Imagem da campanha hoje lançada pela Federação Internacional de Jornalistas, apoiada pelo Sindicato dos Jornalistas, onde a igualdade de género tem feito a diferença
As conclusões preliminares de um estudo do Instituto Europeu para a Igualdade de Género revelaram, por estes dias, aquele que cada uma de nós já sabia: as mulheres são as mais afectadas pela pandemia, tanto no trabalho fora de casa como dentro dela. Nos próximos tempos serão vários os estudos que hão-de revelar essa brutal desigualdade, dissecando os dados por área de atividade, por faixa etária e condição social. E cada um deles há-de concluir que, afinal, não estávamos todos no mesmo barco - apenas no mesmo mar.
Para já, este que rasga essa cortina, faz-nos confrontar com a nossa realidade: Portugal é quinto país da UE com maior impacto da pandemia no mercado de trabalho, e as mulheres são claramente mais penalizadas que os homens. E tudo aquilo onde estão em maioria, não é boa notícia: entre o comércio de retalho, o alojamento, as fábricas confecção (veja-se o que está a acontecer no Louriçal, de forma intermitente), as limpezas e os lares de idosos estimam-se 40% dos empregos perdidos por mulheres.
Depois juntamos-lhe o teletrabalho. Navego nessas águas há meia dúzia de anos, e por isso a pandemia só teve o condão de me fazer sentir compreendida pelos camaradas que, de repente, perceberam o drama de manter esticada essa linha invisível entre a vida profissional e familiar. O mesmo estudo mostra que há mais mulheres (45%)do que homens (30%) a trabalhar a partir de casa. Contando que sobre elas recai maioritariamente todo um conjunto de tarefas que as sobrecarregam, algumas também inerentes à pandemia: são mais elas que eles que ficam em casa para acompanhar os filhos menores de 12 anos.
Na minha juventude, quando era cheia de certezas, achava mesmo que este Dia Internacional da Mulher já não fazia sentido. Lembro-.me, amiúde, de uma crónica que escrevi para o saudoso Correio de Pombal, em que me atrevia chamar-lhe "a discriminação em forma de dia". Mas a vida - e a convivência com algumas mulheres de excepção - a profissão e o mundo sindical fizeram-me perceber a importância de continuar a luta, todos os dias, o tanto que está por fazer. Sobretudo de olhar com a mesma atenção a árvore e a floresta. É por isso que sou feminista. Porque quero deixar à minha filha, a todas as da sua geração e às que hão-de vir a determinação de mudar o mundo, mesmo que esse seja um processo sempre envolto em dores de crescimento.
Por estes dias, o meu filho mandou-me uma imagem de um cartaz que ele os companheiros da República desenharam: era uma homenagem à D. Clara, que ali trabalha para manter a salubridade daquele prédio centenário, pouco dado à academia 'coimbrinha' mas muito à boémia (imagino, só, e basta-me). A quem qualquer um deles tem tanto respeito como se fosse mãe. E aquilo comoveu-me. Da mesma maneira que me comovo sempre quando vejo os meus camaradas homens lutarem lado a lado, connosco. Sim, já fizemos muito caminho. Mas como lembrou o Presidente da República numa nota alusiva ao Dia, "os passos já dados para salvaguardar a igualdade na Lei, na Constituição, e na Família, na revisão do Código Civil, na paridade no emprego, nos salários, nos cargos de direção, na política, nas responsabilidades familiares e domésticas, na proteção contra a violência, embora decisivos, não são, porém, ainda suficientes".
Às vezes, estamos de acordo Marcelo.
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