As estruturas partidárias são modelos piramidais
tradicionais de três níveis: Direcção Nacional, Federações e
Concelhias (as secções e os grupos sectoriais - trabalhadores, mulheres, etc. - são irrelevantes para esta análise). O modelo tem dois problemas graves: está
desfasado da realidade social e, pior do que isso, induz perversidade.
O modelo de organização em pirâmide visa dois propósitos
essenciais: controlo “top down” e estímulo do mérito (sobe quem mostrou capacidade).
Nos partidos assegura o controlo, mas desincentiva o mérito.
Na Europa, no pós-guerra, e em Portugal, na pós-revolução,
as elites (intelectuais, académicos, artistas, quadros técnicos de topo, etc.)
estavam bem representadas nos partidos políticos e influenciavam fortemente a
estratégia e a acção política. Actualmente não têm espaço nos partidos, porque não
o desejam nem são desejados. As máquinas partidárias são controladas pelos apparatchiks, que fazem da vida partidária a sua razão de vida, gente sem
méritos reconhecidos interpares ou na comunidade, sem sucessos políticos ou com
derrotas esmagadoras, que subiram no partido pelo designado “trabalho
partidário”, que, na prática, se resume à intriga política, ao trade-off de
apoios internos e a outros processos obscuros. Consequentemente, os partidos,
da base ao topo, deixaram de ter pensamento político estruturado, limitam-se a
seguir a agenda mediática. As concelhias nem isso fazem, porque não há agenda
mediática local nem a sabem criar. As federações fazem o que sempre fizeram:
distribuem “tachos” pelos apparatchiks na máquina do estado
(deputados, secretários-estados, chefes de gabinete, assessores, dirigentes de
CCDR, Segurança Social, Hospitais, etc). Como existem não têm qualquer
utilidade para a comunidade e para os partidos, mas são muito disputadas porque
os apparatchiks há muito perceberam que
o caminho para chegar ao “pote” é mais curto e mais fácil nas federações do que
nas concelhias. Este mecanismo gera perversidade e enfraquece os partidos,
nomeadamente nas concelhias - o nível essencial para fazer crescer e fortalecer
os partidos. E é por isto que, mesmo nos grandes partidos, as concelhias só mantém
actividade regular e significativa onde o partido é poder e o presidente da câmara
não se posiciona de costas voltadas para a concelhia.
Mas, para além desta enfermidade
endémica, outra praga está a destruir os partidos: as sociedades secretas. Tema
a abordar noutra altura.