“Trova do Vento que Passa”, de 1963, é uma “balada”, mais no género “trova”, de António de Portugal com poema de Manuel Alegre, celebrizada na voz de Adriano Correia de Oliveira.
A canção rompe com o romantismo e o lirismo associado ao fado de Coimbra ao privilegiar o conteúdo poético em detrimento da instrumentação e ao versar a luta contra a ditadura e contra a guerra. Tornou-se rapidamente a primeira canção de clara contestação ao regime e uma espécie de hino da resistência estudantil, nomeadamente em Coimbra. Foi pela primeira vez apresentada ao público na festa de recepção aos primeiro-anistas da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, realizada no Hospital de Santa Maria. Nesse concerto, Adriano Correia de Oliveira é acompanhado por Rui Pato, José Afonso e António Portugal, cantando o tema que segundo Manuel Reis, autor do livro “Adriano Presente”, teve de ser repetido seis vezes, após o qual os estudantes saíram para a rua a cantar em coro.
O poema reflecte a condição de isolamento e resignação de quem era obrigado a emigrar, terminando com uma nota de indignação face a essa condição. A quadra final
“Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não”
tornou-se a mais evocativa. Manuel Alegre afirmou que se inspirou num episódio revoltante quando viu Adriano Correia de Oliveira a ser perseguido por agentes da PIDE.
Numa entrevista concedida em 1980, Adriano Correia de Oliveira afirmou que “Foi a partir do acolhimento de uma canção como a “Trova do Vento que Passa” que comecei a sentir o verdadeiro gosto por cantar, por fazer música e, sobretudo, por sentir que estava ao lado do justo, do lado antifascista”.
Uma canção imperdível para reviver e comemorar Abril.
Sem comentários:
Enviar um comentário
O comentário que vai submeter será moderado (rejeitado ou aceite na integra), tão breve quanto possível, por um dos administradores.
Se o comentário não abordar a temática do post ou o fizer de forma injuriosa ou difamatória não será publicado. Neste caso, aconselhamo-lo a corrigir o conteúdo ou a linguagem.
Bons comentários.