Encerra hoje, sábado, a Livraria K de Livro. Mais uma vítima da crise, apesar das várias tentativas para a fintar. Quando, há quase 10 anos, abriu este espaço (onde hoje encerra), surgiu também um espaço que só comercializava livros. Durante esses 10 anos, criaram-se hábitos, clientes e a casa tornou-se uma referência na irregular vida cultural da cidade.
Agora, num cenário que se vai repetindo pelo país fora, os pequenos negócios sofrem com a crise e o que durante pouco tempo deixou de ser um luxo, o comprar um livro, apesar da ganância galopante das editoras que tanto valorizam capas, vendendo um produto a preços elevados (porque razão nunca o livro de bolso ou de capa mole e sem capas bonitas pegou em Portugal?), voltou a ser um luxo. E isso lamentavelmente, porque a cultura nunca o deveria ser. E Pombal também fica mais pobre. Dir-me-ão que isto, para além de todo o resto, resultado do mercado (e do oligopólio das editoras) e da opção dos próprios pombalenses em comprar noutras superfícies. Talvez. Eu que deixei praticamente de comprar livros que não fossem profissionais, sei bem que são as opções e escolhas económicas dos indivíduos que, as mais das vezes, vão contra o que idealizamos neste campo: livrarias pequenas e bem servidas, onde o serviço personalizado suplanta qualquer outro benefício (mesmo o de fazer todas as compras no mesmo sítio).
Por isso, desculpar-me-ão a nota pessoal, mas ao Gil e à Natalie fica, enquanto cidadão, o meu obrigado por terem ajudado a que a paisagem cultural de Pombal fosse menos árida durante quase uma década. Sobram naturalmente outras coisas, e boas, mas uma livraria faz falta, porque deverá ser tudo menos um lugar de luxo.
E numa altura em que quem pensa volta a ver-se rotulado, pejorativamente, de "intelectual", uma livraria nunca devia ser um luxo a manter a todo o custo, mas algo de natural no funcionamento e tecido de uma cidade. Espero também que um dia se perceba que as regenerações são mais do que mudar fachadas e ruas, mas essencialmente garantir condições para um conteúdo que atraia. Fecha-se um ciclo. Espero que não para sempre.
Uma triste e inesperada novidade. Perdemos uma das nossas maiores referências culturais. Pombal ficou incomparavelmente mais pobre.
ResponderEliminarVinha aqui para escrever mais ou menos o que acabei de ler, camarada Alvim. Quando lá estive esta semana a "despedir-me" do espaço não pude deixar de sentir esse arrepio de fim de ciclo.
ResponderEliminarAos fundadores deste espaço e magníficos hospedeiros do mesmo desejo a melhor sorte futura. Fica a minha admiração pelo facto de terem tido um dos melhores espaços públicos (leia-se loja) de pombal nos anos que recordo.
ResponderEliminarLembro-me particularmente de conseguir comprar livros que por norma são desprezados pela maioria como sendo etiquetados de literatura juvenil. Banda desenhada. Não para adultos, mas sim como de fossem para adultos lerem ao nível de muitas outras obras literárias.
Repito, só vos desejo a melhor sorte e os meus parabéns por tanto resistirem num meio que tantas vezes de aparenta de baixa cultura.
Em meu nome pessoal (a Nathalie já o fez da forma dita institucional) agradeço estas simpáticas palavras. Obrigado aos que ao longo destes 10 anos viveram a k. Agradeço aos que nos deram a conhecer as suas obras. Moreiras e Abrunheiro obrigado. Aos que tiveram a árdua tarefa de apresentar: Paula para ti vai o 1º agradecimento que tiveste a árdua tarefa de apresentar a Maria Filomena Mónica (ainda hoje me lembro dela a entrar na K com os seus 3 metros de altura e 5 de personalidade); Alvim obrigado pela apresentação do Michael Pye. Era a nossa 1ª incursão internacional e tu estiveste à altura. Agradeço igualmente Ao Professor Reinaldo Serrano, ao Adérito, à Margarida Cardoso, ao Nuno Oliveira, ao Gabriel Oliveira, ao Humberto Pinto, à Michele (todos eles grandes apresentadores e amigos da K).
ResponderEliminarAproveito também para deixar um agradecimento especial às nossas excelentes colaboradoras Regina e Patrícia.
Caro António Lopes as suas palavras são o que de melhor se pode ouvir para um livreiro. Obrigado.
Acabo com uma frase do Frank Mcourt, in As Cinzas de Ângela)
"As solas de seus sapatos podem estar gastas e furadas, mas a sua mente sempre será um palácio a ser povoado."
Confesso que há mais ou menos dois anos, em Santa Comba Dão,durante uma auditoria às contas do Agrupamento de Escolas local, fiquei surpreendido quando me surgiram algumas faturas da K do Livro. Questionado quem de direito foi-me dito que tinha um nicho de mercado na região - livros para os primeiros anos de escolaridade. Fiquei atento e confirmei o mesmo em Mortágua. Como pombalense fiquei naturalmente contente, passei pela livraria e lá comecei a comprar livros quando os meus sobrinhos-netos faziam anos.Soube como o projeto apareceu e como parecia ir com vento pela popa. Era um local agradável onde gostava de ir com as minhas filhas para lhes oferecer livros. Agora, como pombalense fico triste, muito triste...
ResponderEliminarBom dia
ResponderEliminarÉ sempre triste tomar conhecimento de notícias deste teor, também tenho uma porta aberta e o que nos aguarda é sempre uma incógnita!
Da minha parte dirijo-lhes uma palavra de esperança com a convicção de que uma porta se lhes fechou e outra se lhes abre, vamos ter esperança!
As palavras dirigidas à K são bonitas, e pecam por defeito, claro. Pecamos todos por defeito, a K foi uma lufada de ar fresco na cidade.
ResponderEliminarTivemos durante 10 anos, na K, um serviço cultural e um claro gosto e competência a tratar "o livro" que sempre faltou a entidades com responsabilidade pública, no concelho. Espero que tenham aprendido alguma coisa. Gil e Nathalie, obrigado por tudo.
Confesso, hoje, que fiquei surpreendido quando percebi que o meu amigo e colega de estudos Gil Moleiro, tinha avançado para um negócio, fiquei na altura fascinado com a sua coragem.
ResponderEliminarSabia-o de um natural tendência para a cultura, mas impressionou-me a capacidade de trazer a Pombal grandes autores, construir um espaço agradável, ser uma referência para a actividade lúdica e cultural da cidade.
Passei por lá alguns Sábados, dias mais dados aos lazer, a vasculhar e comprar algumas obras, na maioria dos casos, muito bem sugestionadas pelos donos da loja.
A última compra foi em Outubro, que a pedido de alguém, lá incomodei a Nathalie mesmo à hora de almoço, para me ir vender “As Farpas”… ele á coisas!
Aos meus bons amigos, dizer que já estou com saudades da “K de Livro”.
Um bem-haja á Nathalie e ao Gil por nos terem dado a conhecer cultura á nossa medida.