Tenho para mim que não sou nem educador de ninguém, além de mim
próprio, nem intelectual. Fui um espectador activo numa mudança radical do
ensino em Portugal. Durante a minha longa passagem pela Escola, tornei-me
consciente das questões essenciais da sociedade, a que muitos resumem, e bem,
por política. Curiosamente, teve que ser numa escola pública, anteriormente
frequentava uma escola semi-privada, pelo menos assim se classificava na
altura. E nessa escola pública, na Escola Secundária de Pombal, com um
professor de Filosofia, que tinha para com a educação um relacionamento de
total devoção, na tomada dessa já referida consciência, descobri que quando uma
pessoa adquire essa consciência precisa, inevitavelmente, de se associar a
outros.
Presumo que ninguém perceba do que é que eu quero falar. E é
precisamente confuso, ou pelo menos assim querem incutir, o tema que eu quero
explanar: Associação de Estudantes. No meu activismo estudantil, ou “manifestante
profissional”, como alguns poderão descrever, sempre pautei-me pela unidade
estudantil, construída através da discussão dos nossos problemas, porque sendo
nossos, teríamos de ser parte fundamental da resolução. Mas afinal como é
construída essa unidade estudantil, ou melhor dizendo, qual a forma que se
constrói essa unidade?! É, precisamente, com a Associação de Estudantes.
Não irei dissertar muito acerca da Lei 33/87, lei que
regulamenta as AAEE a nível mais abrangente. Mas adoraria que todos os
estudantes tivessem noção de que ela existe e que ela afirma que, entre outros
direitos mais, a Associação de Estudantes tem poder de participação na gestão
da escola, na questão da Acção Social da Escola, na questão Pedagógica etc. Em
suma, sendo uma associação de todos os estudantes, espaço de construção, até,
de opinião crítica sobre as questões centrais da educação e do estabelecimento
de ensino, mantendo, por direito, a independência a nível de política
partidária, de credo e qualquer outro factor divisório, ela deve ser uma forma
de, ao debater as já referidas questões, canalizar todos os esforços na
melhoria da escola e do ensino, tomando para si todas as acções que entender
ser necessárias de aplicar.
E no entanto, nada disto acontece. O que é um direito fundamental
da massa estudantil torna-se motivo de disputas de poder, em que um órgão
representativo importante dos Alunos, em tempos tão conturbados, serve para
formatar o restante que o sistema não alcança. A Associação de Estudantes não
pode, nem deve ser uma Comissão (Permanente) de Festas, nem uma Conferência São
Vicente de Paulo, sem qualquer ofensa para com as referidas
associações/instituições. Antes pelo contrário, deve ser um espaço que se
baseie na junção de forças que entendam que o que existe pode e deve ser
melhorado, sem qualquer crítica destrutiva, mas com um sentido obrigatório de
construção. E, também, dando espaço aos estudantes que possam, em todas as
outras matérias que considerem úteis ao desenvolvimento pessoal/social dos
estudantes, contribuir para esse intuito, sejam eles numa festa, sejam eles num
acto cultural, sejam eles num acto de solidariedade, em contraponto com a
caridadezinha.
Talvez, se o papel das AAEE fosse cumprido na exactidão da
sua real dimensão, actos que os mais conservadores entendem como atentado à
moral e bons costumes, como os que se passaram recentemente na Marquês, não
tivessem acontecido. Poderemos criticar a forma como foi feito, mas nunca a
essência do que representa. Se alguém praticou tal acto, é porque sente na pele
o que se passa neste momento no país, seja na Educação, sejam em outros
factores da vida em Sociedade. E, meus amigos, talvez, voltando às suposições,
se as AAEE estivessem a funcionar correctamente, esta ira que se sente, pudesse
ser canalizada para algo melhor, para algo mais construtivo, em vez da resposta
ao terrorismo político que vivemos.
Contudo, eu é que sou o ingénuo. Como vos disse, e volto a
repetir, tenho para mim que não sou nem educador de ninguém, além de mim
próprio, nem intelectual. Não preciso de encontrar nenhum ponto, ou púlpito,
colorido para me abrilhantar perante todos, dando indicações do que se deve
seguir, nem dando paternais recados. Mas que ou a malta jovem começa a perceber
a real importância das AAEE ou então temo que este país perdeu mesmo o seu
futuro. É que nós temos duplas razões para lutar. Por hoje e pelo amanhã.
