11 de março de 2024

Eleições Legislativas – resultados e consequências

1 – A AD (o PSD) ganhou

A AD ganhou porque tinha de ganhar… Os astros (PSD, PR, PGR, PS, Media, e CDS…) alinharam-se para esse fim. Não é uma vitória com sabor a derrota porque sabe bem à maioria conjuntural o afastamento do PS do poder. Mas é uma vitória forçada, arrancada-a-ferros, que pelas suas contradições e frágeis condições políticas dificilmente corporizará uma alteração significativa dos status e responderá às expectativas dos descontentes.


 

2 – O PS perdeu

O PS perdeu porque tinha de perder… - cumpriu-se o que estava escrito nas estrelas. Mas no final da noite eleitoral chegou a pairar o improvável: a vitória do PS. Teria sido um mau fim para este ciclo político, tanto para o PS como para o Regime. O PS precisa de uma cura de oposição, de fazer mea-culpa dos seus erros e a síntese dos seus importantes sucessos, a fim de reassumir rapidamente o seu preponderante papel na política nacional.

3 – O Chega triunfou

O Chega triunfou, e provocou um pequeno terramoto que abalou todos, de uma ponta a outra do Regime, com fortes ondas de choque no centro-direita, e na esquerda.

Ao contrário do que muitos afirmam, o Chega não é um verdadeiro partido de extrema-direita, falta-lhe substrato ideológico, é essencialmente um partido populista, de protesto, que é muito eficaz a aglutinar descontentamento, mas sem perfil de poder – é de contra-poder. Até há pouco, foi um problema eleitoral e de poder para o centro-direita; nestas eleições foi um problema eleitoral para a esquerda, comeu eleitorado tradicional da esquerda a sul. Enquanto for liderado por A. Ventura – um demagogo extremo -, e a conjuntura lhe for favorável, vai ter sucesso eleitoral e mediático. 

4 – A IL e o BE falharam

Dois opostos que, numa conjuntura que lhes era favorável, falharam: a IL falhou a afirmação; o BE falhou o renascimento. Enfrentarão ambos tempos difíceis. Nos próximos tempos, a IL jogará a sua sobrevivência, tenderá para a desagregação. O BE resumir-se-á ao nicho onde se acantonou (Ideologia de Género e LGBT).

5 – O PCP mumificou  

O PCP secou e mumificou, por erros próprios e pelos ventos dos novos tempos. Custa ver o partido de Cunhal entregue a estas fracas figuras. Mas as coisas são como são: o igualitarismo levado ao extremo leva à mediocridade completa.

6 – O Livre brotou

O Livre é um epifenómeno metropolitano programaticamente inócuo que não resistirá à próxima intempérie.

7 – O PAN

O PAN não adianta nem atrasa - irrelevante.

8 – O Regime

Nestas eleições, todo o Regime foi a jogo e saiu combalido. Diria, até, que foi derrotado pelo povo. Os partidos de poder (PS e PSD) perderam influência e poder. A Presidência da República perdeu poder e legitimidade (se Marcelo tivesse a dignidade de Sampaio, perante a situação política criada, renunciava). A Justiça fragilizou-se ainda mais… O dito quarto poder (media) perdeu por simpatia e má figura.

9 – O populismo

O populismo medrou muito, mais à direita que à esquerda. E vai continuar a medrar porque a realidade socioeconómica de toda a EU é terreno fértil para o discurso demagógico e de protesto.

10 – Líderes partidários – vencedores e perdedores

Destas eleições (só) saiu um vencedor: André Ventura (facto que não carece de explicação). A globalidade perdeu. Uns mais que outros, uns pelos resultados (em termos absolutos ou em função das expectativas), outros pelo enfraquecimento das suas condições políticas.

Luís Montenegro conseguiu uma vitória tangencial, mas o resultado e o quadro parlamentar saído das eleições deixam-no com poucos graus de liberdade para exercer os cargos de primeiro-ministro e de presidente do PSD. Em princípio, é líder a prazo. O “não é não” foi a sua mais ousada cartada política, que, ao contrário do que muitos laranjas pensam, pode ser muito valiosa para ele e para a coesão do próprio partido.

Pedro Nunes Santos perdeu, mas manteve intactas as condições políticas para liderar o PS e a oposição. Tem o perfil apropriado para líder da oposição - na noite eleitoral já o mostrou.

Rui Rocha perdeu nas urnas (em função das expectativas e circunstâncias) e perdeu capital político para se afirmar. Abusou no discurso neoliberal. E pior: levou uma cabazada do discurso conservador e corporativista. É líder a prazo.  

Mariana Mortágua perdeu nas urnas (em função das expectativas e circunstâncias) mas não perdeu as poucas condições políticas que dispõe para fazer crescer o partido. Manter-se-á à frente do Bloco.

