31 de janeiro de 2018

A importância e a estratégia do CIMU (Explore) Sicó


Os investimentos anunciados para os Poios, na Redinha, valorizam ou estragam a serra? (CIMU/Explore Sicó e Ponte no Vale do Poio)

Percebendo pela “linha editorial do blog” e pelo facto da construção do edifício do CIMU Sicó ter sido suspensa, pelo alarmismo criado à volta da intenção de construção de uma ponte (que ainda pouco ou nada se sabe sobre a mesma), e conhecendo os interlocutores, torna-se evidente que a questão aqui apresentada encerra em si uma forte carga negativa sobre o tema.
A minha presença no debate tem exatamente a ver com esse facto, e por considerar importante realçar e recordar, os prós dos investimentos na Serra de Sicó, procurando refutar um certo alarmismo, ou perspetivas de “copo meio vazio” que encontram terreno fértil sempre que se intervém em zonas ambientalmente sensíveis.
1.       Relativamente ao “CIMU Sicó”
Para que seja possível organizarmos ideias e para que o debate seja claro considero que a discussão deve ser colocada em 2 níveis distintos. Por um lado, a temática do edifício e a sua arquitetura, por outro lado a estratégia de promoção, desenvolvimento e proteção da Serra de Sicó.
1º Nível: O Edifício
Uma coisa é o edifício do CIMU Sicó, a sua localização, o seu programa funcional, o seu aspeto e volumetria, ou seja, um nível de discussão relacionado com a sua arquitetura.
Sobre a localização, importa relembrar que esta foi inicialmente escolhida para este local, uma vez que onde está a ser construído existia um grande desaterro ilegal que constituía uma “ferida” na paisagem. Para além disso existiam também todas as razões naturais na implantação deste tipo de infraestrutura, uma localização próxima dos vales dos poios, próximo das grandes vias de comunicação, etc. etc.
Relativamente ao programa funcional, para além dos espaços expositivos existem também um conjunto de valências que irão servir para a potenciação do território para além do edifício, um espaço de loja, um auditório, gabinetes para investigação, refeitório, zonas de dormidas e balneários.
Tanto na localização, como no programa, e até mesmo sobre a arquitetura do edifício saliento que houve à época da conceção do projeto um consenso alargado entre os vários parceiros do mesmo.
Não me parecendo que alguma destas premissas iniciais estejam em causa, e com a frontalidade que impera, importa referir aqui também as razões pelas quais a obra teve de ser interrompida. Identificaram-se no decurso da obra alguns pontos a rever no projeto, sendo que a maior parte deles esta relacionada com o facto deste ter já alguns anos. Elenco então de uma forma muito breve os principais pontos a rever.
- Necessidade de ajustamentos interiores – Prever a possibilidade de autonomização da zona de dormidas e gabinetes, da zona de exposição, bem como a adaptação de alguns espaços a novas ferramentas expositivas que, entretanto, surgiram.
Necessidade de ajustamento dos projetos de especialidades (elétrica, AVAC, etc) fruto da evolução tecnológica.
E por fim o ponto que gera mais preocupação à população, a altura acima do solo do 1º volume (o mais próximo da estrada). Apesar de parecer não coincidir com o projetado, realço que essa impressão é gerada pelo facto de a obra não estar terminada e faltar fazer a reposição de terras no local. A orientação neste ponto é a de se respeitar o projeto original. 
(consulta do projeto original - https://www.cm-pombal.pt/obras-e-projetos/cimu-sico-centro-de-interpretacao-e-museu-da-serra-de-sico/)
Face ao exposto parece-me francamente redutor concluir por aqui se o edifício em si vai valorizar ou “estragar” a Serra do Sicó.
Considero que, da mesma forma que uma escola nova por si só não valoriza/melhora a educação das crianças, apenas cria condições para que isso aconteça, o mesmo acontece neste caso, apesar de o edifício não valorizar por si a serra, parece-me evidente que virá criar condições para que isso possa acontecer.
2º Nível – A estratégia
Debate diferente e muito mais importante, é a estratégia de intervenção no território que este investimento irá potenciar, e aí há muitíssima mais matéria a discutir, uma vez que a Serra do Sicó tem como todos conhecemos um enorme potencial por promover, explorar e preservar.
Neste nível mais do que um edifício, estamos a debater um plano estratégico, que parte do Centro Interpretativo e da forma como será feita a sua gestão, mas que terá de ter uma intervenção em todo o território de Sicó.
Se repararem a alteração do nome significa em si mesmo essa abordagem. Passar de CIMU Sicó (Centro interpretativo e Museu) para Explore Sicó (Intenção de exploração de um território) significa que o enfoque da revisão agora em curso é reforçar a importância da intervenção no território de Sicó. E isso poderá ser visível ao nível de:
Programação de atividades – Tanto as públicas, como as promovidas pelos diferentes parceiros do território, numa estratégia de divulgação articulada.
Aproveitar a importância crescente dos desportos e do Turismo de Natureza dando-lhes melhores condições - desportos de montanha, pedestrianismo, orientação (geocaching), birdwatching, escalada, rapel, espeleologia, BTT, etc.
Inclusão da Sicó nas várias redes nacionais e internacionais da área (Bike Hotel, Centro de BTT, natura.pt, etc.)
Promoção de parcerias – envolver os diferentes atores do território (associações, clubes, privados, restaurantes, alojamento local, empresas de turismo de natureza, etc.)
Criação de um Conselho de Comunidade – A gestão deste edifício terá, para além dos recursos humanos alocados, um conselho de comunidade que represente a população nas opções a tomar.
Recursos humanos – Afetar a este território técnicos que terão como função/desígnio, pensar e “Puxar” especificamente por este território.
Proporcionar uma maior atenção à conservação da biodiversidade e Geodiversidade de Sicó.
Efeito no mundo cientifico, gerando melhores condições para que os especialistas investiguem o nosso território, incentivando a obtenção do conhecimento cientifico e cultural (elaboração de parcerias com universidades, com a fundação do Coa, com investigadores como Helena Moura, Thierry Aubry, Lúcio Cunha, GPS, etc.)

