“Caio Guembo, 4 de Abril de 1972. Querida: Já é certeza, amanhã vou para Luanda, portanto não te preocupes. Já estou livre de perigo, agora é só aguardar o dia quinze para dizer adeus a esta Angola que não me deixa saudades algumas. Portanto fica descansada. Se Deus quiser no dia dezasseis já estou ao pé de ti. Adeus até ao meu regresso.”
O primeiro-cabo atirador Carlos Cândido da Silva Neves, que tinha partido para Angola a 18 de Fevereiro de 1970 a bordo do paquete Uíge, regressou à “Metrópole” no dia 16 de Abril de 1972, estando à sua espera, na estação de Faro, a sua madrinha de guerra e futura esposa, Rosa Maria Santos de Matos, com toda a sua família. Final diferente tiveram os mais de 100 mil civis e os 10 mil militares portugueses que faleceram Guerra Colonial, para além dos mais de 20 mil ficaram inválidos. Cerca de 90% da população jovem masculina de Portugal foi mobilizada para uma Guerra que durou 13 anos e só acabou depois da Revolução de Abril de 1974. Portugal era um país criticado pela comunidade internacional, isolado, “orgulhosamente só”, persistindo num esforço de guerra que chegou a consumir mais de 40% da despesa nacional, o que diz bem da demência do ditador e de toda a corja que governava o país.
“Menina dos Olhos Tristes", escrita por José Afonso para a voz de Adriano Correia de Oliveira por volta de 1963, é uma das muitas canções anti-guerra gravadas nessa altura. Com um poema de Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira (poeta português radicado em Moçambique, falecido em 1958 e filho do famoso Repórter X), a mensagem remetia abertamente para as Rosas de olhos tristes, que não viam os seus soldadinhos voltarem do outro lado do mar. A Censura rapidamente proíbe o disco, mas não consegue apagar a música. Aliás, essa como muitas outras canções cruzaram o oceano e chegaram aos soldados, que as cantavam e adaptavam à realidade que viviam. Exemplo disso, é o chamado Cancioneiro do Niassa, uma colectânea canções centradas na vida dos militares portugueses colocados na região do Niassa, Moçambique, durante a Guerra Colonial, nos finais da década de 1960.
No vídeo podemos ouvir a versão que José Afonso gravou para a Orfeu, em 1969, acompanhado pela viola de Rui Pato, e ainda as canções “Ronda do Soldadinho” e “Pedro Soldado”, interpretadas, respectivamente, por José Mário Branco e Manuel Freire.
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