Rui Tavares ganhou nas urnas mais três deputados, mas não passará de grilo falante de uma sociedade unipessoal inócua. 

Paulo Raimundo perdeu nas urnas e perdeu as condições para fazer política no parlamento – na verdade o PCP já as tinha perdido no último mandato com aquela fraquíssima bancada.   

Nuno Melo ganhou um balão de oxigénio para se manter ligado à máquina mais uns meses.

Inês Sousa Real não ganhou nem perdeu nada. Manteve o que tinha: o ordenado e as respectivas mordomias.

9 comentários:

  1. Está explicado esta votação no CHEGA: "Portugal reforçou, mais uma vez, a liderança no ranking de mais consumo de vinho per capita do mundo. Em média, cada português consumiu cerca de 67,5 litros de vinho o ano passado e é um aumento em contradição com a tendência mundial".

    ResponderEliminar
  2. Amigo Malho, até que concordo com a sua leitura dos resultados.
    Sobre o não é não do PSD ao chega concordo com o seu uso por uma questão estratégica nas eleições.
    Encontrados que estão os resultados finais é incontornável o resultado do chega que corresponde a uma enorme expressão dos portugueses.
    Julgo que não devia haver tanta inflexibilidade, total recusa em sequer conversar, porque aquela é a única possibilidade da AD poder vir a governar em estabilidade de maioria.
    Os partidos extremistas quando em proximidade ao poder costumam moderar-se…
    Julgo que pelo menos devia haver conversações exploratórias…
    A sua falta conduzir -nos-á inevitavelmente a novas intercalares…
    Não deixo de ser militante do PSD nem de ser leal aos meus companheiros dirigentes, mas serenamente, como sempre, emito a minha opinião que nas atuais condições é democraticamente vencida…
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  3. Oh amigo Serra, eu nem nos piores sonhos o imaginava tão gelatinoso!
    Então o “não é não” para eleições, depois é o puder ser!
    Deus lhe perdoe.
    Abraço sofrido.

    ResponderEliminar
  4. Não sofra que não vale a pena por tão pouco.
    Só os burros não mudam em função das evidências...
    Como sabe não acredito em Deus logo também não preciso do perdão dele.
    No pragmatismo das evidências não há lugar para as teimosias.
    Como disse admiti estrategicamente a atitude embora sempre receasse esta situação de impasse.
    Quem é que jurou a pés juntos em 2022 que eram só exercícios militares e ninguém ia invadir a Ucrânia e, no dia seguinte entrou por ali adentro e à bruta...
    Na política não há verdades absolutas nem decisões irreversíveis...
    Diria então que a gelatina será o esqueleto da política.
    Abraço reparador.

    ResponderEliminar
  5. Amigo Serra,
    Confunde, deliberadamente ou por desconhecimento, estratégia com táctica, pragmatismo com falsidade, e acção política com guerra (jogo da ilusão e da morte). Nada que surpreenda. Confirma que é de uma direita que age segundo a máxima: os fins justificam os meios - na guerra é assim.
    Abraço fingido.

    ResponderEliminar
  6. Amigo
    Na profusão das palavras o baralhar as ideias para justificar uma confusão que não existe... Mas seja, concedo na sua interpretação do meu desconhecimento deliberado para encaixar a minha visão de direita anquilosada na sua clarividente visão de esquerda que não se confunde.
    Como já muito lhe disse considero que a minha opinião é irrelevante para o desenrolar dos acontecimentos pelo que me permito sempre opinar sem travões preconceituosos.
    Abraço honesto.

    ResponderEliminar
  7. Amigo Serra, vê: até estamos de acordo sobre muitas coisas, nomeadamente a irrelevância das nossas opiniões para o desenrolar destas decisões.
    Abraço

    ResponderEliminar
  8. O Conde do Oeste, é mais um (saudosista do António das Botas) que estava no armário laranja. Provavelmente votou CHEGA e andou com a laranja na mão só para não ser apelidado de Chegano ou fascista. É mais um dos que o 25 de Abril, retirou mordomias.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Nunca pensei vir a ser desmascarado por tamanha clarividência que tardava em se pronunciar.
      De facto nunca me conformei com a perda de mordomias após o 25 de abril.
      Obrigado Roque por teres reposto a verdade que se impunha.
      O que vale é haver uns inteligentes que colocam tudo nos seus devidos lugares, e não estás sozinho...
      Continua...

      Eliminar

O comentário que vai submeter será moderado (rejeitado ou aceite na integra), tão breve quanto possível, por um dos administradores.
Se o comentário não abordar a temática do post ou o fizer de forma injuriosa ou difamatória não será publicado. Neste caso, aconselhamo-lo a corrigir o conteúdo ou a linguagem.
Bons comentários.