O regime que vigora na generalidade do mundo Ocidental deriva, em grande parte, do modelo do Estado Racional (de Direito), republicano e democrático, idealizado por Hegel, como caminho para a realização da liberdade e prosperidade da humanidade.
O modelo foi inspirado no iluminismo francês, que desencadeou a Revolução Francesa (1789-1799), mas ganhou corpo, adesão à realidade e à natureza humana por encerrar dentro de si o princípio do contraditório, essencial para a evolução do conhecimento e da realidade. Hegel rejeitava a ideia, ainda hoje disseminada na política e na sociedade, de que a contradição é vazia de conteúdo, não acrescenta nada. Segundo ele, a evolução do conhecimento e da realidade faz-se por um processo dialéctico contínuo de choque entre tese e antítese, do qual surge uma síntese, que, por sua vez, será a tese da nova etapa do processo evolutivo.
Hegel percebeu aquilo que os actuais pseudo-democratas - apologistas do positivismo inócuo e ignaro - ainda hoje não percebem: que as pessoas se posicionam e fazem as suas escolhas políticas e outras por padrões e raciocínios lógicos muito antigos, de escolha entre contrários, muito bem retratados na tragédia grega.
A Democracia, sendo um regime naturalmente fraco, encontra na sua essência, no choque entre contrários, a sua força motriz. Numa verdadeira Democracia é a oposição que afirma o poder. Mas para isso, poder e oposição devem submeter-se ao regular exame público - das suas ideias, dos seus actos, dos seus comportamentos e das suas atitudes.
O poder entregue, indefesamente, à positividade não possui qualquer marca de soberania nem força criadora. Actualmente vive-se no “modernismo psicológico” do politicamente correcto, que abafa a reflexão e a dialéctica política, onde é difícil distinguir o imbecil do inteligente.
Segundo Hegel, é a negatividade que garante a vitalidade da existência e a vivacidade do viver. E na verdade, é assim nas coisas da vida e da natureza. Por exemplo, a corrente elétrica produz-se na diferença de potencial entre os pólos positivo e negativo. E curiosamente, o pólo de maior potencial é o (realmente) negativo. O contraditório – a negatividade - é em si criativo e essencial à vitalidade. Em política nunca deve ser sanado.
Parte 1
ResponderEliminarAmigo Malho, desta vez deu-lhe para aqui uma excitação intelectual dirigida a quem? Aos seus habituais leitores? O meu amigo deve andar enganado, porque esta exortação filosófica que tentei perceber, é ela própria uma contradição que fala da contradição como se a própria dialética, a tese e antítese não fossem elas mesmo a afirmação e a negação ou a proposição e o contraditório.
Como eu sou muito básico e pragmático dou-me um bocado mal com a teorizações que misturam filósofos, tipos de filosofias, credos e mitos que andam sempre à volta do mesmo, o individuo, o que não quer dizer que o burro não seja eu, só que não entendo bem e até acho uma perda de tempo. Mas isto para uma pessoa como eu que nem liga nada ao futebol a não ser os jogos da seleção nacional deve ser uma deficiência genética qualquer que me impede de apreciar algo que apaixona milhões. É como uma pessoa que não liga, nem precisa nada, da atração e do sexo. Isso para a maioria será considerada uma deficiência profunda, mas existe. Felizmente confesso que desse mal, até ver, não padeço.
Mas voltando à sua intenção, explique lá se queria chegar a algum lado, e assim de uma maneira hermética bater no PS local que devia seguir o que não segue, ou do PSD, talvez os positivistas "inócuos e ignaros" se me é permitida a interpretação, mas a coisa é tão filosoficamente intrincada que mais me parece um tratado de hermenêutica, assim em jeito de prenda de Natal. Ou seja, um presente tão complexo que nos maravilha mas que ninguém sabe como usar.
Mas para final de ano e assim como uma forma de levar o pensamento ao limite do abstrato conceptual, tipo, deixa cá pôr os neurónios ao rubro para incinerarem o lixo político com que a vida e o comentário quotidiano os vão saturando e assim ficarem limpos e renovados para enfrentarem um novo ano de árduo comentário, isso já se compreende.
Parte 2
ResponderEliminarO modernismo político do "politicamente correto" chama-se no meu dicionário prático-frontal, cobardia pessoal e fraqueza intelectual, mas que não é de hoje, é de sempre, e será modernismo porque dantes chamar-lhe-iam outra coisa, mas que já existia isso existia. Os de hoje não são piores do que os de ontem, nós é que adotamos um romantismo errado que que dantes é que era bom e dantes é que tudo se processava sem espinhas. Ledo engano, má fortuna, porque está engando quem assim pensa.
