25 de outubro de 2021

Pombal dos Pelourinhos





Volvida uma semana sobre o anúncio, permanece pasmada a contemplação da pletora de pelouros do novo executivo que concretizam a Nova Ambição e prometem colocar Pombal a florir e na vanguarda, a smart city das smart cities, espaço de co-working e de clusters, spin-offs e fab labs, com tudo o que é lindo: verde, sustentável, digital, resiliente, inovador. Etc.

A questão que já ocorreu a muitas/os de nós, pombalenses, é a da governabilidade de um município cuja ação se pulveriza em meia centena de pelouros que, desconfiamos, nalguns casos se sobrepõem, distribuídos de acordo com uma lógica indiscernível, fazendo adivinhar os labirintos de secretaria em que terão de navegar os arrebatamentos retóricos do programa de campanha do presidente eleito e os eventuais projetos em que aqueles venham a materializar-se. Se a esta dificuldade juntarmos o anunciado novo modelo colaborativo de gestão autárquica, em que “todos contam e participam” -  um “plano estratégico de desenvolvimento para a próxima década, envolvendo a sociedade civil e todos os setores de atividade, um plano orientado para a ação e indicadores e medidas concretas para identificar (…) clusters de desenvolvimento e definir as nossas prioridades de crescimento, num documento que tem de ser elaborado em sintonia com os objetivos do Desenvolvimento sustentável da UN para 2030, o Plano de Recuperação e Resiliência e o Novo Quadro Comunitário Portugal 2030” –, é legítimo que se instale, entre nós, a dúvida metódica. Sobre como e quando o prometido.

No discurso de tomada de posse, o público bateu palmas por três vezes: duas delas quando o presidente louvou e agradeceu à família e a outra quando anunciou para 2022 o regresso do posto de turismo ao centro da cidade. Já imaginamos a estrondosa cerimónia de inauguração. Além desta data, só as outras, acima, e a da neutralidade carbónica para 2050. De resto, tudo vaporoso e indefinido, mas para fazer em quatro anos. Por isso, em vez de cartazes de auto comprazimento pós-eleitoral, gostaria de ver anunciados horizontes temporais para concretizar os compromissos assumidos (o posto de turismo já não conta, Sr. Presidente).

E ainda o pelouro da felicidade. Inútil, dir-se-ia, porque redundante, a ser verdadeira a observação do presidente, como coisa real, da “renovação da esperança bem patente na alegria e no sorriso estampado no rosto de cada um dos nossos concidadãos”. A felicidade por decreto, a gente já leu isto em algum lugar. A realidade, por outro lado, é triste. Vemo-la em múltiplos indicadores, entre eles nos números de quem desiste de Pombal, das pessoas jovens a quem doem os vazios e a estagnação, e cuja ambição é um bilhete só de ida, à procura de uma smart city onde construir um futuro.

Diz-me o dicionário que pelouro era também uma “bola oca de cera que se usava para nela se encerrar o voto escrito, por exemplo, para eleições municipais”. Oxalá nos enganemos.

Lina Oliveira

4 comentários:

  1. Cara Farpista Convidada.

    Lina Oliveira

    Pasmado para já fico eu a contemplar a pletora de argumentos e designativos que a minha amiga, permita-me o atrevimento do trato, resolveu plasmar neste mui bem elaborado texto para de certa forma ridicularizar as boas intenções das novas iniciativas deste novo executivo, na sua “Nova Ambição”.

    Claro que o artigo está em linha com a orientação típica deste Blog crítico e, nesse sentido cumpre com mestria o objetivo, a obrigar-me aqui a um sobre esforço léxico para comentar o assunto, na tentativa de aproximação ao nível literário que o mesmo merece.

    Ora, perante o caleidoscópio argumentativo apresentado onde se baralham de tal forma as intenções, com cruzamentos e fusões diversas, obvio que tem de resultar não só a dúvida metódica, como a aleatória e até mesmo a fractal, porque o fim último aqui da prosa é mesmo baralhar para ficarmos todos bem esclarecidos, da intenção!

    Não interessa muito quantas vezes o povo bateu palmas, importa sim quantas mais vezes irá ter motivos para o fazer, e com uma postura corajosa como o novo presidente teve, acredito que muitas mais se seguirão.

    Sobre os posto de turismo, se vem, se fica, se volta ou nem por isso, dir-lhe-ei que este humilde escriba já propôs em conversa de circunstância e sem qualquer intenção de reclamar autoria de ideia tão banal, mas muito útil eventualmente, a instalação de uma escada rolante ao ar livre para acesso ao Castelo, tornando dessa forma o acesso útil e turístico, tanto na viagem como na multiplicada visita ao nosso monumento maior. E nessa eventualidade quem sabe o posto de turismo passasse a fazer mais sentido no sítio onde está?

