Diogo Mateus confirmou esta manhã na reunião de câmara o que já se comentava em surdina nos meandros da Câmara: vai (finalmente) dar emprego ao (jornalista) Orlando Cardoso. Mas ao contrário do que era suposto (imoral, mas admissível), não é para o Gabinete der Comunicação. É para o gabinete de apoio aos vereadores.
Nesta hora vem-me à memória a opinião que Diogo tinha, em tempos passados, sobre a figura - o ser humano mais mal formado que já conheci em toda a minha vida, sem réstia de escrúpulos, nem qualquer pejo em morder a mão que lhe dá de comer. E a quem agora vou ter de pagar, também eu (duplamente, pelos vistos), como cada um de vós, enquanto secretário dos vereadores do meu município.
Acredito que Diogo está a cumprir uma espécie de penitência. Não consigo conceber tantos dos seus actos, nos tempos recentes, mas este até consigo: estará certamente a fazer um agrado ao seu chefe de gabinete, João Pimpão - que andou anos zangado com o mensageiro Orlando, mas retomou essa amizade antiga num putativo jogo de interesses.
Os dois zangaram-se nas eleições autárquicas de 1993, à minha frente. Trabalhávamos todos no finado Correio de Pombal. O episódio levaria Orlando Cardoso a demitir-se do jornal, só regressando para ocupar o lugar que entretanto eu deixara vago, em Março de 1994, quando ingressei nos quadros do Região de Leiria.
Pensando bem, o amanuense Orlando regressa, assim, à profissão que desempenhava antes de se tornar paginador/jornalista/ director de jornais. Quando entrou pela primeira vez no Correio de Pombal, foi para pôr um anúncio de emprego: "oferece-se empregado de escritório". Como trazia alguma experiência na paginação do Pombal Oeste, foi fácil a metamorfose.
"Não és do Porto, nem és do PSD...", costumava ele dizer nesses idos de 1992, como se fossem essas as condições para se ser pessoa e ser digno. Mas depois, num assomo de ética, certa vez indignou-se com o facto de ver "o chefe de Redacção (João Pimpão) na rua a colar cartazes". Só que a vida dá muitas voltas. Tantas que perdi a conta às artimanhas da figura. E porque era um camarada de profissão, defendi-o sempre, quando soube dos ataques de que foi alvo, nomeadamente por parte do presidente da Câmara, Narciso Mota (tantas vezes instigado pelo próprio Diogo Mateus). Nos anos 2000, quando deixou o jornalismo para ser responsável pelo gabinete de comunicação e maketing da empresa Derovo, não resistiu a criar um blogue, anónimo, para criticar. A graça terminou com o despedimento, por justa causa, pois que o fazia nas horas de serviço. Fora esse pecado, também aí o defendi publicamente, por considerar deplorável a maneira como um presidente de câmara tentava silenciar a opinião dos outros. Muitas vezes erramos na vida. Essa foi uma delas. Outra foi muito mais tarde, quando o soube sem trabalho, e pedi para lhe abrirem portas. Adiante.
Nas autárquicas de 2013, estava eu desempregada, aceitei integrar, como independente, uma lista do PS à Junta de Freguesia desta terra. Foi quando acordei o monstro. Nessa altura Orlando Cardoso já era militante do PS, na ânsia de conseguir uma espécie de tacho no partido, para fazer uma espécie de assessoria. Imagino que, naquela cabeça, tenha pensado que eu seria uma ameaça.
Porque as pessoas que fazem tudo por interesse próprio nunca compreenderão o interesse colectivo.
E então decidiu começar a desferir contra mim todo o ataque nas redes sociais - com ajuda de um coro desafinado de jotas, que hoje me fazem sorrir. Só.
Decidi definitivamente riscá-lo da minha vida quando um dia acusou publicamente o meu filho de ser o autor de uns escritos na parede da escola Marquês de Pombal. Essa é a minha linha vermelha. E nunca mais me lembrei dele.
Nem me lembraria, não fora o facto de, a partir de agora, também eu ter de contribuir para o seu sustento.
Até esta manhã, estava convencida de que tinha chegado a um acordo com Narciso Mota, por causa dos processos em Tribunal. Afinal não. Ficámos hoje a saber que ficou de pagar uma indemnização à Câmara, e que nunca pagou, por piedade de presidente e vereadores. Isso não são assuntos privados - senhores vereadores, que agora vão provar da competência do seu trabalho de secretariado, e das suas qualidades humanas. São assuntos públicos.
Diogo justifica-lhe o emprego como "um cargo de nomeação e confiança política".
Tirem-nos deste filme barato. E agora chamem o Zappa para vereador da cultura, para dar alguma normalidade a isto tudo.