? Acreditarão os súbditos na sua bondade? Maquiavel
avisou que “nunca se deve deixar prosseguir uma crise para escapar a uma guerra,
mesmo porque dela não se foge mas apenas se adia para desvantagem própria”. Não
deixa de ser estranho que quem leu e releu Maquiavel não saiba que “as
amizades que se adquirem por dinheiro, e não pela grandeza e nobreza de alma, são compradas mas com elas não se pode contar e, no
momento oportuno, não se torna possível utilizá-las”. “E quem acreditar que nas
grandes personagens os novos benefícios façam esquecer as velhas injúrias,
engana-se”
É hoje claro que o novo príncipe
padece de dois males: muita crença e muita acção - duas causas maiores da má
governação. Razão tinha Maquiavel quando afirmava que “o príncipe
deve ser lento no crer e no agir, não se alarmar por si mesmo e proceder por
forma equilibrada, com prudência e humanidade, buscando evitar que a excessiva
confiança o torne incauto e a demasiada desconfiança o faça intolerável”. O
novo príncipe tem feito tudo ao contrário! Mas o Farpas está cá, também, para maquiavelicamente
o amparar na sua messiânica missão.