Quando à noite regresso a casa, acontece-me por vezes fazer a voltinha dos tristes que termina num supermercado. E há dias em que Pombal parece especialmente triste: os peões deambulam pelas passadeiras alheados do mundo real, os automobilistas conduzem zangados com a vida, os lojistas certificam-se de que ainda não é naquele fim de tarde que vão mudar de vida, as árvores morrem (mesmo) de pé. Como me bastam as viajens para encontros imediatos (felizmente de raspão) de grau indefinido, evito o Largo do Cardal. Porém, às vezes não temos como fugir ao destino. E eis que, num destes dias, vendo-me obrigada a passar por lá, dei de caras com uma lona tamanho XL, a anunciar uma exposiçao sobre a vida e a obra de Mota Pinto. "Até que enfim!", pensei eu, que escrevi várias vezes sobre essa vergonha que era para Pombal não reconhecer condignamente um filho da terra que representou o país ao mais alto nível. Ainda não consegui ir ver a exposição mas tenciono. Espero que se faça justiça ao homem e ao político. E sobretudo, que seja uma coisa um bocadinho mais digna e completa que aquele prémio que a junta de freguesia em boa hora inventou, mas cuja concretização se revelou ao estilo "pior a emenda que o soneto".
Nesse dia, voltei para casa com um sorriso solidário. Lembrei-me de Manuel Carteiro e de Vitor Varela, guardiões da memória viva de Pombal, a quem tantas vezes ouvi desabafar sobre essa imperdoável falha pública. Tantas quantas aquelas em que lhes foi prometida a tal homenagem. Espero que seja desta. Com busto ou sem ele. Porque santos da casa não fazem milagres, mas acreditam neles.
"E na epiderme de cada facto contemporâneo cravaremos uma farpa: apenas a porção de ferro estritamente indispensável para deixar pendente um sinal."
30 de abril de 2008
1 comentário:
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É com estes exemplos que se elucidaria o Presidente da República, preocupado, no seu discurso do 25 de Abril, com os jovens que não conhecem o significado da data e que estão afastados da política.
ResponderEliminarPudera! Além do discurso político nacional dispersar sempre por verborreia, que muitas vezes insulta a inteligência de qualquer eleitor, também os responsáveis locais da democracia vão protelando o exercício da sua competência político-pedagógica. Por isso, em hora boa vem esta exposição alusiva a Mota Pinto. Não é garantido que ela vá de um momento para o outro elucidar todos os jovens pombalenses sobre quem foi Mota Pinto. Não, porque a motivação pessoal também conta para a aquisição de conhecimento.
Mas além disso, as comemorações do 25 de Abril, feitas no modelo de sempre, com os discursos político-partidários, no salão nobre da Câmara, já só motivam as elites políticas pombalenses. Não tocam no interesse dos jovens. Não dizem nada ao povo. Vêm de cima para baixo, como vêm a subida de impostos, o fecho de urgências, a mudança do Código do Trabalho, etc, etc...
Se estamos a celebrar uma data em que se recorda que “o povo é quem mais ordena”, porque não fazer uma comemoração que venha do povo para o povo. Como? Por exemplo, pedindo a mobilização de escolas, de associações, de organizações cívicas para realizar trabalhos alusivos à data, inserindo as apresentações de trabalhos, sei lá, a leitura de um poema de intervenção, o cantar uma música, apresentar um trabalho de vídeo, é só haver imaginação. Isto feito por alunos, por pessoas comuns, chamando-os a participar de forma activa e não passiva. Colocando-os, não como meros receptores de discursos político-partidários, mas sim de igual para igual com os líderes políticos, conjugando as seus discursos, com os políticos, ao menos por um dia. Isto não exige gastos orçamentais, apenas vontade e sentido de dever cívico. O 25 de Abril teria muito mais significado para todos, a democracia ficaria mais feliz e os jovens mais motivados e interessados. Não podemos querer participação, quando apenas ficamos a debitar coisas para os outros ouvirem. É preciso convidá-los a participar. Convidá-los a serem ouvidos! Creio que Mota Pinto iria concordar!
Dina Sebastião