Houve um tempo em que sonhámos muito, neste país, e neste concelho. Um tempo em que a luta política era a sério, em que cada um sabia bem os valores que defendia, o lado a que pertencia, sem que isso beliscasse o essencial: a construção de uma terra melhor para todos, mais justa e solidária.
António Rocha Quaresma fez parte desse tempo. Atravessou a ditadura a caminho da revolução, ajudou a fazê-la, e até a documentá-la, nos dias claros de Abril.
Quando o conheci, no início da década de 90, ainda se emocionava, amiúde, quando se aproximava o aniversário da Revolução. Naqueles idos de 92/93, coube-lhe a responsabilidade de voltar a presidir à Assembleia Municipal (já acontecera antes), quando Menezes Falcão bateu com a porta, no mandato de Armindo Carolino.
É a ele que os jornalistas desta terra devem um dos poucos passos que o poder político deu em prol da valorização do trabalho da imprensa. Naquele tempo éramos quase sempre uma meia dúzia a assistir às reuniões da Assembleia (duas rádios, dois ou três jornais, por vezes camaradas de Leiria ou Coimbra), num salão nobre novo. Lá do alto, da mesa, Rocha Quaresma percebeu a falta de condições em que trabalhávamos. E foi por sua iniciativa que a sala passou a contar com duas bancadas laterais, destinadas à comunicação social. Devemos-lhe isso, os dos da minha geração. Mais tarde aboliram-nas, de forma condizente com o que sucedeu à imprensa.
Percebi que se foi afastando, progressivamente, nos anos que se seguiram à derrota do PS. Como tantos, num misto de desencanto e aceitação.
Partiu esta sexta-feira, 31 de Outubro, sem nos avisar. Que a terra lhe seja leve.

Conheci o Dr Rocha Quaresma em 1973 e já nessa altura o ouvia opinar politicamente contra a "situação".
ResponderEliminarFoi uma figura marcante em Pombal, com uma contribuição pública meritória e digna do respeito e agradecimento de todos os pombalenses. Sempre me cumprimentava com uma efusividade e alegria que me distinguia sem eu me achar tão merecedor.
Nestes momentos mais graves e finais percebo agora que o que nele me parecia excepcional era afinal normal.
As pessoas excepcionais é assim que passam pela vida e por isso ainda mais saudades nos deixam.
Obrigado e até sempre Dr. António Rocha Quaresma.