Os atuais, todos, são tão burros quanto os antigos e tão espertos quanto eles, tudo numa dialética de certo e errado, de bom e mau ou de útil ou inútil.
E tanto me dá que seja o Hegel, como o Cante, como o Sócrates, o Heraclito ou o Marx... O que é preciso é sermos coerentes e eficazes naquilo que na nossa época conseguimos progredir e evoluir como sociedade, porque as teorias são só derivativos do comportamento e atitudes sociais humanas.
A terminar deixe-me só criticar aqui um exemplo que acho um bocado ingénuo e de certa forma falacioso: Isto de o polo forte de tudo ser o negativo tal qual o da eletricidade não é exato. De facto, sabe tão bem como eu que ele é negativo por mera designação científica arbitrária e não por uma qualidade exclusiva que justifica a sua designação. O mesmo poderíamos dizer que numa barragem a verdadeira força(energia) não está na água acumulada na albufeira (potencial) mas sim no nível a jusante da barragem, porque ele é que permite a criação da energia (real). É errado porque um não tem qualquer valia sem o outro, logo afirmar-se uma qualidade como a realmente importante cria a ideia que ela poderá funcionar sozinha, e não pode, nem são a principal. Assim como os regimes políticos, brancos, pretos ou azuis, maus ou bons, só podem existir se houver uma sociedade que lhes dê oportunidade de existir, embora aqui sim, a sociedade já pode existir sem o regime, mas o contrário não!
Aqui fica como prenda de natal a minha contribuição "dialética" a um desabafo espiritual que o meu amigo deixou escapar e eu aproveitei para igualmente acompanhar no mesmo registo, mas tudo com um alcance social muito curto como é fácil de perceber. Mas há coisas que fazemos por mero gozo pessoal, os tais orgasmos intelectuais, como foi o caso.
Um Feliz Natal a todos.
Amigo Serra, apreciei a sua tentativa de contrariar o meu escrito, ou a minha reflexão. Como sabe, às vezes temos que “teorizar”, ou melhor dito conceptualizar as coisas, para as enquadrar e lhe dar sentido. Se não percebeu, ou não quis perceber, tudo, espere pela parte II, já anunciada e mais concreta.
ResponderEliminarSó não apreciei a similaridade, de (des)gostos, entre a filosofia e (a conversa sobre) o futebol. Mas enfim, … Mas ainda apreciei menos a desvalorização da teorização e ainda menos a da filosofia – a locomotiva do saber.
Sobre o exemplo da corrente eléctrica e dos pólos, eu não disse que o pólo forte é o negativo; disse que o pólo negativo é o de maior potencial, porque entre os pólos há diferença de potencial, e só por isso há corrente eléctrica.
Boas festas, e bons contraditórios.
Amigo Malho, longe de mim querer desgosta-lo com minhas convicções.
ResponderEliminarO Futebol e as teorias são formas culturais e recreativas que interessam mais a uns que a outros e nas questões sociais guio-me quase nada pelos pensadores.
Porque pensador também sou eu e não lhes reconheço maior clarividência do que a minha que, como percebeu, é humildemente pequena.
As ideias e propostas filosóficas a mim só me servem como eventual ponto de partida porque, até à chegada, o filósofo da minha vida sou eu próprio e os meus valores.
E escusa de estar aí com malabarismos dialéticos sobre os pólos e suas importâncias relativas porque não há maior potencial em nenhum dos dois, pois a medição é feita exatamente entre as suas diferenças, no caso, a localização.
No limite poderia invocar uma das forças fracas do Universo e no entanto a responsável maior pela existência do Universo, a gravidade....
Mas isso já nos ia transportar para outro nível muito mais deslumbrante e aleatório, o mundo quântico...
Mas fiquemos pela realidade palpável e convenhamos na justeza de, o que está em cima é como o que está em baixo, sendo que essa imagem que usou não está correta...mas pode continuar a insistir que eu compreendo, mas não aceito.
Pois, amigo Serra, bem pode continuar a conduzir a sua vida pela sua experiência de vida e pela sua clarividência – forma perfeitamente aceitável sobre o ponto de vista individual -, mas uma coisa é certa: chegará somente até onde a sua experiência e clarividência de vida o permitirem.
ResponderEliminarNo fundo adopta a forma de vida que a humanidade adoptou durante milénios. Felizmente, a humanidade já encontrou uma forma de andar mais depressa. E foram os filófosos que a descobriram.
Agora percebo porque é que o meu amigo ainda não percebeu que há pólos de maior potencial que outros, e que é por isso que há corrente eléctrica.
Coisas…
Abraço.
Ok.
EliminarFique lá com a bicicleta que eu vou a pé! 😉