Porque sem um hoje certo, não haverá um infinito amanhã. Mas isto sou eu, que
conservo a teimosia de ser realista ao pedir o impossível…
Mário Martins
Amigo Mário,
ResponderEliminarFalas com seriedade sobre uma realidade talvez pouco seria. A AE da Secundaria de pombal tem, com demasiada frequência, sido incorporada na trajectória natural de ascensão na JSD local, e desta para onde se sabe.
Este "sistema" nao chega para catalogar os que por lá passam como "maus". Mas que é perverso, é! E duvido que beneficie a AE e os intuitos que esta deveria ter.
Companheiro Gabriel,
EliminarA realidade não é séria, porque não convém ser sérios. Não falo na questão da Secundária de Pombal, falo em tantas outras. E não é só a JSD.
Vou contar duas histórias que se passaram comigo e que uma é a analogia da outra e vice-versa. Quando o Fernando Nobre apresentou a sua candidatura, ainda eu longe de adquirir qualquer tipo de consciência política, eu fiz parte do rol que fez campanha por ele e votou nele. Como deves saber, arrependi-me. Certa vez, apoiei uma candidatura de uma pessoa para a AE da Secundária, porque era independente, tinha boas ideias e era, pelo menos pensava, sério naquilo que dizia. Dizia que precisamos de compreender as necessidades dos estudantes, que nos precisávamos de unir. E votei nele. E arrependi-me. Porquê?! Porque tal como o Fernando Nobre, também o vi depois nas fileiras do PSD.
Companheiro Gabriel, não é este o sistema que precisamos para a AE, porque não é este o que diz a lei claramente. E porque os estudantes, cheios do que as novas tecnologias de informação e comunicação enchem nas cabecinhas destes jovens, tal como nos pais, (des)informação ruidosa. Mas há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não! E isso já é o começo de muita coisa...
Infelizmente, observam-se politizações nas AE's. Podem ter nascido como instrumento contra o Estado Novo, em alguns casos. Mas ter AE's como instrumentalização política local em Democracia, pode ser um caso de corrupção passiva, desvirtuando o sempre feliz pensamento livre e naif dos jovens, onde não impera um pensamento formatado de esquerda ou direita. Impera o pensamento ao estilo "Clube dos Poetas Mortos", ou devia imperar. A cultura cívica jovem, deveria passar muito por aqui: pelas AE's. Seria um contributo fundamental para re-alinhar posições na sociedade. Assim, com influencias politicas lá dentro, só estaremos a prolongar o sistema como o conhecemos: clientelismo, caciquismo, seguidismo.
ResponderEliminarCaro Eduardo Francisco Louro Marques,
EliminarA minha linha de pensamento tem uma grande proximidade com o seu.
Contudo, devo dizer que as AE devem ser altamente politizadas, na medida de preparar, como elemento fundamental da preparação da vida em sociedade.
Quanto aos clientelismos, caciquismos e seguidismos, que advém de uma influência interna política. Bem, claro está que tudo depende de quem seja. Porque gente séria, como eu e o senhor, sabemos separar as coisas. E inclusive, há dentro destas AE's quem o seja, mas vá sendo arrastado pela corrente de discurso que isto é pela pessoa que lá está...
Boa noite caro Mário.
EliminarSerá mesmo necessário adquirir consciência em sociedade, por meio da politização das coisas? Será que ver o mundo a preto e branco, formatado em ideologias, pode fazer dos jovens mais interessados no mundo vindouro?
a política é tão bonita, desde que fundamentada em prol do interesse de todos, e não de alguns. Quando temos AE's e outras associações politizadas, faz-me lembrar um bocado a Mocidade Lusitana no Estado Novo. Desculpem-me a comparação, espero que a respeitem.
Tenho para mim que a juventude em idade pré-votante, deve permanecer isenta, naif, ingénua. Porque terão muito mais a oferecer ao Mundo assim, do que oferecer ao mundo um baú cheio de ortodoxias vetustas, pré-formatadas.
Mas é óbvio que não meto todos no mesmo saco! Há pessoas que persistem nas suas convicções, não se deixando corromper na sua identidade. E há outros que se deixaram corromper, escolhendo outro futuro. Cada qual assuma responsabilidades daquilo que escolhe para o seu futuro.
Boa noite caro Eduardo,
EliminarÉ. A politização que eu entendo é a vivência em sociedade e todo o conjunto de normas e preceitos. Melhor dizendo, para mim o dar um copo de água a uma pessoa com sede, é um acto político puro e duro. Porque é colmatar falhas que a sociedade vai adquirido, porque nem todos somos perfeitos.
