3 de fevereiro de 2021

Os “processos” do processo (parte II) – Crime e Castigo

A reunião do executivo de 4 Janeiro, onde se discutiu e aprovou as conclusões dos inquéritos disciplinares às duas funcionárias do departamento de recursos humanos, ficará para os “anais da história” – como bem disse o doutor coiso. O vídeo/áudio abaixo mostra o essencial da longuíssima e despudorada discussão.

Como já aqui tinha informado, o instrutor – o “conhecido” dr. Agostinho – popôs, e o presidente subscreveu, a suspensão de funções de uma funcionária por 45 dias e outra por 90 dias, ambas com execução de pena suspensa por 2 anos.

Após a apresentação das conclusões - pelo presidente da câmara - o vereador Pedro Brilhante fustigou até à náusea o libelo acusatório por este se basear quase exclusivamente nas confissões das visadas (e no que não o é deriva delas), feitas por escrito, em dois momentos desfasados no tempo, com circunstancialismo, pormenores e formalismo jurídico de tal forma rebuscados que as torna pouco credíveis. São confissões que acabrunham quem as profere, pela culpabilidade e nível de incriminação assumidas, das quais se pode tirar não importa o quê, mas nada de bom para quem as profere; e em que - como bem disse Pedro Brilhante - só gente muito estupida acredita.

Estava dada a deixa para D. Diogo - o douto nobre sem nobreza – apoucar Pedro Brilhante. Recomendou-lhe a leitura de um clássico da literatura, “Crime e Castigo”, de Dostoiévski, para que pudesse compreender que a consciência (pelo remorso e contrição) de um cidadão pode ser aquilo que verdadeiramente lhe dá paz, tranquilidade e bem-estar; e que, quem verdadeiramente não consegue perceber que isso é uma coisa boa é que é verdadeiramente estúpido. O nível da conversa ficou definitivamente traçado, depois foi sempre a descer.

Não se pode dizer que a escolha do “Crime e Castigo” para ajudar a interpretar o intricado enredo dos processos disciplinares em causa seja desajustada; até por que, se Pedro Brilhante tivesse lido Dostoiévski, teria podido dizer a D. Diogo que a tomada de consciência e o arrependimento do criminoso não acaba sempre, nem geralmente, com a sua pacificação; inicia, muitas vezes, um processo de auto-destruição do arrependido que conduz ao desespero e até ao suicídio. Mas, ajustado, ajustado, teria sido a escolha de “O Processo”, de Kafka, mais alinhado com esta trama.

 Se D. Diogo leu Dostoiévski – pode ter ficado somente pelo prefácio - sabe, com certeza, que num “crime” não participa somente o executante; participa igualmente o cúmplice, o consentidor, o influenciador, etc. Pelo que se vai sabendo, parece evidente que por toda a câmara, e não só no departamento de RH, surgem regularmente e à vista de toda a gente, irregularidades, falhas, abusos e apropriações indevidas. E D. Diogo comprova-o. E não parece que a leitura do “Crime e Castigo” o tivesse ajudado no processo de consciencialização. D. Diogo é uma espécie de antítese de Mefistófeles, que dizia que queria o mal e não fazia senão o bem. No final desta discussão, D. Diogo anunciou mais três processos disciplinares por factos conexos com a “matéria” destes processos. A intifada continua, como bem disse Pedro Brilhante.

 A doutora Odete - sempre alinhada com o doutor coiso - acompanhou e suplantou até D. Diogo na incriminação das “desventuradas” – nunca a vimos tão determinada e aguerrida na defesa de uma causa! Começou por se indignar por o vereador Pedro Brilhante ter criticado a forma como defesa das funcionárias (não) foi feita; depois, discorreu sobre a verdade e o valor da confissão como prova, sem nunca suscitar uma ponta de dúvida sobre as condições e a forma como as confissões foram obtidas. Será que a doutora Odete considera que a confissão é a rainha das provas, como foi no passado, no Império Romano e na época da Inquisição? Como boa-cristã estará ela convencida que a confissão, o arrependimento e a penitência purificam tudo? No final, alegou impedimento na votação por ter sido advogada de uma das funcionárias (Pedro Brilhante tinha-o lembrado pouco antes!), mas não o quis dizer aqui no Farpas, mesmo depois de ter sido desafiada a justificar o impedimento.

O doutor coiso gastou - mais uma vez - o tempo e a energia a mostrar o que não é. Primeiro, a censurar e depois a aconselhar Pedro Brilhante sobre a forma de fazer política. Depois, a mostrar muita compaixão pelas funcionárias e a suplicar máxima reserva da intimidade das suas vidas privadas, até porque, disse ele, uma delas estará por um fio. Pelo meio, defendeu com “unhas e dentes” a acusação e teceu rasgados elogios ao instrutor - percebe-se: têm atributos semelhantes, mas pouco recomendáveis. Terminou da forma mais abjeta e na mais profunda contradição, profanando o que tinha começado por implorar aos outros: falou da vida privada das funcionárias, nomeadamente do lado mais íntimo e mais dorido da vida de uma delas. Afirmou que foram dirigidas por quem se aproveitou delas e acabaram por criar factos na vida delas, alguns já não têm volta, pois uma - e nomeou-a - está divorciada, e divorciou-se no âmbito destes factos. Simplesmente execrável. Quando o doutor coiso prega moral ou apregoa virtude é capaz de irritar um morto.


2 comentários:

  1. Uma pessoa ouve o áudio e cresce a náusea. É uma espécie de mundo ao contrário: os dois vereadores da 'oposição' escolhem atacar o colega Pedro Brilhante em vez do presidente, que ardilou todo o processo. Que 'nunca mais falou com as funcionárias' mas mandou falar. Mandou vereadores lacaios falar. Até a casa delas, até lhes 'arrancar' uma confissão. Estou em crer que a dupla Micael/Odete Alves faria bom trabalho no gabinete jurídico da autarquia. Como, Odete, como é que te deixas enredar nisto?! Quem votou na lista do PS nas últimas eleições não estava à espera de coro a Diogo Mateus. Estava à espera de alternativa, na forma e no conteúdo. Louvo a réstia de lucidez que perdura no que resta do partido, quando vetou a entrada do dr. coiso em futuras listas socialistas. Desse não vale a pena falar. (Quase) todos sabemos do que é capaz para sair bem na fotografia...mas é amigo do seu amigo, não haja dúvida, pois replicou na perfeição a teoria do ex-marido de uma das funcionárias em causa, seu compagnon de grandes tainadas, noutros tempos...é preciso ter uma lata amoral! E para cereja do bolo, o instrutor do processo, que saiu daqui nas circunstâncias que Diogo Mateus bem sabe...como é que esta gente consegue dormir à noite? Como?

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    1. Paula, este Pombal precisa de alguém com uma pá e um vassoura e que varra isto tudo...Não creio que seja este ano...Vamos ter mais 4 anos de mais do mesmo. Sinceramente gostava de estar enganado em relação a isto...Mau de mais ao estado que chegou a politiquice em Pombal.

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