    O seu penúltimo parágrafo, sempre literariamente impecável, gasta-se em lamentos da realidade que todos conhecemos e concordamos, simplesmente a sua conclusão precipita-se no incontornável fado deste concelho onde tudo tem sido negro e pior ficará.

    Cara amiga, nunca conheci nenhuma iniciativa inovadora que não estivesse eivada de interrogações e de tortuosos caminhos, nem possibilidade de atingir o zénite sem atrevimento, ambição e esforço para tal, e este executivo teve pelo menos a coragem de enunciar e assumir essa escalada para um cume que ninguém conhece, mas onde todos ambicionamos chegar.

    Não lhe tiremos a escada ou as cordas da ascensão à partida com as tiradas vetustas dos vencidos da vida ou dos descrentes num futuro melhor.

    E já imaginou que a tal “bola oca de cera”, o tal pelouro, pode ter ultrapassado a sua utilidade primeira e, alem de encerrar o voto escrito, possa encerrar agora também a chama promotora de uma ambição mais decidida para um concelho mais atrativo para todos?

    Oxalá eu esteja certo!

    PS: Apesar do meu esforço reconheço a muito melhor qualidade literária do seu texto embora não da mensagem, parabéns e continue.

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    1. Prezado Sr.,
      obrigada pela sua atenção. Permita-me algumas considerações.
      Começo por discordar das duas proposições do seu “P.S.”. Nem é menor a qualidade da minha mensagem nem é maior a qualidade do meu texto.

      Depois, desculpe o comentário acessório, mas ainda bem que ninguém levou a sério a proposta da escada rolante até ao castelo, pois estaria com certeza às moscas a maior parte do tempo, e por esta altura em medonhos encravamentos à conta da folhagem outonal.

      Mas vamos ao que interessa. Tomo por injusta a afirmação de que as minhas palavras baralham intenções, com cruzamentos e fusões, com o fim último de baralhar. E por isso, admitindo que os artifícios retóricos da farpa poderão ter distraído das ideias, aqui vão elas, com toda a clareza: no primeiro parágrafo critico a grandiloquência dos expedientes de linguagem usados (os anglicismos a cheirar a progresso e os chavões da moda); no segundo parágrafo sublinho a dificuldade de gerir uma casa tão fragmentada e a complexidade de concretização em tempo útil e com eficácia do plano a que me refiro (que é sem dúvida meritório); no terceiro parágrafo (o das palmas) saliento a pequenez da celebração e critico o hábito dos festejos balofos, ao mesmo tempo que peço um calendário de ações; por último, no quarto parágrafo refiro a inutilidade de um pelouro da felicidade (bastam os da paz, pão, habitação, saúde, educação), mas, ao contrário do que afirma, não vaticino que tudo ficará pior (estas são palavras da sua responsabilidade).

      Estou a terminar. Apreciei a sua metáfora final, da chama promotora de uma ambição benfeitora descerrada da tal bola oca de cera (vejo que, como eu, não resiste à voragem das palavras).

      E imagino, sim. Quando se concretizar esse futuro, dele darei regozijada notícia. Não aqui, que, como bem refere, é lugar de farpas.

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  2. Minha querida Cinderela, mesmo que não seja querida, nem Cinderela é, com certeza, uma princesa.
    Mas vade retro, satanás com tanta malícia construtiva e construída em terreno edificante, que não lembra ao mafarrico.
    São rosas, Senhor, são rosas, dizia a nossa vizinha para o seu consorte.
    E eu digo são árvores, Senhora, são árvores.
    E foi uma sorte termos encontrado um cidadão com o perfil do nosso mui querido e bem amado Presidente Pedro Pimpão que vai levar Pombal rumo a um futuro consolidado.
    A minha querida benfeitora foca os pelouros no futuro, mas eles têm que estar, sempre, bem presentes, no presente, por que o poder político, com ou sem pelouros atribuídos, tem que ser um veículo que descomplique, dentro e fora da secretaria.
    Fala, também, nas palmadas, mas o tau tau continua a ser uma boa pedagogia que, felizmente, não lhe foi explicada, nem aplicada, nem à terceira, que é a de vez.
    Como fala em que todos contam e que todos vão participar na gestão autárquica, como se o Orçamento não fosse participativo.
    Fui estudar e encontrei uma quadra, de autor desconhecido, que encaixa no âmago do seu artigo, postulado pelo nosso querido amigo, o do lápis azul, que reza assim:
    O rio (Arunca) corre p’ra cima (Norte)
    O Castelo é lá em cima
    O Marquês é o que é
    Em Pombal tudo assim é.
    Desculpe-me qualquer coisita, se estou com pensamentos ínvios.
    Saúde e Fraternidade

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  3. Amigo serra, o senhor está como o padre António Vieira, prega aos peixes. Estes peixes deste sitio da internet, “farpas” são meras petingas. Não alcançam o seu latim. Eu continuo na minha “estes falam falam falam, mas não os vejo a fazer nada”

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