Meu caro, ser independente, ou insenta, não significa não ter ideologia, isto é, não ter ideias da questão política. Eu acho e tenho a firme certeza que os nossos jovens devem ter essas ideologias em si. Saber o que é certo e o que é errado. O que é caridade do que é solidariedade. O que é que custou para eles agora viverem em sociedade. Melhor afirmando. Eu tenho a firme certeza de que os nossos jovens devem ter uma ideologia cívica, se é que assim se pode falar.
O problema é que se confunde política com partidarites. E eu não sou adepto dessa infecção que é alastrada, geralmente, pelo arco, como alguém diria, não da governação, mas da velha!
Bom dia caro Mário.
EliminarAgora sim, concordo mesmo com o seu ponto de vista.
Provavelmente, até já estaríamos mesmo de acordo antes. Apenas estávamos a rever aspectos, usando outras palavras. Creio que estamos do mesmo lado.
Vou dar o meu exemplo, tal como deste o teu:
- antes dos 18, eu simplesmente nem dava atenção a partidos.
- fiz 18 anos, e por responsabilidade induzida e incutida pelo meu pai, fez-me interessar pela política, fosse qual fosse em quem votasse. Desde que eu lesse, com atenção, os programas eleitorais de cada partido.
- assim fiz, mas só votei com 20 anos, que foram as eleições que vinham mais próximas. Naquele tempo, não havia internet. Tive de ler os programas apenas nas linhas-base, disponibilizada pelas delegações partidárias que existiam na rua. Foi o suficiente, achei eu, para escolher o que mais se aproximava daquilo que eu queria para o meu País!
- arrependi-me. Um chorrilho de mentiras levou-os ao poder, para, tal como outros Governos vindouros, chegarem ao poder e usar os «altos interesses partidários», aliados aos boys.
- desde então, tenho apostado e tenho sido, uma pessoa mais do campo(ou cariz) filosófico. Apartidária. Revejo-me mais no campo em que os partidos usam apenas o poder do Voto, para benefício de coutadas pessoais dos que estão no topo da Pirâmide. Uns mais, outros menos, eu sei. Mas em geral, e isto observa-se IMENSO no poder Local Autárquico, os partidos abusam dum poder obscuro, em prol de alguns e NUNCA em benefício de todos.... Quem perde? o Povo!
Infelizmente, o Partido da Abstenção tem crescido a um ritmo alarmante. Não concordo com Abstenção de Voto em Democracia, mas tenho a certeza que muita dessa abstenção é de raiva, de medo, de descontentamento! E a culpa é de quem? De quem furou, propositadamente, as visões, de quem furou as expectaivas de tantos mais, de quem furou a Democracia!
Seria tão bom que os partidos voltassem a apostar para aquilo que nasceram. Para aquilo que a sua matriz pede. Que fossem formados por pessoas. De muita inteligência, de muita coragem, de muita ética. E há-los lá! Porém, o jogo de interesses de muitos, esmaga-los.
Adoraria que um dia os jovens soubessem esmagar os interesses instalados. São eles o futuro, como sempre. Serão capazes disso?
AEs é a Escola de Clementinas. é de pequenino que se formata o pepino.
ResponderEliminarNão sei se será de Clementinas ou de Água de Rosas. Mas que a formatação está lá, está. E é isso que necessita de ser combatido!
Eliminarouvi dizer que existe uma turma de elite na ES de Pombal??
ResponderEliminarÈ verdade??
Os meus impostos servem para isso??? (se for verdade, claro)
NUma escola publica?? que se quer inclusiva e redistributiva?
È mesmo verdade??
Não sei se tal história é desmentível ou não. Nem sou a pessoa mais indicada para o fazer.
EliminarMas aconselho, vivamente, que dirija, não à direcção da escola, mas ou à Direcção Regional de Educação do Centro, ou ao próprio Ministério da Educação. Quem faz as turmas são as Escolas, mas a aprovação final é hierarquizada...
é verdade sim senhora. Na ESPombal, pelo menos no ano em que eu frequento (11º), foi criada uma turma de elite onde seleccionaram os alunos com melhores resultados no 3º ciclo. O mesmo se verificou no ano antes. Uma coisa curiosa, é a escola atribuir o prémio de mérito de melhor turma quando já canaliza os melhores alunos para uma mesma turma.. Parece-me justo!! Mas também, de todas as coisas que funcionam mal na escola, esta é só mais uma
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