Relativamente a esta estratégia de intervenção no território, para a qual o edifício é apenas uma ferramenta que virá facilitar a sua implementação, julgo ser difícil considerar que a mesma venha estragar a Serra do Sicó.

2.       Relativamente à Ponte no Vale do Poio
Não conheço o processo (é bastante recente portanto), a imagem apresentada no debate é uma ilustração feita pelos “da casa Farpas”, com um propósito de orientar os leitores e os presentes para uma opinião negativa sobre a mesma. Formular esta imagem e esta opinião sem conhecer o verdadeiro projeto, considero ser a manifestação de um mero preconceito e uma tentativa de manipulação da opinião pública. Uma intervenção por ser feita no meio da natureza não tem necessariamente que ser má, há variadíssimos exemplos do contrário (Casa da Cascata, Passadiços do Paiva, a própria capela da senhora da Estrela, etc.), e portanto, até se conhecer o verdadeiro projeto, as suas intenções o seu aspeto e o seu enquadramento, julgo que é completamente prematuro fazer essa discussão. Importa realçar que ao contrário do que terá sido veiculado, tive oportunidade de confirmar no orçamento municipal para 2018 que o valor previsto são 20 000€ (que correspondem normalmente a uma verba para o estudo/projeto) e não os 420 000€ referentes à construção como erradamente aqui foi veiculado.

Em jeito de conclusão e para lançar o debate, tenho a forte convicção de que estes investimentos e os que se seguirão irão valorizar imenso a Serra do Sicó. Afirmo-o na plena certeza de que mais do que infraestruturas, estes investimentos trarão consigo recursos humanos, parcerias com privados, associações locais, construindo sinergias que beneficiarão todos, e que a nós enquanto comunidade nos obrigará a colocar o nosso empenho na valorização e promoção de uma das maiores riquezas do nosso território que é a Serra de Sicó.
Renato Guardado (arquitecto, ex-vereador da CMP)

4 comentários:

  1. Amigos e companheiros farposos, estou triste.
    Não é legítimo fazerem caixinha, como fizeram, relativamente aos oradores no debate da passada Segunda-feira.
    É feio, o que fizeram, por maldades e omissões.
    Soubesse eu que um dos oradores era o companheiro Renato Guardado e faria tudo para estar presente.
    Miséria, perdi um bom serão e, por isso, desejo-vos uma carrada de sarna!
    Morra o do lápis azul. Morra. PIM!

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  2. Não há obras perfeitas nem decisões isentas de erros, fazer e propor é muito mais difícil do que criticar.
    Todos queremos o melhor para a nossa terra, todos temos direito a opinar e a ser ouvidos.
    O Renato Guardado defendeu com brio uma iniciativa cuja responsabilidade também lhe coube e teve a coragem de enfrentar uma plateia onde a tónica esperada seria a critica mais ou menos mordaz.
    Afinal aconteceu um debate pacífico e proveitoso, um fórum de discussão das ideias, mais do que dos responsáveis, elevado, e uma noite de convívio que todos gostaram.
    Parabéns aos oradores
    Parabéns ao Farpas que acrescentou cidadania a Pombal.
    Se continuarem nesta linha terão um enorme sucesso no futuro.

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  3. Amigo e companheiro Renato, por favor, entende o comentário do camarada Adérito como um presente envenenado.
    Ele nem sabe onde é que está.
    Diz, escreve, "região dos Pois".
    Valha-me Deus.
    Coitado.
    Morra o do lápis azul. Morra. PIM!

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  4. Caro Renato,

    Muito obrigado pela tua intervenção no debate. Gostei de te ouvir e de, agora, ler o teu texto. Sem me querer pronunciar sobre a questão em debate (não tenho conhecimento suficiente para poder ter uma posição fundamentada), gostaria que me respondesses a duas questões.

    1. Concordo quando dizes que o mais importante é debater o plano estratégico. O problema é que, desse plano estratégico, apenas conhecemos a obra em discussão. Será que me podes indicar um documento, uma página da internet, algum sítio onde esse plano esteja definido?

    2. Se és da opinião que a região dos Poios é uma área de interesse municipal, porque não começar pela classificação do Vale do Poio Novo e do Vale do Poio Velho como geossítios e a própria área como paisagem protegida de interesse municipal?

    Um abraço,
    Adérito

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