7 de dezembro de 2021

O Filho da Alice no Reino das Maravilhas

Aventuras no Bosque Encantado (I)

Os últimos dias têm sido maravilhosos para o Filho da Alice… O Pedro acredita mesmo que o céu estrelado gira em torno do destino do Homem.

Ontem, o Céu estava estrelado e a Lua irradiava uma luminosidade misteriosa. Quando o Pedro veio à varanda, depois de jantar, transbordava felicidade; sentia que os astros estavam alinhados com o seu destino. Estava irrequieto, saiu, encaminhou-se para o centro, para o Bosque Encantado no Jardim das Tílias, o seu lugar de deleite. Cumprimentou os anões, quis saber com se sentiam com tanta garotada; agradeceu-lhes a dedicação e a simpatia, o notável serviço à comunidade. Depois, quis divertir-se: visitou a Casa do Pai Natal, entrou na Bota Botilde, passou pela neve e deslizou pelo escorrega.


Mais eis que, quando tocou no solo, um buraco se lhe abriu e engoliu-o. Tombou por ali abaixo, tão bruscamente que não foi sequer capaz de se frear. Desceu sem saber se o poço era demasiado fundo ou se era ele que estava caindo devagarinho.

Naquela escuridão, o Filho da Alice limitava-se a pensar no que aconteceria depois. “Depois deste tombo, não me vou mais importar com os trambolhões que me esperam!”

E caía, caía, caía. “Será que esta queda não acabará nunca?”, pensava ele; “Quantos quilómetros eu já despenquei? Já me devo estar aproximando do centro da Terra”. 

O Filho da Alice aprendeu muitas coisas na escola, fez muitos cursos, mas não tinha ideia do que era latitude ou longitude; no entanto, considerava essas palavras monumentais, e gostava de as dizer em voz alta - gosta muito de se ouvir. No tombo, entretinha-se a falar: “- Será que vou atravessar a Terra? Vai ser muito engraçado sair do outro lado, no meio das pessoas que andam de cabeça para baixo: os antipáticos!” Riu-se.

Caía, caía, caía e, como não tinha mais nada para fazer, continuava a tagarelar. Até que, de repente: plunct! Aterrou num amontoado de gravetos e folhas secas. A queda tinha chegado ao fim.

Pôs-se a pedir ajuda: “Socorro; socorro; socorro; …, tirem-me daqui”. Mas aquela hora, ninguém o ouvia, e ninguém lhe podia valer. Perante tamanha aflição, responderam-lhe os pássaros que pernoitavam nas frondosas tílias.

- Estás sozinho, passarão; não tens ninguém que te apoie nem que te ampare na desgraça...

- Acudam-me, pardais amigos.

- Um bom pardal nos saíste tu; invadiste o nosso poiso sem nos dizeres nada e agora queres apoio… E chamam-nos, a nós, pardais!

                                                                                   Lili Carrol 

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